30
de março de 2015 | N° 18117
L. F.
VERISSIMO
O inimaginável
Se
você já cansou de escândalos e quer fugir deste cotidiano de intolerância e
troca de insultos – ou seja, cansou do Brasil atual –, sugiro uma solução, mas
com um aviso: você estará trocando uma angústia, digamos, cívica, por uma angústia
existencial – o que não deixa de ser uma saída. Se estiver disposto, siga-me.
Minha
sugestão é: vamos pensar no universo e esquecer todo o resto? Já se chamou isto
de “pensar nas últimas coisas”, mas o problema é que os cientistas ainda não
chegaram a um acordo a respeito das primeiras coisas. Teorias sobre o começo do
mundo continuam a ser só isso, teorias. Até algumas que pareciam ser
universalmente, sem trocadilho, aceitas continuam em discussão, como a teoria
do Big Bang, que teria criado tudo em segundos. Agora estão dizendo que não
houve o grande pum.
Especulações
sobre o que existia antes da explosão inaugural – era o Nada absoluto ou não
era nem o Nada? – devem ser substituídas por uma questão ainda mais
estonteante, pois se as novas especulações (provocadas, se entendi bem, pela
descoberta de pequenos buracos negros indicando a existência de universos
paralelos) estiverem certas, significará que o universo, ou a versão do
universo que você e eu habitamos, nunca começou. Sempre existiu!
A
mente humana não está capacitada a entender uma coisa que existe sem nunca ter
começado. O conceito do infinito para os dois lados é demais para quem está acostumado
a uma vidinha orgânica, em que tudo nasce, cresce, declina e, que remédio?,
acaba. O infinito para a frente ainda é, com algum esforço, concebível. O
infinito para trás não cabe na nossa cabeça.
Cientistas,
e principalmente físicos, são um pouco como bombeiros, policiais, desmontadores
de bombas e domadores de circo, habituados a enfrentar situações extremas que
espantam os outros. Vão aonde ninguém mais vai. No caso dos físicos, até as
bordas do conhecimento, sem medo de serem engolidos pelo inimaginável, como um
leigo. Mas duvido que em algum ponto das especulações eles não lamentem os
limites naturais mesmo de uma mente privilegiada, e concluam que nenhuma
teoria, jamais, chegará perto da verdade sobre a origem da matéria.
Eu já
estou com saudade do Big Bang.
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