29
de março de 2015 | N° 18116
MOISÉS
MENDES
O ladrão egoísta
Se me colocassem diante dos delatores que roubavam na
Petrobras e dos presos que ainda negam que estivessem roubando, eu desprezaria
uma conversa com o Cerveró, o Costa, o Fernando Baiano, o Duque e os
empreiteiros.
Nem
os empreiteiros me interessam muito. Todos, pagadores e recebedores de
propinas, são medíocres demais como personagens. Os empreiteiros são medíocres
como mafiosos, e os funcionários da Petrobras que estavam a serviço deles são
óbvios como ladrões. O tamanho do dinheiro roubado não tem correspondência nas
figuras que roubavam.
Falta
complexidade aos delinquentes da Petrobras. Nenhum deles seria um dos
gângsteres da novela Babilônia. Que ator gostaria de interpretá-los?
Mas
eu queria ficar diante do único personagem intrigante disso tudo. O ladrão
avulso Pedro Barusco, que diz ter roubado sozinho US$ 97 milhões em propinas. O
gerentinho de Serviços é o único com algum charme nisso tudo.
Barusco,
o chalaça da Petrobras, era um subalterno do quinto escalão a quem poucos davam
valor. Foi subindo até chegar ao estágio que lhe permitia ser corrompido.
Já
confessou que começou a ser pago em 1997 ou 1998. Disse, modestamente, que era
um ladrão de carreira. Agiu assim como avulso até 2003, quando se iniciou o
governo Lula e suas articulações passaram a ter alguma efetividade (efetividade
é uma palavra bastante repetida, para a mesma época, também pelos
empreiteiros).
Foram
pelo menos cinco anos como avulso, sem muita efetividade, durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso. Sentado na sua mesinha, o gerente foi angariando
simpatia e dinheiro, até chegar aos US$ 97 milhões guardados na Suíça.
No
depoimento de quinta-feira à CPI, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster
disse que se envergonha do que aconteceu na empresa. E admitiu que ninguém
entende como Barusco, um gerente, era capaz de receber tantos mimos dos
empreiteiros. Esse é o grande personagem da Operação Lava-Jato, e não os outros
mandaletes.
Barusco,
o avulso que cuidava, lá no começo, apenas de óleo queimado, trabalhava para
quem? Quem o habilitava a receber propinas? De quem era o dinheiro que levou
para a Suíça? Quem acredita que toda a mala era dele? Quantas outras contas
estão escondidas em outros lugares em nome do ladrão avulso?
O
jornalismo, a PF, o Ministério Público e a Justiça nos devem as respostas.
Graça Foster admitiu ter sido incompetente para encontrá-las. Mas alguém terá
de dizer, para que o mistério não se perpetue, quem esquentava as costas de
Barusco.
Se o
jornalismo, a polícia e o MP falharem, ficará valendo a versão de que Barusco,
o egoísta, agia sozinho porque os empreiteiros se afeiçoaram por ele. E
estaremos condenados a acreditar que as investigações no Brasil, em algum
momento, ficam pela metade.
Os
investigadores são desafiados a descobrir a conexão de Barusco com a montagem,
no final dos anos 90, da máfia dos empreiteiros, já confessada por um
empresário. Se não descobrirem, terão comido pela mão do delator, até o limite
do que lhe interessava informar. E isso – um calouro da academia de polícia
sabe – não é investigação.
Barusco
é o personagem que pode nos levar ao ovo, ao começo disso tudo, ao entendimento
de como as grandes empreiteiras chocaram a corrupção, não só na Petrobras, mas
em todo o setor público.
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