14
de março de 2015 | N° 18101
CLAUDIA
LAITANO
Condomínio
Brasil
Frequento
as caixas de comentários da internet como quem passa rapidamente os olhos por
uma imagem de acidente ou crime violento. Sei que não vou gostar, sei que vou
me arrepender, mas, de vez em quando, me convenço de que, se eu respeitar a
regra dos 10 segundos de contato, vou conseguir entender o que estão falando
sem ficar com o estômago revirado. Não tem dado muito certo.
O
mais perto que eu cheguei, na vida real, ao tipo de confronto que costuma se
encontrar nesses fóruns de debates estilo “american sniper” – ganha medalhinha
quem consegue disparar mais ofensas e julgamentos precipitados lendo com menos
atenção os argumentos contrários – foram as (poucas e traumáticas) reuniões de
condomínio que já frequentei. Ali também os ânimos se acendem por motivos tão
inocentes quanto a cor da violetinha do canteiro mais escondido do prédio, e
muitas vezes fica difícil para um novato entender como, de um assunto banal,
passamos para o dedo na cara do vizinho.
O
curioso é que tanto a caixa de comentários quanto a reunião de condomínio (esta
sem a confortável proteção do anonimato) partem do pressuposto democrático de
que a liberdade de expressão é uma boa ferramenta para a construção, se não do
consenso, pelo menos da boa convivência social.
Mas
ouvir os outros dá trabalho, acatar a opinião da maioria quando ela é diferente
da nossa também, e quando a gente vê tem um vizinho puxando a nossa cadeira. O
sistema de governo que a maioria de nós considera o mais eficiente e justo está
à altura de Mozart como ideia, mas, na prática, às vezes ganha versões que soam
como funknejo.
Na
reunião de condomínio, no Congresso, nas redes sociais ou mesmo na rua, durante
uma manifestação, o que se espera não é a harmonia de uma filarmônica alemã nem
a eliminação de conflitos, mas apenas o respeito às regras e aos acordos, para
que aquele que não está satisfeito agora saiba que o jogo pode virar lá
adiante, depois de uma eleição, e será respeitado da mesma forma.
A
democracia não elimina as tensões, apenas propõe um modo de lidar com elas que
contemple – e legitime – a diversidade de interesses. Não gostar do síndico é
uma coisa, puxar a cadeira dele no meio da reunião é outra.
O
mal-estar dos últimos dias (meses?) no Brasil, a única percepção que
apocalípticos e integrados parecem compartilhar atualmente, vai além da crise
política ou econômica. O que incomoda, o que revira o estômago, é esse clima
permanente de reunião de condomínio, de briga de trânsito, de disputa pelo
último biscoito da prateleira – e a sensação de que fomos todos,
irremediavelmente, abduzidos pelas caixas de comentários.
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