segunda-feira, 31 de janeiro de 2022


31 DE JANEIRO DE 2022
DAVID COIMBRA

Emoções de molho pesto

Não entendo o prestígio do pesto. Não que sinta ojeriza ao pesto, nada disso. Só não acho graça. Mas, na sexta-feira, fui falar mal do pesto no Sala de Redação, da Gaúcha, e causei revolta entre os ouvintes. Amantes do pesto de todos os rincões do Brasil deitaram a escrever defesas ardentes de seu molho preferido, e me enviaram seus arrazoados em e-mails pouco amigáveis. Durante o programa mesmo, o Maurício Saraiva saltou em defesa do molho pesto. Só que, educado como é, o Maurício apenas me convidou para provar massas ao pesto que ele garante que serão inesquecíveis.

Se isso realmente acontecer, se houver por aí uma massa ao pesto que me arranque suspiros de prazer, não me importo de voltar atrás. Virei aqui e direi: "Eu estava errado. Existe um molho pesto que redime todos os outros".

Mas, até agora, os molhos pesto que já encontrei são desmaiados, anêmicos, sem vida. E essa é a palavra-chave, aliás: vida! É disso que estamos falando. De viver. Nós temos de sorver o sumo que a existência nos oferece até a última gota. Temos de nos repimpar. Não com pressa, não com gula, mas com deleite. Não temos tempo para o que é insosso. Não temos tempo para os tons pastel. Delicadezas? Sim. Amenidades? Por certo. Mas não o desânimo. Não o sensabor.

O Rio Grande do Sul se tornou um Estado que padece desse mal, de se contentar em viver com emoções de molho pesto. É um Estado que desistiu das grandezas, com duas refulgentes exceções: Grêmio e Inter. Esse sentimento pequeno, medíocre e mesquinho, sei bem de onde vem. É fácil de identificar.

Olhe a orla do Guaíba, esse novo orgulho do porto-alegrense. Olhe e veja como a cidade está feliz com a execução desse projeto tantas vezes debatido e tantas vezes boicotado. Agora há pouco, quando o grande Jaime Lerner foi contratado para fazer esse belo trabalho, houve porto-alegrenses que se ergueram em revolta. Queriam que o arquiteto responsável fosse escolhido por concurso, não por notório saber, portaram cartazes denunciando que Porto Alegre estava à venda, atiraram moedas em Jaime Lerner, chamando-o de mercenário.

Pois aí está. As lideranças da prefeitura souberam enfrentar os espíritos menores, e Jaime Lerner entregou uma joia preciosa para desfrute da cidade.

Desta vez, Porto Alegre soube ser grande. O projeto da Orla é um prato com molho vermelho, denso, perfumado, que, antes mesmo de ser provado, excita a imaginação. Não aquela coisa verde e fria de que gosta o Maurício Saraiva, esse defensor dos pontos corridos. É isso. Vamos viver com grandeza e alegria todo o tempo que nos derem para viver.

DAVID COIMBRA

31 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A AMPLIAÇÃO DA TESTAGEM

Desde o início da pandemia, uma das principais estratégias dos países que melhor se saíram na contenção do novo coronavírus foi a testagem em massa da população. É uma forma lógica de combate à disseminação da enfermidade por contribuir para detectar o mais rápido possível casos, mesmos assintomáticos, confirmar e descartar suspeitas, fazer com que contaminados se isolem e, ao mesmo tempo, rastrear pessoas com quem tiveram contato. A estratégia que se mostrou eficiente para ajudar a diminuir a transmissão da covid-19, no entanto, foi pouquíssimo executada no Brasil, com reduzida quantidade de testes em relação ao número de habitantes.

A explosão da variante Ômicron, com taxas de contágios muito acima das cepas anteriores, fez finalmente o governo despertar e dar um passo no sentido de ampliar, ainda que de maneira insuficiente, a busca por diagnósticos. A aprovação na sexta-feira pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da venda e do uso de autotestes de antígeno para a covid-19, já há muito adotada por outros países, é positiva, apesar de tardia. Promessas de testagem massiva até hoje não se concretizaram e, pior, milhões de kits para aferir a presença do vírus venceram em armazéns sem ser utilizados.

Ampliar o acesso a testes em que o próprio usuário verifica o resultado é neste momento uma importante ferramenta para aliviar a pressão sobre o sistema público e laboratórios, onde a população tem encontrado dificuldade nas últimas semanas devido à escassez de exames. Mesmo assim, a orientação, por enquanto, em casos positivos, é a de procurar unidade de saúde para atendimento profissional e confirmação do resultado.

A situação econômica dos brasileiros, no entanto, faz com que a aquisição dos testes, nas farmácias e em outros estabelecimentos licenciados, seja possível apenas para uma parcela minoritária. Seria conveniente que o governo federal adotasse também uma política de distribuição via Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo elegendo públicos prioritários, para que as autoridades da área consigam ter uma noção um pouco mais precisa do quadro da pandemia para a calibragem de medidas de controle de contágio, se necessário, e planejamento do atendimento na rede hospitalar. Hoje, atestam especialistas, há um voo às cegas e uma brutal subnotificação, que permanecerá caso a política de testagem não seja ampliada.

Aguarda-se agora que os fabricantes de autotestes solicitem o mais rápido possível o registro na Anvisa, para que sejam analisados e, se aprovados, comecem a ser vendidos celeremente à população. A expectativa, no entanto, é de que a comercialização se inicie apenas em março. Mas espera-se também que os produtos cheguem ao mercado a um preço justo, permitindo a um maior número de pessoas o acesso ao diagnóstico rápido. 


31 DE JANEIRO DE 2022
ROSANE DE OLIVEIRA

Investimentos em cultura diferenciam o RS e a Capital

Em contraste com o governo federal, que trata a cultura com desprezo, os governos de Eduardo Leite no Rio Grande do Sul e de Sebastião Melo em Porto Alegre têm o que mostrar nesta área que é sinônimo de civilização. Além de garantir status de secretaria à Cultura, o governador e o prefeito escolheram para comandar a pasta pessoas comprometidas com o setor, cientes da importância da economia da cultura e da capacidade que ela tem de gerar empregos, renda e desenvolvimento.

Acima das disputas partidárias, Beatriz Araújo, a secretária estadual, e Gunter Axt, o municipal, trabalham em sintonia e promovem a cultura, mesmo com as limitações orçamentárias. Valorizam a arte e os artistas, sem preconceito e com a preocupação de incluir em vez de excluir. Pode parecer que estão fazendo o óbvio, mas no Brasil dos últimos anos a cultura vem sendo espancada e há até quem se vanglorie, nas redes sociais, de "já ter precisado de advogado, de médico ou de professor, mas nunca de artistas".

Beatriz e Gunter valorizam a literatura, o cinema, o teatro, a música e todas as manifestações artísticas. Preocuparam-se em dar dignidade aos que vivem da arte e, na pandemia, ficaram sem renda.

Hoje, a secretaria estadual lança o edital Filma RS, que vai destinar R$ 12 milhões para o setor audiovisual. O investimento integra as ações do Avançar na Cultura.

