sábado, 31 de maio de 2008



01 de junho de 2008
N° 15619 - Martha Medeiros


Os olhos da cara

Recentemente participei de um evento profissional só para o público feminino. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. Principalmente idades. Lá pelas tantas fui questionada sobre a minha, e como não me envergonho dela, respondi.

Foi um momento inesquecível. A platéia inteira fez um "oooohh" de descrédito. E quando eu disse que, até aqui, ainda não enfiei uma única agulha no rosto ou no corpo, foi mais emocionante ainda: "oooooooooooooooohhhhhh".

Aí fiquei pensando: pô, estou nesse auditório há quase uma hora exibindo minha incrível e sensacional inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa na mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho. Onde é que nós estamos?

Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado "juventude eterna". Estão todos em busca da reversão do tempo, e com sucesso: quanto mais ele passa, mais moços ficamos.

Ok, acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.

A fonte da juventude chama-se mudança. Eu sei disso, você sabe, e a escritora Betty Milan também, tanto que enfatizou essa frase em seu mais recente livro, Quando Paris Cintila. De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.

A única maneira de sermos idosos sem envelhecer é não nos opormos a novos comportamentos, é termos disposição para guinadas. É assim que se morre jovem, sem precisar ter o mesmo destino de um James Dean ou de uma Marylin Monroe. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou-se do apartamento em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras que havia guardado, e mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos de idade. Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um ótimo emprego em Porto Alegre por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela caminha na beira da praia todas as manhãs. Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco, porque não existe plástica que resgate seu brilho.

O que dá brilho ao nosso olhar é a vida que a gente optou por levar. Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe-se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter.

E aí pode abrir o jogo, contar a verdade: tenho 39, 46, 57, 78 anos! Ooooooohhhhh. Uma guria.

Um ótimo domingo e um gostoso início de semana, com temperaturas próximas a ZERO, um pouquinho para cima em algumas cidades, um pouquinho abaixo em outras. Esse é o nosso Rio Grande.


01 de junho de 2008
N° 15619 - David Coimbra


O soco de Joe

Joe Louis trabalhava em uma fazenda do Alabama. Quando se sentia entediado, escolhia algum dos touros do lugar e lhe desferia um murro entre os chifres. Tão poderoso era o soco de Joe Louis que o touro bambeava e, blof, caía desmaiado.

Um dia, um esperto empresário do mundo do boxe viu Joe Louis fazer esse número e, impressionado, o convidou para repeti-lo. Só que, em vez de esmurrar touros no campo, Louis ia espancar homens nos ringues. Ele topou e, em pouco tempo, tornou-se campeão mundial.

Joe Louis só foi superado como ídolo do boxe por Rocky Marciano, provavelmente o maior pugilista da história, o homem que inspirou Silvester Stallone na seqüência de Rockys do cinema. Rocky Marciano nunca foi derrotado e nunca empatou uma luta. Venceu todos os seus 49 confrontos, 90% deles por nocaute.

Rocky Marciano derrotou inclusive Joe Louis. Mas foi um Joe Louis envelhecido, cansado, sem a velha potência dos socos capazes de pôr feras para dormir. Depois de nocautear Joe Louis, Rocky Marciano esperou que ele se reerguesse e foi cumprimentá-lo.

- Você é meu ídolo - confessou, estendendo-lhe em admiração a mão que o derrubara.

Era bela a história do boxe, o esporte mais marginal de todos os esportes.

t Hoje, o boxe acabou. Quando os americanos liquidaram com Mike Tyson, liquidaram com o boxe. É muito difícil um esporte sobreviver sem ídolos, e Mike Tyson foi o último grande ídolo do boxe. Não existe mais um Rocky Marciano, não existe um Joe Louis. Quem havia era Mike Tyson, mas Mike Tyson era marginal demais até para o boxe. Negro, egresso dos bairros pobres de Nova York, mal-educado, tosco, agressivo, desajustado, os americanos não podiam suportá-lo. Não o suportaram. Acabaram com ele.

t O futebol brasileiro, na prática, não tem mais ídolos. Os grandes jogadores, os jogadores de Seleção, os craques estão todos na Europa. Como o futebol brasileiro consegue sobreviver? Aí está: por causa dos clubes.

O torcedor ama o clube. Mais até do que ama o futebol. Os clubes é que sustentam o futebol brasileiro e o brilho do futebol europeu. Os clubes, tão vilipendiados, tão maltratados, tão desprezados pela CBF.

Enquanto os clubes vicejarem, vicejará o futebol brasileiro. Mas por quanto tempo os clubes agüentarão seleções sub-qualquer coisa, pirataria européia, Lei Pelé, por quanto tempo? A sobrevivência do futebol brasileiro é um milagre do amor do torcedor.

Beijo no coração

Tem gente que se despede:

- Um beijo no coração.

Sinto-me estranho quando dizem que querem dar um beijo no meu coração. Como é que alguém vai dar um beijo no meu coração? Teriam que me abrir a caixa torácica. Não há beijo que valha isso.

Outra: se algo é muito fácil é sopa no mel.

Sopa no mel??? Um crime gastronômico. Mel na sopa ainda seria compreensível. Aquele chefe catalão, o Ferran Adriá, deve ter feito algum prato de sopa com mel. Esses sabores contemporâneos, sabe como é. Agora, sopa no mel é impensável. Imagine um prato cheio de mel no qual se derrama sopa de, sei lá, capeletti. O horror, o horror.

Não, não entendo essa expressão sopa no mel.

A expressão "gostinho de quero mais", essa compreendo. Mas detesto. É meio afetada. Ai, estou sentindo um gostinho de quero mais... Francamente.

Às vezes o melhor é usar a linguagem padrão, por menos criativa que seja. No futebol, o mesmo. Os técnicos agora dizem que o atacante está "flutuando atrás dos zagueiros". Dizem isso inclusive quando não está chovendo. Não pode um atacante flutuar, nesse jogo. Só se fosse pólo aquático.

Também tem essa história de stopper. O que é um stopper? Explicaram-me que um stopper não é um líbero, nem um zagueiro, nem um centromédio. É um jogador que ora atua na frente da zaga, ora atrás da zaga, ora no meio da zaga. Isso é um stopper. Quer dizer: não sei o que é um stopper.

Aliás, agora mesmo falei em centromédio, só que centromédio não existe mais. O que existe é volante. Mas volante, etimologicamente falando, é, por definição, móvel.

Então como é que se chama a posição de jogadores como Edinho e Eduardo Costa, que ficam fixos na frente da área? Pois é. Também não sei.

E a assistência, hein? O Roger é o jogador que dá mais assistências no Brasil. A Saúde Pública está precisando de um cara desses. O futebol está ficando complicado, sim, senhor.


01 de junho de 2008
N° 15619 - Paulo Sant'ana


Falcões porto-alegrenses

Eu fiquei estupefato quando Zero Hora publicou, quinta-feira, a notícia de que 11 falcões estão num criatório de Porto Alegre, sendo adestrados para a proteção de vôo dos aviões que pousam e decolam no nosso aeroporto Salgado Filho.

Fiquei pensando que jamais nossa cidade abrigou tantos falcões. E me pasmei que tivessem vindo dos Andes, do Peru, 11 aves nobres da caça para viver em Porto Alegre, no sentido de proteger os aviões a jato, que seguidamente abalroam garças, socós, biguás, maçaricos, quero-queros, perdizes e pombos, que são sugados pelas turbinas e podem ocasionar graves acidentes.

Essa polícia avícola inesperada, sete falcões-peregrinos e quatro falcões-de-coleira, veio até aqui como o Exército Brasileiro foi para o Haiti, com a missão de salvar vidas.

Fico perplexo que esses 11 falcões tenham viajado de tão longe, do altiplano andino para o pampa gaúcho e resto curioso para saber o que sentem as aves quanto à diferença entre nossa terra que agora os abriga e o ambiente propício a elas, que é o de montanhas, penhascos, estepes, desertos e pradarias.

E estou louco para ver funcionarem os falcões no Salgado Filho. Porque diferentemente das águias e dos abutres, que planam, e dos gaviões, que voam acrobaticamente, os falcões-peregrinos empregam o vôo de alta velocidade.

Os falcões-peregrinos são os animais mais velozes do mundo, podendo seus vôos picados (em mergulho na direção da outra presa voadora) atingir a velocidade de até 350 km/h. Devem levar dois segundos para sair lá de cima de sua altanaria e chegar até uma garça a 10 metros da pista do aeroporto e carregar a presa para o ninho.

Então estamos hospedando aqui em Porto Alegre aves raras que serviam aos nobres e monarcas da antigüidade para a caça, algumas alçavam vôo das luvas dos falcoeiros para aprisionar os faisões, outras eram remetidas às maiores alturas para autonomamente escolherem suas caças e as trazerem para seus adestradores.

Interessante também que, ao contrário das águias e gaviões, os falcões não matam suas presas com os pés. Eles utilizam as garras para a apreensão das presas, abatendo-as logo em seguida com os bicos, com o auxílio de um rebordo (navalha) em forma de dente na mandíbula superior.

Tudo isso eu fui buscar saber só porque achei fantástica a notícia de falcões expedicionários estarem residindo em nossa capital, substituindo a mais avançada tecnologia aeronáutica para salvar não só aviões como vidas humanas.

Bem-vindos falcões dos Andes, os gaúchos os saúdam por esta nobre e exótica missão.


01 de junho de 2008
N° 15619 - Moacyr Scliar


A batalha dos sexos

Vocês devem lembrar a propaganda de Sex and the City, a série televisiva que agora chega às telas sob forma de filme (o que, do ponto de vista da indústria da diversão, costuma representar uma consagração):

quatro mulheres jovens, bonitas, avançam pelas ruas de Nova York. Uma cena paradigmática, análoga àquela que aparece nos filmes, vários, que trataram de um episódio famoso na história do oeste americano: o duelo entre mocinhos e bandidos no lugar conhecido como O.K. Corral.

De novo são quatro, quatro os mocinhos e quatro os bandidos; como as moças de Sex and the City, eles avançam resolutos, não por uma elegante avenida, mas por uma rua empoeirada de um remoto vilarejo. É a hora da verdade; logo as armas falarão e dirão quem sobreviverá para contar a história.

É uma coincidência significativa que sejam quatro os bandidos e quatro os mocinhos. Para os gregos antigos, o número quatro era muito importante. Afinal, quatro são os pontos cardeais, quatro as estações do ano, quatro as fases da Lua.

Quatro eram, para os gregos, os elementos do universo, ar, água, fogo, terra. Nestes elementos, quatro atributos físicos se faziam presentes, o seco, o úmido, o quente, o frio.

Não é de admirar que os discípulos do famoso filósofo, matemático e mago Pitágoras considerassem o número quatro sagrado. E, ah, sim, quatro, no Novo Testamento, são os cavaleiros do Apocalipse.

É possível que em Sex and the City essa idéia do número quatro tenha pesado; como sabemos, essas coisas são cuidadosamente estudadas por produtores, diretores, autores. Mas Sex and the City não é O.K. Corral. Porque este filme, um faroeste, representa a mitologia americana no seu extremo: a idéia da batalha final entre o bem e o mal, entre mocinhos e bandidos.

Fica mais clara ainda num filme que volta e meia reaparece nas sessões-nostalgia do Telecine, Sete Homens e um Destino. Aí, como indica o título, não são quatro os protagonistas principais, mas sim sete, outro número mágico.

Sete pistoleiros que, na falta de trabalho melhor, aceitam defender uma aldeia mexicana contra os bandoleiros que a exploram e aterrorizam. Lembra alguma coisa isso? Lembra, sim: lembra o Iraque. Melhor: lembra o Iraque como deveria ser. Porque no final do filme, os camponeses lutam ao lado dos pistoleiros e conseguem a vitória.

