quinta-feira, 25 de abril de 2024


25 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

Alpinistas de cancelas

Existem os alpinistas das cancelas do shopping. Os que praticam rapel na hora de mostrar o comprovante de pagamento. Vou explicar. Já testemunhei infindáveis casos. Na saída do estacionamento, no momento de encostar o tíquete no visor eletrônico, o motorista faz a proeza de parar o carro longe do token. Falta braço. É um goleiro de braço curto.

Começa o constrangimento público, absolutamente evitável. Ele fica encalacrado no quase. Estica-se todo pela janela aberta, sem conseguir a validação. É possível escutar, mesmo a distância, os seus ossos estalarem em forçado alongamento.

Com o fracasso, com o engarrafamento aumentando atrás de si, com o medo da buzinada contagiosa dos colegas de ocasião, ele é tomado pela pressa, pela ansiedade, e se lança para uma missão impossível: tirar o cinto e abrir a porta do carro. Só que tampouco quer ter o trabalho de apagar o veículo e andar, recusa-se a empreender a tarefa calmamente do lado de fora.

Não aceita desligar o motor. Não admite desistências. Então, vira um Minotauro: metade gente, metade touro. Mantém incrivelmente o pé no pedal do freio e pisa no chão com o outro, jogando o seu corpo para frente, escalando o topo da montanha da cancela, tentando inutilmente levantar o código de barras do cartão para liberar o acesso.

Não é que seja um péssimo motorista, não é que não goste de balizas. É a crença afoita de que passará pela cancela, não precisará estacionar na cancela como se fosse uma vaga provisória. Ele executa uma decisão equivocada, intuitiva.

Pensa que será uma transição rápida, e não capricha. Encalha na passagem. Nem sempre tem um fiscal por perto para acudir. Nem sempre ocorre a leitura automática da placa por câmera. Além da coreografia cômica, não há como o espectador da confusão não temer um desastre.

Seria muito mais prudente aceitar a primeira falha para não vacilar tanto depois. Seria muito melhor dar uma ré quando havia espaço de retaguarda e alinhar as rodas para se colocar mais próximo.

A cena ilustra nossa resistência ao recuo. Temos uma noção de que recuar é covardia, é ausência de convicção, é derrota moral, e realizamos parvoíces em nossa vida. Avançamos mesmo estando errados, e apenas acentuamos nossa conduta desfavorável.

Uma grande mentira já foi pequena antes. O tempo que você levou para assumir a verdade é que aumenta a gravidade da situação. Um grande erro já foi ínfimo antes. O exaustivo adiamento até a reparação é que o torna irreversível.

O perigo mora nos detalhes. Retroceda no ato. Desculpe-se enquanto age.

CARPINEJAR

25 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

POTENCIAL SUBAPROVEITADO

O país tem um considerável espaço para aumentar a movimentação de cargas em suas águas internas, diminuindo custos e desafogando rodovias. Um estudo publicado em fevereiro pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) apontou a existência de 20,1 mil quilômetros de hidrovias economicamente viáveis no país. Ainda assim, seria menos da metade da real extensão aproveitável. 

Mas é um potencial que começou a ser mais bem explorado, como mostrou o Anuário Agrologístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), conhecido nesta semana. Nos últimos 13 anos, o escoamento de milho e soja por hidrovias no país cresceu de 3,4 milhões para 30 milhões de toneladas. Em 2010, o modal tinha uma participação de 8% no escoamento da safra. A fatia chegou a 19% no ano passado, após chegar a 23% em 2022.

O transporte hidroviário não é viável em todas as regiões. Depende da existência de rios e outros grandes corpos d´água navegáveis. O Rio Grande do Sul é um dos Estados privilegiados e pode avançar com hidrovias em trechos dos rios Gravataí, Jacuí, Taquari, Caí e Sinos, no Guaíba e nas lagoas dos Patos e Mirim. Os gaúchos, aliás, foram no século 19 pioneiros nesta alternativa no país.

Na década de 1970, eram aproximadamente 1,2 mil quilômetros de vias navegáveis no Estado. Hoje, seriam cerca de 770 quilômetros, indicam entidades e órgãos públicos vinculados ao setor. Três anos atrás estimava-se que apenas 3% do fluxo de mercadorias no Rio Grande do Sul ocorria por hidrovias. Especialistas avaliam que seria possível chegar a algo próximo de 12%. 

Dragagens insuficientes, sinalização precária e burocracia para a criação de terminais privados vinham sendo citadas ao longo do tempo como principais entraves. Talvez seja inviável retomar a extensão utilizável de meio século atrás, mas é possível ao menos viabilizar os trechos existentes para ampliar o transporte de granéis em grande volume. Existe espaço não apenas para grãos, mas para celulose, petroquímicos e fertilizantes, produtos exportados e importados pelo Estado.

Alguns movimentos trouxeram alento e outros podem contribuir para a recuperação do modal. A legislação portuária foi modernizada e permitiu o surgimento de mais terminais privados. Há processos de concessão em andamento. Uma hidrovia entre o Brasil e o Uruguai é considerada prioridade pelo governo federal e espera-se para este ano a dragagem da Lagoa Mirim. O Palácio Piratini, ao mesmo tempo, iniciou em fevereiro um processo de atualização do Plano Estadual de Logística e Transportes (Pelt), que também analisará a infraestrutura existente e as demandas do modal. O estudo deve estar concluído em 2025.

Cerca de 90% da matriz de transporte do Rio Grande do Sul é rodoviária. Há boa margem para elevar a participação dos modais ferroviário e hidroviário, desde que se solucionem gargalos. Ambos, para cargas de maior volume, são mais competitivos e ambientalmente vantajosos. Um maior aproveitamento também aliviaria as rodovias de veículos pesados, com ganhos para a segurança dos demais usuários e menor pressão relacionada aos custos de manutenção das estradas.


25 DE ABRIL DE 2024
SISTEMA FEDERAL

Invasão atingiu TSE; desvio soma R$ 14 mi

A invasão ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) pode ter atingido mais órgãos federais e levado ao desvio de R$ 14 milhões.

A investigação da Polícia Federal (PF) apontou que, além do Ministério da Gestão e da Inovação, recursos públicos também podem ter sido desviados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apurou que os recursos transferidos indevidamente estavam reservados para o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa de tecnologia do governo federal, e deveriam custear serviços de tecnologia da informação, suporte a sistemas eletrônicos e manutenção de bases de dados oficiais.

O dinheiro, no entanto, foi parar em diversas contas bancárias diferentes, algumas de empresas e outras de pessoas físicas que teriam sido usadas como laranjas pelos criminosos. Ao menos parte do valor desviado teria sido perdido.

Os desvios teriam ocorrido em dois ataques, um no fim de março e outro em abril (leia mais abaixo).