- Quando o governador me convidou para ser secretária, não tinha dinheiro para nada, mas, quando teve, não esqueceu da cultura - destaca Beatriz.

A secretaria municipal, com orçamento de R$ 7,7 milhões, tem feito uma verdadeira ginástica para driblar a falta de recursos e o desmonte dos programas federais. A saída foi buscar parcerias com o setor privado.

Base do PP quer Goergen no Senado

Ganhou corpo nos últimos dias na base do Progressistas (PP) uma campanha para que o deputado Jerônimo Goergen seja candidato ao Senado. Esse sempre foi o projeto do deputado, mas como o senador Luis Carlos Heinze, candidato a governador, deixou claro que as vagas de vice e senador seriam oferecidas a partidos aliados, Goergen tirou o time de campo e, em 2021, anunciou que estava deixando a vida pública.

O movimento parte da constatação de que dificilmente o PP conseguirá aliado de peso, não tendo a seu favor a máquina do governo federal nem do estadual, e terá de pensar em chapa pura.

A outra pretendente, a ex-senadora Ana Amélia Lemos, está de saída do PP pelo mesmo motivo que Jerônimo anunciou a opção pela iniciativa privada: queria ser candidata e não encontrou respaldo.

No fim de semana, o ex-deputado e ex-ministro da Agricultura Francisco Turra convidou Goergen para um encontro em sua casa de Rainha do Mar. Na conversa, Turra e o filho Sérgio, deputado estadual que neste ano será candidato a federal, selaram o apoio a Goergen, convencidos de que o cenário favorece o PP na eleição para o Senado.

Ficou acertado que Sérgio ficará com o número 1133, com o qual Goergen concorreu nas últimas eleições. O mesmo número foi de Francisco Turra.

Valdeci, o presidente da simplicidade

Na véspera de assumir a presidência da Assembleia Legislativa, o deputado Valdeci Oliveira (PT) dedicou o domingo à família. O almoço foi a comemoração antecipada do aniversário do pai, Joreci, que faz 88 anos hoje e só não comparecerá à posse porque os filhos querem protegê-lo do risco de contaminação pelo coronavírus.

Na hora da foto com o pai (C) e o irmão Valmir, Valdeci ficou de máscara. No cardápio, a simplicidade que é marca da família. Mesmo tendo sido prefeito de Santa Maria, deputado federal e estadual, vive há mais de 30 anos na mesma casa na Cohab Tancredo Neves, região Oeste de Santa Maria.

- Não se ganha dinheiro na política - diz o futuro presidente, escolhido por consenso na bancada do PT.

Melo abre voto para Alceu Moreira

Em meio ao acirramento dos ânimos no MDB, com a aproximação da prévia marcada para o dia 19, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, abriu o voto para o candidato Alceu Moreira, caso não se consiga chegar a um nome de consenso.

- Ainda estamos trabalhando para unificar o partido. As inscrições vão até o dia 3 de fevereiro, mas se a disputa ficar entre Alceu e Gabriel (Souza), voto no Alceu - disse Melo à coluna.

Entre os partidários de Alceu, existe a convicção de que Melo será o coordenador da campanha, mas o prefeito diz que nada está decidido.

- Vamos esperar as inscrições. O Schirmer (Cezar Schirmer, secretário municipal de Planejamento) está dizendo que ainda pode ir. O prefeito diz que não desconhece a importância da aliança com o PSDB, mas que "o processo aconteceu de forma inversa", referindo-se à preferência do governador Eduardo Leite por Gabriel:

- Temos de começar pelo projeto e não pelo candidato. Mas não podemos retroagir. O governador Sartori fez coisa importante, e o Eduardo pegou uma Assembleia mudancista, que garantiu avanços.

A maioria dos deputados estaduais fechou com Gabriel. Os federais estão divididos.

aliás

Atacado por partidários de Alceu Moreira, que o acusam de traição por ter mudado de ideia e estar trabalhando para ser candidato na prévia do MDB, o deputado Gabriel Souza gravou vídeo dizendo que vai continuar debatendo ideias e projetos, repudia ataques pessoais e não os fará contra adversários.

é difícil entender a cúpula Do MDB: se os caciques não tivessem insistido na prévia, para evitar o lançamento de alceu moreira ainda em dezembro, não haveria agora a divisão temida pelos que o boicotaram. O deputado gabriel souza só nasceu como candidato depois desse movimento.

ROSANE DE OLIVEIRA

31 DE JANEIRO DE 2022
CLAUDIA LAITANO

Roda-viva

Joni Mitchell, que além de compositora genial, cantora, instrumentista e diva absoluta também é artista plástica, certa vez comparou o ofício de pintar com o de compor e cantar em público: "Um artista pinta um quadro, desfruta a satisfação de criar e é isso. O quadro é pendurado na parede, alguém o compra e talvez outra pessoa o compre de novo mais tarde. Ou ninguém se interessa, e o quadro fica esquecido em algum canto. Mas nunca - nunca - alguém pensaria em pedir a Van Gogh: ?Pinta Noite Estrelada de novo aí, cara? ".

Por diferentes motivos, músicos sempre exerceram o direito de recusar-se a continuar pintando sua Noite Estrelada indefinidamente. Madonna, uma garota materialista em um mundo idem, chegou a dizer que só voltaria a cantar Like a Virgin se alguém lhe pagasse 30 milhões de dólares. Roberto Carlos, supersticioso e maniático, ficou anos sem cantar Quero que vá tudo pro inferno para evitar as "vibrações negativas" da letra.

Nos últimos tempos, na hora de decidir o que querem ou não mostrar ao seu público, alguns artistas têm levado em conta não apenas suas idiossincrasias e evolução musical, mas também o espírito da época e suas suscetibilidades estéticas. No ano passado, os Rolling Stones anunciaram que deixariam de cantar Brown Sugar (1971), um dos maiores sucessos da banda, porque a canção evoca a exploração sexual de mulheres negras. A onda parece ter batido por aqui também: em depoimento para o documentário O Canto Livre de Nara Leão, que repercutiu nas redes sociais na semana passada, Chico Buarque surpreendeu parte dos fãs ao admitir, meio sem jeito, que não cantava mais Com açúcar, com afeto porque a música era considerada machista nos dias de hoje.

Nasci em 1966, ano em que Chico compôs Com açúcar, com afeto para Nara Leão. Para mim, como para muitas meninas da minha geração, a música sempre soou tão propositalmente anacrônica quanto A Banda ou Noite dos Mascarados. Não porque mulheres submissas e o patriarcado tivessem sido extintos do planeta enquanto nos aproximávamos da vida adulta, mas porque a idealização da sofrência feminina já soava antiquada naquela época (Amélia, que nem bolo fazia porque achava bonito não ter o que comer, é de 1942). Sugerir que Com açúcar, com afeto era machista soaria tão absurdo quanto imaginar que o verso "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas" era um elogio ao estilo de vida das esposas da Grécia Antiga.

É óbvio, mas precisa ser repetido: leituras literais de obras de arte não são apenas tolas e limitadas, mas arrogantes em sua pretensão de eliminar paradoxos desconfortáveis e cobrir todas as contradições da natureza humana com a pátina dos bons sentimentos. Seria como sugerir a Van Gogh que pintasse uma noite um pouco menos convulsionada ao observar o mundo desde a janela de um hospício em Saint-Remy.

