quarta-feira, 30 de junho de 2021


30 DE JUNHO DE 2021
DAVID COIMBRA

Coisas que realmente importam

Quais são as coisas que realmente importam?

Vou contar sobre algo que realmente importa: a família do nosso Planeta Terra.

Acontece que a Terra tinha uma irmã chamada Theia. Eram planetas gêmeos, que coexistiram pacificamente por milhões de anos, até que Theia começou a se aproximar demais. Aproximou-se tanto, a mana Theia, que acabou colidindo com a Terra, produzindo uma ruidosa explosão espacial.

Nessa pechada, quem levou a pior foi Theia, que se partiu em zilhões de fragmentos. Alguns penetraram fundo na carne da Terra e com ela se fundiram, aumentando-lhe o núcleo e o tamanho. Outros se reencontraram no espaço, aglutinaram-se também e formaram a nossa querida Lua, regente das marés e dos amores.

Repare como isso é bonito: a Lua é formada por pedaços da Terra e da sua irmã morta, Theia.

Com essa genealogia, é óbvio que a Lua ficaria por perto. E, realmente, ela se transformou em satélite da Terra. Por bilhões de anos (eu disse: BILHÕES), a Lua se manteve na vizinhança e por aí ainda está, tornando as madrugadas mais românticas e arrancando uivos de cães e lobos.

Porém... ah, porém... Não será assim para sempre. Vi num programa de televisão que os cientistas calcularam que a Lua está se afastando da Terra inexoravelmente, dia a dia, semana a semana, 3,8 centímetros por ano. Essa informação me deixou inquieto. Porque significa que a Lua está indo embora. Como um filho em busca da independência, ela simplesmente quer distância de nós.

Como viveremos sem a Lua? As noites serão mais escuras e certamente menos inspiradoras. Dizem que, na Lua Minguante, chamada de "Lua Negra", as bruxas saem às ruas, entregam-se a seus rituais e preparam encantamentos. As bruxas ficarão desnorteadas, sem a Lua Minguante.

Mas a Lua que tem mais prestígio é, sem dúvida, a Cheia. Homens se transformam em lobisomens na Lua Cheia e os amantes ficam mais amorosos nessas noites iluminadas. Neil Young compôs uma música linda sobre a Lua Cheia. Chama-se Harvest Moon. Essa bela canção não terá mas sentido, depois que a Lua se for.

Pois é isso que realmente importa, amado leitor. As eleições de 2022, a cotação do dólar, a CPI da Covid, tudo isso é insignificante diante de um fato: a Lua está prestes a nos abandonar. Nem ela, pedra da nossa pedra, magma do nosso magma, nos aguenta mais. Como pudemos decepcionar de tal forma a nossa Lua?

Verdade que ela está sendo cuidadosa: seu distanciamento é paulatino, quase imperceptível. Só que, quando chegar a hora, ela não estará mais onde nos acostumamos a encontrá-la todas as noites. Esqueça o frio do inverno, tiritante leitor, esqueça os juros do cheque especial, esqueça Bolsonaro e Lula, esqueça as campanhas da Dupla Gre-Nal. A Lua está partindo para bem longe e, com ela, levará um pedaço da nossa poesia.

Leia outras colunas em: gauchazh.com/davidcoimbra

DAVID COIMBRA

30 DE JUNHO DE 2021
ARTIGOS

A HORA E A VEZ DA PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS

As informações sobre a proteção de dados pessoais têm sido cada vez mais disseminadas. Desde 2018 foi criada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), porém apenas em setembro de 2020 entrou em vigor. Em agosto deste ano, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) iniciará seus procedimentos de fiscalização, autuação e punição aos infratores, mas, mesmo assim, poucas pessoas têm se atentado a essa lei. O mundo, a começar pela Europa, despertou para a riqueza que é a coleta de dados pessoais, bem como para o perigo que essa atividade representa à privacidade e à liberdade das pessoas.

Você sabia que existem milhares de coletores de dados pessoais que se apropriam dos nossos nomes, endereços e preferências, negociando-os com diversas empresas de diferentes ramos de atuação? Tem ideia de que, quando acessamos um aplicativo ou um site na internet, estes navegadores e desenvolvedores podem utilizar a nossa localização e todas as demais ações que manifestamos para mapear as nossas atividades, nossos interesses, as pessoas com as quais nos relacionamos e os produtos e serviços em que temos interesse?

Ninguém, a não ser você mesmo, é o titular de seus dados pessoais. O nome, telefone e CPF são seus e não de uma organização. A escolha é sua com quem quer compartilhar as informações e o que será feito com elas. A LGPD é uma legislação moderna, que valoriza a posição do cidadão frente ao mau uso de seus dados, o que muitas vezes resulta em golpes e demais crimes cibernéticos, para além dos abusos à própria privacidade. A ANPD está se organizando para uma intensa atividade fiscalizatória, que não hesitará em proceder às devidas sanções aos infratores.

E você, responsável por empresas, indústrias, prestadores de serviços e demais entidades que coletam e armazenam dados, ainda acha que a lei não vai pegar? Que a corporação que adotar os procedimentos da LGPD será reconhecida pela austeridade com que trata os dados pessoais que armazena. O diferencial do mercado daqui para a frente também será esse e todos precisam estar atentos para essas mudanças. 

LUIZ PAULO GERMANO | ADVOGADO E PROFESSOR DE DIREITO DIGITAL DA AMBRA UNIVERSITY


30 DE JUNHO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

A CORRUPÇÃO E AS BRAVATAS

A exata medida da honestidade de um governo não está no número de denúncias de corrupção que envolvem seus integrantes. A melhor régua é a reação a elas. Ou seja, a forma como indícios, provas e relatos de malfeitos são encarados, sobretudo pelo maior líder, a quem cabe o exemplo. Ir a fundo para esclarecer qualquer suspeita, mesmo que seja preciso cortar na própria carne, é sempre o mais indicado, em nome da transparência e da lisura que devem nortear a administração pública.

O presidente Jair Bolsonaro tem razão quando afirma ser impossível saber tudo o que acontece na gigantesca máquina pública federal. São milhares de cargos e de nomeações, muitas vezes rifados entre siglas e apadrinhados. O Ministério da Saúde, por seu porte e grande orçamento, é sempre um dos alvos principais desse loteamento que, infelizmente, faz parte do presidencialismo de coalizão que vem caracterizando a maneira como, nos últimos anos, os mandatários da República conseguiram manter a governabilidade.

A afirmação do presidente Bolsonaro pode inspirar duas reflexões. A primeira diz respeito ao gigantismo estatal brasileiro. Fazendo um paralelo simples, uma empresa que não pode ser controlada estaria fadada ao insucesso. A segunda conversa com declarações anteriores de Bolsonaro, que sustentou, mais de uma vez, não haver corrupção no seu governo. Sabe-se que essa é uma garantia sedutora, embora impossível de ser sempre segura, como o próprio Bolsonaro confirma agora. Há, além do caso envolvendo o Ministério do Meio Ambiente, o caso que ainda merece melhores explicações relacionado ao contrato de compra da vacina indiana Covaxin e as inusuais pressões para que os trâmites relacionados à aquisição fossem acelerados. São duas situações que exigem o devido esclarecimento.