Suspeito

Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que um dos envolvidos no crime já foi identificado.

- Parece que um dos responsáveis já foi identificado, mas não tenho nome, nada disso, porque a investigação está sendo feita sob sigilo - alegou.

Após a confirmação da invasão, o governo federal mudou as regras de acesso ao sistema para obter mais segurança. Antes, usuários tinham uma senha ou podiam entrar usando a plataforma gov.br, forma de acesso única para diversos serviços públicos.

Gestores financeiros e ordenadores de despesa dos órgãos da União (ou seja, aqueles responsáveis por autorizar diretamente o pagamento) precisavam também ter um certificado digital para movimentar os recursos.

Agora, esse certificado precisa necessariamente ser emitido pelo Serpro e não pode ser fornecido por outras empresas privadas.

Devido ao sigilo do inquérito, o TSE não comentou a situação envolvendo os recursos. Até agora, só foi confirmada a recuperação de R$ 2 milhões.


25 DE ABRIL DE 2024
TULIO MILMAN

Confissão de culpa

A notícia acabou diluída entre o tsunami diário de informações, mas merece uma parada para reflexão. Com amplo apoio, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei, sancionada ontem pelo presidente Joe Biden, que pode banir um dos aplicativos mais populares do mundo entre os jovens. O TikTok tem 150 milhões de usuários nos EUA. No Brasil, onde por enquanto os efeitos desta lei não chegam, são cerca de 100 milhões.

O pretexto para a aprovação das restrições nos EUA é a ameaça à segurança nacional causada pelo mau uso dos dados dos usuários. O vilão da vez é o conjunto secreto de instruções e regras que fazem o programa funcionar, conhecidos como algoritmo. De acordo com o governo e com os legisladores americanos, o TikTok é, de fato, apenas uma cortina para colher informações que podem ser mal usadas. Se você chegou até aqui no texto, pode estar confuso. Afinal de contas, por que o TikTok é tão mais perigoso do que o Facebook e o Instagram? Todos têm algoritmos secretos, programados sem qualquer transparência e utilizados para fins que apenas uma dúzia de pessoas realmente conhece.

Ocorre que o TikTok é chinês. Os outros, não.

Basta mergulhar meio centímetro abaixo da superfície visível do debate para concluir que a lei americana nada mais é do que uma gigantesca confissão de culpa, uma admissão ruidosa de que redes sociais e buscadores de internet (Google) são, na verdade, algo muito diferente do que diz a sua propaganda. Eles não nos fornecem informações ou ajudam a nos comunicarmos: eles nos surrupiam dados e os utilizam de acordo com os seus interesses, não com os nossos. Mas se a China faz isso, aí é um perigo.

Não devemos ser contrários à tecnologia, mas sim à falta de transparência. E, nesse sentido, embora por caminhos tortos, a decisão do Congresso americano é um ponto de inflexão no debate.

De fato, nada vai acontecer imediatamente. A decisão dá, no mínimo, nove meses para que os chineses vendam sua operação a uma empresa "amiga". É certo que a polêmica irá parar na Suprema Corte americana. Lá, duas teses se enfrentarão. De um lado, os defensores da liberdade absoluta de expressão. Do outro, os que acreditam que tudo precisa de regras claras para funcionar bem. Mas os entusiastas dessas posições podem mudar quando os envolvidos se chamam "governo chinês, povo americano e Tik Tok", em vez de "X, Elon Musk e Alexandre de Moraes".

TULIO MILMAN

quarta-feira, 24 de abril de 2024


24 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

Inversões do mapa

Um de meus pintores prediletos é o uruguaio Joaquín Torres García (1874-1949). Há 80 anos, ele criou o manifesto A Escola do Sul, em que, de modo transgressor, virou o desenho da América de ponta cabeça.

Ele defendia: "Nosso norte é o sul. Não deve haver norte para nós, exceto em oposição ao nosso sul. Portanto, agora nós viramos o mapa de cabeça para baixo, e então temos uma ideia verdadeira de nossa posição, e não como o resto do mundo deseja. O ponto da América, de agora em diante, para sempre, aponta insistentemente para o sul, nosso norte".

Combateu o eurocentrismo das cartografias com a sua emblemática gravura a caneta e tinta da América Invertida e sua teoria que divergia do rótulo de Terceiro Mundo. Afinal, todos sabemos que a Europa foi alargada e a extensão territorial da América do Sul e da África, estrangulada.

A imagem exibia, pela primeira vez na iconografia planetária, uma representação da América do Sul fora de sua posição-padrão, orientada pelo sul no topo. Uruguai passaria a ocupar um posto de destaque, assim como Rio Grande do Sul, alçado para a cabeça geográfica, não mais relegado aos pés do continente.

Não me causou estranheza, portanto, a atitude do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que colocou à venda seu novo mapa-múndi, mostrando o Brasil no centro do mundo, com o Meridiano de Greenwich um pouco à direita do comumente estabelecido. A edição esgotou em menos de 24 horas e causou rebuliço nas redes sociais por um indisfarçável patriotismo.

Quem diria que o bordão bolsonarista, "Brasil acima de tudo", pintaria no atual governo, remodelando-se numa estratégia de incorporar para si os benefícios do nacionalismo na retomada da economia e também servindo de cartão de visita para a cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias, que ocorrerá no Rio de Janeiro, em novembro.

É um exercício de imaginação mais do que uma constatação científica. Conserta-se a ideologização do mapa com novas distorções ideológicas. Para entender a natureza dessa lacração, é interessante constatar que não criamos a roda, o movimento é global. Rússia, Japão, China, Austrália e Argentina já fizeram isso, seguindo o princípio de que o centro do mundo é onde começa o seu olhar.

A visão não seria mais a geral, como se fosse a de um drone, mas particular, com a origem em cada país. O GPS da ilustração estaria ligado ao ponto de partida. A tendência de colocar o país em evidência e se opor ao imperialismo americano ou à colonização europeia pode trazer uma mudança positiva de mentalidade.

Carregamos, dentro de nós, o estigma de que moramos longe dos grandes acontecimentos, de que ser visitados por turistas estrangeiros é quase um favor da parte deles, ou uma fuga, ou uma pura excentricidade.

Em Porto Alegre, por exemplo, estranhamos quando encontramos alguém falando inglês na rua. Consideramos um evento incomum, por um distanciamento mental embutido em nossas condutas, efeito colateral da baixa autoestima, de um complexo de vira-lata sarnento.

Nosso ímpeto é ficar perto, ouvir a conversa indiscretamente, esperando o momento certo para interpelar a figura: - What are you doing here? You seem to be lost. (O que você está fazendo aqui? Parece estar perdido.)

