26
de março de 2015 | N° 18113
FRONTEIRAS
DO PENSAMENTO
O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA
CICLO
DE CONFERÊNCIAS trará à Capital o biólogo inglês Richard Dawkins, o escritor
português Valter Hugo Mãe e o fundador da Wikipédia
O
projeto Fronteiras do Pensamento anunciou ontem à noite o time que virá a Porto
Alegre para discutir um tema desafiador: como conviver.
A
equipe escalada é de peso. Entre os nove conferencistas, estão o biólogo
Richard Dawkins, já incluído entre os cem maiores gênios vivos, o visionário
Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, e a socióloga Saskia Sassen, um dos 10
nomes mais influentes na área das Ciências Sociais na atualidade.
A
provocação que eles receberam foi a de discutir novas formas de sociabilidade,
tolerância e cooperação em um mundo cada vez mais conectado, populoso e
urbanizado, em franco processo de concentração ao redor de megacidades. Segundo
os organizadores da série de conferências, que começa em maio, com Dawkins, a
ideia foi reunir um grupo de pensadores que viessem de áreas distintas do
conhecimento (como biologia, sociologia, economia da cooperação, comportamento,
filosofia e artes), mas que tivessem em comum o fato de inclinar-se à inquietude
e à interdisciplinaridade.
Nesse
perfil, encaixaram-se também o escritor português Valter Hugo Mãe, o filósofo
inglês John Gray, a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, o filósofo
espanhol Fernando Savater e a urbanista americana Janette Sadik-Khan. Cada um
deles ficará responsável por uma conferência do ciclo, que se estende até novembro.
Um dos encontros, no entanto, será duplo: em 24 de agosto, um debate especial
reunirá Saskia Sassen e seu marido, o também sociólogo Richard Sennett.
O
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem e tem patrocínio
de Unimed Porto Alegre e Hospital Mãe de Deus com parceria acadêmica da UFRGS. As
empresas parceiras são Liberty Seguros, BNDES e CMPC. Parceria institucional de
PUCRS e Fecomércio e parceria cultural da UFCSPA. Promoção: Grupo RBS.
JIMMY
WALES 22/6
Graças
a Jimmy Wales, é bastante fácil dizer quem é Jimmy Wales. Basta olhar na Wikipédia,
a enciclopédia colaborativa virtual que ele fundou em 2001. Gratuita, sem fins
lucrativos e disponível em cerca de 300 idiomas, trata-se da maior obra de
referência que a humanidade já teve a disposição, dentro ou fora da internet,
com espantosos 30 milhões de verbetes, 867 mil deles em português. Nada menos
do que 500 milhões de pessoas – usuários únicos – consultam-na a cada mês.
Esse
colosso, que um estudo da revista científica Nature apontou como tão confiável
quanto a tradicional Enciclopédia Britânica, nasceu da ideia do norte-americano
Wales de tornar qualquer cidadão interessado em autor. Hoje, há 69 mil editores
ativos, atualizando a Wikipédia constantemente.
RICHARD
DAWKINS 25/5
Há 39
anos, com a publicação de seu primeiro livro, o biólogo britânico Richard
Dawkins foi catapultado à condição de nome incontornável da ciência contemporânea.
O Gene Egoísta, a obra em questão, renovou os estudos sobre a seleção natural
ao colocar o gene como seu principal agente. Na concepção de Dawkins, os
organismos vivos são como “máquinas de sobrevivência” do gene e existem para
que ele possa se replicar. No mesmo livro, apresentou o termo “meme”, que mais
tarde acabaria por se difundir na internet.
Na última
década, Dawkins ganhou um novo tipo de protagonismo, como expoente do movimento
batizado de Novo Ateísmo. Em livros como Deus, um Delírio, analisou a religião
a partir de um ponto de vista científico, procurando mostrar sua
irracionalidade e os malefícios que causou à humanidade. Em 2006, criou a Fundação
Richard Dawkins pela Razão e a Ciência, que tem a missão de combater a influência
religiosa no ensino e nas políticas públicas.
JOHN
GRAY 8/7
Dono
de uma longa e produtiva carreira – marcada pela produção acadêmica, por uma série
de livros e pelo sucesso em prever fatos como a queda do comunismo ou a crise
financeira internacional – o filósofo britânico John Gray tornou-se uma estrela
do pensamento mundial há pouco mais de um década, com a publicação do livro
Cachorros de Palha (2002).