Voltando à afirmação inicial deste texto, o aparecimento de denúncias de corrupção poderia ser até a oportunidade de comprovar uma postura supostamente diferente das de gestões anteriores. O verdadeiro interesse público agradeceria. O que diferencia os governos sérios dos bravateiros, portanto, é o tratamento conferido às denúncias de irregularidades. No caso que mais chama atenção nos últimos dias, o da vacina indiana, o que se vê no Planalto é nada animador. Um presidente que se arvora como guardião supremo da lei e da ética deveria reagir de forma mais efetiva diante de tantos indícios consistentes de desvios de conduta que parecem ter sido cometidos no seu governo. Em vez disso, ao que se assiste em Brasília é uma alternância entre silêncios, desculpas vazias e tentativas de mudar de assunto. Não são as respostas que a sociedade brasileira merece. 


30 DE JUNHO DE 2021
+ ECONOMIA

A marca que pode desaparecer

Com a chegada da Equatorial Energia ao comando da CEEE-D, a marca que acompanhou gerações de gaúchos pode estar prestes a se despedir. Ainda não há confirmação oficial, mas até agora a Equatorial mudou o nome de todas as distribuidoras que adquiriu, para usar o seu, associado ao Estado de atuação. Na Cemar, do Maranhão, a troca levou 15 anos. 

Na Celpa, do Pará, comprada em novembro de 2012, levou sete. Nas duas outras distribuidoras compradas em 2018, o processo foi mais rápido: a Ceal, de Alagoas, virou Equatorial assim que a empresa assumiu, e para a Cepisa, do Piauí, a coluna não conseguiu encontrar a data exata da mudança, mas a companhia já atua como Equatorial Piauí.

Ainda é possível que a marca sobreviva em algum dos outros dois negócios da CEEE que serão privatizados, de transmissão - com leilão marcado para dentro de 17 dias - e de geração. Como são atividades voltadas para empresas, ainda que o nome permaneça, não circulará tanto.

deve ser o valor movimentado pela fase 1 do Boulevard Germânia, em Novo Hamburgo. Ontem, o Grupo Zaffari recebeu a licença que autoriza as obras. O projeto prevê a revitalização do Arroio Gauchinho, paralelo à BR-116, que será preservado e integrado como área de lazer. Serão 230 mil metros quadrados abertos ao público. 

Os projetos são de Jaime Lerner - que morreu em maio - e de Fermin Vázquez, que contribuiu com o traçado da orla do Guaíba, em Porto Alegre. Quatro empresas parceiras devem atuar no bairro-cidade. Um dos primeiros passos será a instalação de infraestrutura, que inclui abertura de ruas, água e tratamento de efluentes, redes de energia e dados. Não foi definido cronograma, mas em rápido contato com a coluna, o diretor de expansão do Grupo Zaffari, Cláudio Luiz Zaffari, comentou que o Boulevard é resultado de "longa caminhada" e que, após a fase 1, as demais serão "respostas naturais".

MARTA SFREDO

terça-feira, 29 de junho de 2021


Qual era o sentimento que faltava a Lázaro

Lázaro não era serial killer; era psicopata.

O serial killer mata em série, como o nome indica, mas com um padrão. Ele se sente impelido a eliminar ou a machucar pessoas de determinado perfil, e o faz quase sempre da mesma maneira. É como se fosse a eterna repetição do primeiro crime.

O psicopata é diferente. O psicopata é incapaz de se colocar no lugar do outro. Ele não sente pena. Ele não sente compaixão. Schopenhauer dizia que as ações humanas com valor moral são as derivadas do sentimento de compaixão pelas outras pessoas. De fato, se houvesse uma classificação dos atos humanos pelo grau de nobreza, os primeiros seriam os produzidos por compaixão, e os demais ficariam bem abaixo.

É evidente que um serial killer em geral é também psicopata, mas não necessariamente. Já os psicopatas em geral não são assassinos. Ou seja: não são killers. Há psicopatas por toda parte. Eles nos rodeiam. Temos vizinhos psicopatas, temos colegas psicopatas e, principalmente, temos chefes psicopatas. Diria mais: em muitos casos, dependendo da empresa, os chefes mais bem-sucedidos são psicopatas. Porque eles são aqueles que "fazem o que tem de ser feito". É preciso demitir? Deixe a tarefa para o chefe psicopata. Ele a cumprirá com zelo e gosto. A dor do outro não tem nenhum significado para ele.

As mulheres são mais compassivas do que os homens. Antes que você diga que estou fazendo uma afirmação sexista, informo que essa observação é apoiada por diversos estudos científicos. Quais? Vá procurar no Google, se não acredita em mim.

Se acredita, sigo em frente: as mulheres, em média, sentem mais compaixão, e acredito que isso acontece devido à maternidade. A mulher precisa sentir dó daquele serzinho que está sob seus cuidados. Assim, dificilmente você verá uma mulher cometendo crimes como os que Lázaro cometeu. O que não quer dizer que as mulheres não possam ser cruéis. Elas sabem ser cruéis, quando querem.

Esse distinto sentimento, o da compaixão, é subestimado. Poucas vezes é levado em consideração quando as pessoas vão avaliar outras pessoas. Quando você, leitor, escolheu seu cônjuge, chegou a cogitar se ele tem compaixão? Ele é capaz de sentir a dor do outro? Comove-se com a desgraça alheia? Ou para ele tanto faz? Cuidado: você pode estar dormindo ao lado de um psicopata.

Esse pode ser, também, um critério sábio para a escolha de políticos. O seu candidato se importa com as outras pessoas? Ele realmente se comove com a infelicidade do outro? Ou ele só quer se manter no poder e destruir seus adversários?

Compaixão. Pense nisso na próxima eleição.

DAVID COIMBRA 


29 DE JUNHO DE 2021
PREJUÍZO MILIONÁRIO

Suposto golpe lesou dezenas de pecuaristas

Cerca de 70 pessoas teriam perdido, ao todo, R$ 30 milhões no Interior

Morador de São Sepé, na Região Central, Márcio Bolzan Souza, 47 anos, tem vivido momentos de angústia nas últimas semanas. O produtor rural é um dos que afirma ter sido lesado por um suposto golpe apurado pela Polícia Civil. Além dele, o pai, o irmão e o sobrinho também relatam terem sido enganados por Marco Gilberto Muller Becker Filho, preso na semana passada em Porto Alegre. Os prejuízos aos pecuaristas de diferentes locais do Estado, segundo aponta a investigação, seriam milionários.

Márcio conta ter conhecido o negociador, agora suspeito de estelionato, há cerca de dois anos. Neste período, segundo o produtor, realizaram repetidas negociações de venda de bovinos. Marco Gilberto costumava ir até a propriedade, avaliava os animais e então fechavam negócio. Inicialmente, conforme o pecuarista, o pagamento era à vista. Com o tempo, como passou a confiar na negociação, passou a receber a prazo, cerca de 15 ou 30 dias após a compra. Como garantia, ficava com um cheque pré-datado, no valor da venda. Um dia ou dois antes do vencimento, o dinheiro era pago.

