19 de março de 2015 | N° 18106
L.F. VERISSIMO
Elevador
A placa dizia que a ocupação máxima do elevador era de seis
pessoas. Entramos eu e mais cinco. Ninguém particularmente gordo,
descontando-se, talvez, a minha barriga, mas que também, modestamente, não
pesaria como uma sétima pessoa. E o elevador não andou. Elevador mentiroso,
pensei. Não se pode acreditar mais nem em placas de segurança.
O elevador não só não subia como sua porta não se abria. E
não só a porta não se abria como a luz no interior do elevador se apagou. Mesmo
se quiséssemos acionar um dos botões do painel, não os enxergaríamos. Éramos
seis pessoas presas num pequeno espaço, cada uma pensando no pior que poderia
acontecer.
Não conseguiriam abrir a porta pelo lado de fora. Ficaríamos
ali horas, talvez dias, no escuro, apertados. Ninguém poderia sentar-se no chão
do elevador sem roubar espaço de outro. Se alguém desmaiasse, teria que ficar
desmaiado em pé. Alguém fatalmente sugeriria maneiras de se passar o tempo até
que viesse o socorro.
Poderíamos cantar. Contar anedotas. Cada um contar a história
da sua vida. Ou talvez fosse melhor ficar em silêncio, para poupar oxigênio.
Por onde entraria ar no elevador? E se não entrasse? Por quanto tempo
aguentaríamos até recorrer ao canibalismo?
Imaginei uma voz soturna no meio da escuridão dizendo:
– Um de nós é o culpado.
– O quê?
– O elevador se recusou a carregar um de nós.
– Eu tinha chamado o elevador de mentiroso em pensamento.
Seria eu o culpado?
– Como “se recusou a carregar”? – perguntaria alguém.
– Os elevadores não carregam mais qualquer um. Escolhem quem
vão carregar. É a rebelião das máquinas. Elas estão tomando conta. Os celulares
já aprisionaram a mente humana. Ninguém mais se comunica a não ser por
celulares, que vivem falhando e nos levarão à loucura. Não demora, os
eletrodomésticos atacarão em massa. Elevadores que escolhem quem carregar não
parecem tão absurdos em meio a esta derrocada final. Morreremos todos porque o
elevador implicou com um só. Morreremos todos!
No fim, o incidente levou apenas alguns minutos. Voltou a
luz do elevador e a porta foi aberta por fora. O grupo de seis foi dividido em
dois de três e o elevador obedeceu a todos os comandos sem problema, e subiu
humildemente.
Ou talvez estivesse apenas disfarçando...
FOLIA
A posse do Zuenir na Academia Brasileira de Letras foi uma
espécie de farra afetiva. A quantidade de gente nos salões da Academia, entre
amigos e admiradores, deu a dimensão da folia. O rapaz merece.
BONITO
É bonito ver o povo na rua protestando, criticando e se
manifestando livremente. Mais bonito do que isso, só eleições.
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