Chico Buarque pode se dar ao luxo de abandonar algumas de suas canções à própria sorte, tão vasta é sua coleção de obras-primas, mas não deixa de ser irônico que o compositor de Roda-Viva tenha sido arrastado pela corrente da patrulha até não poder resistir: "A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá".

CLÁUDIA LAITANO

Os motivos que me levaram ao afastamento

Tudo começou com uma vertigem que não melhorava de jeito nenhum

31/01/2022 - 04h00min - Atualizada em 31/01/2022 - 10h43min

DANIEL SCOLA

Há algum tempo, venho pensando em escrever este texto para contar o que tem acontecido comigo nos últimos meses. Ouvintes da Rádio Gaúcha e leitores de GZH e Zero Hora têm perguntado por que me afastei de minhas atividades.

Em julho de 2021, descobri um câncer no cerebelo. Ainda naquele mês, precisei passar por uma operação de retirada deste tumor. O procedimento acabou mexendo com meu equilíbrio, o que é normal. Fiz a cirurgia, passei por 30 sessões de radioterapia e, agora, estou no terceiro ciclo de quimioterapia.

Antes, porém, convém eu contar como tudo começou. Em junho, eu vinha tratando uma vertigem, mais precisamente uma VPPB, vertigem posicional, que deveria ser corrigida com manobras no meu cérebro. Deveria, mas eu não melhorava de jeito nenhum. Em resumo: não havia como eu ficar em pé sem me apoiar.

O otorrino que me trata, Dr. Otávio Piltcher, pediu uma ressonância da cabeça, para tirar todas as dúvidas. Na ressonância, apareceu o tumor, bem no meio do cerebelo, órgão que fica logo abaixo do cérebro. O Dr. Otávio ligou no mesmo dia para dar a notícia ruim, alertado pelos médicos que fizeram o laudo. Ao telefone, enquanto conversávamos, uma sensação de frio corria pela minha espinha. Era uma vertigem e, agora, um câncer? Sim! Pode acontecer com qualquer um.

Vinte dias depois, eu estava na mesa de cirurgia do médico Arthur Pereira Filho, um cirurgião de mão cheia, que comandou uma operação elogiada até por especialistas de fora do país. Além dele, me atendem exemplarmente os médicos André Fay, Daniella Barletta, Luiz Antonio Nasi e Marcio Doernte - o homem que não dorme.

Na entrada do Centro de Oncologia Lydia Wong Ling, no Hospital Moinhos de Vento, tem um cartaz que diz assim: “Não se combate o câncer sozinho”. É a maior verdade sobre essa luta. Então, agradeço demais à minha empresa, a RBS, que sempre esteve ao meu lado. Quem nunca desgruda do meu pé é minha esposa, Gabriella, que me leva em todas as visitas ao hospital. Trabalho com profissionais e a eles sou muito grato. Encontrei vários pelo caminho.

Desejo que 2022 seja o ano da saúde, que eu possa andar de bicicleta com minhas filhas, dirigir para levá-las à escola, digitar este texto mais rapidamente. E Deus sabe lá mais o quê.

sábado, 29 de janeiro de 2022

 A Amiga Genial

Elena Ferrante

4 de 5 estrelas (1 avaliações)
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A Amiga Genial

A Amiga Genial

Editora:biblioteca azul

Tipo:usado

Ano:2015

R$ 19,00
Vendido por Livros da estanteSP - São Paulo

'A amiga genial' é narrado pela personagem Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. 


Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela. As duas se unem, competem, brigam, fazem planos. Em um bairro marcado pela violência, pelos gritos e agressões dos adultos e pelo o medo constante, as meninas sonham com um futuro melhor. Ir embora, conhecer o mundo, escrever livros. Os estudos parecem a melhor opção para que as duas não terminem como suas mães entristecidas pela pobreza, cansadas, cheias de filhos. 


No entanto, quando as duas terminam a quinta série, a família Greco decide apoiar os estudos de Elena, enquanto os Cerrulo não investem na educação de Raffaella. As duas seguem caminhos diferentes. Elena se dedica à escola e Raffaella se une ao irmão Rino para convencer seu pai a modernizar sua loja. Com a chegada da adolescência, as duas começam a chamar a atenção dos rapazes da vizinhança. Outras preocupações tornam-se parte da rotina; ser reconhecida pela beleza, conseguir um namorado, manter-se virgem até encontrar um bom candidato a marido.


Descrição: Formato 14 X 21 cm. Com 331 págs. Brochura. Livro em bom estado de conservação. Capa e lombada com sinais de desgastes nas extremidades, capa e contra capa possuem marca de dobra, lombada ondulada, miolo ok! Sem sinais de grifos e anotações. Corte das páginas e algumas páginas contem início de amarelamento devido á ação do tempo. Contra capa do lado inferior e algumas páginas manchadas e levemente onduladas devido á umidade. 


Sinopse: A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A amiga genial, é narrado por Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950... ELO 06/2021


Entenda o que é o metaverso e por que ele pode não estar tão distante de você

Empresas brasileiras projetam expansão e melhora da tecnologia de realidade virtual, com novas funcionalidades para o público

Metaverso ainda se concentra nos videogames, mas deve se expandir e chegar a outras áreas do dia a dia

Freepik/tirachardz - João Pedro Malardo CNN Brasil Business*

Quando o Facebook anunciou em 2021 a meta de se tornar uma “empresa de metaverso” em até cinco anos, o termo ficou em alta, mas também gerou muitas dúvidas sobre um conceito ainda desconhecido pelo público em geral.

Isso não significa, porém, que o metaverso está distante do dia a dia das pessoas. Pelo contrário, diversos projetos e produtos já empregam isso.

Empresas do setor de realidade virtual entrevistadas pelo CNN Brasil Business afirmam que, agora, a tendência é de uma expansão e melhora tecnológica que deverão tornar o metaverso mais realista, conquistar um público cada vez maior e abrir uma nova fronteira de mercado.

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O que é o metaverso?

Luli Radfahrer, professor do curso de publicidade e propaganda da USP, afirma que a ideia do metaverso não é algo novo. “É um termo que surge na década de 1980 da literatura cyberpunk, com o livro ‘Snow Crash’”, diz.

A ideia representa a possibilidade de acessar uma espécie de realidade paralela, em alguns casos ficcional, em que uma pessoa pode ter uma experiência de imersão. Tecnicamente, o metaverso não é algo real, mas busca passar uma sensação de realidade, e possui toda uma estrutura no mundo real para isso.

A partir dessa ideia de imersão, diversos metaversos surgiram com os videogames. “A tecnologia só dá certo se tem uma aplicação essencial, e para o metaverso, é o jogo, pois faz sentido uma imersão em outro mundo, interagir com as pessoas. Já existe há muito tempo, uma espécie de metaverso”, afirma o professor.

Desse modo, o grau de “metaverso” dos jogos varia pelo nível de imersão, e também pela capacidade de passar um certo realismo para o usuário. A tecnologia, porém, é um grande fator que limita essa capacidade.

