29
de março de 2015 | N° 18116
L.F.VERÍSSIMO
50 tons de
roxo
–
Entre, entre. Me dê o seu casaco.
–
Obrigada.
– Se
quiser tirar mais alguma coisa...
–
Não, estou bem assim.
–
Talvez mais tarde.
–
Talvez. Lindo o seu apartamento...
– Eu
sei. Além de ser rico e bonito, eu tenho muito bom gosto.
–
Esse moço pendurado na parede...
– É
um sobrinho do Picasso. Comprei em Paris. De hora em hora, ele desce daí para
descansar, fazer xixi ou se alimentar. Depois volta para a parede.
–
Que luxo.
–
Você ainda não viu nada. Vamos passar para a outra sala. A que eu chamo de meu
laboratório lúbrico. É onde faço minhas experiências.
–
Meu Deus, quantos objetos sexuais!
–
Tenho um fornecedor que me manda todas as novidades. Algumas eu ainda nem
descobri para que servem. Esse tubo de borracha com a ponta serrilhada, por
exemplo. Por enquanto, eu uso para coçar o pé.
–
Posso me sentar nesta cadeira?
–
Pode. Só cuidado porque...
–
Ui!
– Eu
ia lhe avisar. Ela é uma Cadeira de Afrodite. Quando menos se espera, sobe um
pênis rotativo.
– Eu
senti. Você diz que é aqui que faz experiências?
–
Sim. Por exemplo: estou no meio de uma pesquisa sobre os efeitos do chicote na
pele feminina. Cada pele fica um tom de roxo diferente. Não existem dois
hematomas iguais.
–
Que coleção de instrumentos!
–
Sim, há de tudo. Bolotas japonesas. Garrote francês. Arreios.
–
Estas algemas... Eu gostaria de experimentar.
–
Fique à vontade. Mas é melhor tirar a roupa primeiro.
–
Certo. Posso lhe fazer uma pergunta?
–
Claro.
– De
todas aquelas mulheres na fila para ver o filme, por que você me escolheu?
– Na
verdade, faço a proposta para várias. Digo “venha comigo e terá experiências
muito mais excitantes do que as do livro, e do que as do filme, então, nem se
fala. E será ao vivo!”. A primeira que aceitar, vem. Desta vez foi você.
–
Será que eu vou me arrepender?
–
Até agora nenhuma se queixou. Vamos começar com quê? Faça a sua escolha.
–
Hmmm... Eu ouvi você falar em arreios?
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