Exatamente o que o governo americano esperava: que seus soldados fossem recebidos como salvadores e que a população se unisse a eles para expulsar primeiro Sadam Hussein e depois os fundamentalistas. Não foi o que aconteceu, e essa guerra se transformou num desastre.

A batalha agora é outra. Nos filmes de faroeste citados, e em muitos outros, a mulher desempenhava quase sempre um papel secundário: o machismo imperava.

Em Sex and the City, o cenário é outro: a grande cidade, rica, trepidante, não o vilarejo. E a batalha (que não é uma batalha final; continuará por muito tempo) tem a ver sobretudo com sexo. Para os homens a pistola agora é outra. E eles nem sempre a usam bem; pelo menos não os torna mais poderosos.

A cidade iguala homens e mulheres. Uma mulher pode ser uma empresária tão ousada e criativa como um homem, não raro mais ousada e criativa. A força física já não conta tanto; na verdade, na vida urbana, os homens são frágeis, morrem bem antes das mulheres.

Os espécimes que sobram não raro são disputados encarniçadamente. É muito significativo que certas mulheres sejam rotuladas como "pistoleiras".

Mas é uma batalha pela vida, pela paixão. Nada de mortos ou feridos jazendo na rua. Talvez não tenhamos melhorado muito em matéria de filmes, mas melhoramos em matéria de batalhas.


01 de junho de 2008
N° 15619 - Luis Fernando Verissimo


O Sandrão

Idéia para uma história. Um homem chega numa pequena cidade do interior e registra-se num hotel. Quando o recepcionista do hotel vê seu sobrenome - digamos, Soviero - arregala os olhos. Depois disfarça e diz:

- Soviero... Soviero... Eu conheci um Soviero. Será seu parente?

- Acho difícil - diz o homem.

Assim que o homem entra no elevador com suas duas malas o recepcionista pega o telefone e faz uma ligação. Suas mãos tremem.

Vinte minutos depois, o homem ouve baterem na porta do seu quarto. Abre a porta. É um homem corpulento que se apresenta como delegado Matias. O delegado Matias não quer entrar. Não perde tempo com formalidades. Diz:

- Olha aqui, Soviero, nós não queremos encrenca. - O quê? - O que passou, passou. Vamos esquecer o que houve.

- Não sei do que o senhor está falando. - E eu não sei o que você está querendo.

- Eu? Nada. Represento uma linha de bijuterias. Vim tentar vender o meu produto nesta região. Se o senhor quiser ver o mostruário...

O homem indica uma das malas sobre a cama, mas o delegado Matias não quer ver nada. Só quer avisar:

- Nem pense em vingança.

Quando sai do elevador o homem vê um grupo reunido no saguão do hotel. Todos estão falando, mas param de falar quando ele aparece. Ninguém se aproxima. O homem ouve uma voz dizer: "Não se parece com ele". E outra dizer: "Parece sim, parece sim". Finalmente um velho se destaca do grupo, examina o rosto do homem e pergunta:

- O que você é do Sandrão? - Não conheço nenhum Sandrão. - Irmão? Filho?

- Nada. Não conheço nenhum...

- Só vou lhe dizer uma coisa - interrompe o velho. - Ele mereceu. Está me entendendo? Ele mereceu!

O homem consegue que o apavorado recepcionista lhe indique um bom restaurante perto do hotel. Mal o homem acaba de comer surge uma mulher que pede para sentar com ele. No hotel disseram onde encontrá-lo. A mulher não é feia. Ela diz:

- Eu sou a Lizete. O Sandrão não lhe falou de mim?

- Eu não conheço nenhum...

- Mas é claro, não podia ter falado. Ele não saiu vivo daqui. Eu não tive nada a ver com o que fizeram com ele, viu? Apesar de tudo que ele fez... - O que foi que ele fez? Mas Lizete parece não ter ouvido. Está com o olhar perdido.

- Sandro Soviero, Sandro Soviero... Digam o que disserem, era um homem e tanto.

O olhar de Lizete fixa-se no homem. - Se você for a metade do homem que ele era...

Depois, na cama, ela insiste: - Antes, diz o que você é dele, diz!

O homem já está com a cara entre os seios de Lizete. Balbucia:

- Irmão. - E veio vingar o Sandrão, não veio? - Vim, vim!

Mais tarde, quase dormindo, o homem pergunta por que o recepcionista do hotel parece tão nervoso. Lizete conta que foi ele quem revelou onde podiam encontrar o Sandrão, para matá-lo. Aliás, o Sandrão estava naquele mesmo quarto, com ela, quando fora trucidado.

O homem então pergunta o que Sandro Soviero fez de tão horrível para merecer ser trucidado. Não ouve resposta, vira-se e vê que Lizete não está mais ao seu lado. Foi avisar aos outros que o homem é, sim, parente do Sandrão e está ali para vingá-lo.

Dali a pouco o quarto é invadido por um grupo, liderado pelo delegado Matias. Matam o homem. Depois o delegado Matias abre as malas do homem e descobre, numa, as suas roupas e pertences e na outra, em vez das armas com as quais o Sandrão seria vingado, um mostruário de bijuterias.

Diogo Mainardi

O nome é Angela Maria Slongo

"O Palácio do Planalto contratou a mulher de Olivério Medina, representante das Farc no Brasil. Enquanto uma fatia do estado brasileiro prendia um criminoso internacional, uma outra fatia o protegia, oferecendo à sua mulher um salário de apaniguada"

A mulher de Olivério Medina, o representante das Farc no Brasil, foi contratada pelo governo Lula. Agora só falta arranjar um emprego para a mulher de Fernandinho Beira-Mar, outro criminoso ligado às Farc.

Em 29 de dezembro de 2006, Angela Maria Slongo foi nomeada pelo ministro da Pesca, Altemir Gregolin, para o cargo de oficial de gabinete II, com um salário de DAS 102.2. Angela Maria Slongo é mulher de Francisco Antonio Cadena Collazos, também conhecido como Olivério Medina, ou Padre Medina, ou Camilo López, ou El Cura Camilo.

Quando Angela Maria Slongo foi nomeada pelo Palácio do Planalto – sim, o Ministério da Pesca é ligado diretamente ao gabinete do presidente da República –, Olivério Medina estava preso em Brasília, a pedido da Colômbia, seu país de origem, onde era acusado de atos terroristas e assassinatos.

Pausa. Respire fundo. É melhor repetir o que acabei de dizer. Pode ser que alguém tenha passado batido. É o seguinte: enquanto uma fatia do estado brasileiro cumpria a lei, prendendo um criminoso internacional, uma outra fatia – mais especificamente, Lula e seus ministros – o protegia, oferecendo à sua mulher um salário de apaniguada, a fim de que ela pudesse permanecer perto dele, numa chácara em Brasília, à espera do julgamento do STF, que iria decidir sobre sua extradição.

Ele só saiu da prisão domiciliar no fim de março de 2007. Angela Maria Slongo até hoje continua aparelhada no Ministério da Pesca, recebendo seu salário de apaniguada, que acumula com o salário pago pelo governo do Paraná.

VEJA pediu esclarecimentos sobre a escolha de seu nome para o cargo de confiança. O Ministério da Pesca informou que ela apenas mandou um currículo e foi selecionada por critérios profissionais. Simples? Simples.

Publicamente, Lula tenta se afastar da companhia das Farc. Às escondidas, seu governo dá cada vez mais sinais de irmandade com o grupo terrorista, como nesse caso da mulher de Olivério Medina.

Nos computadores de Raúl Reyes, o terrorista morto pelos soldados colombianos, foi encontrada uma mensagem de Olivério Medina em que ele dizia poder contar com o apoio da "cúpula do governo" brasileiro, em particular com o ministro Celso Amorim.

O papel de Olivério Medina no Brasil, de acordo com o jornal colombiano El Tiempo, era "trocar cocaína por armas e fazer o recrutamento de simpatizantes".

O recrutamento de simpatizantes podia ser feito até mesmo no Ministério da Pesca. Já a troca de cocaína por armas passava por outros canais. Numa de suas mensagens sobre o tema, Olivério Medina referiu-se a um certo "Acácio", identificado como o Negro Acácio, sócio de Fernandinho Beira-Mar no narcotráfico.

Um relatório oficial da Abin acusou Olivério Medina de ter oferecido dinheiro das Farc à campanha eleitoral de candidatos petistas. Quando VEJA fez uma reportagem sobre o assunto, um monte de gente chiou.

Para os agentes da Abin, os membros do PT que receberiam o dinheiro eram aqueles das correntes mais esquerdistas do partido, como a do ministro da Pesca, que contratou a mulher de Olivério Medina.

Sempre que alguém morre no Brasil por um crime relacionado ao tráfico de drogas, pode-se dizer que há um dedo das Farc. O grupo terrorista está perdendo terreno na floresta colombiana. Mas chegou ao poder nos morros brasileiros e na Esplanada dos Ministérios.

Ponto de vista: Claudio de Moura Castro

O encontro com o príncipe

"Há muitas boas idéias, mas ainda estamos longe de esquemas internacionais que permitam financiar a saúde da Floresta Amazônica"

Ouvimos do príncipe Charles uma narrativa fleumática acerca do pouco-caso com que suas preocupações haviam sido recebidas no passado. Por exemplo, arquitetura ecológica e ONGs de mãos dadas com empresas. Mas, como o tempo fez justiça ao bom radar do herdeiro, seu projeto atual sobre o desmatamento na Amazônia merece atenção.

Para dar a partida, ele recebeu um grupo de brasileiros no Palácio Saint James. Havia três governadores do Norte e um ex-governador. Bom time de senadores e deputados complementava os chapas-brancas. Havia ONGs e empresários poderosos. Até um índio, de cocar e tudo.

O príncipe alarma-se com o desmatamento incontido. Porém, recebeu dos brasileiros a mensagem de que, sem cuidar do bem-estar do povo que lá vive, é uma quimera pensar em conservação.

As soluções devem considerar a enorme população que depende da floresta para a sua sobrevivência. Apenas no Pará, há 1 milhão de pessoas envolvidas no corte ilegal. Nenhuma solução pode deixá-las de lado. O time técnico do príncipe e ele próprio revelam notável competência, e dialogaram produtivamente com os brasileiros.

Ainda mais surpreendente foi observar brasileiros de todos os partidos e vertentes discutir pragmaticamente o assunto, sem deixar ranços ideológicos turvar a clareza do diálogo. Em minhas primeiras idas ao Norte, notei lá uma mistura de passividade e irritação, ao ver os de fora pontificando sobre o destino da Amazônia. Nesse encontro, eram os do Norte que lideravam o processo.

Não há uma solução única, porque não há um único problema. Comecemos com as macropolíticas. É preciso desentortar o marco legal e podar alguns cacoetes. As melhores intenções podem dar origem a leis que são monstrengos na implementação, incentivando a destruição. E as melhores leis de nada servem sem controle nem fiscalização. Tampouco os fiscais podem virar cúmplices da motosserra.

Cumpre oferecer alternativas melhores, para que os moradores desistam da motosserra. Gadinho pé-duro, mandioca e abóbora não servem. O que resolve são culturas com maiores exigências tecnológicas e de manipulação da informação.

Portanto, são inviáveis sem melhorar a educação. Boa parte das áreas degradadas precisa ser reflorestada. Isso cria emprego. Ainda melhor, pode ser bom negócio. Mas até agora o reflorestamento não decolou no nível necessário.

Ilustração Atômica Studio

A melhor solução é o manejo, que consiste em cortar seletivamente algumas árvores e deixar a clareira se recuperar. Os europeus aprenderam a fazer isso na Idade Média. Nós só estamos aprendendo agora. Na ponta do lápis, os experimentos do Projeto Jari mostram que é bom negócio.