“Quando a internet se popularizou na década de 1990, existiam várias tecnologias que, em teoria, permitiriam o metaverso, em especial voltado para realidade virtual, criação de espaços 3D, mas não deu certo. No começo do século 21, teve o [jogo] Second Life, muitas empresas gastaram fortunas para estar nele, e era um metaverso, se vendia como. Mas não emplacou”, afirma Radfahrer.

Second Life

O jogo ‘Second Life’ (“Segunda Vida”, em português) é um dos exemplos mais famosos de jogos que investiram na ideia do metaverso, com criação de avatares e interações sociais / Reprodução/Second Life

Para ele, o motivo do fracasso de experiências que investiam mais no aspecto do metaverso, com criação de avatares e “vidas” paralelas, se deu por dois fatores. O primeiro era uma limitação tecnológica, exigindo uma grande capacidade de processamento em uma época em que as conexões de internet eram lentas. Em segundo lugar, houve a expansão das redes sociais.

“As pessoas acharam substitutos razoavelmente bons para ter um avatar completo, substitutos até melhores, como criar identidades no Facebook, Twitter, em que consegue exercitar já parte da sua personalidade sem precisar “carregar” um corpo junto”, diz.

“Metaverso já existe há muito tempo, funciona bem em games, e para aí, porque as pessoas não veem necessidade. Se vissem, já tinha ganhado espaço”, considera ele.

Porém, para gigantes de tecnologia que passaram a investir em realidade virtual e no próprio metaverso, caso do Facebook e da Microsoft, o cenário mudou, ou está prestes a mudar.

A aposta agora é que novos avanços tecnológicos permitirão, primeiro, um barateamento maior dos aparelhos de realidade virtual, atingindo um público maior, e a melhoria dos gráficos que eles geram, aumentando o grau de realismo.

Com isso, as pessoas seriam mais atraídas para essas novas realidades, em que seria possível criar avatares, interagir com amigos, fazer compras, reuniões, ir ao trabalho ou à escola.

Radfahrer considera que o movimento do Facebook liga-se também a uma tentativa de “criar uma liga alternativa” de consumo de produtos – a empresa comprou a Oculus, produtora de óculos de realidade virtual -, após perder o timing para entrar em mercados como o de smartphones e assistentes virtuais domésticas.

Aplicativo do Facebook permite fazer reuniões em realidade virtual

Primeiro teste do Facebook envolvendo o metaverso é um aplicativo de reuniões em realidade virtual / REUTERS

“É bom que trabalhem com isso para forçar a ponta da tecnologia, mas acho que por enquanto [o metaverso] vai estar mais em eventos, coisas especiais e games, não pro dia a dia. As pessoas precisam arrumar o patamar [tecnológico atual], não ir para outro”, defende.

Empresas brasileiras veem a expansão do metaverso com otimismo

Para as empresas de tecnologia de realidade virtual, a expansão do metaverso é algo esperado há um bom tempo. É o caso da Nexus VR. Fundada em 2013, a empresa chegou a trabalhar internamente com o conceito de metaverso em 2014 em um projeto. Entretanto, a ideia não foi para frente devido à recusa de financiamento por fundos norte-americanos.

“Eles tinham a leitura de que o mercado não estava pronto porque os equipamentos eram recentes e caros”, afirma Felipe Coimbra, diretor de tecnologia da empresa. Para ele, a grande mudança que o Facebook pode trazer é a transformação do metaverso não como entretenimento, mas como serviço.

Ele cita oportunidades em áreas como educação, e-commerce, aprendizado e também para o consumo. Hoje, a Nexus VR desenvolve projetos, eventos e treinamentos para empresas com tecnologias de realidade virtual, realidade aumentada e a chamada mixed reality, além de peças publicitárias e showrooms de projetos imobiliários.

Para Coimbra, caso o Facebook realmente consiga atingir a meta de se transformar em uma empresa de metaverso, o conceito deverá se popularizar e gerar uma corrida entre as empresas para entrar nesse ambiente. Ele estima que, no máximo, o Brasil demoraria dois anos a mais em relação aos Estados Unidos para que a tecnologia se popularizasse.

Ele espera que, a princípio, as tecnologias novas de realidade virtual sejam voltadas para empresas, que terão dinheiro para financiar projetos, e usadas para eventos, treinamentos, reuniões e trabalho remoto. Conforme a tecnologia se tornar mais barata e despertar a atenção do público, deve ocorrer uma expansão, em um segundo momento.

A aposta da empresa para a popularização da realidade virtual é o chamado cardboard, uma espécie de caixa de papelão em que é possível colocar um celular, que transmitirá o conteúdo de experiência de realidade virtual, com um custo bem menor.

Cardboard

Criado pela Google, o cardboard é uma caixa de papelão que, junto com um celular, cria experiências de realidade virtual / Google/Divulgação

Já a VRGlass, outra empresa brasileira que foi fundada em 2011 e já trabalhou em mais de 200 projetos, aposta na criação de ambientes imersivos que podem ser acessados em um óculos de realidade virtual, mas também através do computador, celular ou tablet.

Um projeto recente da empresa, para um evento da NBA no Brasil, trabalhou com esse conceito, misturando “gamificação com o metaverso”, diz Ohmar Tacla, presidente da empresa. Com isso, é possível que os projetos atinjam um público que, até o momento, não consegue comprar um óculos de realidade virtual.

“O conceito do metaverso é baseado no óculos. Hoje, as empresas estão adotando o conceito de metaverso mas sem se ater muito ao óculos, porque o alcance ainda é muito pequeno”, afirma.

A VRGlass desenvolveu um projeto recente para a NBA que combina gamificação e metaverso, podendo ser acessado por um óculos de realidade virtual ou por um computador / VRGlass

Para ele, o metaverso trabalhará com a integração de uma série de projetos e ferramentas que já existem. “A parte do conteúdo é mais integração, muita gente já está fazendo o próprio metaverso, o Facebook é só mais um exemplo”, diz. A companhia, inclusive, desenvolve um projeto de ensino virtual, que combina metaverso e tenta replicar o ambiente escolar.

Outra empresa que também vê uma expansão do metaverso com otimismo é a VR Monkey. Fundada em 2015, ela desenvolve jogos próprios e para outras empresas e treinamentos para indústrias, trabalhando com realidade virtual e aumentada.

Pedro Kayatt, presidente da empresa, lembra que todo jogo já é um metaverso, então, a expectativa para o setor é de uma melhora tecnológica, de qualidade e um barateamento de produtos, atingindo novos públicos.

Ele cita casos de sucesso recentes de jogos que trouxeram elementos da “vida real” para o virtual, como o Roblox e o Fortnite, que já realizou até shows de cantores no jogo.

Travis Scott no Fortnite

Um exemplo recente de metaverso é o jogo Fortnite, em que o rapper Travis Scott realizou um show usando um avatar do jogo / Fortnite/Reprodução/YouTube

Para ele, a grande mudança será que, “além dessa interação e imersão em ambientes virtuais pela tela do computador, haverá uma evolução para a realidade virtual”. Ele lembra que o setor já teve um salto grande, com barateamento, portabilidade e melhoria dos gráficos, e isso deve continuar.

