sexta-feira, 20 de março de 2015


20 de março de 2015 | N° 18107
MOISÉS MENDES

O engenheiro

Os empreiteiros da máfia da Petrobras estão presos há cinco meses. Há quem ache um excesso, como o ministro Gilmar Mendes, do Supremo. Há quem diga, nos e-mails que recebo, que eles são a parte frágil dos roubos.

Há até quem assegure que, sem diretores corruptos na estatal, não existiria empreiteiro corruptor, porque tudo seria honesto e legal.

E há os que estão certos de que empreiteiro corrupto é uma invenção dos últimos anos, provocada por alguma mudança genética no cará- ter dos herdeiros da OAS, Mendes Júnior, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão etc.

Dos e-mails que recebi sobre os roubos, um é especial, porque está acima de palpites e aparentes subjetividades. Uma leitora conta o drama do irmão, engenheiro desde a década de 50 de uma das mais tradicionais empreiteiras investigadas na Lava-Jato.

Na segunda metade dos anos 60, o engenheiro procurou o chefe. Flagrara atividades ilícitas quando o grupo realizava obras no Rio Grande do Sul. Foi rebaixado de função e mandado para uma oficina da empresa para definhar profissionalmente.

Diz o e-mail: “Só soubemos disso há pouco, alguns dias antes de ele falecer, quando nos relatou que sempre teve vergonha de trabalhar nessa empresa, embora o prestígio que ela gozava no país”.

Era como se o homem se desculpasse com os familiares por ter sido incapaz de se livrar de um dos grupos só agora flagrados roubando.

Quantos afundam no mesmo dilema, sem força e sem suporte para denunciar a gangue que, se sabe, foi apenas aperfeiçoada? Quantos empresários honestos não conseguiam disputar mercado com os delinquentes presos em Curitiba?

Conto o drama do engenheiro porque pedi licença à autora do e-mail. A Lava-Jato talvez evite, daqui a alguns anos, o mesmo constrangimento aos engenheiros agora em formação.

Torcemos para que se livrem da desonra de trabalhar para saqueadores declarados. A corrupção grossa só existe porque há quadrilhas de corruptores. Os servidores públicos são seus mandaletes bem remunerados.


Os empreiteiros não envergonham apenas seus engenheiros. Todos os seus empregados merecem outros patrões. Os corruptores presos, se não pegarem cadeia após o julgamento (e talvez não peguem), não merecem voltar a conviver com operários, auxiliares administrativos, vigilantes, boys e o pessoal das oficinas.

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