Tira-se a madeira mais devagar, mas a floresta se eterniza. Faltam imitadores. Em um nível muito prático, a certificação de origem da madeira pode se transformar em exigência para a sua compra nos mercados internacionais. Isso cria dificuldades para a venda clandestina do produto.

Há muitas soluções locais. O Acre tem um programa bastante promissor de manejo pelos próprios seringueiros. Planeja-se a criação de uma "universidade dos povos da floresta", a fim de que os índios ensinem aos brancos os cuidados que o meio ambiente exige.

O Projeto Saúde e Alegria mostrou ser possível oferecer saúde às populações ribeirinhas, através de programas pouco dispendiosos e que mobilizam a sociedade local.

O futuro da Amazônia diz respeito ao mundo inteiro. Portanto, cumpre esperar solidariedade internacional e mais visão nos acordos. Mas, obviamente, só nos servem soluções que preservem nossa soberania na região. Ponto fundamental na equação é o fato de que a floresta viva tem valor inestimável para a humanidade.

Porém, quem está debaixo da copa daquelas árvores não é pago para conservá-la de pé e ganha alguma coisa se lhe passar a motosserra – mas ganha bem menos do que ela vale para o mundo. Há um conflito entre a economia pessoal e o bem-estar coletivo. A Costa Rica e o estado do Amazonas fecham a equação, pagando às pessoas para que aposentem a motosserra.

Pode ser uma boa idéia. Porém, quem pagará a conta? Os planos de seqüestro de carbono são parte da solução. Mas ainda estamos longe de esquemas internacionais que permitam financiar a saúde da Floresta Amazônica.

Claudio de Moura Castro é economista - (Claudio&Moura&Castro@cmcastro.com.br)

Da Redação

Ela lutava pelos direitos das mulheres

Vânia era feminista e defendia a humanização do parto. Seu médico foi condenado na Justiça por duplo homicídio, mas se considera um mártir


Vânia tinha 35 anosVânia Araújo Machado costumava dizer que, para sua vida ficar completa, só faltava mesmo um filho. Aos 35 anos, depois de um tratamento de fertilização, comemorou a primeira gravidez com a mesma energia depositada em sua carreira profissional.

Formada em Educação Física, dançarina e professora de dança, amante do teatro, feminista entusiasta, foi pedagoga e coordenou a implantação da educação infantil no município. Sua luta em defesa dos direitos da mulher a levou à coordenação geral da Coordenadoria Estadual da Mulher, criada em 1999 pelo governo do Rio Grande do Sul.

Foi no final daquele ano, já exercendo o cargo, que engravidou. Havia conhecido o companheiro, Marcelo D’Elia Branco, numa passeata pelas ruas de Porto Alegre, e nunca mais se desgrudaram.

A opção pelo parto de cócoras parecia mais do que natural para os dois. Durante seis anos, foi paciente do obstetra e ginecologista Ricardo Herbert Jones, considerado uma autoridade em parto humanizado, e fez com ele todo o pré-natal. Vânia era uma ativista tão convicta que em seu chá de fraldas convidou o médico para falar sobre o tema para suas amigas.

No dia 12 de setembro de 2000, quando ela deu entrada no hospital, em Porto Alegre, já havia escolhido o nome do filho, Cauê. “Às 10h ela estava com dilatação completa”, acredita Branco, que ficou com a mulher todo o tempo, acompanhado por uma amiga que levou sua câmera para filmar o nascimento. Mas o bebê não nascia, e o pai começou a ficar apreensivo.

O obstetra o tranqüilizou, disse que estava tudo bem. Vez ou outra, a câmera o filmou escutando o coração da criança. Relatos dos médicos que ouviram a gravação depois indicam que talvez o bebê já estivesse com bradicardia (diminuição da freqüência cardíaca).

Às 14h10min o médico decidiu fazer uma cesariana. “Não havia anestesista preparado para uma emergência, tiveram de trazer de fora do hospital”, conta o marido. Quando o profissional finalmente chegou, e a cesariana foi feita. Cauê nasceu sem batimentos cardíacos. Foi reanimado, ficou vários dias na UTI do hospital em estado vegetativo, e morreu.

Vânia resistiu 24 dias depois da cesariana. Teve de passar por nove cirurgias, até sua morte, em 5 de outubro de 2000. Entre elas, a retirada do baço e do útero. Morreu 14 dias antes do filho.

O choque pela perda da mulher e do filho levaram Branco a não questionar nada. Até que as amigas de Vânia e os familiares começaram a perguntar o que havia acontecido de errado. Foram levantando fatos e laudos. Os peritos concluíram que o trabalho do parto havia se prolongado mais do que o recomendável, causando o sangramento e as complicações.

O médico, por sua vez, alega que Vânia sofreu “uma embolia aguda por líquido amniótico durante o trabalho de parto, doença impossível de prever ou prevenir”. E que, curada da doença, “ela morreu mesmo foi de catapora, infectada dentro do hospital”.

Com a assessoria jurídica especializada da ONG Themis, a família de Vânia conseguiu comprovar suas suspeitas na Justiça. Jones foi condenado na área penal por dois homicídios culposos (sem intenção) - de Vânia e Cauê. Cumpriu a pena de dois anos e quatro meses de serviço comunitário e pagou a multa de 20 salários mínimos para a Associação Beneficente Fraterno Auxílio Cristão da Sagrada Família.

O processo ético-profissional realizado junto ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS) em 2003 determinou, por unanimidade, a pena de suspensão do exercício profissional por 30 dias “por não ter feito qualquer registro, em prontuário, da evolução da paciente durante mais de seis horas de acompanhamento de trabalho de parto”; por negligência, “ao não atentar e valorizar as condições fetais, ao retardar a indicação de cesariana e ao não usar dos meios disponíveis no hospital para melhor monitorizar a viabilidade fetal”.

Diz ainda o acórdão do CREMERS que Jones “foi imprudente ao não providenciar anestesista mais cedo, ao menos após as grandes evidências de desproporção, e imperito ao não diagnosticar a distocia (parto difícil) subseqüente e ao realizar uma histerectomia puerperal (retirada do útero depois do parto) para controle de sangramento em condições graves, incompleta e inadequada”. O acórdão do CREMERS pode ser acessado na íntegra no blog criado pelo marido de Vânia.

Jones recorreu da decisão. O recurso foi julgado pelo Conselho Federal de Medicina, que decidiu pela pena de advertência privada: isso significa que o médico não chegou a ser suspenso, nem a decisão foi noticiada pela imprensa. Para ele, foi como uma absolvição. Passados oito anos, sequer cogita que pode ter ocorrido alguma falha em sua conduta.

Ao contrário, diz que o período de trabalho de parto de Vânia foi até rápido em comparação com o de outras mulheres, que chamou o anestesista para fazer a cesariana quando detectou uma anormalidade e que ficou perto de sua paciente todo o tempo. Arrepende-se apenas de não ter feito um prontuário melhor, que o protegesse “das agressões dos colegas”.

Aos 48 anos, 23 de profissão, Jones é filiado à Rede pela Humanização do Parto e Nascimento e à International MotherBaby Childbirth Organization, e orgulha-se de viajar pelo mundo dando palestras em defesa de um modelo de parto que, segundo ele, “dignifica o nascimento, devolve o protagonismo e a autonomia à mulher e diminui a mortalidade materna”.

Considera-se um mártir. “Imagina um indivíduo que entra num hospital privado de Porto Alegre onde ocorrem 90% de cesarianas e atende partos normais - esse indivíduo incomoda por sua prática e por seu discurso: por pertencer a uma organização nacional e por ser um porta-voz destas idéias”, diz.

“Todos os profissionais que ousaram se postar corajosamente contra o poder constituído sofreram coisas parecidas com o que sofri, isso não é novidade. O teu “patrício” Freud (diz para a repórter, que é judia) sofreu a mesma coisa, foi estraçalhado pelo conselho dos médicos de Viena. O Darwin, pior ainda. Galileu Galilei quase foi pra fogueira”.

A história de Vânia virou um símbolo da luta contra a mortalidade materna no Rio Grande do Sul. Seu nome foi dado a um centro de referência que atende mulheres que sofreram todo tipo de violência.

Vânia Araújo Machado costumava dizer que, para sua vida ficar completa, só faltava mesmo um filho. Aos 35 anos, depois de um tratamento de fertilização, comemorou a primeira gravidez com a mesma energia depositada em sua carreira profissional.

Formada em Educação Física, dançarina e professora de dança, amante do teatro, feminista entusiasta, foi pedagoga e coordenou a implantação da educação infantil no município. Sua luta em defesa dos direitos da mulher a levou à coordenação geral da Coordenadoria Estadual da Mulher, criada em 1999 pelo governo do Rio Grande do Sul.

Foi no final daquele ano, já exercendo o cargo, que engravidou. Havia conhecido o companheiro, Marcelo D’Elia Branco, numa passeata pelas ruas de Porto Alegre, e nunca mais se desgrudaram.

A opção pelo parto de cócoras parecia mais do que natural para os dois. Durante seis anos, foi paciente do obstetra e ginecologista Ricardo Herbert Jones, considerado uma autoridade em parto humanizado, e fez com ele todo o pré-natal. Vânia era uma ativista tão convicta que em seu chá de fraldas convidou o médico para falar sobre o tema para suas amigas.

No dia 12 de setembro de 2000, quando ela deu entrada no hospital, em Porto Alegre, já havia escolhido o nome do filho, Cauê. “Às 10h ela estava com dilatação completa”, acredita Branco, que ficou com a mulher todo o tempo, acompanhado por uma amiga que levou sua câmera para filmar o nascimento. Mas o bebê não nascia, e o pai começou a ficar apreensivo.

O obstetra o tranqüilizou, disse que estava tudo bem. Vez ou outra, a câmera o filmou escutando o coração da criança. Relatos dos médicos que ouviram a gravação depois indicam que talvez o bebê já estivesse com bradicardia (diminuição da freqüência cardíaca).

Às 14h10min o médico decidiu fazer uma cesariana. “Não havia anestesista preparado para uma emergência, tiveram de trazer de fora do hospital”, conta o marido. Quando o profissional finalmente chegou, e a cesariana foi feita. Cauê nasceu sem batimentos cardíacos. Foi reanimado, ficou vários dias na UTI do hospital em estado vegetativo, e morreu.

Vânia resistiu 24 dias depois da cesariana. Teve de passar por nove cirurgias, até sua morte, em 5 de outubro de 2000. Entre elas, a retirada do baço e do útero. Morreu 14 dias antes do filho.

O choque pela perda da mulher e do filho levaram Branco a não questionar nada. Até que as amigas de Vânia e os familiares começaram a perguntar o que havia acontecido de errado. Foram levantando fatos e laudos. Os peritos concluíram que o trabalho do parto havia se prolongado mais do que o recomendável, causando o sangramento e as complicações.

O médico, por sua vez, alega que Vânia sofreu “uma embolia aguda por líquido amniótico durante o trabalho de parto, doença impossível de prever ou prevenir”. E que, curada da doença, “ela morreu mesmo foi de catapora, infectada dentro do hospital”.

Com a assessoria jurídica especializada da ONG Themis, a família de Vânia conseguiu comprovar suas suspeitas na Justiça. Jones foi condenado na área penal por dois homicídios culposos (sem intenção) - de Vânia e Cauê. Cumpriu a pena de dois anos e quatro meses de serviço comunitário e pagou a multa de 20 salários mínimos para a Associação Beneficente Fraterno Auxílio Cristão da Sagrada Família.