CARPINEJAR

24 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

O MAL DO JURO

O mal causado à atividade pelo juro alto é bem ilustrado por um levantamento publicado na edição de segunda-feira do jornal Valor, especializado em economia e negócios. Informações colhidas em balanços de 386 empresas de capital aberto e não financeiras indicam que o gasto com o pagamento de juros em 2023 chegou a R$ 306,8 bilhões, um acréscimo de 8% ante o exercício anterior, superando os montantes direcionados a investimentos, R$ 298,7 bilhões. Em 2022, os valores aplicados nas atividades dessas companhias eram maiores do que as despesas financeiras.

O Banco Central (BC) manteve a taxa Selic no ápice de 13,75% ao ano entre agosto de 2022 e o mesmo mês do ano passado. Iniciou o ciclo de corte em setembro. Apesar do começo do afrouxamento, as empresas ainda sentiram os efeitos do aperto. A política monetária tem efeitos defasados no tempo. Quando as empresas têm de destinar mais dinheiro para pagar juro, menor é a disponibilidade - e a própria disposição - para investimentos produtivos. A prioridade é proteger o caixa. Isso afeta o potencial de crescimento da economia no médio e no longo prazo e, por criar gargalos, também gera riscos inflacionários.

É uma circunstância que explicita a importância de o país fazer a sua parte para produzir condições estruturais favoráveis a uma redução do juro a patamares razoáveis. Ainda ontem, o BC publicou a mais recente edição do Boletim Focus e as estimativas do mercado para a Selic ao final do ano subiram de 9,13% para 9,5%. A variação é significativa para o intervalo de uma semana. 

As expectativas no Focus costumam se mover de forma mais lenta. Por óbvio, entre as razões estão as tensões geopolíticas e a demora maior do banco central norte-americano para iniciar o seu ciclo de corte do juro. Mas também reflete a piora das perspectivas fiscais do Brasil, após a desistência do governo federal de gerar superávit em 2025.

Uma boa notícia para o Planalto veio da arrecadação de março. Alcançou R$ 190,6 bilhões, recorde para o período e uma alta real de 7,22% ante igual mês do ano passado. Mesmo assim, nota-se uma desaceleração em relação a fevereiro, o que já era esperado, confirmando as projeções de que o governo continuará longe das metas fiscais se insistir apenas em medidas arrecadatórias. Para este ano, o objetivo oficial, cercado de ceticismo, ainda é zerar a diferença das colunas de despesas e receitas.

Deve-se outra vez insistir na necessidade de cortar e racionalizar gastos para alcançar a sustentabilidade das contas do país e evitar uma trajetória perigosa da dívida pública no futuro, o que se traduziria em juros mais restritivos e economia cambaleante. Não é algo abstrato. Afeta a vida de todos os cidadãos.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, voltou a acenar nesta semana com revisão de despesas e busca por eficiência nos gastos. Mas foi evasivo ao ser questionado sobre medidas efetivas. A ministra de Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, periodicamente cita uma proposta de reforma administrativa. Mas é uma agenda que não avança no governo ou empolga o núcleo do poder. Quem manda, afinal, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem voltou a reclamar das críticas sobre gastos do Executivo. Sintomático. Para completar, há as incertezas das pautas-bomba gestadas no Congresso.

Tudo isso somado eleva a desconfiança e pressiona os juros futuros. O risco é se estar penhorando o crescimento econômico dos próximos anos.



24 DE ABRIL DE 2024
RANKING NACIONAL

UFRGS é a melhor entre as federais

Divulgado no início de abril, o Índice Geral de Cursos (IGC), que calcula a qualidade das graduações e Instituições de Ensino Superior do Brasil, foi recalculado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Com a revisão, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ficou com a melhor colocação entre as federais. E com a nota mais alta da sua história: 4,43, sendo 5 a máxima.

Esta não é a primeira vez que a instituição gaúcha lidera o ranking entre as federais brasileiras. Segundo a secretária de Avaliação Institucional da UFRGS, Soraya Tanure, o desempenho foi alavancado pelos programas de mestrado.

- Entre número de alunos que entram e que saem, qualidade de informações científicas produzidas e qualidade das pesquisas do corpo docente, os nossos programas de mestrado tiveram, inclusive, um desempenho melhor do que os de doutorado, algo que não se costuma esperar - diz Soraya.

A UFRGS obteve o melhor Conceito Médio de Mestrado entre as federais, atingindo nota 4,89 - a máxima é 5. No ranking do Conceito Médio de Doutorado, ficou com a oitava posição, e, no Conceito Médio de Graduação, com a nona.

A instituição gaúcha registrou, ainda, o segundo melhor IGC entre as universidades, atrás apenas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e o 14º melhor do Brasil quando se considera todas as organizações acadêmicas, como faculdades e os centros universitários.

ISABELLA SANDER

24 DE ABRIL DE 2024
MÁRIO CORSO

A sabedoria de Odin

Declarar preferência a um deus é um perigo, você pode ficar mal na foto com os outros. Meu caso é pior, não aumento o prestígio com o escolhido, pois, como me contaram, ele não me tem em grande conta.

Mas vamos ao caso, admiro Odin, o deus caolho da mitologia nórdica. O olho perdido que o marca tem um significado preciso. Quando Odin encontrou Mimir, o guardião da Fonte da Sabedoria, esse exigiu-lhe um olho para poder beber dela. Odin nem vacilou, com uma faca, ele mesmo extraiu de si o pagamento.

Em outro momento, Odin fez um autossacrifício para criar as runas - o alfabeto dos povos germânicos. Ficou amarrado e pendurado de ponta- cabeça na árvore do mundo - Yggdrasil - por nove dias.

Odin cativou-me por demonstrar que a sabedoria custa caro e existe uma dimensão de sacrifício para adquirir o conhecimento. Afinal, ele deu um olho pela sapiência e amarrou seu corpo em uma posição antinatural para obter a escrita.

No processo da aprendizagem, nosso corpo sofre porque é preciso domá-lo. Não existe uma inclinação natural para sentar-se por horas olhando para símbolos. A expressão "cu de ferro" para o estudante dedicado está ligada à persistência, no caso, ficar sentado por muito tempo.

Odin é mais honesto do que certas abordagens pedagógicas que levam a crer que seria possível adquirir conhecimento sem esforço. É certo que existe quem goste de estudar, mas é mais a exceção do que a regra. O homem tem uma curiosidade inata, mas mantê-la em funcionamento ao longo do tempo é difícil.

A escola antiga sabia das resistências ao estudo, por isso impunha disciplina severa. Sem saudade dela, o outro extremo é problemático: a ilusão de que, fazendo a estimulação correta, poderíamos aprender sem esforços.

Os professores não caem nessa cilada, mas muitos pais sim. Querem uma vida sem arestas para seu filho. Querem que seja tratado na escola como em casa: como príncipe. Querem que ensinem seu filho sem cerceá-lo em nada.

Some isso ao uso de telas. Crianças usando aplicativos programados para viciar, que são recompensadas apenas por estarem ali, submetidas a um bombardeio perceptivo, com troca constante de foco e esforço zero para seguir adiante. Como será o futuro cognitivo delas? Se não as ensinarmos a focar, e a pensar com profundidade, quem fará isso?

Gostaria que fosse diferente, mas o conhecimento custa o olho da cara.

MÁRIO CORSO

24 DE ABRIL DE 2024
INFORME ESPECIAL

A notificação que ninguém espera

Em mais um episódio da série "surpresas (nem sempre agradáveis) da vida digital pós-moderna", eis que surge, na tela do celular do cidadão, a seguinte mensagem: "foi incluído um registro de desligamento/rescisão na sua Carteira de Trabalho Digital", assim mesmo, sem cerimônia, sem conversa. Pá-pum.

Relatos do tipo andam pipocando nas redes sociais e foram tema de reportagem, nesta semana, em GZH. O caso é que algumas empresas estão fazendo, primeiro, a "baixa" do (des)empregado no sistema para, só depois, chamar o funcionário para comunicar a demissão e explicar os motivos da decisão, por justa causa ou não.

É possível que isso até já ocorresse antes, a diferença é que, agora, como carregamos a vida no smartphone e estamos cada vez mais conectados, a notificação do aplicativo é instantânea, padronizada e ocorre em tempo real. Isso está dando o que falar, afinal, não parece ser de "bom tom", como diria a atriz Ilana Kaplan, descobrir que levamos um "pé na bunda" assim, depois de um "plim-plim" no telefone, isso se o dito-cujo não estiver no silencioso.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a carteira digital é atualizada automaticamente sempre que as empresas lançam informações no sistema, o que é um avanço (significa mais transparência, em última análise). O problema é a falta de sensibilidade de alguns empregadores e RHs, o que pode, inclusive, acabar provocando uma nova onda de processos trabalhistas no país.

Mas nem tudo é desgraça. Tem, também, um outro lado: o app não notifica apenas dispensas. Já pensou se aparece mensagem "do nada" informando um aumento? Na dúvida, estou aqui conferindo o celular. Vai que?

De volta aos pagos, direto da Suíça

Eles voltaram. Os cinco alunos da rede municipal de Passo Fundo que partiram para uma missão de aprendizado na Suíça (com tudo pago pela prefeitura) chegaram ontem em casa, cheios de histórias para contar.

O grupo (foto) foi escolhido para participar da Missão Cidade Educadora por ter o melhor desempenho entre os 1,4 mil estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental. Nicoly Possel, Lucas da Silva, Bernardo Micheletto, Emily Zanella e Kiara Prestes viveram oito dias que, provavelmente, jamais esquecerão. Lá, visitaram a ONU e a Cruz Vermelha e representaram a cidade na prefeitura de Genebra. Já escrevi sobre isso e repito: essa iniciativa merece todos os aplausos. É um baita estímulo ao estudo.

JULIANA BUBLITZ

terça-feira, 23 de abril de 2024


23 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

Dormindo no sofá

Rafael Borré já poderia ser o artilheiro do Brasileirão, mas ele não marcou nenhum gol. Não somente no campeonato que parte para sua quarta rodada, mas também na Sul-Americana e na Copa do Brasil. Na verdade, não assinalou nenhum gol ainda pelo Inter. Nenhum gol no ano inteiro, sequer no alemão Werder Bremen, em que atuava antes.

Por enquanto, é um goleador espiritual. Errou pênalti, em que isolou na arquibancada, errou frente a frente com goleiro, errou sem goleiro, cabeceou na trave, chutou na trave. O que já desperdiçou de oportunidades está numa escala sobrenatural.

Contra o Athletico Paranaense, tentou um arremate de segurança e deu chance para o zagueiro Thiago Heleno tirar. Realizou o oposto na penalidade em cima do Palmeiras, em que bateu com fúria, de olhos fechados, e tampouco obteve êxito. Nem força, nem jeitinho funcionam.

É de se imaginar primeiramente que o Inter falhou na sua contratação milionária, no valor de 6,2 milhões de euros. Porém, ele demonstra ser diferenciado mesmo. Não é possível pensar de modo limitado e tacanho. Não é um perna de pau. O jovem colombiano de 28 anos tem grife de seleção, com traquejo, técnica, posicionamento. Não fica trombando, não se confunde com os pés por afobação, não exibe tiques nervosos de impostor, não bate de canela ou de qualquer jeito, não se esquece de virar o pescoço e calibrar a testa.

Ele não desaprendeu a jogar. Parece um craque em abstinência, um craque em jejum, um craque numa fase maldita.

Perdeu por um momento a reciprocidade da bola. Atacante tem disso: a bola deixa de gostar dele por um tempo. Ela não corresponde aos chamados, às carícias, aos pedidos desesperados para que se encaminhe às redes. O incensado Pedro, matador do Flamengo, já amargou oito partidas sem gols - assim como no Fluminense aguentou um silêncio de sete partidas.

É como um relacionamento amoroso. A bola é a esposa de Borré e o tem obrigado a dormir no sofá. Não se separou dele, não houve divórcio, apenas está chateada com ele. Por algum motivo, não pintou aquele clima para o perdão e para a reconciliação. Borré vive um bloqueio criativo, um carma de resultados, e precisamos ajudá-lo a merecer a sua cama de volta.

Quanto mais os colegas se compadecem dele e facilitam a sua finalização, mais ele se sente em dívida de gratidão. Quanto mais ele é substituído na secura, mais ele se sente inútil. Um centroavante sem gols é um homem sem alma, sem paz de espírito, sem confiança. Não devemos vaiá-lo, não devemos criticá-lo, por mais que um lance perdido signifique uma dolorosa e injusta derrota.

Quando um jogador de tarimba como ele se encontra em estado de provação, merece apoio para não se ver isolado, desprovido de amigos e de torcida. Deve focar em jogar bem, mais nada. Que ele faça de conta que é um volante. Permanecer em cima do problema apenas gera neurose. A bola odeia quem corre atrás dela.

Não consigo ficar furioso com ele. Uma hora vai acontecer, uma hora vai desencantar, uma hora ele vai extrapolar a conta e encher a sacola. Na quinta-feira, no embate decisivo com o Delfín, uma informação astrológica: acaba o Mercúrio retrógrado. Esperaremos Borré fazendo continência.

