sábado, 28 de março de 2015


29 de março de 2015 | N° 18116
L.F.VERÍSSIMO

50 tons de roxo

– Entre, entre. Me dê o seu casaco.

– Obrigada.

– Se quiser tirar mais alguma coisa...

– Não, estou bem assim.

– Talvez mais tarde.

– Talvez. Lindo o seu apartamento...

– Eu sei. Além de ser rico e bonito, eu tenho muito bom gosto.

– Esse moço pendurado na parede...

– É um sobrinho do Picasso. Comprei em Paris. De hora em hora, ele desce daí para descansar, fazer xixi ou se alimentar. Depois volta para a parede.

– Que luxo.

– Você ainda não viu nada. Vamos passar para a outra sala. A que eu chamo de meu laboratório lúbrico. É onde faço minhas experiências.

– Meu Deus, quantos objetos sexuais!

– Tenho um fornecedor que me manda todas as novidades. Algumas eu ainda nem descobri para que servem. Esse tubo de borracha com a ponta serrilhada, por exemplo. Por enquanto, eu uso para coçar o pé.

– Posso me sentar nesta cadeira?

– Pode. Só cuidado porque...

– Ui!

– Eu ia lhe avisar. Ela é uma Cadeira de Afrodite. Quando menos se espera, sobe um pênis rotativo.

– Eu senti. Você diz que é aqui que faz experiências?

– Sim. Por exemplo: estou no meio de uma pesquisa sobre os efeitos do chicote na pele feminina. Cada pele fica um tom de roxo diferente. Não existem dois hematomas iguais.

– Que coleção de instrumentos!

– Sim, há de tudo. Bolotas japonesas. Garrote francês. Arreios.

– Estas algemas... Eu gostaria de experimentar.

– Fique à vontade. Mas é melhor tirar a roupa primeiro.

– Certo. Posso lhe fazer uma pergunta?

– Claro.

– De todas aquelas mulheres na fila para ver o filme, por que você me escolheu?

– Na verdade, faço a proposta para várias. Digo “venha comigo e terá experiências muito mais excitantes do que as do livro, e do que as do filme, então, nem se fala. E será ao vivo!”. A primeira que aceitar, vem. Desta vez foi você.

– Será que eu vou me arrepender?

– Até agora nenhuma se queixou. Vamos começar com quê? Faça a sua escolha.


– Hmmm... Eu ouvi você falar em arreios?

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