Na metade de maio, Márcio fez mais uma venda, um lote com 41 animais - 10 novilhas prenhas e 30 bois. O valor do rebanho foi avaliado em R$ 140 mil, e o prazo, acertado em um mês para o pagamento. Em junho, os primeiros casos de suspeita de golpe começaram a chegar à polícia. Os produtores, sem receber, tentavam contato com Marco Gilberto e não conseguiam. Márcio diz também não ter obtido mais contato com o negociador, mesmo antes de ele ser preso. Como tinha outro cheque, que ainda não havia sido quitado, o pecuarista acumula prejuízo de R$ 185 mil.

- Isso é só o meu valor. Mas se somar com o meu irmão, meu pai e meu sobrinho, dá quase meio milhão - conta o produtor.

O pai do produtor teria ficado com R$ 134,9 mil de prejuízo, o sobrinho, R$ 135,2 mil, e o irmão, R$ 35 mil. Todos na mesma forma de negociação. Os rebanhos foram levados e o pagamento deveria ser feito um mês depois. Márcio relata que conhecia familiares do negociador. Marco Gilberto estaria trabalhando há cerca de dois anos com a compra e venda de gado.

- Era uma pessoa conhecida. Sempre muito educado, tranquilo. Não era um desconhecido. Confiávamos. Somos pequenos produtores. Nos primeiros dias, foi difícil de acreditar. Não conseguia dormir, tinha de tomar remédio. É um baque. Uma vida toda de trabalho - desabafa Márcio.

O produtor chegou a ir até a propriedade onde o comprador costumava manter os animais, no interior de Formigueiro, mas nada foi encontrado. Depois, decidiu ir até a Polícia Civil.

A DP de Formigueiro já concentra pelo menos 31 ocorrências que apontam o mesmo homem como suspeito de estelionato. Nascido e criado no município, Marco Gilberto atualmente estava residindo em Caçapava do Sul. Na última terça-feira, foi preso de forma preventiva em Porto Alegre, na residência de familiares - outro suspeito foi detido em Caçapava do Sul. Entre as vítimas, há produtores que chegaram a ter prejuízos milionários. Um deles, segundo a polícia, relata ter negociado 542 cabeças de gado com o suspeito. Neste caso, o valor perdido até o momento se aproxima dos R$ 5 milhões.

Investigação

O delegado Antônio Firmino de Freitas Neto, da DP de Formigueiro, pretendia ouvir novamente o suspeito ontem, mas o depoimento foi adiado para a tarde de hoje, a pedido da defesa. No primeiro depoimento, um dia após ser detido, ele negou que tenha cometido estelionato.

- Disse que não queria enganar ninguém. Mas ficou de explicar em novo depoimento o que realmente aconteceu - diz o delegado.

Para a polícia, no entanto, os elementos colhidos até agora indicam que os pecuaristas teriam sido vítimas de golpe. Segundo a investigação, os animais eram levados das propriedades e revendidos a preços mais baixos, inclusive fora do Estado, como no Centro-Oeste. Dessa forma, o repasse aconteceria de forma mais ágil. O delegado afirma que cerca de 70 casos foram comunicados à polícia, em 14 municípios, e o prejuízo é estimado em R$ 30 milhões. No entanto, há alguns produtores que optaram por não registrar o fato.

A polícia busca detalhar como ocorria a operação. Além dos dois presos, pelo menos outras sete pessoas, que atuariam como intermediárias, são investigadas.

 LETICIA MENDES


29 DE JUNHO DE 2021
+ ECONOMIA

Equatorial assume CEEE-D em julho

Ao apresentar detalhes da compra da distribuidora de energia do Amapá, ontem, o CEO da Equatorial Energia, Augusto Miranda, confirmou que a empresa privada vai assumir a CEEE-D nos próximos dias. Ao responder a pergunta da coluna na teleconferência com o mercado, Miranda afirmou que a CEEE-D "será incorporada em julho".

O último obstáculo para a transferência da gestão da empresa foi retirado com a revisão da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski em ação impetrada pelo PDT. A coluna apurou que a transferência deve ocorrer antes do leilão da CEEE-T, previsto para o dia 16.

A coluna também apurou que o processo de transição já está ocorrendo na CEEE-D. A Equatorial acompanha o dia a dia e as decisões da atual gestão para se familiarizar com os processos internos da empresa. Os preparativos finais para a mudança estão em andamento há alguns dias, mas agora foi definido o mês em que se dará a transferência.

A CEEE aparece nas apresentações da Equatorial como uma de suas agora seis distribuidoras de energia, todas privatizadas a partir de 2018. A nova controladora costuma destacar o fato de que o PIB per capita (R$ 37.371) e a renda familiar (R$ 1.842) na área de concessão da CEEE-D estão acima dos de Estados em que a companhia opera.

A compra da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) pela Equatorial surpreendeu o mercado porque a companhia, embora menor do que a CEEE-D, está em situação ainda pior. Opera sem concessão federal, está "designada". Conforme a Equatorial, a empresa de distribuição tem pendências totais de R$ 3,1 bilhões - as da CEEE-D eram de R$ 4,1 bilhões -, mas a distribuidora gaúcha é maior do que a operação em Alagoas. Mas perdão e redução de dívidas devem reduzir as pendências a R$ 828 milhões.

MARTA SFREDO

29 DE JUNHO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Pedros e Bandeiras

Adoro Pedro Bandeira, que consegue tocar o coração de crianças e adolescentes com a sua varinha mágica de juntar letrinhas. Ele é o escritor brasileiro mais lido pela garotada e um dos mais produtivos. Já existe uma biblioteca inteira com a sua assinatura. Outro dia citei aqui o livro Alice no País da Mentira, no qual, com muita habilidade, Bandeira mostra que a chamada Verdade Absoluta pode ser tão danosa quanto algumas mentiras, exatamente por não admitir questionamentos. Pois neste país de tantas mentiras e pouca tolerância, a obra mais emblemática do escritor paulista continua sendo A Droga da Obediência, sobre uma espécie de cloroquina capaz de tornar seus consumidores totalmente servis, incapazes de contestar, de desobedecer, de se revoltar.

O sonho dos governantes que mandam seus questionadores calar a boca.

Também escrevi outro dia, parodiando a letra de uma música composta por Carlinhos Brown, Marisa Monte e Nando Reis, que o Brasil não é só verde, azul e amarelo, pois também é cor de rosa e salmão. Mas nossa bela bandeira nacional mantém as cores originais das casas de Bragança e Habsburgo, que Dom Pedro I teria tirado do chapéu para dar um toque colorido e simbólico à independência no célebre episódio do Riacho Ipiranga. Alguns historiadores mais galhofeiros contam que, na verdade, ele teria mostrado uma flor amarela com ramo verde, presente de uma certa dama paulistana. Não importa. A verdade é que as cores permaneceram na bandeira republicana que, ultimamente, alguns grupos julgam ser de sua exclusiva propriedade.

