sábado, 28 de março de 2015


29 de março de 2015 | N° 18116
MOISÉS MENDES

O ladrão egoísta

Se me colocassem diante dos delatores que roubavam na Petrobras e dos presos que ainda negam que estivessem roubando, eu desprezaria uma conversa com o Cerveró, o Costa, o Fernando Baiano, o Duque e os empreiteiros.

Nem os empreiteiros me interessam muito. Todos, pagadores e recebedores de propinas, são medíocres demais como personagens. Os empreiteiros são medíocres como mafiosos, e os funcionários da Petrobras que estavam a serviço deles são óbvios como ladrões. O tamanho do dinheiro roubado não tem correspondência nas figuras que roubavam.

Falta complexidade aos delinquentes da Petrobras. Nenhum deles seria um dos gângsteres da novela Babilônia. Que ator gostaria de interpretá-los?

Mas eu queria ficar diante do único personagem intrigante disso tudo. O ladrão avulso Pedro Barusco, que diz ter roubado sozinho US$ 97 milhões em propinas. O gerentinho de Serviços é o único com algum charme nisso tudo.

Barusco, o chalaça da Petrobras, era um subalterno do quinto escalão a quem poucos davam valor. Foi subindo até chegar ao estágio que lhe permitia ser corrompido.

Já confessou que começou a ser pago em 1997 ou 1998. Disse, modestamente, que era um ladrão de carreira. Agiu assim como avulso até 2003, quando se iniciou o governo Lula e suas articulações passaram a ter alguma efetividade (efetividade é uma palavra bastante repetida, para a mesma época, também pelos empreiteiros).

Foram pelo menos cinco anos como avulso, sem muita efetividade, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Sentado na sua mesinha, o gerente foi angariando simpatia e dinheiro, até chegar aos US$ 97 milhões guardados na Suíça.

No depoimento de quinta-feira à CPI, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster disse que se envergonha do que aconteceu na empresa. E admitiu que ninguém entende como Barusco, um gerente, era capaz de receber tantos mimos dos empreiteiros. Esse é o grande personagem da Operação Lava-Jato, e não os outros mandaletes.

Barusco, o avulso que cuidava, lá no começo, apenas de óleo queimado, trabalhava para quem? Quem o habilitava a receber propinas? De quem era o dinheiro que levou para a Suíça? Quem acredita que toda a mala era dele? Quantas outras contas estão escondidas em outros lugares em nome do ladrão avulso?

O jornalismo, a PF, o Ministério Público e a Justiça nos devem as respostas. Graça Foster admitiu ter sido incompetente para encontrá-las. Mas alguém terá de dizer, para que o mistério não se perpetue, quem esquentava as costas de Barusco.

Se o jornalismo, a polícia e o MP falharem, ficará valendo a versão de que Barusco, o egoísta, agia sozinho porque os empreiteiros se afeiçoaram por ele. E estaremos condenados a acreditar que as investigações no Brasil, em algum momento, ficam pela metade.

Os investigadores são desafiados a descobrir a conexão de Barusco com a montagem, no final dos anos 90, da máfia dos empreiteiros, já confessada por um empresário. Se não descobrirem, terão comido pela mão do delator, até o limite do que lhe interessava informar. E isso – um calouro da academia de polícia sabe – não é investigação.


Barusco é o personagem que pode nos levar ao ovo, ao começo disso tudo, ao entendimento de como as grandes empreiteiras chocaram a corrupção, não só na Petrobras, mas em todo o setor público.

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