CARPINEJAR

23 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

RISCOS SOBRE DUAS RODAS

As estatísticas confirmam o que se nota nas ruas das cidades brasileiras. Há cada vez mais motocicletas no trânsito, uma tendência impulsionada por fatores como o crescimento dos serviços de telentrega ou mesmo de mototáxi e por ser uma alternativa mais barata e ágil de deslocamento nos centros urbanos. O fenômeno, no entanto, também traz preocupações e requer atenção das autoridades. É preciso mais campanhas educativas e mesmo fiscalização para reduzir a quantidade de manobras arriscadas e proibidas e, principalmente, os acidentes, que crescem junto com o aumento da frota.

De acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o número de motos no país subiu de 18 milhões, em 2013, para 32 milhões no ano passado. É um crescimento significativo de 78%. A produção de motocicletas no Brasil chegou em 2023 a 1,57 milhão de unidades, o maior ritmo em uma década, conforme a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O setor prevê nova expansão da atividade em 2024.

Convém compreender que o trabalho sobre duas rodas se tornou o meio de sobrevivência para um grande contingente de brasileiros, tendência acentuada durante a pandemia. A cadeia movimenta a economia, gera emprego e renda. Na indústria, no comércio e na rede de serviços. De outro lado, consumidores querem rapidez nas entregas em meio a um trânsito saturado. Pelos custos, ter um automóvel é inviável para boa parcela da população, e o transporte público perde qualidade. Mas as estatísticas sobre acidentes também são alarmantes.

Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado em 2022, mostrou uma alta de 53% na taxa de mortalidade de motociclistas no país entre 1990 e 2019. Segundo o Ministério da Saúde, em 2011 foram 70,5 mil pessoas hospitalizadas por acidentes envolvendo motos no país. Em 2021, o número saltou para 115,7 mil. Trata-se também de um problema de saúde pública e fonte de grande pressão sobre o SUS. Muitos casos que não são fatais acabam com sequelas duradouras, não raro lesões incapacitantes.

Ainda ontem, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) informou estar ampliando as ações educativas na Capital. No primeiro trimestre, a cidade registrou 19 mortes no trânsito. Dez tiveram o envolvimento de motos. As vítimas fatais foram nove condutores e um pedestre. No ano passado, 45% das pessoas que perderam a vida nas vias de Porto Alegre eram motociclistas. Em março, a EPTC informou ter se reunido com entidades sindicais do segmento e empresas que contratam os serviços para avaliar medidas que possam reduzir a violência no trânsito.

A expansão da frota é inexorável. Deve-se, portanto, pensar em formas de melhor educar e conscientizar para a importância da condução de motocicletas de maneira responsável e do uso de equipamentos de segurança. Antes e depois da obtenção da carteira de habilitação. As contratadoras de serviços de telentrega também podem assumir um importante papel na tarefa de evitar comportamento inadequado dos profissionais. Órgãos fiscalizadores, da mesma forma, têm de apostar em iniciativas educativas, mas não podem abrir mão das ações nas ruas voltadas também a flagrar irregularidades nas habilitações, nas documentações dos veículos e na forma de pilotar. Motocicletas podem ser um meio de ganhar a vida com menor risco de perdê-la.



23 DE ABRIL DE 2024
CONEXÃO BRASÍLIA

Presidente entra em campo

O presidente Lula se envolveu pessoalmente na tarefa de juntar os cacos e tentar reconstruir a relação com Arthur Lira e outras lideranças determinantes para o avanço do governo.

Para assegurar protagonismo e eficiência da reforma tributária, as lideranças do governo tentam emplacar os nomes de sua preferência na relatoria dos projetos de regulamentação. Mas, pelo menos até agora, Lira está disposto a priorizar nomes ligados à oposição.

Além do desgaste com Alexandre Padilha, Lira mede cada passo para manter sua relevância de olho na sucessão. O governo liberou emendas de execução obrigatória na última semana para reduzir as resistências, mas ainda tem dificuldade de mobilização sem o apoio de Lira na Casa.

No Senado, a relação com o Planalto está longe de ser um mar de rosas, mas é melhor. Está ali, contudo, uma das preocupações imediatas do governo: evitar a aprovação da PEC dos Quinquênios. O Executivo também concentra esforços para aprovação de projeto que retoma a cobrança de seguro obrigatório para indenizar vítimas de acidentes de trânsito.

TENSÃO ENTRE PODERES

Lula e Lira se encontram para tentar estancar atrito

Após sequência de desgastes na relação entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou na noite de domingo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no Palácio da Alvorada. O encontro fora da agenda foi confirmado por interlocutores dos dois a veículos de imprensa.

Uma das raízes do atrito foi o rompimento de Lira com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo. No dia 11, Lira chamou Padilha de "incompetente" e "desafeto pessoal".

Ao longo dos últimos dias, Lira fez uma série de movimentos hostis ao governo, em resposta a situações como a demissão de um primo dele do cargo de superintendente do Incra em Alagoas e os sucessivos vetos do Planalto a medidas aprovadas pelo Congresso.

Lula já havia sinalizado disposição de receber Lira na semana passada, mas a expectativa era de que a conversa ocorresse apenas esta semana. Aliados do presidente chegaram a temer que a tensão escalasse a ponto de Lira aceitar um pedido de impeachment contra o presidente.

Menos de 24 horas após a conversa, Lula cobrou publicamente, durante ato de lançamento de um programa de estímulo a crédito, mais dedicação de ministros a negociações com o Congresso (leia na página 8).

Sinais

Em mais sinais de arrefecimento da tensão, Padilha afirmou ontem que os ?problemas com Lira são "episódio superado".

- O diálogo do governo continua, em nenhum momento fechou a porta - alegou.

Já o líder de governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), indicou que o Planalto está disposto a ceder parte do valor de R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares que foi vetado por Lula no orçamento deste ano. Os vetos serão analisados em sessão conjunta do Congresso amanhã.

O senador ainda repetiu que irá apelar para o "bom senso" em relação às "pautas-bomba", que têm forte impacto nas contas públicas. A principal é a PEC dos Quinquênios, que turbina os salários de juízes, procuradores e promotores, e pode custar até cerca de R$ 40 bilhões por ano. A proposta pode ser votada hoje no plenário do Senado.

- Me parece que ela (PEC) não é muito oportuna para um momento que o governo faz mobilização para organizar as contas públicas - disse Randolfe.

MATHEUS SCHUCH


23 DE ABRIL DE 2024
POLÍTICA +

Missão estreitou laços com a Europa

Foram 10 dias intensos. Na viagem à Europa, o governador Eduardo Leite e seus secretários tiveram compromissos em cinco cidades, viajando de avião, ônibus e trem.

A agenda que começou no dia 13 por Verona (Itália) terminou ontem na Feira de Hannover (Alemanha). Leite visitou pela primeira vez a megaexposição industrial que hoje é uma grande mostra de tecnologia avançada.

Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, Leite avaliou a missão à Europa como produtiva, seja pelos negócios alinhavados, seja pelo que viu e que pode servir de inspiração para o Estado.

O governador citou o encontro com a direção da Nordex, que poderá investir na construção de torres para parques eólicos no Rio Grande do Sul. Para isso, é preciso que deslanchem os projetos que estão encaminhados - alguns já receberam licença de instalação, mas os investidores esperam por melhores condições para dar início ao empreendimento.

Em todos os encontros com empresários, as palavras sustentabilidade, transição energética e energia limpa pontuaram as conversas. E em todas as apresentações, Leite garantiu que o Rio Grande do Sul tem todas as condições para receber investimentos nessas áreas.

Na Feira de Hannover, Leite falou em um painel do encontro Brasil-Alemanha. Destacou as reformas feitas no seu governo, as concessões e o ambiente de negócios no RS, sempre apresentado como centro do Mercosul.

Outro objetivo que Leite considera atingido foi o estreitamento de laços institucionais com a Itália e a Alemanha, dois países de onde mais saíram imigrantes que ajudaram a construir a identidade do Estado.

Para dar conta da agenda, o governador escalou secretários para entregarem convites a autoridades dos dois países para participarem das celebrações que marcarão os 200 anos da imigração alemã, neste ano, e os 150 da italiana em 2025.

ROSANE DE OLIVEIRA


23 DE ABRIL DE 2024
NÍLSON SOUZA

Além do cabelo

Não frequento barbearias, por razões óbvias, mas acompanho com atenção e curiosidade a proliferação desses novos centros de beleza masculina. Além de barba, cabelo e bigode, os modernos salões pretos oferecem uma variedade de serviços, como desenho de sobrancelhas, depilação, tratamento químico, estético e até entretenimento. Por conta disso, transformaram-se em pontos de encontro de jovens e adultos que se preocupam com a aparência ou que simplesmente buscam um espaço lúdico para relaxar.

Pois muitas dessas barbearias que surgem do dia para a noite, numa onda multiplicadora que me faz lembrar as antigas locadoras de vídeo, conservam na frente um símbolo da história desses estabelecimentos e da própria profissão de barbeiro. Trata-se do barber pole (poste de barbeiro), um totem colorido em formato de espiral que parece um pirulito. Eu já sabia que aquele objeto simbolizava a atividade, mas desconhecia o seu significado. Fui investigar e fiquei perplexo.

Surgiu na Idade Média, quando os barbeiros não apenas cortavam barbas e cabelos, mas também faziam cirurgias, sangrias e extraiam dentes. Para anunciar seus serviços, os polivalentes profissionais de antanho colocavam um poste na frente de seus estabelecimentos e penduravam nele uma toalha ou pano branco. Até que alguns começaram a pintar faixas coloridas, em vermelho, branco e azul. 

As cores simbolizavam as práticas médicas exercidas no local: o vermelho do sangue resultante das cirurgias e das extrações dentárias, o branco das ataduras utilizadas para estancar o sangue e cobrir os ferimentos e o azul das veias cortadas na sangria, prática comum na época.

Até aí tudo bem - ou tudo mal, pois dá arrepios pensar no que os caras faziam com suas navalhas e boticões. Mas isso não é tudo: descobri que os barbeiros antigos também faziam trepanação. Ops! Não é o que vocês estão pensando. A palavrinha não me era totalmente desconhecida, pois já havia passado por ela em leituras pretéritas e também nas aulas de anatomia quando cursei Educação Física. Ainda assim, recorri ao Doutor Google.

Trepanação, como sabe o pessoal da área médica, é uma técnica cirúrgica que consiste em perfurar um osso do crânio. Deus do céu, os barbeiros da antiguidade não tinham limites! Espero que nenhuma dessas novas barbearias com o pirulito colorido na frente inclua algo parecido nos seus variados cardápios.

NÍLSON SOUZA

segunda-feira, 22 de abril de 2024


22 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

Soletrando o CPF

Meu CPF é 67 71 89 57 0 04. Eu falo por dezenas. Já enfrentei situações nonsense em hotel, aeroporto, repartição pública, cartório, comércio.

Se o atendente repete de centena a centena - 677 189 570 04 -, perguntando se está certo, eu me perco. Não tenho certeza. Entro em parafuso.

Parece um outro número. Dá um bug no meu sistema, uma pane geral. E reitero o meu início: 67 71 89 57 0 04.

O interlocutor busca confirmar. - Então, é 677 189 570 04? Não sei. Talvez, anotando num papel, esclarecêssemos a polêmica. Quase estou a registrar um número que é meu, que conheço desde os 18 anos.

Fica um papo de louco. Um tiroteio de equações. Ditamos sequências como se faltasse algo, e elas se mostram exatamente iguais. O constrangimento nos paralisa. O único jeito é entregar o papel para a certificação direta pela outra parte. Não sairemos do lugar, e a fila atrás de mim apenas aumenta.

Isso acontece porque me acostumei a uma pausa, a uma soletração, a uma maneira de espaçar. Vira uma nova língua matemática se a pronúncia é diferente. Sou vítima de uma aprendizagem primitiva da qual não consigo me desfazer. Um comando de tabuada que não tenho como profanar. Um condicionamento infantil da decoreba que se encontra inscrito em meu DNA.

Há quem leia unitariamente, desembaraçando a existência. Há quem leia de par em par, numa postura básica. Há quem leia em trinca, complicando o contato. Há quem leia em quarteto, o padrão mais complexo, torturando o próximo, na arte sádica de criar dúvida no óbvio.

São algaravias diversas, de formações diversas, de gerações diversas. O choque é tão grande que, se eu arriscar uma singela alteração na minha ordem, a ousadia de um novo arranjo, fugindo da minha tradição, sou capaz de esquecer o documento inteiramente, do mesmo modo que a senha é bloqueada na terceira tentativa errada.

Também é assim com a identidade e com o celular. Sofro ao me deparar com leitores opostos dos códigos numéricos. Evito conversar com esses universos paralelos. Eu memorizei os meus registros de cidadão seguindo uma musiquinha individual no pensamento, e não tem como interferir no bê-á-bá da melodia, senão tudo desanda.

É um dos raros momentos da vida em que me sinto burro, incapaz, atacado de timidez.

Talvez agora, forçosamente pelas circunstâncias, assimile aquela insistência dos professores para que eu não decorasse nada, para que procurasse entender. Por desaforo, começarei a declarar: sessenta e sete bilhões setecentos e dezoito milhões novecentos e cinquenta e sete mil e quatro.