Não é. Podem me chamar de teimoso, mas vou insistir nisso até que ela volte a representar todos os brasileiros de suas estrelas.

Quem nunca teve um tio chamado Pedro? Meu saudoso tio Pedro era muito divertido. Quando alguém dizia que nosso ramo familiar Fialho se caracterizava pela teimosia, ele ironizava:

- Não. Os Fialhos não são teimosos. Teimoso é quem teima com um Fialho.

Por fim, outro Pedro deste dia dedicado a eles, referido magistralmente por outro Bandeira, o Manuel, no dia em que Irene chegou ao céu:

"Irene preta/ Irene boa/ Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:

- Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença".

Parabéns a todos os Pedros.

NÍLSON SOUZA


29 DE JUNHO DE 2021
INFORME ESPECIAL

Ele voltou

Fabiano Feltrin foi escolhido como melhor cover de Elvis Presley na América do Sul em 2015. E, depois, eleito prefeito de Farroupilha. No final de semana, fez seu primeiro show depois da posse, com a banda completa. Foi no Hard Rock Café Gramado. A plateia pediu bis. Houve até quem pensasse que era campanha pela reeleição. Não era. O prefeito seguirá se apresentado no último domingo de cada mês. No dia de folga, para não misturar as coisas.

Além de prefeito e Elvis, Feltrin é empresário. Aos 52 anos, é casado e pai de duas filhas. Logo depois de se eleger, ano passado, com 49,76% dos votos no município, ele falou à repórter Bruna Viesseri sobre a sua paixão pelo Rei do Rock: "O cover é algo que faço há 15 anos, que continuo fazendo e que faz parte da minha formação como pessoa. Muito da eleição e da minha característica de acolhimento está nesse trabalho. Eu dedico a Elvis a minha eleição", declarou.

Justiça

A Escola Judiciária Eleitoral do RS realiza a aula magna de abertura do segundo semestre letivo de 2021 amanhã, a partir das 11h. O ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente do STF Nelson Jobim falará sobre sistemas eleitorais, com transmissão pelo canal da escola no YouTube. A apresentação do conferencista será feita por Marco Aurélio Costa Moreira de Oliveira, advogado e ex-presidente do TRE-RS.

TULIO MILMAN

segunda-feira, 28 de junho de 2021


28 DE JUNHO DE 2021
DAVID COIMBRA

Um ensinamento de José Paulo Bisol

José Paulo Bisol foi uma das pessoas mais cultas e mais articuladas que conheci. Ao mesmo tempo, ele era um homem puro, um idealista, quase um ingênuo. Dava-me a impressão de ser um sacerdote. Uma vez, na Assembleia Legislativa, o repórter Gustavo Mota estava no centro de uma roda, contando uma história picante envolvendo mulheres e traição, ou coisa que o valha, e o Bisol, suspirando, comentou:

- Queria ter estudado menos e vivido mais, como vocês... Bobagem. Graças ao tanto que estudou, Bisol viveu uma vida grandiosa.

Tempos atrás, fiquei chateado com ele. Numa entrevista, Bisol disse que eu "tinha sido de esquerda", mas critiquei os governos do PT para agradar à direção de Zero Hora. É o tipo de análise baixa e, ao mesmo tempo, arrogante, por inferir que quem não concorda com as suas opiniões é desonesto. Hoje, há uma variante desse gênero de canalhice: os petistas dizem que quem os critica é ou foi bolsonarista e os bolsonaristas dizem que quem os critica é ou foi petista. Ou seja: se não formos nós, será a desgraça. Típico de quem se acha o sal da terra.

Bisol não se achava o sal da terra. Ao contrário, ele dizia que não se considerava inteligente, se considerava um homem comum que parecia inteligente por falar bem. Modéstia - Bisol era muito inteligente.

O que mais me encantava em Bisol era a sua capacidade de análise macro da sociedade. Ele podia se enganar no exame particular de uma questão, mas, quando olhava para o todo, era muito preciso. Lembro de uma longa entrevista que ele deu para a TV Senado, 12 anos atrás. Ele tinha 80 anos de idade, estava bem fisicamente, e o Brasil ainda não havia ingressado na guerra fria requentada que experimenta hoje. Procurei a entrevista na internet para reproduzir aqui o trecho que, há alguns anos, chamou a minha atenção. Encontrei-o. Leia o que Bisol disse, naquele tempo:

"A Humanidade se desenvolve de forma extraordinária, maravilhosa, rica, exuberante, milagrosa, quando se fala em ciência. Mas, em ética e em moral, a Humanidade é um desastre progressivo. Porque a realidade concreta, essa que nós construímos todos os dias, a realidade política desmente qualquer princípio ético. A rigor, que me perdoem os políticos brasileiros, a rigor a política brasileira é uma política de ódio. Ódio é um desejo de destruição. A gente esquece de revisar esses conceitos e fica empregando a palavra ódio sem saber o que está dizendo. Ódio é o desejo de destruir o odiado. E o comportamento político partidário no Brasil é de ódio, é de extinção do outro - seja partido de esquerda, seja de direita".

Bisol fez essa reflexão em 2009. Muito aconteceu no Brasil, de lá para cá. Tudo confirmou o que ele pensava. Tudo tem confirmado ainda, todos os dias. Para a nossa tristeza.

DAVID COIMBRA

28 DE JUNHO DE 2021
CÍNTIA MOSCOVICH

As muitas formas de inferno

Formado por dois planos narrativos, com um livro se desenvolvendo dentro do livro, Fé no Inferno (Companhia das Letras), o novo romance do paulistano Santiago Nazarian, se ocupa, entre outros, do genocídio armênio, massacre que vitimou mais de 1,5 milhão de almas durante a Primeira Guerra. Ao mesmo tempo, a narrativa também trata do convívio entre distintos, das dores do envelhecimento e da doença, do preconceito e da violência contra gays e dessa estranha diáspora em que vivem todos os que são tidos como desviados.

Escritor de veia pop, com várias premiações no currículo e tradutor de mão cheia - é dele a recente tradução da biografia de Woody Allen -, Nazarian articula a história de forma engenhosa, recheando-as de símbolos. A trama se inicia em 2017, quando Cláudio, um rapaz gay, pobre e neto de indígenas, inicia um emprego como cuidador de idosos numa mansão nos Jardins, em São Paulo. 

Seu Domingos, o homem de quem ele tem que cuidar, passa os dias sozinho, lendo e tomando notas instalado em sua babélica biblioteca, aquela em que os livros são todos encadernados em couro, sem títulos ou indicação de autor. De poucas palavras, o homem quer silêncio e oferece ao jovem um dos livros. Cláudio inicia a leitura, o que vem a dar origem ao segundo plano narrativo do romance e que envolve um menino sobrevivente do massacre praticado pelos turcos, cuja fuga, espetacular, é contada de forma alegórica e cheia de maravilhas.

