09
de março de 2015 | N° 18096
DAVID
COIMBRA
Veja estava certa
Ao
fim e ao cabo, a revista Veja estava certa: foi dito mesmo, pelo doleiro
Alberto Youssef, que Dilma e Lula sabiam da roubalheira que ocorria na
Petrobras.
Desde
a eleição, estava curioso para saber se esse depoimento fora realmente dado à Justiça.
Foi.
Veja,
portanto, não mentiu. Mas dizer que fez o certo é outra conversa. A matéria foi
publicada com espalhafato, em edição especial, um dia antes do segundo turno. É
óbvio que a revista pretendia influenciar no resultado da eleição. Jornalisticamente,
condenável. Juridicamente, suponho que também.
Mas
duvido que a matéria tenha mudado um voto sequer. Em primeiro lugar, porque a
radicalização transformou a política brasileira em algo parecido com torcida de
futebol, só que pior. O PT virou um clube, com seus fanáticos torcedores. É defendido
incondicionalmente pelos petistas e atacado incondicionalmente pelos
antipetistas – mais uma denúncia de corrupção não faria diferença para qualquer
lado. Em segundo lugar, porque todos sabem que a Veja faz oposição encanzinada
ao PT. A fúria do opositor enfraquece-lhe o ataque. Se você grita sempre,
nenhum grito a mais chamará atenção. Se você é sempre silencioso, basta
levantar a voz para gerar medo.
Mesmo
assim, a Veja, desbragadamente anti-PT e figadalmente oposição, é muito melhor
para o Brasil do que a imprensa governista. Muitíssimo melhor. O governo tem o
poder, sobretudo um governo que se elege pela quarta vez. Mais de 12 anos é tempo
suficiente para estabelecer alianças, dependências e vícios. Os poderosos, os donos
do dinheiro, dos cargos e da influência estão no PT, não na oposição. Antes um
veículo que fiscaliza o governo do que um que bajula o governo.
A
polarização, da qual Veja é destaque, parece ruim para o governo. Não é. É ótima.
É a polarização que sustenta o governo. É preciso enfatizar a existência do
antipetismo raivoso, porque é para lá que você atira as críticas.
“Você
acha que esse governo é ruim? Claro: você é antipetista, é tucano. Olhe para os
tucanos. É isso que você quer para o Brasil? Lembra dos anos 90? O PT pode
fazer um governo pífio, o PT pode fazer um governo em que a corrupção
desabrocha como girassóis ao meio-dia, pode fazer um governo em que a educação
fundamental, a saúde e a segurança são cada vez piores, a presidente da República
pode até mentir em campanha, mas 14 milhões de famílias antes miseráveis agora
ganham R$ 70 por mês. É o governo dos pobres. Você é contra os pobres?”
Ninguém
quer ser contra os pobres. Poucos querem ser tucanos. Então, se as opções são
essas, o que fazer? Deixa assim mesmo, que nada nunca vai mudar.
A
desesperança, o pessimismo e o antipetismo são bons para esse governo. Mas, se
olharmos calmamente, vamos ver que esse não é um governo do Mal. Não. É,
apenas, um mau governo.
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