“A tendência é de direcionamento para esse mundo, em que estaremos cada vez mais mexendo com VR em um sistema diário. E o mercado vai expandindo”, afirma.

“Existe uma barreira de entrada grande por ser uma nova mídia. É algo muito diferente para quem não conhece. Se nunca experimentar, não vai saber o que é possível fazer com ela. Como as pessoas não sabem o que é, tem medo, e não sabem o potencial”, diz.

Quais os desafios para a expansão do metaverso no Brasil?

Para Felipe Coimbra, a principal dificuldade para atingir um público maior no Brasil ainda é o preço alto dos dispositivos de realidade virtual. “Naturalmente, em algum momento essa tecnologia vai estar acessível, igual o smartphone. Há um esforço de empresas de transformar o VR em algo acessível”, diz.

Apesar disso, ele considera que o setor “está pronto para contribuir com o desenvolvimento desse ecossistema” no Brasil, já que o país já está alinhado com essa tecnologia.

Já Ohmar Tacla considera que ainda existem desafios que precisarão ser superados. “Ainda hoje não estamos em um nível muito avançado, o equipamento tem o mesmo nível de processamento de um celular, então, o gráfico não é muito realista”, afirma.

Ele diz que esse cenário mudaria com a chegada da tecnologia 5G no Brasil. “Para chegar realmente em um metaverso, sem choque com a realidade, precisa do 5G, que dá mais processamento, que ocorre fora do computador, em um servidor remoto, o que facilita, torna os gráficos mais realistas”.

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Kayatt pondera que esse processo pode levar tempo, mas que o cenário para o setor de realidade virtual será diferente em cinco anos. A grande expectativa, afirma, é que os óculos de realidade virtual tornem-se realmente óculos comuns, o que pode facilitar a adesão ao produto.

Pandemia é vista como aceleradora do metaverso

Em um contexto em que as pessoas precisam ficar mais tempo em casa, evitar aglomerações e lidar com a falta de festas, a possibilidade de poder interagir com amigos, fazer reuniões, compras e ir em eventos sem correr riscos pode se tornar mais tentadora.

Por isso, a própria pandemia fez com que mais empresas olhassem para o metaverso com atenção, algo impulsionado pelos avanços tecnológicos recentes.

A demanda por digitalização com a pandemia foi sentida pelas próprias empresas entrevistadas, que citaram uma busca maior de companhias que queriam realizar eventos empresariais de forma remota, mas mantendo um certo realismo, evitando ficar refém das telas de videochamadas que acabam sendo cansativas.

“Todo mundo quer inovação. A pandemia mexeu muito com tudo, acelerou tudo. Tudo que envolve o metaverso a gente já vivenciou isoladamente. A questão é colocar tudo em um ambiente só”, afirma Marcelo Santaniello, diretor de operações da Nexus VR.

A Nexus VR e a VRGlass notaram um aumento do interesse de empresas na criação de espaços virtuais para encontros, que já configuram um tipo de metaverso. “A realidade virtual cresceu muito no período. Nós trabalhávamos em eventos físicos porque era onde tinha demanda, mas a verba do evento físico passou para os eventos virtuais”, diz Ohmar Tacla.

Luli Radfahrer considera, porém, que o período posterior à pandemia pode ser um desafio para a expansão do metaverso. “As pessoas querem se livrar [do virtual], vai ter um retrocesso, elas até podem querer trabalhar em casa, mas está todo mundo louco pra se encontrar”, afirma.



Quatro pessoas sentadas usando óculos de realidade virtual

Para o professor Luli Radfahrer, a ânsia pelo presencial após a pandemia pode atrapalhar a expansão do metaverso / Unsplash/ Lucrezia Carnelos

“A ânsia pela presença pode atrapalhar, mas ainda vai demorar de um a dois anos para os equipamentos se popularizarem, e aí talvez o sentimento já vai ser o inverso”, diz Pedro Kayatt.

A perspectiva foi compartilhada pelas outras empresas, que esperam que a demora para a disseminação da realidade virtual e do metaverso façam com que as pessoas já tenham perdido a ânsia pelo presencial, e inclusive queiram retomar parte da vida virtual.

“Pelo lado das empresas, o uso do VR deve aumentar porque o custo é menor do que fazer uma reunião ou evento físico, então, conseguiram perceber que a versão virtual entrega até resultados superiores, mais gente, mais tempo no evento”, afirma Tacla.

A expectativa para os próximos anos é de uma espécie de “oceano azul” para empresas do setor, ou seja, um ambiente com grande potencial de ganhos e com pouca competição.

“A pandemia mostrou que as pessoas têm a capacidade de trabalhar remoto, o que antes era algo inesperado, manter produtividade no remoto. Mas o remoto tem suas limitações, e o metaverso é uma forma de trabalhar isso. A realidade virtual te transporta para outro mundo, e o foco fica nele”, diz Kayatt.

*Sob supervisão de Thâmara Kaoru

Inflação, desabastecimento, Geração Z e metaverso chamam atenção de gaúchos em feira de Nova York

Três líderes lojistas apontam quais foram os temas mais importantes na 112ª NRF, evento da federação de varejo dos EUA

Giane Guerra - GIANE GUERRA Direto de Nova York

Marcelo Paes / Divulgação Sindilojas Porto Alegre - Paulo Kruse, Irio Piva e Arcione Piva

Marcelo Paes / Divulgação Sindilojas Porto Alegre

Há mais de 10 anos que os brasileiros são presença massiva na NRF, feira internacional de varejo aqui de Nova York. Os gaúchos, claro, estão entre eles. No encerramento do evento, a coluna pediu aos presidentes das entidades de varejo de Porto Alegre as suas percepções sobre o que foi debatido e o que devem levar para compartilhar com o setor no Brasil. Confira:

Como os norte-americanos estão preocupados com a inflação e falta de produtos! É uma preocupação no Rio Grande do Sul também? 

Certamente. Parece que tudo que está acontecendo lá está acontecendo aqui, mas o que me surpreende é a demora que eles entendem para baixar a inflação. Eles esperam um a dois anos. Isso é preocupante. E por isso que eu vejo que no Brasil temos uma diferença de 3% em relação a eles, e nosso país, com tudo que aconteceu, estamos muito bem. O abastecimento se nota nas lojas. Nós notamos a falta de consumidores nas lojas, nos restaurantes. Nova York está bastante abatida. A pandemia fez sofrer muito, e isso desenvolve. O que nós vemos? Falta de investimentos no varejo, novidades não tão normais como eram há algum tempo, e por isso, nos preocupa. A única certeza que temos aqui é que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. E por isso que é muito importante que se faça trabalho conjunto, união, ouça outros pares, façam parcerias, compartilhamentos, para que a gente possa até errar, mas tentando acertar. E é isso que vimos na palestra da Carla Harris, uma líder nata, e que deu um show para que as novas lideranças vejam como devem se comportar.

Acho que os palestrantes sabem que o pessoal veio aqui para tentar tirar algum tipo de projeção mais concreta, um norte, uma bússola para todo mundo, porque tudo muda muito rápido. Eu já ouvi dois grandes palestrantes falando que não têm bola de cristal, mas que os ajustes precisam ser feitos conforme a coisa for andando.