Ao mesmo tempo, o cotidiano de Cláudio é colocado em evidência: de um emprego a outro, ele vive no apartamento do namorado, nem sempre o melhor lugar do mundo. Tentando cuidar de seu paciente da melhor forma possível, o rapaz se defronta com a degradação da saúde de seu Domingos, que passa a sofrer com lapsos de memória e de incontinência. Os vínculos de amizade entre eles dois se criam de forma natural (e se pode até lembrar de Os Intocáveis e da dupla François Cluzet e Omar Sy), ao mesmo tempo em que o mistério, acentuado pela senilidade e pela doença, só faz ganhar corpo até o desfecho inesperado.

CÍNTIA MOSCOVICH

28 DE JUNHO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

PASSOS TÍMIDOS

Segue ainda distante a ampla reforma tributária de que o Brasil tanto precisa. A segunda etapa da proposta do governo, apresentada na sexta-feira, trata mais de uma recalibragem de alíquotas existentes e é uma clara iniciativa do Palácio do Planalto de estancar a perda de popularidade do governo, embora tenha méritos, especialmente quanto à correção da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

A primeira etapa da reformulação, mais tímida do que o necessário e que já estava no Congresso, prevê a unificação do PIS e da Cofins, com a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Mas são muito mais adequadas, é preciso ressaltar, outras propostas que tramitam no parlamento e que fundem vários impostos da União, Estados e municípios. Encontram, é verdade, maiores dificuldades de negociação pela grande gama de interesses setoriais e regionais que precisariam ser considerados, até se chegar um texto que contemple os interesses do país.

Mas certamente é positiva, para milhões de cidadãos, a correção da tabela do IR, algo que não ocorria desde 2015. É fato que a proposta do governo ainda fica distante de recuperar as perdas acumuladas, de 113,09% no período, mas, pelas contas do Ministério da Economia, cerca de 30 milhões de assalariados terão alguma vantagem no momento de acertar as contas com o Leão e outros 5,6 milhões passarão a ser isentos. Nestes dias de inflação acelerada, qualquer alívio é bem-vindo, mesmo que insuficiente, ainda mais quando o retorno materializado em serviços públicos segue muito aquém do razoável. Ainda será preciso esmiuçar melhor, entretanto, o impacto para a classe média em relação ao fim do desconto simplificado na declaração do IR.

Também pode ser considerada correta a decisão de diminuir em cinco pontos percentuais a taxação de IR de pessoas jurídicas. Assim, alivia-se o caixa das empresas, que são as responsáveis por gerar renda e emprego.

Não se discute a legitimidade e a relevância dos impostos. Eles são necessários para que o Estado cumpra o seu papel. Mas, seja qual for o sistema, a tributação deve ser indutora de desenvolvimento e não alimento para uma máquina estatal pesada, ineficaz e comprometida com interesses corporativos. O cidadão precisa perceber valor no retorno da sua contribuição. O SUS, durante a pandemia, se consolidou como uma exemplo positivo. Mas ainda é pouco diante do peso dos impostos pagos pelas empresas e pelos contribuintes brasileiros.


28 DE JUNHO DE 2021
CLAUDIA LAITANO

O homem dos avessos

"Forças terríveis" derrubaram Jânio Quadros (segundo a carta-renúncia de 1961). "Forças espirituais do mal" estão ameaçando o governo Bolsonaro (segundo Onyx Lorenzoni).

Para os moradores da cidade de Cocalzinho de Goiás, as "forças do mal" têm nome, sobrenome e retrato no jornal. Lázaro Barbosa é temido não apenas pelas barbaridades que cometeu, mas pela fama de "bandido-assombração" - um criminoso que pode estar em qualquer lugar, a qualquer momento, à espreita da próxima vítima. É o diabo solto na rua, no meio do redemoinho: um perigo real que se torna ainda pior quando é transformado em mito.

Já as "forças do mal" citadas pelo ministro Onyx Lorenzoni não se escondem nas matas do Cerrado, mas no reino das trevas concretas de Brasília. No pronunciamento truculento que tinha como objetivo defender o presidente das acusações de irregularidades na compra da vacina Covaxin - e de quebra intimidar os que fizeram a denúncia -, o ministro citou um versículo bíblico em tom de ameaça: "Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal" (Efésios 6:12). E ainda arrematou: "Deus está vendo!". Com Deus rebaixado ao posto de capanga, quem precisa do diabo?

Não sei que conselheiros deste ou do outro mundo assopraram o versículo ao ministro, mas nada se adapta melhor aos delírios ideológicos bolsonaristas do que a retórica da guerra santa contra forças ocultas. Sempre esteve claro que o imaginário religioso que abastece o discurso do presidente e de seus acólitos é baseado no ódio e na vingança, não na piedade (seria difícil defender a tortura e o amor ao próximo ao mesmo tempo...). Não basta instrumentalizar a linguagem religiosa com objetivos eleitoreiros, é preciso transformá-la em arma apontada contra adversários políticos de ocasião - o que consegue ofender tanto quem considera a Bíblia um livro sagrado quanto quem defende o Estado laico.

O ministro vem de Efésios, eu volto com Guimarães Rosa: "O diabo vige dentro do homem, os crespos do homem - ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos".

CLÁUDIA LAITANO

domingo, 27 de junho de 2021


26 DE JUNHO DE 2021
LYA LUFT

A família humana

Não acho que tudo tenha piorado nos dias atuais. Nunca fui saudosista. Prefiro a comunicação imediata pela internet a cartas que levavam meses. Gosto mais de trabalhar no computador do que de usar a velha máquina de escrever (que tinha lá seu charme). No whats ou outros, falo instantaneamente com amigos e familiares aqui perto, do outro lado do mundo - os afetos se multiplicam, se consolidam, circulam mais emoções. Nossa qualidade de vida melhorou em muitas coisas, mas serviços essenciais entre nós andam deteriorados, uma vasta parcela da humanidade ainda vive em nível de miséria.

São as contradições inacreditáveis de um sistema onde cosmólogos investigam espaços insuspeitados, cada dia trazendo revelações intrigantes, mas ainda sofre e morre gente nos corredores de hospitais sobrecarregados, milhões de crianças morrem de fome, outros milhões nunca chegam à escola, ou brincam diante de barracos com barro feito de água e esgoto.

Minhas repetições são intencionais, aqui, nos romances, até nos poemas. Retorno a temas sobre os quais eu mesma tenho incertezas. Que envolvem antes de mais nada ética, moralidade, confiança. Decência: pois é neles que eu aposto, nos decentes que olham para o outro - que somos todos nós, do gari ao intelectual, da dona de casa à universitária, dos morenos aos louros de olhos azuis - com atenção e respeito.

Estudos recentes sobre história das culturas revelam dados sobre tempos em que a parceria predominou sobre a dominação: entre povos, entre grupos, entre pessoas. Mas o mesmo ser humano que busca o amor anseia pela dominação nas relações pessoais, internacionais, de gênero, de idade, de classe.

E se tentássemos mais parceria? Na verdade não acredito muito nisso, a não ser que a gente dê uma melhorada em si mesmo. É possível que em algumas décadas, ou mais, a miscigenação será generalizada, superados os conflitos raciais às vezes trágicos. Teremos uma miscigenação densa de cores, formas, idiomas e culturas.