CARPINEJAR

22 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

MAIS CRIANÇAS IMUNIZADAS

Trazem alento os dados que mostram o avanço da cobertura vacinal dos imunizantes ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de até dois anos. No Rio Grande do Sul, os números melhoraram em 16 dos 18 fármacos disponibilizados. Em todo o país, em 15. O levantamento é do Observatório de Saúde no Trabalho do Serviço Social da Indústria (Sesi), a partir de estatísticas do Ministério da Saúde.

Espera-se que tanto o Estado quanto o Brasil como um todo estejam em um movimento consistente de recuperação no nível de proteção das crianças, uma vez que as informações de 2022 já começavam a indicar uma mudança na curva. Desde a segunda metade da década passada, gestores da área, médicos e cientistas vinham demonstrando preocupação com a queda da procura. Mais recentemente, com a eclosão da covid-19, a enxurrada de desinformação sobre vacinas elevou a apreensão.

Há motivos para celebrar a notícia, mas isso não permite acomodação. A cobertura foi ampliada, mas nenhuma das 18 vacinas, no Rio Grande do Sul ou no país, alcançou a meta de chegar a 95% do público-alvo.

O Rio Grande do Sul, por exemplo, alcançou resultados superiores à média nacional em 17 das 18 vacinas oferecidas pelo SUS. Mas apenas quatro chegaram à marca de ao menos 90% de cobertura. Há espaço para melhorar.

Deve-se perseverar, portanto, com as campanhas informativas que sensibilizem pais e responsáveis sobre a importância individual e coletiva de imunizar os pequenos para que cresçam fortes e saudáveis. Trata-se de uma questão de saúde pública, por combater a circulação de patógenos na população como um todo.

É preciso ampliar o alcance de informações mais objetivas, como sobre o calendário de aplicação de cada produto, e desfazer receios responsáveis pela hesitação vacinal. É a melhor forma também para evitar o risco de reaparecimento de doenças consideradas erradicadas do Brasil. O sarampo foi uma das enfermidades que o país voltou a registrar por ter baixado a guarda da vacinação. A poliomielite é uma ameaça.

Conforme a pesquisa do Sesi, os avanços nos índices podem ser atribuídos a um melhor planejamento do Ministério da Saúde, com a criação do Movimento Nacional pela Vacinação, em fevereiro do ano passado, e repasse de verbas para ações de Estados e municípios. Bons resultados só podem ser obtidos se existir uma coordenação competente e compromissada do governo federal para organizar as campanhas, com a colaboração estreita dos Executivos estaduais e prefeituras, na ponta.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é considerado uma referência internacional. Também não há dúvida de que a pasta da Saúde, sob o comando da ministra Nísia Trindade, soma pontos no quesito de mostrar maior comprometimento para divulgar os benefícios das vacinas utilizadas pelo SUS, eficientes e seguras. 

Isso não significa, entretanto, estar imune a críticas. Não há como o Ministério se eximir, por exemplo, da demora na aquisição de novos lotes de imunizantes contra a covid-19 para a campanha de imunização deste ano para o público em geral, já atrasada. Há escassez de vacinas em postos de saúde. A alegação de que uma disputa entre fabricantes foi a causa não é suficiente. Neste caso, faltou o planejamento adequado.



22 DE ABRIL DE 2024
PRIMEIRO TRIMESTRE

Estado na contramão do país

O Rio Grande do Sul mostra desempenho diferente do observado no país. O Brasil registrou US$ 78,272 bilhões em exportações no primeiro trimestre deste ano, alta de 3,18% ante igual período de 2023.

Para os próximos meses, especialistas apontam que o cenário depende de questões internas e globais. Camila Flores Orth, da Unisinos, afirma que é difícil estimar o comportamento das exportações do RS diante de fatores que caminham em direções opostas. O dólar em alta pode ajudar momentaneamente os exportadores na rentabilidade. Mas incertezas sobre tensões internacionais seguram expectativas mais otimistas, segundo a especialista.

O professor Hélio Henkin, da UFRGS, afirma que a recuperação mais consistente das exportações depende de diversos fatores, como juro menor, reativação da economia de países importantes no comércio internacional e menos conflitos:

- Enquanto a China não recuperar crescimento e essa tensão geopolítica não atenuar, acho muito difícil que se retome um ritmo de crescimento do comércio mundial. A tendência é de dificuldade para uma retomada mais importante.

Giovani Baggio, economista- chefe da Fiergs, avalia que conflitos entre nações e falta de tração na economia de parceiros importantes, como Argentina e China, afastam um viés de inversão no cenário das exportações do Estado. Além disso, há os problemas domésticos, como mudanças na meta fiscal, que aumentam a incerteza. No entanto, não significa tombo acentuado nas saídas de produtos gaúchos, segundo o analista:

- Não vamos ter aprofundamento dessa queda do início do ano. A tendência é termos números melhores ao longo do ano, mas nada surpreendentemente positivo.

Com menor demanda de China, EUA e Argentina, vendas externas caíram 17,21% no período de janeiro a março de 2024

As exportações do Rio Grande do Sul apresentaram queda na arrancada de 2024. O total de vendas para outros países caiu 17,21% no Estado no primeiro trimestre ante igual período do ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. Além disso, teve o primeiro tombo nos embarques para o Exterior nos últimos anos nesse recorte de tempo.

Especialistas apontam que a retração ocorre na esteira da desaceleração da economia da China, da crise na Argentina e da menor demanda dos Estados Unidos, parceiro comercial que vinha se mostrando importante em um passado recente.

Para os próximos meses, projetam baixo otimismo para retomada diante de ruídos no âmbito internacional e incertezas fiscais no país.

No acumulado de janeiro a março deste ano, as exportações do Rio Grande do Sul somaram US$ 4,207 bilhões - US$ 875 milhões a menos do que o montante observado no mesmo período de 2023. Essa é a primeira queda nas vendas externas do Estado em um primeiro trimestre desde 2020.

Competitividade

A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos, Camila Flores Orth, afirma que a crise na Argentina é um dos elementos que ajudam a explicar o recuo nas exportações do Estado neste início de ano. O país vizinho sofre com a mudança de governo e espera dos efeitos das primeiras medidas econômicas da nova gestão.

- Argentina é um dos nossos grandes parceiros, principalmente em produtos industriais, e a gente teve uma queda de 20% no período, que é um recuo significativo - explica Camila.

No comércio com a Argentina, as principais quedas ocorrem no âmbito de produtos ligados à cadeia automotiva, como peças e carrocerias, e de máquinas agrícolas.

Além da crise na Argentina e menor apetite dos Estados Unidos pelos produtos gaúchos, a professora afirma que existem problemas de competitividade. Com a China acelerando as suas exportações neste ano, o Estado perde participação em alguns mercados, segundo a especialista:

- Neste 2024, eles estão com essa política agressiva de retorno ao comércio Exterior. Com isso, a gente acabou perdendo competitividade em algumas inserções em mercados tradicionais nossos.