O processo ético-profissional realizado junto ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS) em 2003 determinou, por unanimidade, a pena de suspensão do exercício profissional por 30 dias “por não ter feito qualquer registro, em prontuário, da evolução da paciente durante mais de seis horas de acompanhamento de trabalho de parto”; por negligência, “ao não atentar e valorizar as condições fetais, ao retardar a indicação de cesariana e ao não usar dos meios disponíveis no hospital para melhor monitorizar a viabilidade fetal”.

Diz ainda o acórdão do CREMERS que Jones “foi imprudente ao não providenciar anestesista mais cedo, ao menos após as grandes evidências de desproporção, e imperito ao não diagnosticar a distocia (parto difícil) subseqüente e ao realizar uma histerectomia puerperal (retirada do útero depois do parto) para controle de sangramento em condições graves, incompleta e inadequada”. O acórdão do CREMERS pode ser acessado na íntegra no blog criado pelo marido de Vânia.

Jones recorreu da decisão. O recurso foi julgado pelo Conselho Federal de Medicina, que decidiu pela pena de advertência privada: isso significa que o médico não chegou a ser suspenso, nem a decisão foi noticiada pela imprensa. Para ele, foi como uma absolvição. Passados oito anos, sequer cogita que pode ter ocorrido alguma falha em sua conduta.

Ao contrário, diz que o período de trabalho de parto de Vânia foi até rápido em comparação com o de outras mulheres, que chamou o anestesista para fazer a cesariana quando detectou uma anormalidade e que ficou perto de sua paciente todo o tempo. Arrepende-se apenas de não ter feito um prontuário melhor, que o protegesse “das agressões dos colegas”.

Aos 48 anos, 23 de profissão, Jones é filiado à Rede pela Humanização do Parto e Nascimento e à International MotherBaby Childbirth Organization, e orgulha-se de viajar pelo mundo dando palestras em defesa de um modelo de parto que, segundo ele, “dignifica o nascimento, devolve o protagonismo e a autonomia à mulher e diminui a mortalidade materna”.

Considera-se um mártir. “Imagina um indivíduo que entra num hospital privado de Porto Alegre onde ocorrem 90% de cesarianas e atende partos normais - esse indivíduo incomoda por sua prática e por seu discurso: por pertencer a uma organização nacional e por ser um porta-voz destas idéias”, diz.

“Todos os profissionais que ousaram se postar corajosamente contra o poder constituído sofreram coisas parecidas com o que sofri, isso não é novidade. O teu “patrício” Freud (diz para a repórter, que é judia) sofreu a mesma coisa, foi estraçalhado pelo conselho dos médicos de Viena. O Darwin, pior ainda. Galileu Galilei quase foi pra fogueira”.

A história de Vânia virou um símbolo da luta contra a mortalidade materna no Rio Grande do Sul. Seu nome foi dado a um centro de referência que atende mulheres que sofreram todo tipo de violência.


31 de maio de 2008
N° 15618 - Nilson Souza


Abre-te, livro!

Pobre Ali Babá. Depois de séculos como herói de um dos contos mais conhecidos das Mil e Uma Noites, virou chefe de quadrilha no Brasil. Cada vez que surge uma falcatrua com quatro dezenas de suspeitos, as pessoas já começam a perguntar:

"E quem é o Ali Babá?". Quem leu a história sabe que ele não era um dos integrantes do bando. Pelo contrário, foi o homem que acabou com os criminosos, ainda que tenha utilizado métodos um tanto questionáveis.

Diz a lenda que ele era um lenhador pobre que cortava madeira no meio da floresta (crime ecológico?) quando avistou uma caravana de 40 ladrões prontos para descarregar a muamba numa caverna. Escondido, observou que a porta indevassável da caverna abria-se mediante a pronúncia das palavras mágicas:

- Abre-te, Sésamo!

Quando os bandidos foram embora, Ali Babá repetiu a senha e entrou na câmara repleta de ouro e jóias. Em vez de ligar para o 190 e denunciar tudo, optou por encher os bolsos e voltou correndo para casa. (Se você acha que ele agiu mal, disque 1. Se acha que ele fez o que deveria fazer, disque 2. Se está indeciso, continue lendo).

Boca grande, nosso já suspeito herói revelou a senha para o irmão, que era muito ganancioso e tratou de pegar o seu também. Só que esqueceu das palavras mágicas na hora de sair da caverna e acabou sendo flagrado pela bandidagem, que acabou com ele. Ali Babá esperou que os ladrões saíssem e retirou o corpo do irmão.

Quando os bandidos constataram o desaparecimento, concluíram que havia um novo invasor e foram atrás dele, metendo-se dentro de jarros vazios para surpreendê-lo. Alertado pela escrava da família (escravagista, mais um crime!), o ex-lenhador encheu os jarros de óleo fervente e fritou os inimigos (chacina?).

Bom, para encurtar o relato, Ali Babá executou a quadrilha, libertou a escrava, que se casou com seu filho, e todos viveram felizes até a instauração de uma CPI no reino. Mas aí já é outra história, que estou inventando agora.

O que quero dizer mesmo é que nós, brasileiros, lemos apenas 1,3 livro por ano, como mostrou a pesquisa "Retratos da leitura do Brasil", divulgada esta semana pelo instituto Ibope Inteligência.

Não é de admirar, portanto, que o povão pense que Ali Babá era o chefe da quadrilha de 40 ladrões. O povão e muita gente ilustre, que não é sinônimo de gente ilustrada.

Esta é a minha história deste sábado. Quem quiser que conte outra.


31 de maio de 2008
N° 15618 - Cláudia Laitano


Os não-talentos

A maior vantagem da infância em relação a todas as outras etapas da vida não é a cor das bochechas (ou mesmo a existência delas) mas a nossa alegre ignorância a respeito de quase tudo - inclusive, e principalmente, sobre nós mesmos.

A gente não sabe que algumas coisas exigem talento, disciplina, habilidade - e muito menos se saímos ou não da fábrica equipados com essas características.

Por isso, dentro de seus limites, as crianças fazem rigorosamente tudo que têm vontade: desenham, inventam histórias, jogam futebol, dançam, contam piadas, sem que o fato de serem talentosos ou não na atividade escolhida entre muito em consideração.

Esse paraíso de infinitas possibilidades, evidentemente, dura muito pouco. Tirando, talvez, o Leonardo da Vinci, a maioria de nós usa na vida adulta apenas meia dúzia das cartas que recebeu do destino - e meia dúzia já dá um trabalho imenso.

Com a maioria dessas possibilidades descartadas ao longo do tempo a gente se conforma ("eu nem queria mesmo..."), mas sempre fica uma pedrinha no sapato.

Todo mundo tem a lembrança de pelo menos uma situação em que tomou consciência da absoluta falta de talento para alguma coisa que gostaria muito de fazer - se não bem, pelo menos mais ou menos. Os fracassos da infância e da adolescência doem mais, e para sempre, porque são os primeiros e invariavelmente nos pegam de surpresa.

O menino que descobre que é perna-de-pau no futebol, às vezes antes mesmo de aprender a amarrar os sapatos sozinho, tem que inventar rapidamente outra estratégia para fazer amigos e influenciar pessoas.

E é porque somos rápidos e criativos nas estratégias para superar nossos não-talentos que toda a civilização existe - o primeiro homem das cavernas que saiu para caçar, suponho, não deve ter sido aquele cercado de formosas donzelas dispostas a catar coquinhos e maçãs para o seu jantar.

Seguindo esse raciocínio, o fato de eu nunca ter aprendido a jogar vôlei deve ser o verdadeiro responsável por vários dos talentos que eu desenvolvi ao longo da vida. Porque esse foi meu fracasso original e fundador.

Durante muito tempo, aprendi a me convencer de que "eu nem queria mesmo" e que qualquer canguru bem treinado é capaz de jogar uma bola de um lado para o outro de uma rede.

Mas todo meu esforço de auto-engano sucumbia na primeira ocasião em que um grupo de amigos se reunia na praia e algum inoportuno sacava a idéia mortal: "Que tal um voleizinho depois do almoço?".

Esta semana, depois de anos, voltei a ser confrontada com uma quadra, uma bola e todo um porão lotado de memórias infelizes ligadas ao vôlei.

Durante alguns minutos, pude decidir entre entrar em campo, só de brincadeira para ver o que acontecia, ou fazer o que sempre fiz - isto é, fugir do jogo antes de começar.

Entre o eu conhecido e desajeitado e o eu bem-disposto e corajoso, fiquei com a arquibancada. Mas a grande descoberta foi que o vôlei já não dói tanto quanto doía antes. Como um amor descabelado da adolescência, é quase cômico lembrar que sofri tanto, e durante tanto tempo, por ele.

A maior vantagem da maturidade em relação a todas as outras etapas da vida é que a gente já não é mais criança.


31 de maio de 2008
N° 15618 - Paulo Sant'ana


Os desistentes

Vejam bem os leitores o desespero e o desengano de que são tomados os que necessitam de serviços médicos urgentes e percorrem os hospitais, são mandados de um lado para outro, se quedam apatetados e impotentes em macas pelos corredores e enfermarias, levam 10, 15, 20, 30, 40 horas para receber a acolhida médica ou o mínimo atendimento.

Diante do apocalipse de se sentirem enjeitados pelo sistema, sem qualquer atenção, desistem completamente e vão se entregar à doença em casa, apodrecer vivos ante a indiferença e a frieza do establishment único dominante. Desistem e não sabem mais para onde ir. Vão morrer em casa, com sofrimentos atrozes, como os elefantes. Eis uns desses relatos:

"Prezado Paulo SantAna, contarei aqui o que me aconteceu neste feriado de Corpus Christi. Enfatizo que esta narrativa é a mais pura verdade, sendo que pensei até em ir a uma delegacia de polícia, porém achei que seria uma perda de tempo.

Minha esposa operou de emergência a veia safena da perna esquerda, em junho do ano passado, pelo SUS, na Santa Casa. Agora, depois de muitos exames, pela Unimed, com três médicos diferentes e tomando praticamente durante um ano um remédio anticoagulante (Marcoumar 3mg), fez trombo na perna direita.

Como o plano de minha empresa não inclui hospitalização, fomos até o Hospital de Clínicas com uma requisição para baixa, assinada por um médico da Unimed. Qual não foi nossa surpresa ao sermos informados de que somente poderiam baixá-la após passar por um posto de saúde.

Diante disso, nos dirigimos até a emergência do SUS na Santa Casa, tipo às 9h do dia seguinte ao feriado, ou seja, na sexta-feira, onde ela ficou esperando para ser atendida até mais ou menos as 14h, quando fui levar-lhe algo para comer.

Até as 21h, ainda não tinha sido atendida pelo especialista (hematologista), por isto fomos para casa, com o acordo de voltarmos na manhã seguinte, para então o médico atendê-la. Sábado pela manhã, lá estávamos nós.

Depois de ser atendida pelo mesmo médico que a operou, foi encaminhada para a sala de observação, onde ficou no corredor, isto mesmo que eu disse, no corredor, junto com mais cinco ou seis pessoas, até o domingo às 14h, em cima de uma maca.

Não recebeu alimentação, tampouco medicação, exceto o que lhe levei, pois estava num vácuo, intervalo ou coisa que se equipare, esperando por um leito para a bendita baixa.

Note que numa sala logo em seguida após uma porta dupla de vaivém, como as de faroeste, havia várias camas com pessoas esperando pelo mesmo motivo, a falta de leito.

Depois de aproximadamente umas 40 horas de espera, ela, vendo o sofrimento daqueles seres humanos ali jogados como indigentes e ouvindo que havia gente com uma semana de espera, se desesperou e resolveu ir para casa.