Origem, dinheiro ou tom de pele vão interessar menos do que caráter e lealdade, a produtividade e competência menos do que a visão de mundo e a abertura para o outro, a máquina importará tanto quanto o sonho, a hostilidade não vai esmagar a esperança, e não teremos de dominar o outro tentando construir uma civilização.

Talvez eu hoje tenha acordado feito uma visionária ingênua: não é inteiramente ruim, isso se chama esperança de que um dia predomine, sim, a família humana. "E aí?", perguntarão. "Sem conflito, sem cobiça, sem alguma opressão e alguma guerrinha, qual a graça?"

Aí, não vamos bocejar como anjos entediados, mas crescer mais, e mais, em caráter, sabedoria, harmonia, e - por que não? - algum tipo de felicidade.

*Texto originalmente publicado em 22 de junho de 2019

LYA LUFT

26 DE JUNHO DE 2021
LEANDRO KARNAL

Como será a vida de uma herdeira do trono que nunca se tornou, de fato, imperatriz coroada? No ano passado, Bruno da Silva Antunes de Cerqueira e Maria de Fátima Moraes Argon lançaram um grosso volume: Alegrias e Tristezas Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil (Linotipo Digital). O estudo é consistente, bem encadernado e tem por foco o texto Joies et Tristesses que a filha de Pedro II escreveu no exílio e a Memória para Meus Filhos.

O livro é bem feito: debates teóricos sobre a escrita biográfica, digressões sobre o nome da princesa ser com S ou Z, notas de orientações, reprodução dos textos, tradução e muitas outras informações. Ao mesmo tempo em que citam autores dos mais atualizados no campo teórico, fazem a atividade mais tradicional possível a um filho de Heródoto. Além de tudo, o volume apresenta muitas fotografias e quadros, bem como uma imensa lista de datas e acontecimentos na vida da princesa.

O gesto maior de Isabel é o 13 de maio, a abolição da escravatura. Todos sabem que o movimento negro milita pelo fortalecimento da data de 20 de novembro, ligada à luta e morte de Zumbi dos Palmares. A data da "Redentora" seria uma ideia de concessão de uma mulher branca e de olhos azuis; a data do maior quilombo é uma ocasião que reforça a luta e a resistência. Quando o olhar for mais técnico e menos orientado a partir do presente, as duas datas continuarão a ser muito significativas, cada uma indicando um aspecto real e simbólico da questão mais fundamental da história brasileira: pessoas escravizadas.

A escravidão caiu porque houve luta e resistência ativa de quilombolas, pressão da Inglaterra, convicções intelectuais e humanitárias de classes médias urbanas, declínio da necessidade do trabalho compulsório, ações concretas da Coroa e estímulo do papa Leão XIII no caso brasileiro. Quando a princesa assinou a chamada Lei Áurea, o trabalho forçado estava em colapso em meio a pressões variadas, inclusive fugas em massa e incêndios de fazendas. Ainda assim, o valor prático e simbólico do 13 de maio é colossal. Enquanto houvesse o estatuto jurídico da escravidão, a situação seria instável mesmo para a maioria de negros libertos. 

Não seria errado considerar a lei dada na Corte do Rio de Janeiro como uma tentativa de interromper a onda de saques, incêndios, fugas e violências que cresciam há alguns anos. Assim, a "libertação" da lei 3.353 seria mais uma estratégia conservadora de tentar solidificar o controle de latifundiários brancos do que um gesto visando ao bem-estar de escravizados. Funcionaria, aqui, como o 4 de agosto de 1789 na França, quando a Assembleia aboliu os direitos feudais para tentar impedir a onda de saques e de incêndios daquele verão revolucionário. 

Mesmo assim, emito minha opinião: simbolicamente, o 13 de maio é importante no Brasil, tão importante que o movimento republicano tentou construir uma memória que afastasse a princesa e o Império da luta abolicionista. Para os mais radicais, o Império foi lento na luta abolicionista; para os escravocratas, foi rápido demais e ainda fez sem indenização. Lembremo-nos: apesar da crescente onda de migração europeia para a lavoura cafeeira em marcha vitoriosa sobre São Paulo, os escravos existiam em pequenas fazendas de quase todo país, em igrejas, no comércio e até entre negros libertos. Se já estava abolida em províncias como o Ceará, a escravidão ainda era onipresente no Brasil de 1888. O racismo? Bem, esse é outro capítulo que não foi abalado naquele domingo de comemorações.

Pedro II perdeu o trono no ano seguinte. Isabel e o Conde D?Eu acompanharam o imperador ao exílio. Nenhum veria o Brasil de novo. A princesa, chefe da casa imperial brasileira desde a morte do pai (5/12/1891) faleceu no castelo D?Eu, na França, a 14 de novembro de 1921, por volta das 10h da manhã. O conde, neto do rei Luís Filipe da França, tão atacado pela imprensa republicana e por Rui Barbosa, em particular, falece retornando ao Brasil no ano seguinte.

A história sempre marcha acelerada. O castelo dos Eu acaba sendo vendido para o magnata de imprensa brasileira Assis Chateaubriand. Mais tarde, seria revendido para sediar a prefeitura da cidade da Normandia. Os corpos do imperador, da Imperatriz, da princesa e do conde-marechal seriam depositados na catedral de Petrópolis. O clima do centenário da independência e o desgaste de República tinham inclinado os poderes ao cultivo da memória do Império. Nos 150 anos da data, o corpo do avô de Isabel, Pedro I, foi trazido para o Brasil.

Império e República possuem memórias entrelaçadas. A baixa qualidade média dos governantes pós 1889 destaca a formação exemplar de Pedro II e de Isabel. Claro, construir a memória do Império como um período de harmonia áurea é um esforço muito ideológico. Ocorre o mesmo quando entusiastas tentam inventar uma memória plana e linda de Getúlio Vargas, da ditadura civil-militar (1964-1985) ou de governos recentes como o de Lula. Os esforços falam muito dos autores e também do que veio depois como governo. O corpo da "Redentora" repousa em Petrópolis. A memória dela, como de qualquer pessoa, oscila no diálogo entre o passado e o presente. Muita esperança para príncipes e plebeus.

LEANDRO KARNAL

26 DE JUNHO DE 2021
MARTHA MEDEIROS

Efeito colateral do absurdo

Ele telefonou de manhã cedo e me assustei: ué, só trocamos WhatsApps. Telefonemas estavam reservados para os aniversários ou para alguma tragédia pessoal. Como não era meu aniversário, me preparei para o pior. Alô.

Ele estava arrasado, havia rompido uma relação. Não com a namorada, nem com o filho. Na noite anterior, discutiu feio com um grande amigo e se desentenderam de vez, o passado em comum não conseguiu evitar o fim. Nunca imaginou que chegaria a esse ponto por causa de política. "Não sou nenhum radical, você sabe" - começou me dizendo - "mas cheguei no meu limite. Desde moleques, éramos dois idealistas, comíamos e bebíamos livros, lutávamos contra o moralismo, viajávamos de carona pelo Brasil conhecendo praias lindas e cidades miseráveis, vimos a condição precária de tanta gente. 

