13
de março de 2015 | N° 18100
MARCOS
PIANGERS
Festa à
fantasia
Existem
algumas qualidades em um homem que são valorizadas socialmente, como beber
uísque ou conseguir estacionar o carro em uma vaga apertada. Um homem deve
fazer um furo na parede sem acertar um cano (esta é a maior vergonha para um
homem). Um homem deve saber acender o fogo do churrasco com facilidade e sem se
sujar. Homem tem a obrigação de saber combinar o terno, a camisa e a gravata.
Um homem de verdade usa terno com naturalidade.
Com
base no parágrafo acima, ainda tenho uns 13 anos. Preciso melhorar muito,
especialmente na questão do traje, visto que tenho apenas um terno, uso a mesma
camisa com gola amarelada sempre, e a mesma gravata vermelha que usei na
ocasião da minha formatura, saudades de 2003. É minha fantasia de homem. No
resto do ano, camiseta e bermuda. Calça e camisa florida no inverno. Não
entendo quem usa sapato todo dia. Alguém avise a essa gente que há um negócio
chamado tênis. E não entendo, nem jamais entenderei, a gravata.
A
gravata é um adereço que não serve pra nada. Se ainda servisse para limpar a
boca, usaria como guardanapo. Mas é um pedaço de pano com um nó no pescoço. Um
nó! Lembra muitíssimo uma forma de execução muito popular no século 18. O que
levou a gravata a se tornar um símbolo de masculinidade? Só posso crer que foi
esse ar blasé com relação à morte. “Vejam, tenho uma corda amarrada no pescoço
e não estou nem aí.” A isso damos o nome de masculinidade.
Tive
que me fantasiar de homem um dia desses e ao chegar ao evento uma menina já
apontou que uma parte do meu terno estava rasgada. “É estilo ou tu não viu?”,
perguntou. Respondi que não tinha visto, mas agora que vi era estilo. Quando
coloquei a mão no bolso senti que a costura do lado da calça estava se
desfazendo. Considerei sorte se não chegasse ao final da noite de cuecas. E,
quando achava que nada podia piorar, ao levantar o pé direito na caminhada até
minha mesa, a sola do meu sapato ficou para trás. Tive que arrumar uma Super
Bonder e consertar o pisante no banheiro.
Passei
o resto da festa apoiado na minha perna direita, garantindo a sola junto ao
sapato, andando como o Dr. House, só me faltou a bengala. E quando perguntavam
se tinha machucado o joelho botava a culpa no futebol. Homem que é homem de
verdade joga bola e se machuca. Fui pra casa tarde, depois de beber muito
uísque, como homem. Dormi como uma criança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário