20 de março de 2015 | N°
18107
MOISÉS MENDES
O engenheiro
Os empreiteiros da máfia da
Petrobras estão presos há cinco meses. Há quem ache um excesso, como o ministro
Gilmar Mendes, do Supremo. Há quem diga, nos e-mails que recebo, que eles são a
parte frágil dos roubos.
Há até quem assegure que, sem
diretores corruptos na estatal, não existiria empreiteiro corruptor, porque
tudo seria honesto e legal.
E há os que estão certos de que
empreiteiro corrupto é uma invenção dos últimos anos, provocada por alguma
mudança genética no cará- ter dos herdeiros da OAS, Mendes Júnior, Odebrecht,
Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão etc.
Dos e-mails que recebi sobre os
roubos, um é especial, porque está acima de palpites e aparentes
subjetividades. Uma leitora conta o drama do irmão, engenheiro desde a década
de 50 de uma das mais tradicionais empreiteiras investigadas na Lava-Jato.
Na segunda metade dos anos 60, o
engenheiro procurou o chefe. Flagrara atividades ilícitas quando o grupo
realizava obras no Rio Grande do Sul. Foi rebaixado de função e mandado para
uma oficina da empresa para definhar profissionalmente.
Diz o e-mail: “Só soubemos disso
há pouco, alguns dias antes de ele falecer, quando nos relatou que sempre teve
vergonha de trabalhar nessa empresa, embora o prestígio que ela gozava no
país”.
Era como se o homem se
desculpasse com os familiares por ter sido incapaz de se livrar de um dos
grupos só agora flagrados roubando.
Quantos afundam no mesmo dilema,
sem força e sem suporte para denunciar a gangue que, se sabe, foi apenas
aperfeiçoada? Quantos empresários honestos não conseguiam disputar mercado com
os delinquentes presos em Curitiba?
Conto o drama do engenheiro
porque pedi licença à autora do e-mail. A Lava-Jato talvez evite, daqui a
alguns anos, o mesmo constrangimento aos engenheiros agora em formação.
Torcemos para que se livrem da
desonra de trabalhar para saqueadores declarados. A corrupção grossa só existe
porque há quadrilhas de corruptores. Os servidores públicos são seus mandaletes
bem remunerados.
Os empreiteiros não envergonham
apenas seus engenheiros. Todos os seus empregados merecem outros patrões. Os
corruptores presos, se não pegarem cadeia após o julgamento (e talvez não
peguem), não merecem voltar a conviver com operários, auxiliares
administrativos, vigilantes, boys e o pessoal das oficinas.
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