Certamente. Por isso que digo que temos que fazer. Certamente vamos errar, e as lideranças precisam ouvir seus pares e empoderar seu líderes que trabalham com ele para que façam. Errem, mas os ajustes vão sendo feitos. Quem estiver fazendo coisa diferente, tentando, vai passar. Quem não fizer e continuar mantendo o que vinha fazendo, certamente terá problema.

O que acha do metaverso?

Eu acho sensacional, uma mudança de paradigma. Daqui a pouco teremos nosso avatar fazendo compras, comprando roupa, e as empresas investindo nisso. Lógico que isso é uma distância muito grande para o pequeno. Não é algo real para a realidade do pequeno, mas é uma coisa interessante. Assim como surgiu a internet anos atrás, agora está surgindo o metaverso. E os investimentos serão massivos e pesados pelas empresas que querem obter lucros e mudar o rumo das coisas. Eu acho que a discussão sobre o metaverso é muito plausível e o jovem que é desafiador, que joga, vai entender mais rapidamente o sistema de metaverso. 

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E a geração Z. Teve uma palestra de uma mulher de 24 anos e me chamou atenção que ela fala muito sobre o uso do virtual, do online, mas ela também valoriza a experiência de ir até a loja. Isso até me dá uma tranquilidade. Quem sabe essa geração também vai trazer esse equilíbrio, não só para economia, mas também de saúde mental. E também ela fala sobre o engajamento com as marcas, que é um assunto que se fala há muito tempo, mas que tem crescido muito mais. Ela fez uma crítica à Victoria Secret's, uma marca que foi cancelada na internet por causa das modelos que usava e por outras questões envolvendo a gestão da empresa. E ela citou uma marca citada Parade, até então desconhecida, mas que ganhou destaque pelo engajamento. 

Certamente. Isso é uma coisa que impacta muito nos jovens. Eles não têm fidelidade, eles querem empresas que fazem aquilo que eles entendem como o certo. E o certo para eles não é, necessariamente, o que vem sendo tomado como certo até agora. Eles têm muitos questionamentos. Quem tem filho pequeno, jovem, sabe que eles são questionadores. E eles questionam tudo. A forma de viver, vestir, de adquirir patrimônio e bens. E isso tudo vai trazer um crescimento. Essa moça que palestrou tem uma comunidade de 10 mil pessoas que discutem esse assunto e, dali, fazem, inclusive, negócios, e surgem como pequenos investidores que podem se tornar, no conjunto, grandes. E demonstra bem, Giane, e eu fiquei muito entusiasmado com aquela palestra, porque demostra como nós temos que olhar e ouvir o jovem. Os jovens serão as pessoas que vão comandar nosso futuro. Eles precisam ser ouvidos, e não são ouvidos devidamente. E as empresas precisam ouvir os jovens para entender como será o futuro do seu negócio em venda.  

Arcione Piva, vice-presidente do Sindilojas Porto Alegre

A gente falava sobre cadeia de suprimentos. Vocês são do varejo, mas estão vendo que as indústrias não tiveram capacidade de produção. Tem também a questão do estrangulamento do frete global também afetou bastante e a gente acabou importando uma inflação que não é nossa, e é um dos motivos da inflação nos Estados Unidos. Muitas empresas e varejistas estão querendo não depender tanto mais dessa cadeia de suprimentos tal como ela é, e gerou essa situação de agora, e estão mudando de onde compram. Tentando produzir no Brasil. Isso está trazendo uma discussão no setor industrial e também no setor varejista de uma reindustrialização, que não se faz da noite do dia. Isso não é um processo rápido, certo?

É, com certeza. O fato do Brasil ter trabalhado com importação, especialmente da Ásia, nos últimos anos, fez com que a indústria brasileira ficasse degradada. É uma palavra forte, mas essa é a realidade. A indústria brasileira, especialmente na linha de moda, confecção, está muito, muito prejudicada. Agora, com fretes muito caros, com essa logística internacional sendo muito difícil e demorada, com altos custos, acaba sendo impossível, ou muito mais difícil de trazer do mercado da Ásia para o Brasil, obrigando o varejo brasileiro a voltar para dentro do país, e precisa, de fato, reindustrializar a indústria brasileira. E isso leva um tempo, o que é uma preocupação a mais no varejo brasileiro.

Isso não quer dizer deixar de comprar de outros lugares também? A China vai continuar sendo um fornecedor? Como isso deve se organizar? O executivo da Ralph Lauren disse que antes mesmo da pandemia eles tinham identificado que estavam dependendo muito de só dois mercados como fornecedores. E aí eles buscaram, fizeram um trabalho de diversificação de fornecedores, e também aumentaram o prazo de seus contratos para que, quando houvesse um problema, como aconteceu agora, eles tivessem preferência para compra dos produtos.

É, talvez aí seja a união de esforços entre empresários. Especialmente os pequenos e médios devem se unir e buscar outras alternativas. Não necessariamente só da Ásia, mas Europa, a própria América Latina tem bastante possibilidade de fornecer produtos, basta a gente estar aberto, disponível para o novo. Esse é um desafio que até o Sindilojas tem discutido muito em Porto Alegre, de unir os lojistas para que eles busquem soluções em conjunto. Talvez seja essa uma saída para driblar essa crise, especialmente de abastecimento em âmbito mundial, que não é um problema só do Brasil. Com a união de grandes empresas, e especialmente de pequenos, pode-se transformar isso em uma oportunidade de negócios para abastecer esse problema de abastecimento.

Vai dar para construir uma casa no metaverso e comprar as coisas da Elevato?

Já estamos trabalhando nisso, Giane. A Elevato tem uma equipe de inovação que já está trabalhando nisso de ter possibilidade de colocar produtos no metaverso, e isso pode ser que resolva. Estava pensando aqui, enquanto tu falava com Paulo Kruse, que pode ser que resolva o problema da logística. Porque no metaverso, na verdade, você não precisa entregar o produto físico. 

Mas o que o Paulo falava antes, sobre essa fidelidade da menina de 24 anos, e eu ouvi na NRF do CEO da Walmart, que será o próximo CEO da NRF, de que a fidelidade do cliente está até que outra empresa, outro serviço seja oferecido e que chame atenção do consumidor. A fidelidade é muito sensível. O varejista tem que estar muito atento à mudança de perfil dos seus consumidores. Porque as gerações vão crescendo, fazendo com que a empresa se obrigue a continuar evoluindo para acompanhar esse consumidor. Não basta ser líder hoje. Tu tem que estar preocupado em acompanhar as gerações para que você possa continuar a ser líder. E para continuar a ser líder, tem que fazer coisas diferentes do que vinha sendo feito. Nada do que eu fiz até ontem serve para eu continuar como líder amanhã. Eu preciso evoluir também no jeito de gerenciar, de gerir meu negócio, meus consumidores e clientes para que eles possam permanecer dentro do negócio. É um desafio grande, mas não tão difícil assim. Basta a gente prestar atenção no comportamento dos filhos, dos netos, das crianças, de como elas estão se comportando no dia a dia. Todo mundo tem alguém, todas as famílias, todos os empreendedores têm alguém jovem, criança na família. Acompanhe essas crianças para ver como elas estão querendo ser atendidas.

