segunda-feira, 30 de março de 2015


30 de março de 2015 | N° 18117
MOISES MENDES

Quem torce contra o Brasil?

Gostei de ver a frase de Renato Janine Ribeiro de sábado a domingo na capa de ZH online. A frase do novo ministro da Educação, reproduzida de um texto da sua página no Facebook, permaneceu ali como um reforço singelo ao bom senso: Incrível como há gente torcendo pelo Brasil.

E como há gente torcendo contra. Tem gente torcendo, há muito tempo, contra o pré-sal, que não valeria muita coisa mesmo e que vale quase nada agora que o preço do petróleo caiu. E a torcida contra aumentou quando o governo decidiu que o dinheiro dos royalties do pré-sal irá para a educação.

Torcem contra o Enem, o Prouni, o Bolsa Família. Tem gente que se diz liberal e torce até contra o ministro Joaquim Levy. O ajuste fiscal seria inevitável, mas não nessas circunstâncias. Numa hora como esta, o melhor é que nada dê certo.

Alguns esgoelam-se torcendo contra o pleno emprego, porque trabalho demais causaria inflação. Torcem contra o consumo, porque o povo não pode sair comprando como a classe média tradicional. Torceram contra o preço baixo da gasolina e pediram aumento para a gasolina. Agora, se queixam do preço da gasolina. Torceram até contra o juro baixo.

Torcem com bandeiras pela seca, para que a luz fique mais cara. Esbravejam contra a reforma política, porque beneficiaria as esquerdas, ora vejam. Torceram e torcem contra a Seleção, para que o futebol ajude na desestabilização política.

E vão torcer muito contra Janine. Porque Janine fará escolhas que desagradarão a parte dos hipnotizados pela extrema direita, os amplificadores da retórica e dos atos – a definição é dele – “de um ódio cabal aos direitos humanos”. No bonde dos intolerantes, onde já estavam homofóbicos, xenófobos e racistas, agora se acomodam, na janelinha, os golpistas.

Janine já disse isso sobre os discurseiros da intervenção militar: “Estamos tendo no Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que deveriam ser tipificadas como criminosas”.


O ministro assume num momento em que nunca foi tão difícil ser de esquerda no Brasil e nunca foi tão fácil ser da extrema direita. Eu torço pelo Brasil e torço muito por ele.

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