Nesta
obra de fôlego, o professor de pensamento europeu da London School of Economics
nadou contra a corrente. Para ele, a tradição filosófica ocidental é arrogante
na sua definição do lugar do homem no mundo. Gray defende no livro, um grande
best-seller que valheu tantos aplausos quanto ataques, a ideia de que o
progresso humano não passa de um mito. Ele vê os homens como seres vorazes, ávidos
por matar e destruir outras formas de vida.
SASKIA SASSEN E RICHARD SENNETT 24/8
A
socióloga holandesa Saskia Sassen, professora universitária nos EUA, está entre
os principais teóricos da globalização. Ela também tornou-se conhecida por
trabalhos sobre o fenômeno da “cidade global”, termo que se difundiu a partir
de suas análises, e das imigrações. É casada com o sociólogo e historiador
norte-americano Richard Sennett, autor de uma série de obras sobre temas como a
experiêcia urbana, o desenvolvimento das cidades, a conexão entre autoridade e
vida pública e a natureza do trabalho na sociedade contemporânea. O livro mais
conhecido de Sennett, O Declínio do Homem Público (1977), é considerado um clássico
das ciências sociais. Leciona
na London School of Economics e na New York University.
FERNANDO
SAVATER 26/10
O
filósofo e escritor Fernando Savater é uma instituição na Espanha. Defensor de
uma filosofia atuante, ganhou projeção internacional devido a uma série de
livros sobre ética, alguns voltados para o público jovem, nos quais reafirma a
possibilidade do ser humano de fazer escolhas. Seus escritos sobre educação,
uma tema que o apaixona, são igualmente influentes.
Originário
do País Basco, Savater também é uma referência política. Fundou o movimento
Basta Ya! para combater as práticas violentas do grupo separatista ETA, o que
lhe valeu ameaças de morte, mas também o Prêmio Sakharavo de Direitos Humanos,
concedido pelo Parlamento Europeu.
VALTER
HUGO MÃE 3/8
Em 2011,
o escritor português Valter Hugo Mãe compareceu à Festa Literária Internacional
de Paraty (Flip) na condição de um quase desconhecido em meio a vários autores
ilustres. Dias depois, saía consagrado como estrela maior do evento. Ele foi
adotado pelo público graças a uma conferência comovida e comovente, que incluía
uma declaração de amor ao Brasil. Arrancou lágrimas do público, viu seus livros
esgotarem-se em questão de horas, foi pedido em casamento e recebeu da revista
Veja a qualificação de “fofo da literatura”.
O
desempenho na Flip ajudou Mãe a transformar-se no escritor luso mais popular
entre os brasileiros desde José Saramago. Mas não teria servido de nada se
romances como O Filho de Mil Homens e A Desumanização não tivessem fascinado o
leitor com suas narrativas marcadas pela sensibilidade e pela abordagem de
temas como o amor, a perda e a família.
SUZANA
HERCULANO-HOUZEL 28/9
Doutora
pela Universidade Paris VI (França) e pós-doutora no Instituto Max-Planck de
Pesquisa do Cérebro (Alemanha), a neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel
lidera uma equipe internacional que pesquisa as regras de construção do sistema
nervoso central em humanos e outras espécies. Ela tem se dedicado também à divulgação
científica, por meio da TV (apresentou o quadro Neurológica, no Fantástico), da
internet, de veículos da imprensa ou de livros como O Cérebro Nosso de Cada Dia
– Descobertas da Neurociência sobre a Vida Cotidiana.
JANETTE SADIK-KHAN 23/11
Com
formação em Direito e Ciência Política, a californiana Janette Sadik-Khan
ganhou notoriedade na condição de secretária municipal de transportes de Nova
York, cargo que ocupou entre 2007 e 2013. Enfrentando críticas ferozes e concepções
arraigadas, lançou um programa que hoje é visto como tábua de salvação para
melhorar a circulação e tornar as cidades mais humanas e seguras.
Janette
ficou conhecido principalmente como defensora das bicicletas, por ter
implantado 550 quilômetros
de ciclovias em ruas e avenidas nova-iorquinas. Também foi responsável por
reservar 50 quilômetros
de faixas exclusivas para ônibus, por alargar calçadas, por estreitar ruas e
por fechar para o automóvel regiões de tráfego pesado, transformando-as em áreas
de pedestres – incluindo a paradigmática Times Square. O caos previsto por seus
críticos não se confirmou. O trânsito continuou a fluir, e o faturamento do comércio
se multiplicou.
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