Irio Piva, presidente da CDL Porto Alegre

Quais os destaques da NRF na sua opinião, presidente?

Não é muito fácil resumir porque foram muitas coisas, mas a primeira das conclusões que eu cheguei é que um problema que estamos vivendo no Brasil, que é o fenômeno da inflação e do desabastecimento é uma realidade nos Estados Unidos nesse momento e certamente em quase todo o mundo. Mas esse eu acredito que vá se resolver no curto prazo. Outros temas muito tratados na NRF foram sustentabilidade, diversidade, inclusão equidade, consumidor no centro de tudo. Se falou muito em pessoas. Sobre o consumidor, se falou muito de que ele quer, nesse momento, — e acho que isso aconteceu com a evolução trazida pela pandemia — ser atendido na hora, no local e do jeito que ele quer. Esse consumidor omnichannel quer tudo. Ele quer ser atendido na hora que quer, com o produto que quer. É quase um streaming, tudo on demand. 

E qual o destaque entre as palestras?

Outro tema que me chamou muito atenção e pra mim a melhor palestra da NRF foi da Carla Harris, da Morgan Stanley. Esta deu um show. Ela começou a sua palestra falando de incerteza geopolítica, do assunto da China, da Ucrânia, falou da inflação, da cadeia de abastecimento, das taxas de juro que estão aumentando, mas trouxe também uma visão muito positiva, apesar de tudo isso. Ela entende que teremos um ano para o varejo muito forte. Ela também comentou, e acho que aí foi o ponto forte da palestra, sobre liderança. Inclusive ela citou as oito pérolas da liderança que são autenticidade, estabelecer confiança, criar outros líderes, diversidade, inovação, exclusividade, relacionamento e coragem.


29 DE JANEIRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS

O sorriso que o tempo nos deu

A última vez que almoçamos juntas eu ainda me deslumbrava com seu sorriso de garota e seus olhos faiscantes, dois holofotes que não perdiam nada do que acontecia ao redor - e nem eram azuis, e ela nem era garota, tinha mais de 60. Sobrava inteligência. Assistia a todas as peças em cartaz e dominava os assuntos da mídia tradicional e da mídia independente, pois não era mulher de se conformar com uma única versão dos fatos. Não saía de casa sem suas echarpes exóticas, trazidas de andanças pelo mundo. Era uma pessoa comum e ao mesmo tempo um acontecimento, e sendo o mundo generoso comigo, aquele não foi nosso terceiro nem oitavo almoço, pra lá do vigésimo. Amizade rodada.

Acho que nunca havíamos demorado tanto para nos reencontrar. Além de morarmos em cidades diferentes, teve a pandemia e a própria vida, que nos sobrecarrega de tarefas a ponto de subverter a percepção do tempo: mal diferenciamos o que aconteceu há três meses ou há três anos. Ela e eu acabamos nos acostumando com a troca de WhatsApp e não vimos o tempo passar, até que voltamos a sentar à mesma mesa, ela agora com mais de 70 e algumas perdas na bagagem.

Me explicou sobre o problema no joelho que a estava impedindo de correr, atividade matinal sagrada, costumava fazer oito quilômetros assim que acordava. Paciência, aderiu ao pilates. Percebi seu rosto tomado por rugas novas, mas os olhos mantinham-se faiscantes. Sua boca murchou, reparei, mas, que diabos, a minha também, mesmo sendo mais moça. Seu cabelo havia perdido o brilho e o volume, percebi assim que ela retirou a echarpe que agora usava enrolada na cabeça, não mais no pescoço. Quimio? 

Ela assentiu, mas a ascendência nordestina não permitiu que ele caísse todo, foi a explicação pouco científica que me deu, acompanhada de uma piscadinha. E ainda nem tínhamos falado sobre a morte de sua mãe, que foi um abalo mais duro do que ela previa. "Mas são 13h20min de uma quinta-feira e você está bem aqui na minha frente, não vejo motivo melhor para um vinho branco gelado. Garçom!"

É um processo lento e contínuo. O rosto desaba um pouco e ganha vincos. O corpo resiste graças a atividades físicas regulares, mas também vai se entregando. Alguma doença aparece, é curada, então vem outra, e certas dores excêntricas. A memória falha bastante, às vezes menos, ler ajuda. Mas graças ao bom humor e a uma vida bem aproveitada, as contingências previsíveis deixam de ser dramáticas. Envelhecer é um teste de sabedoria. A grande tragédia do envelhecimento é restar só. Ela e eu fizemos um brinde, sorrimos o sorriso que o tempo nos deu e confirmamos que, sem preservar os afetos, de nada presta viver tanto. Marcamos novo almoço para breve.

MARTHA MEDEIROS

29 DE JANEIRO DE 2022
CLAUDIA TAJES

De calções e calçolas

Ela era fã de um ex-jogador da dupla que, terminado o contrato, foi para o Palmeiras. Fique claro: era fã não só do talento futebolístico do atleta, também da forma, dos músculos, do estilo, do sujeito como um todo. Até salvava uma que outra foto dele para ficar olhando em momentos de tédio, assim como um dia recortou fotos do Peter Frampton e do Sean Penn para usar como marcador de livros. Ingenuidades de fã. Mais ou menos na mesma época, ela mesma foi transferida, a trabalho, para São Paulo. O marido não a acompanhou, funcionário estadual que era, e também havia o filho, que não queria sequer discutir a hipótese de uma troca de cidade aos 14 anos.

Instaurou-se o vai e vem de avião, por sorte antes das passagens custarem o que custam hoje. De qualquer jeito, o cartão de crédito era todo das companhias aéreas, bons tempos dos preços razoáveis em 12 vezes sem juros. Bem verdade que uns e outros detestavam a ideia de ver pessoas com menor poder aquisitivo nos aeroportos, incômodo que, por qualquer que seja o ângulo, não fazia o menor sentido. Seja como for, as pessoas de menor poder aquisitivo atualmente mal comem, que dirá viajar. Os beneficiados com isso? Deixa para outra coluna.

O casamento dos nossos protagonistas seguiu firme, até melhor sem a rotina, essa destruidora de ideais românticos. O tal jogador do início da história fazia sucesso no Palmeiras sem sequer desconfiar da existência da fã - que agora morava em um pequeno apartamento na Barra Funda, a poucas quadras do Allianz Parque. Um dia ela não resistiu a uma foto do jogador sem camisa no jornal, recortou e colou no espelho do quarto. O marido acharia até engraçado e, olhando pelo lado positivo, podia servir de estímulo para ele trabalhar os peitorais.

Esperando a visita da família para um fim de semana esticado, ela tratou de arrumar bem a casa, com flores para enfeitar e essência de shopping center, aquela que remete a compras caras que ela não fazia. Buscou a roupa na lavanderia e arrumou as peças nas pilhas do marido e do filho, todas no mesmo guarda-roupa do quarto. Eram quase 10 da noite de sexta quando os dois chegaram. Depois de jantar, foram dormir para aproveitar o feriadão que se anunciava em toda a sua magnitude.