Se era para morrer, que fosse numa cama macia e após um bom banho quente, pois até isto lhe foi negado, visto que no banheiro, comum para homem e mulher, existia chuveiro, mas era aberto, isso mesmo, sem chave na porta, sem privacidade.

Nesse local, peço a Deus jamais cair, pois me pareceu só faltar o bicho feio para ser o verdadeiro inferno. Restou a indignação e revolta em ver nos meios de comunicação nossos governantes apregoarem que a saúde vai bem.

Lá no Hospital Mãe de Deus, quando consulta pela Unimed, minha esposa é baixada sempre, devido à gravidade de sua enfermidade, mas como o plano não tem hospitalização, isso não acontece. Solicitei sua inclusão no plano M1, onde tem direito a 15 dias de internação, após uma carência de um mês.

Talvez se houvesse alguém com poder suficiente para mandar prender os responsáveis por aquela espelunca, chegasse até lá e visse o que ali ocorre, poderiam as pessoas mais humildes e necessitadas terem um alento para suas dores.

Meu nome é Carlos Roberto Stahl, (carlosstahl@terra.com) e autorizo a divulgação deste episódio que espero não mais presenciar. Um abraço de um seu admirador pelo poder de indignação com as injustiças cometidas por aqueles que deveriam justamente, senão evitá-las, amenizá-las".


31 de maio de 2008
N° 15618 - A Cena Médica - Moacyr Scliar


Agressividade: isto é bom ou é ruim?

Marketing agressivo é uma expressão cada vez mais usada no mundo dos negócios. E não é uma expressão ofensiva ou depreciativa, pelo contrário.

Uma definição diz que marketing agressivo caracteriza-se por "determinação, energia e espírito de iniciativa", coisas que todo mundo gostaria de ter. Fundos de investimento agressivos já entusiasmam menos, porque são arriscados e voláteis, mas, para quem gosta de emoções fortes na Bolsa de Valores, representam uma tentação constante.

Esses dois exemplos servem para mostrar que a agressividade pode ser vista de diferentes maneiras. Canais de TV como o Discovery costumam exibir certos documentários (em geral, gravados na África) mostrando um leão perseguindo, matando e devorando uma gazela, ou um crocodilo atacando uma ave qualquer.

Muita gente fica impressionada e até mesmo horrorizada diante de tais cenas, consideradas cruéis - mas, do ponto de vista do leão ou do crocodilo, é mesmo crueldade, ou os bichos estão apenas fazendo aquilo que devem fazer para sobreviver, aquilo que está programado em seu genoma?

Não estaremos projetando nos bichos a agressividade insensata e cruel praticada nas guerras, no trânsito ou em brigas de família?

Há dois tipos de agressão, uma que resulta de ódio, de hostilidade, outra que corresponde a impulsos naturais e que tem objetivos bem definidos: conseguir alimento, defender a prole.

A agressão natural tem substrato neuroanatômico: a estimulação elétrica de certas áreas cerebrais, como o hipotálamo e a amígdala, causa, em animais, comportamento agressivo.

Também pesam os fatores hormonais e a genética. Mas os animais só usam a agressividade em situações específicas: por exemplo, enfrentando um inimigo, o bicho se vê cotejado com a alternativa luta ou fuga. Se ele tem chances, enfrenta. Se não tem chances, não hesita em fugir.

Nos seres humanos, e provavelmente só nos seres humanos, encontramos os dois tipos de agressividade, que variam de acordo com o sexo, com a idade, com o ambiente cultural e até com o QI: quando mais baixo este, mais agressiva pode ser a pessoa.

Álcool e drogas também podem estimular a agressividade e, para algumas pessoas, o carro: podemos falar de uma "direção agressiva", que é o contrário da "direção defensiva".

Em A C ivilização e Seus Descontentes, Sigmund Freud viu no conflito entre o desejo sexual e a repressão ao sexo imposta pela sociedade uma causa de agressividade.

E, finalmente, o psicólogo Albert Bandura constatou que crianças expostas a modelos agressivos de adultos eram mais propensas a atacar um boneco deixado entre seus brinquedos exatamente para "tentá-las".

A agressividade pode ser canalizada - para o trabalho, para o esporte. E a agressividade pode ser entendida. A pergunta básica é: por que estou agredindo essa pessoa? O motivo para isso está nela - ou está na minha cabeça? Uma pergunta que, às vezes, tem de ser examinada na terapia. Mas que, se queremos ser pessoas melhores, tem de ser examinada.

Agradeço os amáveis comentários da psicóloga e doutora em comunicação Ana Maria Rossi e de Maria Alice Mendes acerca da coluna sobre maratona e resiliência.

sexta-feira, 30 de maio de 2008


JOSÉ SIMÃO

Ueba! Beijo gay abala "Duas Varas'!

E adoro o elenco: Antonio Fagundes, Betty Faria... É a "Malhação" da terceira idade! Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E tem uma tenista espanhola chamada Reza. Aí ela entra na quadra e todo mundo grita: "REZA! REZA!".

E partida de tênis parece trilha sonora de filme pornô: "Uhn, ahn, uuhn, aaaahn!". E o Maradona no jogo Fluminense x Boca? A torcida gritava: "Boca! Boca!". E o Maradona: "Nariz! Nariz!".

E hoje eu vi um adesivo no carro: "Volta, Marta!". Deve ser algum vendedor de botox! Rarará! Amazônia urgente! Tenho uma amiga ligada a questões indígenas.

Toda vez que ela vai numa tribo, ela come uns dez índios. Tá mais pra ANTROPÓFAGA que pra antropóloga! E índio não quer mais apito, índio quer iPod. Fazer a dança da chuva com iPod! Ei, ei, índio quer iPod/ Se não der/

O pau vai comer! E vai ter beijo gay em "Duas Caras"? Aí vira "Duas Varas"! Beijo gay abala "Duas Varas"!

E adoro o elenco: Antonio Fagundes, Betty Faria, Suzana Vieira, Marília Pêra, Marília Gabriela. É a "Malhação" da terceira idade. Rarará!

E o Juvenal Antena parece o High-lander, ressuscitou umas mil vezes! E a Alinne Moraes tá linda, mas a boca parece bico de tênis Conga. Ela engoliu um tênis Conga e ficou com o bico pra fora!

Rarará! E a Betty Faria fala com ovo na boca! Ela tá parecendo o pai da Tieta gritando "TOOONHA", com dois ouriços na goela.

E a Suzana Vieira? Mistura de Donatella Versace com mortadela. Mortadella Versace. A Mãe Loura do Funk! A Cuca do "Sítio do Picapau Amarelo"! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe! Ou, como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Rarará! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Vilas do Atlântico, Salvador, tem uma barraca chamada Buraco da Velha! Aberto todos os dias. Parece Dias Gomes.

Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. Mais um exemplo irado de antitucanês. "Bucéfalo": companheiro que só pensa naquilo. Rarará!
O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!

simao@uol.com.br
30/05/2008 - 19h56 - Publicidade - da Folha Online

Hannah Montana consegue disco de ouro no Brasil

O CD "Hannah Montana" vendeu mais de cem mil cópias e conquistou o disco de ouro no Brasil, informou a Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD).

Segundo a ABPD, o CD "Hannah Montana 2 (Non-Stop Dance Party)" também conquistou o disco de ouro no Brasil.

Divulgação

"Hannah Montana" conseguiu disco de ouro no Brasil; Miley Cyrus interpreta personagem
A personagem Hannah Montana se tornou uma febre pelo mundo graças à série de mesmo nome, protagonizada pela jovem atriz Miley Cyrus, 15.

Cyrus é filha do cantor de country Billy Ray Cyrus e protagonizou recentemente uma polêmica ao posar para uma foto para a a revista "Vanity Fair".

Atualmente Cyrus filma "Hannah Montana: The Movie", que deve estrear em 2009. A jovem coleciona prêmios, tendo recebido o Gracie 2008 por papel feminino de destaque em uma série para crianças e adolescentes, por "Hannah Montana".

No Kid's Choice, Cyrus ganhou o prêmio Blimp em 2007 e 2008 como atriz de TV favorita também por seu papel em "Hannah Montana".

Ela ganhou em 2007, no Teen Choice Awards, o prêmio Tee Choice de atriz de TV, também pela série.


30 de maio de 2008
N° 15617 - Liberato Vieira da Cunha


A calçada do Cine Imperial

Por alguma convenção não-escrita, os domingos, nos Anos Dourados, eram os dias de você vestir suas melhores roupas. Eram também, por geral acordo, o dia de você assistir à missa das 9, ato celebrado aqui nas minhas vizinhanças em plena Catedral Metropolitana, à época desprovida de cúpula.

E eram também os dias em que o almoço surgia abençoado por uma salada de maionese, uma galinha assada, um espaguete ao molho de tomate, de sobremesa sagu com creme de leite.

De tarde, você tinha dois rumos iniciais. Ou ficava na calçada do Cine Imperial, observando a entrada das mais lindas garotas de Porto Alegre - com sorte, flertando com alguma - , ou ia pegar os programas duplos do Marabá, se não quisesse tentar o Avenida ou o Colombo, hipóteses nas quais teria de se servir de um bonde da Carris.

E não estou nem recordando outras grandes atrações da Capital, embora inteiramente desamparadas de belas senhoritas: os jogos do campeonato. A cidade tinha sete times, cada um com seu competente estádio: Internacional, Grêmio, Renner, Cruzeiro, Nacional, Força e Luz e São José.

E aí chegava a hora da dança. A Farroupilha apresentava o seu rádio-baile - e no Centro e nos bairros floresciam centenas de reuniões dançantes, ritmadas pelos pedidos de músicas dos próprios ouvintes, que eram legiões.

Depois vinha uma ligeira dor de consciência: as lições da escola que você não tinha feito. Mas isso não chegava a ser uma tragédia. Você separava os temas mais urgentes e liquidava-os enquanto ouvia os resultados dos torneios nacionais e os incertos rumos deste mal-educado planeta. E aí ia dormir o sono dos justos e dos inocentes.

Por que evoco tudo isso?

Porque achei ontem uma foto em que apareço trajando calça e casaco alto-esporte, camisa de colarinho e gravata, mais um relógio de pulso Lavina, sentado num banco da Praça da Matriz, na solitária companhia de um livro.

É um domingo dos Anos Dourados. Não sei se já fui à missa da Catedral, se espero o almoço, se vou aos Eucaliptos. Ali estou eu acompanhado de um certo sorriso. Não adivinho, mas quero apostar que provindo do pensamento da menina com que vou encontrar na calçada do Cine Imperial.

Ótima sexta-feira e um excelente fim de semana, ainda que, com temperaturas próximas a ZERO graus por aqui.


30 de maio de 2008
N° 15617 - Paulo Sant'ana


Em defesa do SUS

Os dados que o Conselho Regional de Medicina (Cremers) me passa sobre o SUS são ao mesmo tempo entusiasmantes e decepcionantes.

A obra do SUS é colossal em cada ano:

1) 100 milhões de consultas médicas;

2) 11,5 milhões de internações;

3) 350 milhões de exames laboratoriais;

4) 2 milhões de partos.

Sem falar em inúmeros outros itens, entre eles os atendimentos ambulatoriais e os caríssimos transplantes.

Mas esses números já dão uma idéia da importância do SUS e da sua imprescindibilidade social.

No entanto, o que o SUS deixa de fazer é também gigantesco, atestando a falta de atendimento para milhões de pessoas:

1) 10 milhões de hipertensos sem assistência;

2) 4,5 milhões de portadores de diabetes desatendidos;

3) 4 milhões de infectados pelo vírus da hepatite C desassistidos;

4) 90 mil portadores de doenças cancerígenas sem rádio/ quimioterapia;

5) 3,7 milhões de portadores de obesidade mórbida sem assistência;

6) 3.550 mortes de pacientes por falta de hemodiálise;

7) 50% das gestantes sem pré-natal completo;

8) 70% das mulheres sem acesso a exames mamográficos.