As cenas chocantes de tortura que assistíamos em filmes nos revoltavam, queríamos mudar o mundo! Inocentes, claro, mas o valor que dávamos à justiça, à vida e à igualdade era inegociável. E, supunha eu, vitalício. Agora, de cabelo branco, ele grita "mito, mito!" para um sujeito que baba ovo pra ditadura e pra torturador, e que está nos levando a um retrocesso desmoralizante. Não foi um voto em oposição ao PT, essa desculpa já caducou. Ele realmente se identifica com o cara, Martha. Como continuar conversando sobre futebol como se nada tivesse mudado?

Fui a escolhida para o desabafo porque, semanas antes, havia comentado que, apesar do abismo aberto no país em 2018, eu ainda acreditava que as amizades formadoras, aquelas que se cristalizaram na infância e adolescência, não deveriam ser desfeitas pela polarização. Manter o laço com quem nos viu crescer e que repartiu vivências muito íntimas é uma espécie de seguro-emocional. Amizade verdadeira é um alicerce, uma maravilha do mundo antigo, quase um marco zero existencial.

Até agora, por sorte, não tive um embate violento e definitivo com ninguém que fosse especial para mim. Nas redes é outro papo, as pessoas se exaltam e, se o vínculo é fraco ou inexistente, tchau e bênção. Mas é muito doloroso colidir com um amigo querido que ainda acredita que a crise é entre esquerda e direita, que se posiciona como se houvesse dois extremos em disputa, quando não há. Nossos políticos podem ser malandros, safados, frustrantes ou coisa pior, mas atuam na mesma arena democrática, são todos discutíveis. O obscurantismo é indiscutível. Alternativa suicida.

Era mesmo uma tragédia pessoal: meu amigo ligou para falar sobre a morte do afeto, fulminado pela glorificação do absurdo. Minha defesa pela manutenção dos laços entre pessoas discordantes não surtiu efeito dessa vez. Ele perdeu um irmão em vida, o que é sempre triste. Para atenuar, combinamos de reduzir a troca de WhatsApps e nos telefonarmos mais.

MARTHA MEDEIROS

26 DE JUNHO DE 2021
CLAUDIA TAJES

500 mil não é um número

As 500 mil vítimas da covid no Brasil, a gente sabe, são muitas, muitas mais. Todos os filhos. As mães. Os pais. Os companheiros. As companheiras. As famílias. Os amigos. Quem trabalhava junto. Quem empregava. Quem dependia. Todo mundo que perdeu alguém por covid é vítima também.

500 mil. Esses dias, o moço do Uber disse que não se deve acreditar totalmente nos números. Concordei, os números são maiores, eu disse, é certo que há subnotificação. Ele tirou o nariz da máscara para me responder melhor: "Não, dona, eles mentem para mais". O sogro do meu irmão, que é militar, disse que enchem os caixões de pedras para enterrar. É assim que eles ganham dinheiro.

Seriam tantas as perguntas a fazer que preferi esconder ainda mais a cara na máscara e encerrar o assunto. Quem mente para mais? Quem enterra pedras, e onde? Quem são os "eles" que ganham dinheiro com isso?

Mas o motorista queria papo. Na sequência, passou a xingar a máscara, dizendo que ela não serve para nada e que só usa dentro do carro para não se incomodar. Vai que algum passageiro denuncie. No resto do tempo, não usa. Já tive covid, falou, e me curei com Azitromicina. Estou garantido. Não vou nem me vacinar.

Ele se sente respaldado. A maior autoridade do país não usa máscara. Até o ex-ministro da doença foi a um shopping com a carinha gorducha totalmente exposta. Cada vez que um sujeito desses nega o perigo em público, mais gente compra a ideia.

E morre mais gente também.

No outro fim de semana, vi na televisão uma matéria com vários brutamontes que, não satisfeitos em andar com a boca e o nariz para fora, ainda moem de pancada os funcionários das lojas que pedem - educadamente - para eles colocarem a máscara. A que ponto chegamos. Quem achava que o desembargador de Santos, aquele que humilhou o guarda municipal, era o cúmulo da grosseria e da violência, ainda vai ver muita grosseria e violência. Na TV e na vida.

Abri um pouco mais o vidro e recorri ao celular, companhia valiosa na hora em que a gente escolhe se isolar do mundo, ou ao menos deseja fingir um confortável alheamento. O motorista continuou falando.

Era um rapaz de nem 30 anos com um filho de 14, evidentemente que as coisas não foram fáceis para ele. Odiava estudar, não terminou o colégio e não se arrepende. Gosta de dirigir, está na profissão certa. Se há coisa que ameniza a dureza desses dias é isso, ter um trabalho e, de bônus, gostar do que se faz.

Apesar das dificuldades de uma vida batalhada, mesmo assim não acho que o negacionismo dele se justifique. São inúmeras as possibilidades de informação, muitas e muitas fontes diferentes para se recorrer, e tirar a prova. Ler uma notícia confiável leva tanto tempo quanto abrir o manifesto mal escrito que alguém postou no grupo da família. As escolhas, ah, as escolhas. O resultado delas nos persegue e determina o que será de nós, como indivíduos e como país. As urnas de 2018 não me deixam mentir.

Quinhentos mil. Em uma semana particularmente doída, um alento foi ouvir a Conceição Campos, vacinada pelo próprio ministro Marcelo Queiroga em uma ação de vacinação em massa em parceria com a Fiocruz na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Entrevistada, Conceição não amarelou:

- A vacina é verdadeira, mas a mão que me aplicou não é. Essa sensação foi muito forte para mim. De estar recebendo uma vacina pela mão de um representante do governo que não fala bem da vacina, que não defende a máscara, que não defende o distanciamento social. Soa muito falso.

Quinhentos mil é um número marcado na nossa história para sempre. Mas, quem sabe, com mais Conceições e menos meninos de miolo mole, menos políticos faturando com a ignorância e menos médicos anticiência, a gente possa parar de contar.

Falando nisso: Quase Oração é uma ação coletiva que conta com a participação de dezenas de brasileiros se revezando para contabilizar os números das vítimas fatais da pandemia. Infelizmente, é possível acompanhar essa triste contagem ao vivo no Instagram @quaseoracao. Que chegue logo ao fim.

CLAUDIA TAJES

26 DE JUNHO DE 2021
DRAUZIO VARELLA

POR QUE TANTA GENTE QUE TEVE COVID APRESENTA SINTOMAS PERSISTENTES

Que doença estranha. Cerca de 20% dos infectados não sentem nada, outros têm sintomas que podem ser leves, de intensidade moderada ou daqueles que jogam o cristão na cama, sem coragem para levantar. Ao mesmo tempo, alguns precisam ser hospitalizados e depender de vagas nas UTIs para sobreviver.

Desde o início da pandemia, sabemos que pacientes intubados que passaram vários dias ligados a aparelhos de ventilação mecânica demoram meses para recuperar as condições físicas de antes. Os demais teriam evolução benigna, com sintomas que regrediriam em até duas semanas.

