31
de março de 2015 | N° 18118
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
O TEATRO DO
OPRIMIDO
Dezesseis
de março era o dia do aniversário de Augusto Boal, falecido em 2009. Por essa
razão a data foi escolhida para se comemorar o Dia Mundial do Teatro do
Oprimido, movimento criado por ele nas décadas de 1960 e 70 e que, de alguma
forma, mudou a cara do teatro no mundo inteiro.
Boal
acreditava no teatro como um instrumento de transformações sociais. Uma
manifestação política, libertária, renovadora. A meta era transformar o
espectador num ser atuante, protagônico, um “espect-ator”, como bem
humoradamente intitulou o público. Dizia ele: “Não só casamentos e funerais são
espetáculos, mas também os rituais cotidianos, o café da manhã, os tímidos
namoros ou os grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião
diplomática – tudo é teatro. (...)
Uma
das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da
vida em que os atores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a
plateia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo
que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver. O que nos é familiar
torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida
cotidiana”.
A
poética do Teatro do Oprimido está organizada em setores específicos,
atividades lúdicas que podem servir ao ator e ao público indiferentemente.
Alguns desses setores são: o Teatro-Jornal, técnica que propõe a encenação de
notícias de jornais, principalmente o que está subentendido nas entrelinhas; o
Teatro-Fórum, técnica em que atores representam a cena até a identificação do
problema, transferindo para o público a responsabilidade da solução; e o Teatro
Invisível, em que cenas são representadas em qualquer ambiente sem que o
público saiba que se trata de uma representação.
Uma
estética como essa resultou na repressão, na censura e no autoritarismo
implantados pelas ditaduras militares na América Latina. Passado o período
funesto, ela ainda sobrevive, sugerindo alternativas criativas de relação entre
a ficção e a realidade. Valeu, Boal!
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