Sem falar naquela antiga reivindicação desta coluna, clamando pelo atendimento de cerca de 1 milhão de pessoas nas filas de cirurgia no Brasil, morrendo muitas delas por não serem atendidas antes de meses e anos.

E outros tantos números e itens não atendidos, que caracterizam a tragédia do SUS.

Se o 0,1% que o governo federal está pretendendo de alíquota para essa nova CPMF, agora com o nome de Contribuição Social para a Saúde (CSS), que alguns adversários dela chamam de Contribuição Sem Sentido, fosse destinado ao desaparecimento desse abandono que sofrem milhões de brasileiros no seu atendimento de saúde, se compreenderia e saudaria o novo tributo.

Mas tem-se a certeza de que o imposto pode vir a ser cobrado e essas necessidades veementes de prestação de saúde continuarão a não ser prestadas.

Também por isso, o Cremers estará coordenando hoje à tarde, das 12h às 16h, uma grande manifestação popular a ser realizada no Largo Glênio Peres, com a presença de inúmeras categorias profissionais, entidades médicas, sindicais e sociais.

Esta coluna vê com muitos bons olhos essa manifestação, até mesmo porque ela não é contra o SUS, pelo contrário, é a favor.

A favor de que o governo federal venha a garantir recursos necessários, suficientes e permanentes para a Saúde e promova o acesso de todos os brasileiros que não possuam seguro-saúde ao sistema, com o que a universalização do atendimento de saúde, inscrita na Constituição, venha finalmente a se cumprir.

Ao núcleo central do movimento e da manifestação de hoje, agregaram-se a Ajuris, o Simers, a Amrigs, o Sindicato dos Hospitais Beneficentes e Filantrópicos, a Federação das Santas Casas, o Sindisaúde, a Associação Brasileira dos Usuários do SUS e Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde do RS.

Houve também a adesão da OAB-RS, Famurs, Assedia, Comissão de

Saúde da Assembléia Legislativa, Conselho Regional de Saúde, Conselho Municipal de Saúde POA, associações de portadores de doenças crônicas e dezenas de outras entidades interessadas em que o SUS avance em suas conquistas e alargue seu atendimento.

Dá para ver pela relação das entidades que a luta que esta coluna tem desempenhado através do tempo em favor dos necessitados em atendimento de saúde é abrangente na sociedade.

Mais atendimento do SUS, com melhor remuneração dos hospitais e médicos, é um grito que se espalhará hoje do Largo Glênio Peres por todo o Brasil.


30 de maio de 2008
N° 15617 - Ricardo Silvestrin


As bandas de cá

"Meninada, desperta pras bandas de cá". Esse é um verso da canção Ponto Nodal, do Nélson Coelho de Castro. Fala dos bairros meio à margem de Porto Alegre, chegando até Alvorada.

Também sugeria, lá no final dos anos 70, pra gurizada, como eu, que via os shows, prestar atenção no seu lugar, na sua cultura. E, há pouco tempo, caiu a ficha do duplo sentido da palavra "bandas", como lugares, mas também como grupos musicais.

No show Abdução, que o meu grupo os poETs faz toda a primeira quarta de cada mês no teatro da Livraria Cultura, abduzimos o Nélson. Entre alguns clássicos do seu repertório, ele mostrou uma música linda, que fala de um rei negro, em homenagem ao Giba Giba. Outro dia, eu estava vendo a participação do Antonio Villeroy no programa Zoombido, do Paulinho Moska, no Canal Brasil.

Totonho falou sobre a grande circulação que as suas composições vêm conquistando no panorama da música brasileira contemporânea. Bethânia ligando pra ele e pedindo música, pra ter uma idéia.

Futebolzinho na casa do Chico Buarque. E citou também toda uma geração de músicos de Porto Alegre, entre eles o Nélson, como tendo uma obra que é um verdadeiro tesouro guardado. Grandes canções que são conhecidas mais por aqui.

Por outro lado, a projeção do Antonio Villeroy, com a parceria do Bebeto Alves, reafirma Nélson e sua geração.

O espaço de grande estrela conquistado pela Adriana Calcanhoto, o sucesso da Cachorro Grande, do Papas da Língua, a presença sempre interessante do Wander Wildner por São Paulo e Rio, a paixão underground em várias cidades brasileiras pela Graforréia, a corrida por fora da Izmália,

o Tangos & Tragédias lotando casas Brasil afora, o internacional Borghettinho, o requisitado Yamandu Costa, o incensado Vitor Ramil, além do trânsito de novos e consagrados músicos e bandas daqui por diversos festivais no Brasil, tudo isso parece sinalizar um novo momento, em que a música made in rs começa a fazer parte com mais naturalidade do cenário nacional.

A meninada, inclusive de fora do Estado, está despertando pras bandas de cá. E as bandas de cá estão indo pra lá.


30 de maio de 2008
N° 15617 - David CoimbraSou contra!


Sou contra a CPI. Qualquer CPI.

O instrumento da CPI deveria ser retirado do Legislativo, antes que ela, a CPI, acabe com ele, o Legislativo.

A CPI tinha a sua função e a sua utilidade, até que uma deu mais certo do que se esperava. A do Collor. Quando Collor caiu, década e meia atrás, todos os deputados, senadores e vereadores do Brasil se ouriçaram.

Compreenderam que tinham nas mãos uma arma capaz de abater presidentes. Desde então, as CPIs têm se multiplicado como se multiplicam as ratazanas do esgoto. Nenhuma deu resultado. As CPIs não servem para nada.

Para a sociedade, a CPI é inútil por razões óbvias:

1. A apuração a que ela se propõe já foi feita pelo Ministério Público, pelo Judiciário ou pela polícia.

2. O Legislativo não tem instrumentos ou capacidade para fazer diligências tão bem quanto os órgãos de investigação.

3. O Legislativo não tem competência para investigar nem quando investiga a si próprio. Porque, neste caso, falta-lhe independência: ou o investigado é amigo, ou inimigo.

É claro que isso pouco importa aos parlamentares. O que um parlamentar pretende, ao pedir ou ao instalar ou ao participar de uma CPI, não é descobrir algo. Ele sabe que uma CPI não desvenda nada, não esclarece nada.

O que o parlamentar pretende é atingir o governo. Qualquer governo, de qualquer partido, não importa. Uma CPI sempre é uma espingarda política da oposição.

Só que nem para isso a CPI serve mais. A presunção de que "os políticos são corruptos" se espargiu pela sociedade e se transformou em conceito.

Ninguém se escandaliza com um roubinho eventual, ninguém mais sabe se dez milhões é muito ou pouco, porque, para o cidadão comum, não será surpresa um político roubar. Será surpresa se ele não roubar. Sendo assim, quem se importa com as CPIs que permanentemente rondam os aliados de Yeda e Lula?

As pessoas sabem que é tudo encenação, que tudo aquilo não passa de masturbação legislativa. O Legislativo não trabalha mais para a sociedade brasileira, trabalha em função de si próprio. É a política pela política, a política parnasiana, parasita, tacanha e pobre.

O Legislativo brasileiro transformou-se num aleijão por causa da CPI. As grandes questões do país estão dormindo nas gavetas, enquanto os deputados fazem pantomima diante das luzes das TVs. Chega de CPI! Proíbam CPI! Sou contra CPI!

Sou contra a gramática. O ensino da. A gramática na escola é uma das causas da estultice que grassa pelo território nacional. Exemplo é a pesquisa divulgada dias atrás sobre leitura no país. Quais são os livros mais importantes para o brasileiro? Em primeiro lugar vem a Bíblia. Não vale - ninguém lê a Bíblia.

No máximo, o cristão toma um capítulo aleatório e lê dois parágrafos para se inspirar, sem entender nada. Depois seguem: O Sítio do Pica-pau Amarelo, Chapeuzinho Vermelho, Harry Potter, Pequeno Príncipe e Os Três Porquinhos. Livros infantis.

O que significa isso? Que o brasileiro não lê. E por que não lê? Por causa da gramática.

O particípio. Que me importa o particípio? Não quero saber do particípio, do futuro do presente composto, da fricativa interdental sonora, dos infinitivos todos.

Não quero saber. Nem as pobres criancinhas brasileiras, obrigadas a aprender gramática em seus tenros anos.

Nos Estados Unidos não se aprende gramática. Aprende-se a ler, a escrever, a interpretar texto. Era o que os professores deviam fazer com as crianças brasileiras: dar-lhes livros, fazer com que escrevessem sobre os livros.

Livros contemporâneos, com linguagem moderna e agradável. Nada de Machado de Assis e José de Alencar, por amor de Deus! Gramática, só algumas regrinhas básicas de acentuação e vírgula. Pronto. Chega de gramática. Sou contra a gramática!

quinta-feira, 29 de maio de 2008


JOSÉ SIMÃO

Buemba! Índio quer tênis e mochila!

E o Lulalelé sobre a Marina Silva: "É a cara do meio ambiente". É, tava com uma cara arrasada!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E uma amiga acaba de chegar de Lisboa, onde ouviu uma rádio com o seguinte slogan: "Rádio Vox, a preferida dos ouvintes da Vox". Básico!

E olha o adesivo que eu vi num Fiat Uno: "Preserve a natureza, adote uma perereca".

E eu sei como resolver o problema da Amazônia: cimenta tudo, daí vira estacionamento. A gente não quer respirar, a gente quer estacionar! Rarará!

E eu ouvi uma evangélica gritando na rádio: "Mofo? Vazamento? Dor no corpo? É ENCOSTO!".Vamos incluir a CPMF? Mofo, vazamento, dor no corpo e CPMF? É encosto!

Porque agora volta com outra sigla: CSS. Come Seu Salário. Chupa Seu Sangue. E Como Sempre Se Dei Mal! Rarará! E avisa pro Lula que provisória é a saúde. Permanente é a fila!

E, aí, tava vendo os índios na televisão, e um amigo perguntou: "O que esses índios querem, hein?". Tênis e mochila. Índio quer tênis e mochila!

E o Lulalelé na posse do Minc Leão Dourado, apontando pra Marina Silva: "Ela é a cara do meio ambiente". E é mesmo, porque ela tava com uma cara arrasada!

Ela é a cara do meio ambiente! E a outra arrasaaada! E será que os índios brasileiros serão dizimados como os índios americanos?

Sabe o que o caubói falou pro apache? "Cala a boca, porque vocês não ganham uma há mais de 20 filmes." Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que na Paraíba tem um bar chamado Mastigado da Jumenta.
Rarará!

Parece Dias Gomes. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio ulante. "Canonizado": companheiro que entrou pelo cano!

O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai índio que eu não vou!

simao@uol.com.br


ZERO ERROS
Do livro "A Magia do Cotidiano"

Quem não conhece aquela dona de casa extremamente exigente com o serviço doméstico, tão exigente que as empregadas não demoram muito tempo na casa dela?

Ou aquela mãe que quando os filhos entram em casa com os pés sujos de lama ela fica mais preocupada com as manchas no piso do que com o perigo das crianças se resfriarem por estarem com os pés úmidos?

E aquele homem que se irrita facilmente com os erros dos outros – e para ele os outros estão sempre errando! – que critica e julga, que vê apenas os defeitos de tudo e de todos?

São os perfeccionistas, pessoas que têm mania de perfeição, mania de exatidão, mania de limpeza. Querem que o mundo funcione como se fosse um mecanismo perfeito de ordem e precisão, e quando as coisas não ocorrem dessa forma, é motivo para eles de grande irritação.

