12
de março de 2015 | N° 18099
CARLOS
GERBASE
DISCIPLINA E
HIERARQUIA
Servi
ao exército brasileiro, contra a minha vontade, por dez meses e vinte e nove
dias. Contei cada um dos dias. Apesar de estar na universidade, servi na tropa.
Limpava banheiros, pagava contas dos oficiais e engraxava meus coturnos de dia;
estudava jornalismo à noite.
Entrei
como recruta – uma condição existencial só um pouco superior à de um cacho de
bananas – e saí como soldado reservista de primeira categoria. Robert Heinlein,
que foi soldado dos EUA durante a Segunda Guerra, defendia que apenas os
cidadãos que serviram à pátria deveriam ter direito de voto. Aqui no Brasil foi
um pouco diferente: como era soldado, fui impedido de votar em 1978. Estava
muito ocupado limpando banheiros.
Nem
tudo foi tão ruim. Conheci pessoas interessantes, como o soldado Vanderlei,
hoje conhecido como Wander Wildner, que se tornou um grande amigo e parceiro de
banda (e que, aliás, está lançando seu novo disco amanhã, no bar Opinião).
Aprendi – na prática, não na teoria – que os dois pilares do glorioso EB, e
também de qualquer organização militar, são as palavras disciplina e
hierarquia. Militares obedecem a seus superiores hierárquicos.
Militares
não questionam ordens. Cumprem ordens. Missão recebida é missão cumprida.
Limpar o banheiro e atirar em alguém parecem ser coisas diferentes, mas não
são. Basta não pensar. Basta que o soldado pegue o rodo ou o fuzil e faça o que
o sargento mandou fazer.
A
razão da existência dessas máquinas irracionais é defender a soberania nacional.
Países têm exércitos. A História mostra que é melhor tê-los do que não tê-los.
O Brasil tem o seu. Fiz parte dele. Mas esta deve ser a única organização
militar legal. A História mostra que todo tipo de organização paramilitar
baseada nos princípios da disciplina e da hierarquia como normas absolutas é
ferramenta para fascistas.
Não
me interessa se no topo da cadeia de comando está um político, um líder
religioso, ou um ateu. O Brasil, na opinião deste veterano da infantaria, deve
dissolver imediatamente qualquer coisa parecida com um exército amador, esteja
onde estiver. Não se brinca com essas coisas. Sabe o que é ainda mais baixo que
um recruta? Ainda mais baixo que um cacho de bananas? Você, meu caro: o
paisano.
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