A experiência, no entanto, tem demonstrado que entre 10% e 30% dos que se recuperaram apresentam queixas persistentes, durante semanas ou meses. Os especialistas calculam que alguns desses quadros podem adquirir características de cronicidade, semelhantes aos descritos na síndrome da fadiga crônica que se instala depois de determinadas infecções virais.

Há duas teorias para explicar esses casos: partículas virais remanescentes persistiriam nos pulmões, nos músculos, no cérebro e nas mucosas do aparelho digestivo mantendo ativo o processo inflamatório nesses locais; certos elementos do sistema imunológico hiperestimulados pela presença do vírus agrediriam os tecidos do próprio organismo.

Nessas pessoas, há dúvidas sobre o efeito das vacinas. Até agora, os dados parecem mostrar que, na maioria delas, os sintomas regridem mais rapidamente depois da vacinação, enquanto que em outras eles ficam inalterados ou pioram.

O estudo Survivor Corps, conduzido na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, tem acompanhado pela internet pacientes que tiveram covid, com a finalidade de avaliar a duração dos sintomas que constam em uma lista apresentada pelos pesquisadores. Os participantes podem acrescentar outros que não foram citados na relação.

As principais conclusões foram as seguintes:

1) Os sintomas presentes nos casos de longa duração são mais comuns do que os enumerados pelos Centers for Disease Control, dos Estados Unidos. Os participantes se queixaram de haver desencontro entre seus problemas de saúde e as informações disponíveis nos órgãos oficiais.

2) Enquanto o impacto da doença nos pulmões e no sistema cardiovascular tem chamado mais atenção, os resultados sugerem que o cérebro, os olhos, a pele e a musculatura apresentam afecções frequentes que comprometem a qualidade de vida dos que se recuperam da doença.

3) Cerca de 26% dos que apresentam covid prolongada se queixam de dores crônicas, instaladas depois do quadro inicial, principalmente nos músculos, nas articulações ou espalhadas pelo corpo. Na maior parte das vezes, são dores difíceis de controlar. Os participantes do estudo se queixam de que os médicos menosprezam suas queixas e não estão preparados para tratá-los.

A lista dos 50 sintomas mais comuns relatados ao Survivor Corps é extensa. Por ordem de frequência, são os seguintes: fadiga, dores no corpo, fôlego curto ou dificuldade para respirar, dificuldade para concentrar a atenção, incapacidade para praticar atividade física, dor de cabeça, dificuldade para dormir, ansiedade, problemas de memória, tontura, sensação de opressão no peito, tosse, dores nas juntas, dor de garganta, palpitações, diarreia, sudorese noturna, perda parcial ou total do olfato, taquicardia, febre ou calafrios, queda de cabelo, visão embaçada, congestão nasal, depressão, neuropatia nos pés e mãos, perda parcial ou total do paladar, abscesso na orofaringe, dores abdominais, dor na coluna lombar, falta de ar ao abaixar, olhos secos, náuseas e vômitos, ganho de peso, sensação de ouvido entupido, câimbras nas pernas, tremores, pontos brilhantes no campo visual, sede constante, vermelhidão na pele (rash), sensação de choque no trajeto dos nervos, dor súbita no tórax, zumbido nos ouvidos, confusão mental, contrações musculares involuntárias, irritabilidade.

Acreditar que a infecção pelo novo coronavírus só causa problemas nos mais velhos e naqueles que apresentaram formas graves da doença é pensamento mágico. Qualquer pessoa infectada pelo vírus pode evoluir com sintomas de longa duração, ainda que a fase aguda tenha sido relativamente benigna, sem necessidade de cuidados médicos especiais.

DRAUZIO VARELLA

26 DE JUNHO DE 2021
BRUNA LOMBARDI

ESSE ESTRANHO CHAMADO DESEJO

Umas das coisas que mais me intrigam no ser humano é o desejo. A escolha daquilo que desejamos feita de uma forma inerente e espontânea, sem que sejamos obrigados a fazer, mas pela nossa livre vontade diante de muitas opções. Não falo daquelas coisas necessárias, que precisamos fazer de qualquer jeito e que talvez nem faríamos se fosse possível. Falo dessas escolhas deliberadas, impensáveis, perigosas, absurdas para muitos. Esse mecanismo dentro de nós capaz de ter vontade própria, de estarrecer o bom senso do mundo e até mesmo o nosso. Um desejo tão imperativo que desafia inclusive o medo, o risco, o perigo.

Gente movida pela paixão de fazer coisas que qualquer um de nós não faria em sã consciência. O desejo de se atirar de um avião em queda livre, escalar o Everest, surfar nas ondas gigantes. O impulso de se entregar a uma ordem mandatória dentro de você, num permanente confronto com a morte, mas sem nenhum desejo de morrer. Apenas pelo prazer da aventura.

Gente que faz isso não por heroísmo ou lucro mas pela devoção de realizar seu sonho. Por desejar fazer aquilo acima de quase tudo. Lobos solitários em seu imenso e extraordinário enfrentamento.

Podem parecer loucos para uma grande maioria, mas fazem parte de grupos de pessoas que querem muito fazer essa mesma coisa, enquanto o resto de nós, espantado, tenta entender o porquê.

Vi, por exemplo, as fotos e o vídeo de Maya Gabeira que, surfando uma daquelas ondas gigantes, tipo 24 metros, na praia de Nazaré, em Portugal, caiu e foi arrastada pelas aguas. Foi tirada do mar inconsciente por sua equipe de resgate. Foi um susto enorme, e ela viu a morte de perto. Por uma fração de tempo teria morrido.

Uma coisa infinitamente menor do que essa, na vida de qualquer ser humano, resultaria num tremendo trauma irrecuperável, suficiente pra alguém nunca mais querer nem sequer pisar na areia da praia. Colocar os pés na agua, nem pensar.

Mas para alguns o desejo é soberano, e um ano depois ela bate o recorde feminino, na mesma praia, surfando sua maior onda gigante.

Não menos espetacular, o holandês Wim Hof é um outro exemplo de atleta extremo, capaz de nadar sem roupa por horas debaixo do gelo, desafiando a capacidade de alguém suportar a mais gelada das temperaturas. Ou Alexander Honnold, um alpinista que escala montanhas numa técnica chamada Free Solo, isto é, subir uma montanha de pedra completamente sem cordas. Basta assistir ao documentário, também chamado Free Solo, que acompanha sua escalada, apenas com as mãos e unhas, do impressionante El Cap, no Yosemite Park, um monólito de quase mil metros. Sua aventura foi considerada a maior conquista atlética de todos os tempos.

Sou amiga do Amyr Klink, cuja paixão é navegar solitário, atravessar oceanos e de preferência ficar por mais de seis meses preso no gelo da Antártica, sozinho, isolado num minúsculo veleiro, conforto zero nas tempestades geladas do Polo Norte. O que seria um pesadelo para qualquer ser humano, para Amyr é o sonho da vida. Alguém consegue me explicar isso?

Dá pra entender esse estranho chamado Desejo?

BRUNA LOMBARDI