A impaciência com a lentidão alheia, com a poeira, com o barulho, com a falta de asseio, e até mesmo com os traços mais inocentes e inofensivos do caráter dos outros é uma de suas características.

A esposa que inferniza a vida do marido porque este espreme o tubo de pasta de dentes pelo meio, não levanta a tampa do vaso quando usa o sanitário, faz barulho quando toma sopa e assovia enquanto lava o carro está apenas expressando essa sua característica.

A atitude do perfeccionista diante das pessoas é sempre crítica. Frequentemente estão sobrecarregados de trabalho porque não querem delegar tarefas, já que ninguém consegue fazer as coisas de uma forma que os satisfaça.

Submetem seus empregados ou subordinados a uma vigilância constante e são incapazes de demonstrar compreensão e paciência com as limitações e deficiências dos outros.

Irritam-se com bobagens, com gestos e com pequenos hábitos das outras pessoas. Não admitem atrasos, mesmo que sejam mínimos e são implacáveis quando se trata de apontar um erro alheio, quando se trata de fazer uma crítica. Esquecem os 95% que dão certo e se concentram apenas nos 5% que dão errado.

Não têm senso de humor e têm dificuldade em gozar a vida. É o torcedor que não consegue se alegrar com a vitória porque o time jogou mal, e enquanto todo mundo está comemorando ele insiste em repisar todas as jogadas que não deram certo e em apontar todos os defeitos táticos e técnicos da equipe.

O pior de tudo é que ele não compreende como é que todo mundo consegue ficar tão alegre torcendo por um time tão ruim, mesmo quando este time se sagra campeão.

Geralmente, essas pessoas terminam ficando isoladas dos outros. Seu grau de exigência com coisas, situações ou pessoas é tal que nada o satisfaz.

É difícil encontrar um restaurante que lhe agrade, as pessoas não são suficientemente inteligentes, ou atraentes, ou interessantes, as lojas não têm artigos que lhe servem.

Quem não se lembra do Capitão Von Trapp no filme A Noviça Rebelde? Exigente e crítico, esperando que os filhos se comportassem dentro da mais perfeita ordem e disciplina, sacrificando até as manifestações de carinho e a expressão saudável das emoções.

O perfeccionismo é uma atitude extremamente geradora de tensão. Como o mundo não é perfeito e as pessoas não são perfeitas, muitas delas inclusive estando muito longe disso, os perfeccionistas vivem extremamente insatisfeitos e infelizes.

Essas pessoas têm uma tensão emocional que se expressa fisicamente por rigidez e dores nos ombros, no peito, nos braços e na mandíbula. São também candidatas fortes à ocorrência de cefaléias e enxaquecas.

O perfeccionismo é uma manifestação de intolerância, da incapacidade de colocar-se no lugar do outro. Nenhum de nós pode se arvorar em juiz do outro porque também temos nossos próprios defeitos.

Quando conseguimos identificar em nós sintomas desta desarmonia o caminho mais curto para superá-la é fazer as pazes conosco, desviando o foco dos outros e jogando mais luz sobre nós mesmos.

Sorrir, brincar, começar a exercitar a possibilidade de gostar de coisas que não sejam cem por cento, fazer concessões, deixar rolar, reconhecer a própria ignorância, são atitudes que ajudam muito.

É preciso entender que todos temos os nossos talentos e que todas as coisas têm vários aspectos. Você já reparou que existem flores, como o girassol, que desabrocham violentamente, se expondo em toda a sua glória amarela e luminosa? E que as pequeninas e tímidas violetas se escondem na sombra da folhagem de outras plantas?

As pessoas como as flores do universo, são do mesmo jeito. É preciso entender a maneira especial que cada uma tem de florir e desabrochar, enchendo o mundo de cores e perfumes variados.

Sabedoria é compreender e respeitar as limitações e diferenças porque é ela que dá beleza ao mundo.


SABEDORIA POPULAR

Há quem não acredite na sabedoria popular. Não é o meu caso. Como não crer na seguinte conclusão? Mulher gostosa é como cerveja gelada: esquenta rápido e dá dor de cabeça, mas todo mundo quer tomar.

Somente a experiência milenar de bebedores de cerveja disciplinados e filosóficos poderia conceber uma síntese tão perfeita.

Todo bebedor de cerveja é um publicitário frustrado, um filósofo amador ou um gênio incompreendido, salvo quando se trata de um publicitário bem-sucedido, de um filósofo profissional e de um gênio compreendido pelos seus colegas de boteco.

O bebedor de cerveja é um eremita que passa a vida recolhido à mesa do seu bar predileto refletindo sobre a condição humana. Vez ou outra, como um peripatético (nada a ver com aquele famoso personagem de José de Alencar), pensa caminhando. Até o mictório mais próximo.

Dizem que Nietzsche concebeu a sua teoria cíclica do eterno retorno depois de observar uma turma de bebedores de chope indo e vindo do banheiro à mesa. Descartes teria chegado ao 'penso, logo existo' depois de ouvir um bebedor de cerveja dizer: 'Bebo porque existo'.

A sabedoria popular evoluiu muito. A auto-ajuda não faz melhor e ainda custa dinheiro. A psicanálise é uma espécie de sabedoria popular para as elites. O problema é que as fórmulas nem sempre são tão claras e divertidas. Já que Lacan nem sempre resolve, o negócio é pegar o atalho.

A sabedoria popular é pragmática. Até parece o capital. Se tiver risco, cai fora. Vai se dar bem noutra praia. De acordo com a sabedoria popular, político é como mágico: só vende ilusão. Essa é velha? É velha, mas cola.

Toda eleição é a mesma história. Como diz o ditado, conversa mole em cabeça dura tanto bate até que fura. É voto na urna. A sabedoria popular, altamente difundida por bebedores de cerveja, é obcecada pelas 'boas'. Eis uma prova: campanha eleitoral é como mulher gostosa.

Nada mais do que uma promessa passageira de felicidade na qual todos fazem de conta que acreditam. Afinal, a sabedoria popular é machista? Não. Só os bebedores de cerveja. Mas nem todos. Ao menos antes da quarta loura bem gelada.

Na sabedoria popular, só os clichês emplacam. Por exemplo, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas uma coisa leva a outra e as duas juntas levam a uma quadrilha. Só não levam à cadeia. Parece a política brasileira.

O nexo entre bebedor de cerveja, mulher gostosa, sabedoria popular e política é evidente. Já mostrei isso em outras ocasiões. Grandes temas, no entanto, precisam ser retomados à luz de novas informações. Como diz o ditado parlamentar, quanto mais se ordenha a vaca, maior é a teta. O quadrúpede, contudo, é sempre o mesmo.

Quem? Quem mesmo? Eu não seria capaz de indelicadeza com o contribuinte. É o Estado. Aí um figurão da política gaúcha, preocupado com a vaca, me esclareceu: o problema do Detran era de direção. Disse mais, muito mais: aquela turma não estava habilitada.

O problema ali, concluiu, era a fundação. Um grande buraco! Foi nesse momento que comecei a pensar na sabedoria popular, entrei em crise, fui beber cerveja e ouvi esta novidade: a corrupção é um saco sem fundo. Até parece mulher gostosa.

Quer mais todo dia. Que me desculpem as mulheres, gostosas ou não, mas conversa de bebedor de cerveja é fundamental. É o que garante a sabedoria popular. Quando um não quer, aumenta-se a propina.

juremir@correiodopovo.com.br

Ainda que gelada que tenhamos todos uma ótima quinta-feira


29 de maio de 2008
N° 15616 - Paulo Sant'ana


Prender onde?

A medida legal decretada esta semana pela Câmara dos Deputados, faltando apenas para que entre em vigência a sanção presidencial, vai modificar profundamente alguns hábitos brasileiros.

Por ela, quem for apanhado no trânsito com qualquer quantidade de álcool no sangue, uma taça de vinho ou um copo grande de cerveja, uma gota de álcool no sangue, pagará séria multa e pode perder a carteira por até um ano.

Se, no entanto, alguém for flagrado no trânsito com 0,6 grama de álcool no sangue, o condutor estará sujeito a prisão de seis meses a três anos.

Rigor máximo.

Pela medida, se algum condutor se envolver em acidente de trânsito com morte, isso será considerado crime doloso - e não mais culposo, como era antigamente - , e a pena, que era antes de até seis anos de prisão, passará para de seis anos a 20 anos de prisão.

Dificilmente haverá em outro lugar do mundo um rigor igual.

Antes, a lei penal, nos crimes de trânsito, punia somente os bêbados. Agora quer punir os libadores, os que bebem socialmente, os que ingerem dois copos de cerveja, uma taça de vinho ou champanha.

Poderá ser considerado delito grave ir ao restaurante para almoçar ou jantar, beber cerveja ou vinho, voltar para casa dirigindo. Se for apanhado e consentir em assoprar um bafômetro ou que lhe tirem sangue, estará sujeito a prisão e a não mais poder dirigir.

Se não consentir no exame o condutor, a autoridade policial poderá, se constatar embriaguez em sua postura, cassar-lhe a carteira por um ano.

Como ficará o hábito brasileiro de ir jantar fora ou ir a uma festa e beber álcool? Como ficará?

Até os brasileiros adquirirem o hábito de apenas se dirigirem a um restaurante e, depois de lá ingerir álcool, entregar o volante do carro a um familiar ou amigo que tenha bebido refrigerante ou suco, no retorno para casa - isso vai demorar 50 anos.

É arraigado o hábito de comer fora e beber vinho ou cerveja e voltar dirigindo para casa.

Se essa lei viger como parece que vigerá, as prisões serão em massa.

Aliás, por ano, os congressistas fabricam cerca de 10 leis que ou aumentam as penas para delitos já existentes, ou criam novos delitos com penas de prisão.

É prisão, prisão e mais prisão, vindas do Congresso Nacional legiferante.

Há uma moda atual na política, principalmente entre as hostes governistas, que dita ser indispensável que os deputados e senadores, quando criarem legislação que redunde em despesa para o erário, indiquem simultaneamente a fonte de recursos para custear a norma aprovada.

E como é que os dignos legisladores, quando a todo momento editam leis que mandam botar na prisão os novos criminosos que as transgredirem, ou até pretendem botar na cadeia pessoas com idade superior a 16 anos, não percebem que é inócuo querer prender centenas de milhares de criminosos novos por crimes novos, sem nenhuma vaga na prisão?

É todo mundo querendo prender, prender, prender, como se houvesse onde prender.

Será que a sociedade, os Legislativos e os governos não entendem que só diminuirão os crimes no dia em que houver prisões decentes?

Que enquanto as prisões forem calabouços de miséria, tortura e morte, não há Justiça do mundo, feita de homens conscientes, que consiga manter por algum tempo todos os criminosos presos, sendo obrigada a soltá-los?

Em toda a minha carreira de jornalista, esta foi a verdade transmitida por mim mais difícil de ser compreendida pelo público.

Mas, se eu desistir dela, não poderei me olhar mais no espelho.


29 de maio de 2008
N° 15616 - Leticia Wierzchowski


Das noites insones

Tive meu segundo filho faz poucos dias e, para escrever estas linhas, venho das brumas do mundo das mamadas e das fraldas.

Quem teve filho há pouco tempo, seja homem ou mulher (os pais de hoje dividem as madrugadas numa boa com as respectivas mamães dos seus rebentos), sabe bem do que eu estou falando. Quem teve filho há tempos já esqueceu. Esse é um dos segredos da proliferação da nossa espécie: a memória seletiva.

Enfim, aqui estou. Feliz e morrendo de sono. A falta de sono é uma coisa dura: a gente deita na cama, sob as cobertas quentinhas, e no bom de um sonho a babá eletrônica começa a chiar: no quarto ao lado, a coisa ferveu.

