Jaime
Cimenti
Políticos só têm medo do povo nas
ruas
O
quadro político e econômico brasileiro atual e a situação conturbada em
Brasília, às vezes, me fazem lembrar um velho ditado africano: quando os
elefantes brigam, quem sai perdendo é a grama. Acho que o povo, a grama, devem
se manifestar, antes que seja tarde. Doutor Ulysses Guimarães, um dos pais da
pátria, o Senhor Diretas, disse que político só tem medo do povo na rua.É
verdade.
E
ele dizia, também, que quem achava ruim o nível do Congresso Nacional do seu
tempo - anos 1970 e 1980 -, não perdia por esperar o que veria nos anos 1990 e
adiante. Sábio, profético, infelizmente, um dos homens que nos levou à
democracia e nos entregou a Constituição cidadã de 1988.
Semanas
atrás Pedro Simon, que era amicíssimo e ligadíssimo politicamente a Ulysses, em
entrevista à Veja, disse que as pessoas devem ir para a rua, se manifestar. A
própria presidente e os políticos acham legítimas, democráticas e produtivas as
manifestações e, ao fim e ao cabo, todos sairão ganhando com o diálogo em nível
nacional. É por aí. A sociedade brasileira precisa dar seu recado sobre temas
econômicos, políticos, gastos públicos e precisamos, em nível Brasil, ter uma
pauta, por mínima que seja, de união nacional em torno de interesses
essenciais. Se não for assim, será pior para todo mundo. Isso ninguém quer.
É
óbvio que todos nós, brasileiros, ou quase todos, queremos manifestações
ordeiras, pacíficas, respeitosas, republicanas, democráticas e legais. Nosso
conjunto de leis, aliás, incluindo uma constituição detalhada até demais, é
moderno.
De
um modo geral, se bem utilizado e aplicado pelos três poderes e pelo Ministério
Público, pode nos conduzir, com serenidade, ao futuro que queremos. Acho que a
maioria absoluta da população sensata não pretende violência, rupturas ou
aventuras. Já assistimos vários desses filmes. Deu no que deu, né?
A
questão do relacionamento de empreiteiras com o poder é algo muito, muito
antigo, que vem lá dos tempos das pirâmides do Egito. Um dia, a coisa se
resolve. Contra Tutancâmon e Ramsés, acho que as ações devem estar prescritas.
A
urgência de uma reforma política de verdade, a implantação de um novo pacto
federativo, com fortalecimento dos governos estaduais e municipais e atenção ao
cidadão, novas atitudes dos agentes públicos, especialmente parlamentares, em
relação aos recursos e à coisa pública e diálogo efetivo entre a população e os
governos é o que está na voz audível das ruas.
Voz
que há pouco anos era meio rouca. Escrevo na terça-feira, 10 de março, não sei
exatamente o que acontecerá no domingo e depois. Ninguém realmente sabe. Acho
que todos gostariam de ter um pouco mais de esperança e clareza. Acho que todos
esperamos luzes. Vamos lá, conversar, buscar o melhor para o Brasil.
a
propósito...
Num
momento complicado destes, mais do que nunca é preciso pensar em delicadeza. Na
mínima delicadeza possível. Sei que a palavra e gestos delicados estão em
desuso, mas quem sabe o Brasil, tipo um velho casal, lembra os versos do Chico
Buarque e tenta se encontrar depois de se perder. Poesia numa hora dessas? É o
jeito. Afinal, que país é esse? Acho que é uma terra para a gente se unir,
pensar no todo, amar e até entendê-la. Somos muitos e existem muitos Brasis,
mas sem união e diálogo podemos virar nenhum e nada. Deus nos livre. Ele é
brasileiro, vais nos livrar.
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