Concentração

O professor Hélio Henkin, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, afirma que o Estado sofre com a falta de avanço na diversificação dos produtos com potencial de exportação. Isso acaba afetando as vendas para outros países em períodos de menor demanda, aponta:

- Concentramos nossa produção na área agroindustrial. Não mantivemos ou ampliamos as exportações nas áreas que são menos vulneráveis às oscilações da demanda asiática.

Olhando pelos segmentos com maior queda nas exportações, soja, grupo de carnes, celulose e máquinas e equipamentos se destacam no primeiro trimestre.

Camila Flores Orth, professora da Unisinos, destaca que 85% das exportações gaúchas no primeiro trimestre ficaram dentro da indústria. Como o setor apresenta perda de ritmo em vendas externas e produção, acaba refletindo no total das vendas externas do Estado.

Olhando apenas a indústria, as exportações do setor apresentaram queda de 12,5% no primeiro trimestre, com US$ 3,6 bilhões em faturamento, segundo recorte feito pela Federação das Indústrias do Estado. O economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, afirma que esse dado preocupa:

- Isso liga um sinal de alerta, porque algo que já não vinha bem ficou ainda mais difícil neste início de ano.

ANDERSON AIRES

22 DE ABRIL DE 2024
POLÍTICA +

Leite encerra missão oficial à Europa na Feira de Hannover

Depois de nove dias de viagem, o governador Eduardo Leite retorna ao Brasil hoje, após participar da tradicional Feira de Hannover, que ele ainda não conhecia. Leite repetirá na mais tradicional feira industrial do planeta o discurso que fez nos diferentes encontros e reuniões com empresários em Verona, Roma e Hamburgo: que o Rio Grande do Sul está conectado à agenda de descarbonização e pronto para receber investimentos na produção de energia limpa.

Leite falará no início da tarde de hoje no Fórum Brasil-Alemanha e apresentará o RS como um Estado com alto índice de desenvolvimento humano, universidades públicas e privadas qualificadas e economia diversificada.

Dirá que, embora seja conhecido pela produção de grãos, o Estado tem vocação para a indústria de alta tecnologia e quer retomar a ideia de se transformar em um hub da saúde, seja na produção de medicamentos, seja na fabricação de equipamentos hospitalares.

- Queremos retomar as conversas com o Medical Valley, da Alemanha, iniciadas no governo de José Ivo Sartori, e que acabaram prejudicadas pela pandemia. Temos de apostar em um ecossistema, envolvendo os centros tecnológicos das nossas universidades - disse o chefe da Casa Civil, Artur Lemos.

O secretário lembrou que o Rio Grande do Sul, por ter o maior percentual de idosos do país, é também um mercado promissor para as empresas da área da saúde. Ao mesmo tempo, a ideia é tornar o Estado atraente para os jovens que hoje migram para outras regiões e atrair imigrantes que queiram, como fizeram os alemães há 200 anos e os italianos há 150, desbravar o Estado, agora usando a alta tecnologia como ferramenta.

Na abertura da Feira de Hannover de 2024, Leite sentou-se entre os presidentes da Fiergs, Gilberto Petry, e da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), Flávio Roscoe.

Chamou sua atenção o fato de todos os discursos terem tratado de temas que estão no radar de empresas, governos e sociedade: as mudanças climáticas e a necessidade de acelerar a transição energética, a guerra e suas consequências nefastas para a economia e a necessidade de diversificação de mercados, para evitar a dependência excessiva de um ou outro país.

ROSANE DE OLIVEIRA

22 DE ABRIL DE 2024
CLÁUDIA LAITANO

O Espigão

Em Balneário Camboriú, como se sabe, ninguém tapa o sol com a peneira. Na superlativa "Dubai brasileira", paisagem abençoada com oito dos 10 edifícios residenciais mais altos do país, parte da orla repousa sob a refrescante sombra dos espigões plantados à beira-mar nas últimas décadas - para conforto dos banhistas de pele sensível e êxtase estético de quem só consegue relaxar quando está cercado de concreto.

O mais novo empreendimento do paraíso vertical catarinense chama-se Triumph Tower. Com seus 509 metros de altura e 154 andares, o homônimo da popular marca de sutiãs pretende conquistar o título de prédio residencial mais alto do mundo, coroando assim a insaciável ambição nefelibata do mercado imobiliário local. O projeto da FG Empreendimentos, em parceria com a Havan, do empresário Luciano Hang, deve ser lançado no segundo semestre deste ano. O céu pode esperar, os investidores não.

No quesito megalomania, a Triumph Tower não parece ter buscado inspiração apenas na Trump Tower ou nos arranha-céus de China e Dubai, mas também no brasileiríssimo Fontana Sky, portento da engenharia nacional lançado há exatos 50 anos no Rio de Janeiro. 

Conjugando pela primeira vez os conceitos de moradia, entretenimento e tecnologia, o Fontana Sky foi o primeiro edifício do país a ser totalmente controlado por computadores, dispondo de rampas eletrônicas que levavam os carros até a porta dos apartamentos (para ninguém ter que caminhar) e de cozinhas cibernéticas que preparavam todas as refeições (para ninguém ter que cozinhar).

O engenheiro dessa obra magnífica chama-se Dias Gomes, e o esforço do empresário Lauro Fontana (Milton Moraes) para erguer seu Fontana Sky no lugar de um velho casarão de Botafogo é o pano de fundo de O Espigão (1974), disponível no Globoplay desde o início de abril - para deleite dos noveleiros. 

Com diálogos impagáveis e elenco de primeira, a novela aborda com bom humor temas sérios que despontavam no debate público naquele momento, como ecologia, patrimônio histórico, planejamento urbano, novas tecnologias, inseminação artificial e até a disfunção erétil. Além de registro saboroso dos hábitos e da linguagem da época, O Espigão nos lembra como o futuro era imaginado no passado - e como alguns dos problemas que já eram detectados há 50 anos continuam sem solução.

A propósito: na semana passada, enquanto eu me divertia assistindo a O Espigão, o Instituto do Patrimônio Histórico do Estado (Iphae) negou a autorização para a construção do empreendimento de 45 andares na Duque de Caxias, ao lado do Museu Julio de Castilhos. Nem tudo está perdido, afinal.

CLÁUDIA LAITANO

sábado, 20 de abril de 2024

Heintje - Das Lied der Sehnsucht (youtube.com)

 

ZAKA' PA NE - MLEJKU (youtube.com)

   
 
Mamica je kakor zarja – note za klavir – besedilo pesmi – karaoke (youtube.com)