É preciso levantar e ir aos remos, vencer as intempéries da primeira infância junto com seu filhote, acalmá-lo nas suas misteriosas dores, nos seus inomináveis medos - é preciso cantar, embalar e inventar rimas Quase todo mundo dá uma de Chico Buarque com o filho no colo. Mas, quem não gosta de ousar, recorre à própria infância, desencavando cantigas da época do Ariri.

É gostoso Aquele pacote quentinho, de olhos arregalados mirando a gente, tanto amor que nem dá pra descrever. Isso na primeira hora. Na segunda, morrendo de sono, a gente só faz shiss-shiss - e balança mais rápido a criança.

Como um carro vencendo uma determinada distância, temos a idéia de que x balançadas levarão nosso filho ao sono. Ah, mera tolice. Existem certas madrugadas em que você pode balançá-los ad infinitum, e eles não dormem.

Eles não querem dormir. Você, morto de cansaço, cantando há uma hora e meia, já está ninando a si mesmo: é preciso redobrar a atenção, segurar a cria com mais força, olhar onde pisa pra não tropeçar no vazio. Mas seu bebê segue impávido, de olhos arregalados. Depois a gente vai pelo dia afora, se arrastando pelas horas.

Pequenas tarefas e obrigações rotineiras se acumulam (isso sem falar nos cuidados pessoais, nos jornais diários, naquele romance mofando sobre o criado-mudo).

Já os bebês, ah, esses dormem a tarde inteira, e assim se recuperam das suas noitadas. Eu ando precisando dormir umas horas a mais - de preferência, noturnas.

Tenho, inclusive, cometido algumas besteiras: dia desses, encontrei uma fralda descartável suja de xixi na gaveta das fraldas limpas. Aliás, se vocês virem algum erro de português nesse texto, pelo menos eu tenho uma boa desculpa.


29 de maio de 2008
N° 15616 - Luis Fernando Verissimo


As delongas

O cinema americano nos acostumou mal. Bastou a primeira briga no pátio da escola para descobrirmos que soco de verdade não era como soco em filme. Não produzia o mesmo ruído e a mão de quem batia sofria tanto quanto a cara de quem apanhava.

Das brigas a soco do cinema, aquelas de demolir saloon, ninguém saía com mais do que alguns hematomas, que duas cenas depois já tinham desaparecido, e os punhos ficavam intactos. Nunca se viu uma luxação em filme americano.

Outra convenção do cinema desmentida pela realidade era que um golpe atrás da cabeça nocauteava qualquer um. Não falhava. Pop, e o cara ficava inconsciente pelo tempo necessário. Todo mundo sabia exatamente onde, e com que grau de força, bater para obter o resultado desejado, em vez de matar ou apenas enfurecer.

Mas a expectativa mais irreal que o cinema americano nos legou foi a da justiça rápida. Não nos conformamos com a idéia de que o julgamento e a sentença não sigam o crime com a rapidez que se vê nos filmes, e atribuímos a demora à nossa condição de povo atrasado, dado a formalismos anacrônicos que a diferença entre um paramentado tribunal brasileiro e um despojado tribunal americano - ou pelo menos um tribunal americano de cinema - só acentua.

A impaciência com a morosidade da Justiça é compreensível mas nem sempre cabe. A demora não é uma peculiaridade brasileira, e é antiga. Hamlet, no seu famoso solilóquio, já listava entre as razões para se suicidar "the laws delay", as delongas da lei.

E as instâncias e as idas e vindas de um processo judicial existem para prevenir o erro, proteger do arbítrio e garantir os direitos de todos até o último recurso - pelo menos em tese - por mais que exasperem, nós e o Hamlet, e por mais que favoreçam firulas de advogado e a absolvição pelo esquecimento.

E se serve de consolo: a Justiça americana, além de também não ser de cinema, peca tanto pela ausência de trâmites quanto a nossa pelo excesso.

Com o agravante de que lá erros judiciais muitas vezes não recorridos podem resultar em sentenças de morte.

Enfim, há delongas e delongas. São sintomas de um sistema judicial esclerosado, mas também é o que nos protege de uma Justiça, digamos, cinematográfica demais.

quarta-feira, 28 de maio de 2008


JOSÉ SIMÃO

Farc Urgente! Morre o Tiro e fica o Cano!

E o Lula quer moeda única para a América do Sul: cucaracho, papudito, dólar furado

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Braço Armado da Gandaia Nacional! Direto do País da Piada Pronta!
Fluminense reclama do gramado. Já sei, a grama tava sem sal! Rarará!

E o Lula quer moeda única para a América do Sul! Já tão chegando sugestões: cucaracho, papudito, dólar furado. Mas eu vou sugerir MOERDA! Moerda Única!

E essa: "Mulher trafega na contramão por 8 km em São Paulo". Parece aquela loira na contramão e o guarda: "Onde a senhora pensa que tá indo?". "Ah, seu guarda, acho que nem vou mais, tá todo mundo voltando."
Rarará!

E buemba: uma amiga minha foi no Extra do Morumbi e adivinha quem ela encontrou na seção de detergentes? O Renan Calheiros. Comprando tira-manchas. Acho que ele ia levar o estoque inteiro. Rarará!

E uma outra amiga está revoltada com a morte do líder das Farc, o TIROfijo! Que teve um enfarte. O Tiro morreu do coração. Isso é morte pra guerrilheiro? Morte burguesa.

Guerrilheiro tem que morrer baleado ou capturado! E ainda foi substituído por um chamado Cano, Afonso CANO! Morre o Tiro e fica o Cano! Rarará!

E as diferenças entre petistas e tucanos? Petista gosta de rodízio, tucano gosta de degustação. Petista tem barba, tucano tem cavanhaque.

Petista tem língua plesa, tucano fala com batata quente na boca. Petista chama xoxota de periquita e tucano chama xoxota de pilolíssimo e nigérrimo triângulo pubiano. Rarará!

E adorei a charge do Bruno com um cara engarrafado na marginal: "Que trânsito! Não vou conseguir chegar a tempo na concessionária pra comprar OUTRO CARRO!". Rarará! É mole?

É mole, mas sobe! Ou, como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que no Chile tem um restaurante chamado La Pica de Lucho.

No Chile, tudo é pica, La Pica de Clinton, La Pica de Mi Compadre. No Brasil, tudo termina em pizza e, no Chile, tudo termina em pica. Rarará! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Extrato": companheiro que pisou no tomate! O lulês é mais fácil que o inglês.

Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

simao@uol.com.br


Muito dinheiro por nada

Artigo - João Cláudio Garcia - Correio Braziliense - 28/5/2008

Chegou a hora de o contribuinte brasileiro ser enganado mais uma vez. Assim como ocorreu com a CPMF, ouvimos novamente a fábula de que uma nova contribuição vai servir de fonte de recursos para a saúde.

Se a promessa fosse mesmo cumprida e se já não pagássemos uma carga tributária digna de país desenvolvido, poderíamos até fingir que tudo isso é moral.

Mas o que temos em troca não compensa. O sistema público de saúde no Brasil continua precário demais para uma máquina que arrecadou a CPMF por 13 anos.

Se com a alíquota de 0,38% quase nada mudou, por que aprovar uma nova tarifa de 0,1% na chamada Contribuição Social para a Saúde (CSS)? Se a desculpa é que a CPMF funcionava como uma das poucas cobranças socialmente justas, por tirar menos de quem movimentava quantias menores, então deve-se propor o fim dos demais tributos considerados injustos.

Afinal, causa choque a estimativa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) de que o brasileiro trabalha metade da existência apenas para pagar impostos.

Aliás, aproveitando o tema, parabéns para nós, contribuintes. Parabéns porque ontem nos livramos do fardo anual da carga tributária. Explico: outra pesquisa do IBPT aponta que os 148 primeiros dias do ano são apenas para encher os cofres públicos municipais, estaduais e federais.

Dessa forma, só a partir de hoje, 28 de maio, o dinheiro ganho com o suor do trabalho pertence, efetivamente, ao trabalhador, e não ao erário. É de se refletir sobre a necessidade — ou sobre a finalidade — da concentração de tantos recursos no Estado.

A tributação elevada se justifica nas nações européias, que oferecem ao cidadão hospitais de qualidade, educação universal de ponta, ruas e estradas impecáveis, além de benefícios sociais ainda distantes para um país em desenvolvimento.

No ano passado, porém, os contribuintes brasileiros pagaram o equivalente a 36% do Produto Interno Bruto (PIB).

A média em 2006 na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais industrializados da economia de mercado, foi de 36,2%. Quem dera se, além das tarifas altíssimas, tivéssemos em comum com a OCDE o padrão de vida.


28 de maio de 2008
N° 15615 - Martha Medeiros


O uso do telefone

Quando eu era menina, não existia e-mail, MSN, celular. Se a gente queria falar com uma amiga, era por telefone fixo mesmo. E a gente falava.

Como falava. Ficava horas naquele papo furado. Foi então que ouvi do meu pai: "Telefone não é para fazer visita". Ai, meus sais.

Só mais tarde é que entendi que ele estava coberto de razão: telefone é para dar um recado, combinar um encontro, marcar uma consulta, tirar uma dúvida, fazer um convite, agradecer uma gentileza, ou seja, questões mais ou menos rápidas, salvo quando é para matar a saudade de alguém, e ainda assim recomenda-se algum critério.

Critério: procura-se.

Hoje, o telefone virou um suplício, tudo por causa do telemarketing. Antes que os operadores reclamem: sei que vocês estão apenas cumprindo ordens e garantindo o leitinho de suas crianças do modo mais honesto possível.

Entendo e respeito. Mas é dose receber ligações em casa, a qualquer hora do dia e da noite, inclusive em finais de semana, com gente oferecendo todo tipo de promoção que você não solicitou.

A empresa tem que anunciar? Perfeito: rádio, jornal, tevê, revistas, faixas penduradas em aviões, tudo isso é menos invasivo e não incita à grosseria. Porque é difícil ser gentil com quem nos atazana.

Não sou a primeira nem a última a se queixar disso, e no entanto o telemarketing segue de vento em popa, o que me faz concluir que deve haver milhares de pessoas que apreciam e compram os serviços oferecidos, pois o empresariado não seria tão cabeça-dura a ponto de manter esse inferno se não houvesse demanda.

O curioso é que eu não conheço ninguém que tolere esta artilharia telefônica. Que ache ótimo receber telefonemas de empresas ofertando cartões de crédito ou fazendo pesquisa sobre atendimento. Nenhuma pessoa. Nenhumazinha.

E ainda tem aquelas gravações que impedem que você se comunique com um ser vivo. Ficamos feito idiotas conversando com uma máquina que não só é fria, como surda. O David Coimbra escreveu sobre isso outro dia e foi um esculacho perfeito.

E agora há um comercial de cerveja que também mostra o nosso desespero quando somos obrigados a fazer uma solicitação para alguém que não é alguém, e sim um ninguém eletrônico.

É tudo tão massacrante que está virando piada.

Telefone é um aparelho para contato entre duas pessoas que se conhecem, ou que não se conhecem mas têm um assunto em comum que precisa ser resolvido. Não é uma porta escancarada para que estranhos entrem sem convite. E a educação, onde fica?

Claro que a errada é sempre quem reclama. Devo estar sendo radical e intolerante. Mas não estou só. São muitos os nostálgicos que sonham com o dia em que os telefones não sejam mais usados para fazer propaganda.

E que telefonistas de carne e osso voltem a ocupar seus postos e aguardem nossa ligação: "Bom dia, em que posso lhe ajudar?"

Me belisca.

Uma ótima quarta-feira - Aproveite para namorar, amar, ser e fazer alguém Feliz.