Antes do café da manhã, o marido surgiu com um calção verde na mão.

Ele: De quem é isso?

Ela: Não é teu?

Ele: Eu sou colorado. Esse calção é do Palmeiras.

Ela: Que Palmeiras?

Ele: O time do teu jogador.

Ela: Eu não sei de calção do Palmeiras nenhum, deve ter vindo por engano da lavanderia.

Ele: Engano é achar que eu vou acreditar nisso.

O fim de semana fracassou. Muita DR depois, o marido se convenceu de que ela jamais tinha encontrado o tal jogador - infelizmente, advérbio de modo que não foi usado para não piorar ainda mais a situação. A única explicação, por mais mentirosa que pudesse parecer, era o calção ter vindo da lavanderia. Ninguém tinha entrado no apartamento, muito menos o tal jogador.

(Infelizmente.)

Na última vez que ela foi a Porto Alegre, encontrou no cesto da roupa suja uma calçola já com o elástico meio frouxo, largona e desbotada, que o filho jurou desconhecer e o marido quis teimar que era dela. Não era. Única explicação plausível: o calçolão devia ser de alguma vizinha e entrou pela janela, em um desses fins de tarde de temporal porto-alegrense.

Nos casamentos em que existe confiança, tudo fica mais fácil.

Felizmente.

Carlos Gerbase, Replicante, professor, roteirista e diretor de cinema, acaba de lançar seu sexto livro de ficção. No romance O Caderno dos Sonhos de Hugo Drummond, um jovem cineasta do interior do Rio Grande do Sul vem a Porto Alegre para um evento de produtores e acaba envolvido por fatos e personagens que mais parecem saídos de filmes. Não se sabe se Gerbase pretende levar o livro para a tela, mas que o leitor já imagina a história no cinema, imagina. Da Diadorim Editora, nas boas livrarias reais e virtuais.

CLAUDIA TAJES

29 DE JANEIRO DE 2022
LEANDRO KARNAL

O advogado Tiago Pavinatto lançou, pela Edições 70, o livro Estética da Estupidez: a Arte da Guerra Contra o Senso Comum. O livro é muito interessante e serve para refletir o momento curioso em que nos encontramos. O autor mistura bom humor, ironia ácida, referências eruditas e lança catapultas sobre a Jerusalém de Brasília e seus Messias.

Comecei refletindo na epígrafe do livro: "Debater com um idiota é perder de maneiras distintas e combinadas. Perde-se tempo. Perde-se a paciência. E se perde o debate propriamente, porque ele só entenderá argumentos idiotas - e, nesse quesito, o imbatível é ele, não você" (Reinaldo Azevedo).

A primeira reação ao ler o pensamento é sorrir. Ela já contém uma vaidade: se você gostou, há uma chance de não se considerar um idiota. Quem achou bom, naturalmente, imagina-se portador de cidadania plena na ilha da sabedoria e da razão e olha para os limitados com certa xenofobia. O pensamento de Azevedo termina com frase que, diria meu pai, usa de "contundência". O termo comum para a conclusão, hoje, é "lacradora". Sim, o adversário é imbatível porque é... idiota. Há certo consolo retórico e psicológico na conclusão.

Despontam questionamentos válidos: a) como saberei, de fato, que não sou um imbecil? A característica básica da falta de inteligência é ser cego sobre suas próprias capacidades; b) se não posso debater com idiotas e não tenho certeza sobre minha pontuação no campo da genialidade, com mais certeza terei dúvidas sobre quem é sábio ao meu redor e, por consequência, digno de debate; c) se eu perco o debate com idiota porque ele é melhor no manejo do argumento ilógico, com um sábio eu perderei porque ele é hábil no uso da razão; logo, perderei sempre?

Já dei este conselho em palestra, citando minha avó: "Não toque tambor para maluco dançar". Li O Alienista de Machado algumas vezes e me dou o direito ao relativismo no campo da sanidade mental. Analisando algumas passagens da minha vida pretérita, eu teria bons motivos para ocupar ampla suíte na Casa Verde do dr. Bacamarte. Itaguaí poderia conter o universo todo.

Sim, fui louco eventual. Continuarei sendo um idiota? Claro, querida leitora e estimado leitor, já ficou claro aqui que temos idiotas insanos e idiotas perfeitamente equilibrados daquele tipo que, em época menos cuidadosa com palavras, chamaríamos de "pessoa normal". Como é patológico nos dias atuais identificar alguém como normal, digamos que a maioria das ações e pensamentos de alguns idiotas caracteriza um comportamento médio tido por aceitável pela sociedade.

Duas questões afloram: sou um idiota? Devo discutir com idiotas? Sendo a democracia inconciliável com a censura, estaríamos condenados (como pensou Umberto Eco) à fala onipresente do "idiota da aldeia"? A figura descrita por Eco tem base literária: anda, maltrapilho, incomodando pessoas com frases e gestos, todavia todos o tomam por inofensivo. Aliás, o "idiota da aldeia" tem profunda função social: serve para classificar todo o resto da comunidade como inteligente. É fundamental existir, no grupo, o tipo limitado: a sombra da escassez cerebral dele ilumina a inteligência dos outros.

Nos tempos que despertam desejo daquele meteoro devastador como redenção possível, existe a categoria que Pierre Bourdieu chamou de "meio-cientistas", chave conceitual analisada por Pavinatto na página 175. Fazem eco a algum tema tratado por pesquisadores, misturam a outros, somam certo senso comum com linguagem elaborada e, le voilà, surge um post devastador contra vacinas. O meio-cientista reúne o pior de dois mundos e causa danos aos idiotas da aldeia e aos sábios.

Que futuro terá nossa sociedade se conseguirmos classificar com quem se pode e com quem não se pode debater? Teremos uma Berlim reconstruída com um muro ao meio? Uma nova Guerra Fria?

Eu tenho alguns princípios para tentar conversa séria. O primeiro é concordância sobre ética e lei. Não discuto com racistas ou defensores da violência contra a mulher, por exemplo. É uma derivação do paradoxo de Karl Popper: não tolerar intolerantes. "A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância", segundo o austro-britânico.

Há mais condições propícias: a pessoa ouve e fala. A condição de um diálogo é a alternância entre ouvir e falar. Mais uma: existe uma vontade de análise sem fígado, adjetivos, fulanização ou violência verbal. Por fim, os dois lados reconhecem que não são donos absolutos da verdade e o outro tem direito à existência, mesmo que com argumentos contrários.

Na minha concepção, nunca saberemos se somos idiotas ou inteligentes. Porém, o debate com alguns princípios prévios aperfeiçoa meu raciocínio oferecendo o contraditório. Também aumenta minha visão e, eventualmente, muda minha ideia ou a do meu debatedor. Não existem as condições dadas? Melhor ficar de um lado de Berlim que lhe agrade lamentando o limite das pessoas do outro lado do muro. Enquanto isso, leia o livro de Pavinatto e seja feliz. No ano de 2022, os muros serão erguidos a alturas inimagináveis. Esperança média de bons debates...

LEANDRO KARNAL