21 de março de 2015 | N° 18108
NÍLSON SOUZA
SENHORAS IDOSAS
As redes sociais, esses tribunais sem apelação da
pós-modernidade, foram implacáveis com a presidente Dilma Rousseff quando ela
disse que “a corrupção não só é uma senhora bastante idosa neste país, como ela
não poupa ninguém”. Imediatamente, os espirituosos de plantão bateram suas
panelas virtuais: “É verdade, ela tem 67 anos, foi guerrilheira e continua
aterrorizando o país em Brasília”. Tem lá a sua graça, mas tanto a imagem
infeliz da fala presidencial quanto o troco soam preconceituosos. Velhas
senhoras, com raríssimas exceções, costumam ser inofensivas, pacíficas,
crédulas até.
Mas tudo tem limite. Lembram da Velhinha de Taubaté,
personagem imortal do nosso Luis Fernando Verissimo? Pois ela foi suicidada
pelo autor, aos 90 anos, no auge do mensalão, supostamente decepcionada com o
Palocci – segundo a crônica-epitáfio do talentoso escritor.
Ele deixou no ar a suspeita de veneno no chá ou nos bolinhos
de polvilho, mas – como no caso de Jango e, mais recentemente, do promotor
argentino que acusava a senhora Kirchner – parece que os exames laboratoriais
também foram inconclusivos. Não importa. O que interessa é que a velhinha da
ficção foi a última brasileira a acreditar em tudo o que o governo dizia. Todos
os governos, vale lembrar. Agora, ninguém mais acredita.
Não há mais velhinhas de Taubaté neste país ferido pela
corrupção e dividido pelo antagonismo político.
E não é por falta de gente experiente. O Brasil tem cada vez
mais idosos, em sua maioria conscientes, produtivos e íntegros. O país está
envelhecendo, a chamada terceira idade já representa o percentual expressivo de
13% da população. Os brasileiros de cabelos brancos (ou sem) já são mais de 20
milhões, e a previsão do IBGE é de que esse número triplique nos próximos 20
anos, pois a atual expectativa de vida deve subir dos atuais 75 anos para 81. É
bom que os governantes passem a tratar melhor esse pessoal.
Senhora idosa, a corrupção? A velhinha deve ter se revirado
no seu túmulo lá em Taubaté. Até seu gato sabia que essa doença atinge gente de
todas as idades.
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