12
de março de 2015 | N° 18099
CAMPO
E LAVOURA EFEITO NA CIDADE
NO RUMO DE UMA SAFRA
RECORDE
A
PRODUÇÃO HISTÓRICA DE GRÃOS prevista para o Rio Grande do Sul terá reflexos positivos
em toda a economia, mas o aumento de custos para o produtor e a redução no
preço de venda devem fazer com que o faturamento total não seja suficiente para
o PIB do Estado ter um salto expressivo
O
anúncio de mais uma safra recorde no Rio Grande do Sul é um alento em um ano em
que as projeções para a economia são bastante pessimistas. O bom desempenho do
campo não conseguirá impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
gaúcho em 2015, mas deve evitar queda expressiva.
Considerando
a atual safra de verão e sem contar os reflexos indiretos da produção na
indústria e serviços, a previsão é que devem entrar na economia R$ 23,05
bilhões, conforme dados divulgados ontem pela Emater. O resultado contagia os
demais setores da economia e deve dar fôlego especial para a indústria – que
vem de desempenho em baixa nos últimos meses. Mais insumo para a produção e
dólar alto podem ajudar as fábricas a voltar a operar no azul no decorrer do
ano.
– A
produção recorde de grãos, de 28,97 milhões de toneladas, no entanto, não deve
gerar um “pibão” porque apesar da quantidade física produzida ter aumentado, o
ganho do produtor por tonelada ficou menor, reflexo do aumento de custos e da
queda de preço no mercado internacional – explica o economista Gabriel Torres.
É
como se mesmo com aumento da produção de grãos, a quantidade em dinheiro em
circulação não aumentasse, ou pelo menos não na mesma medida.
ÁREA
IRRIGADA FICA MAIOR A CADA ANO
Além
disso, inflação mais elevada, mercado de trabalho menos aquecido e falta de
confiança dos consumidores podem servir de barreiras para que os efeitos
benéficos da supersafra cheguem com mais força no setor de serviços, alerta o
especialista. Para aumentar a venda de bens, não basta ter dinheiro na
carteira. Será preciso convencer as pessoas que é o momento de gastar.
Economista
da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Rodrigo Feix pondera que apesar do
cenário econômico atual turbulento, o aumento de renda do agricultor tem
reflexos importantes nas diferentes regiões do Estado, seja de produção
agrícola, seja de máquinas e equipamentos, outro importante setor impulsionado
pelo bom desempenho do campo. O especialista ressalta que, embora a alta do
diesel e da energia tenha impactos relevantes, os aumentos ocorrem em um
momento em que os produtores estão capitalizados, reflexo de três anos
consecutivos de boa safra.
–
Não à toa a área de produção irrigada tem crescido nos últimos anos. Há uma
preparação para eventuais secas que possam ocorrer daqui para frente, evitando
ficar tão dependentes do clima – afirma.
Para
Celso Pudwell, economista do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
(BRDE) e professor da PUCRS, a safra recorde impede que o Rio Grande do Sul
tenha recuo no PIB em 2015 e permite projeção melhor para os anos seguintes.
–
São resultados que amortecem a queda brusca no ritmo da economia. Sem dólar e
sem soja teríamos um recuo de 3% a 4%. Muito ruim. Agora, teremos um resultado
próximo de zero, o que em um cenário como o atual é algo a ser comemorado, e
pode servir de base para um avanço mais sólido no futuro – afirma Pudwell.
cadu.caldas@zerohora.com.br
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