23
de março de 2015 | N° 18110
ARTIGOS
- BRUNO IRION COLETTO*
O QUE NÃO ESTAMOS FALANDO SOBRE A
CORRUPÇÃO
Corrupção
tem sido o tema do noticiário político-policial dos últimos meses. Não que seja
novidade. Desta vez, contudo, as quantias que têm frequentado as manchetes são
estarrecedoras e permeiam todo o sistema. O problema é muito mais profundo do
que a falta de ética de alguns indivíduos: é momento de pensar num desenho
político-institucional que evite (ou pelo menos reduza) os danos à nação e as
oportunidades para que a corrupção aconteça.
Mais
do que servir aos luxos dos falíveis humanos ocupantes de posições destacadas
(seja no poder público, seja na atividade privada que se relaciona com ele), em
verdade a corrupção se presta a um projeto de poder: financiar futuras e
caríssimas eleições e manter – pelo bolso, e não pela convicção – a base
aliada.
Muito
se tem falado do financiamento público exclusivo, da proibição de doações por
empresas que mantêm contratos com o governo, e até se tem levantado algumas das
causas da necessidade pelo dinheiro sujo. Pouco se reflete, contudo, sobre como
desenhar um sistema que feche as portas que a corrupção tem encontrado
escancaradas.
Uma
das portas criadas pelo próprio sistema é o exorbitante custo das campanhas.
Por que deputados precisam fazer campanha em todo o Estado? Não seria mais
racional, barato e até mais legítimo dividir os Estados por distritos, evitando
que o poder econômico (normalmente exercido por aqueles que já estão no cargo)
domine as eleições proporcionais?
Tal
medida não reduziria os custos para candidatos e por consequência para o país?
A necessidade de recursos para uma cara campanha é uma das causas da corrupção,
seja de qual partido for. Necessário se faz pensarmos em campanhas mais baratas
– não apenas porque diminuiriam a tentação, mas também porque o pleito seria
mais justo.
Não
basta clamar por ética. O problema não é apenas moral, é institucional: um
arranjo político que diminua os custos das campanhas, fazendo com que os
representantes estejam mais próximos dos seus representados, será um potente
fator de combate à corrupção. Numa democracia, o povo (que agora está nas ruas)
é o primeiro e principal fiscal. Nosso sistema deveria fazer os políticos
estarem perto, e não longe do povo.
*Advogado,
mestre em Direito pela UFRGS
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