terça-feira, 30 de abril de 2013


Clarice Falcão - Coração Radiante

Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida – Trailer

Clarice Falcão - A Gente Voltou

Clarice Falcão - De Todos Os Loucos do Mundo - EP COMPLETO

Vaidade x Humor

Para Clarice, "o mundo é machista". Principalmente o do humor. “Recebi muito comentário no YouTube dizendo que eu era muito feia. Eles estavam me criticando, pois não consegui ser bem-sucedida no meu trabalho de ser bonita (risos). Não tenho a mínima obrigação disso. Então, que pena para eles. É um pensamento que a mulher tem obrigação de ser atraente, legal, delicada. Isso me incomoda. Temos muitas mulheres engraçadas por aí, apesar dessa pressão.”

Clarice acha que a vaidade feminina e o humor são vias opostas. “Para você se colocar numa posição ridícula, tem de abdicar da sua vaidade. Nos vídeos do Porta dos Fundos, evito me olhar no espelho ou ficar preocupada se o cabelo está bom. Gosto de me arrumar, sou vaidosa, mas não neste momento. Quando estou fazendo comédia penso justamente o contrário. Não tenho medo de ser ridícula ou me expor . E acho que o humor é uma forma de charme”, afirma.

Oitavo Andar (Uma Canção Sobre Amor)- voz e violão

Clarice Falcão

http://youtu.be/C2mJKgjXhww

O homem que só tinha certezas Adriana Falcão


Nem o homem feliz de Maiakovsky nem o homem liberto de Paulo Mendes Campos, resolvi imaginar outra improbabilidade. Digamos que aparecesse agora, justo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, mais exatamente, bem aí na sua frente, um homem que só tivesse certezas.

O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito "Consultor de tudo" e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.

Adriana Falcão nasceu no Rio de Janeiro. Seu primeiro livro, voltado para o público infantil, "Mania de Explicação", teve duas indicações para o Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio Ofélia Fontes — "O Melhor para a Criança"/2001, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 2002, publicou "Luna Clara & Apolo Onze", seu primeiro romance juvenil. Seu romance "A Máquina" foi levado aos palcos por João Falcão. Na televisão, Adriana colaborou em vários episódios de "A Comédia da Vida Privada", "Brasil Legal" e "A grande família", todos da Rede Globo. Adaptou, com Guel Arraes, "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, para a TV, posteriormente levado ao cinema.

Outros livros da escritora:“Pequeno dicionário de palavras ao vento” (2003); “A tampa do céu” (2005)-ilustrações de Ivan Zigg e, em conjunto com outros escritores,”Histórias dos tempos de escola: Memória e aprendizado” (2002); “Contos de estimação” (2003); “A comédia dos anjos” (2004); “PS Beijei” (2004); “Contos de escola” (2005); “O Zodíaco – Doze signos, doze histórias” (2005); “Tarja preta” (2005); "Sonho de uma noite de verão" (2007) e "Sete histórias para contar" (2008).

O texto acima foi extraído do livro "O doido da garrafa", Editora Planeta do Brasil – São Paulo, 2003, pág. 75.

Clarice Falcão: "O mundo do humor é machista"

http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2013-04-29/clarice-falcao-o-mundo-do-humor-machista.html



ArnaldoJabor
30 de abril de 2013 | 2h 08

A volta dos coreanos brasileiros

Meu primeiro grande amor começou num "aparelho" do Partido Comunista Brasileiro em 1963, meses antes do golpe militar. No apartamento, havia um sofá-cama com a paina aparecendo por um buraco da mola, entre manchas indistintas - marcas de amor ou de revolução?

Na parede, havia um cartaz dos girassóis de Van Gogh e, numa tábua sobre tijolos, uns livros da Academia de Ciências da URSS. Um companheiro me emprestara a chave com olhar preocupado, sabendo que era para o amor e não para a política.

Pouquíssimas moças "davam", na época anterior à pílula; transar para elas era um ato de coragem política. Nossas cantadas tinham uma base ideológica; famintos de amor, usávamos Marx para convencer as meninas.

"Não! Aí eu não entro!", gemiam as namoradas, empacando na porta do apartamento. Nós, sordidamente, usávamos argumentos assim: "Mas, meu bem... deixa de ser 'alienada'... A sexualidade é um ato de liberdade contra a direita."

Éramos assim nos anos 60. A guerra fria, o "terceiro mundo", Cuba, China, tudo nos dava a sensação de que a "revolução" estava próxima. "Revolução" era uma varinha de condão, uma mudança radical em tudo, desde nossos "pintinhos" até as relações de produção.

Havia os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Nas minhas cervejarias filosóficas do passado, o radical (que nunca havia feito nada pelo povo) enchia a cara e gritava: "Viva a Luta Armada! E, garçom, me traz um chopinho!".

Claro que havia também os grandes homens intrépidos, os guerreiros que morreram por seus ideais, com bala na agulha e coragem heroica, arrasados por militares treinados pelos americanos; foi um massacre.

Mas, na verdade, nunca houve bases concretas para o socialismo utópico que praticávamos, mesmo morrendo. Nós odiávamos os 'meios' e só amávamos os 'fins'. Os fracassos nos emprestavam uma aura de martírio que nos enobrecia.

Era uma vingança contra traumas familiares, humilhações, pequenos fracassos. Era também uma mão na roda para a justificar nossa ignorância - não, pois não precisávamos estudar nada profundamente, por sermos a 'favor' do bem e da justiça. A desgraça dos miseráveis nos doía como um problema existencial nosso.

A democracia nos repugnava, com suas fragilidades, sua lentidão, sua obra sempre aberta. A parte chata da revolução deixávamos para a liderança ao presidente da República, na melhor tradição de dependência ao Estado. Jango, coitado, teria de orquestrar as forças delirantes, feitas de restos de um getulismo tardio, oportunismo de pelegos e sonhos generosos da juventude imatura. Valeu-nos 20 anos de bode preto.

Os radicais rotulavam as pessoas como: sectários, aventureiros, obreiristas, desviacionistas de direita, revisionistas, hesitantes, liberais. Ninguém mencionava outras categorias psicológicas: paranoicos, histéricos, babacas, caretas e até filhos da p...
Qualquer argumento mais sofisticado, qualquer sombra de complexidade era traição. O bolchevique espetava o dedo na cara do intelectual e fuzilava: "O companheiro está sendo muito liberal, pequeno-burguês revisionista". E o 'pequeno-burguês' revisionista ia vomitar atrás da porta.

Um 'camarada' me disse: "O marxismo supera a morte!". "Como?" -, disse eu, espantado. "Claro" -, me responde ele iluminado de certeza - "uma vez dissolvido no social, o mito do indivíduo se desfaz e a ilusão de que ele existe como pessoa. Ele só existe como espécie. E não morre. O marxista não morre!". E eu, fascinado, sonhei com a vida eterna...

Por que escrevo essas coisas antigas, estimado leitor? Porque li o espantoso manifesto do PC do B, em apoio aos psicóticos crimes contra a humanidade e seu povo que os Kims vêm cometendo. Defendem um dos regimes mais brutais da história.

Vejam o PC do B:

Sr. Embaixador da República da Coreia do Norte:

A campanha de uma guerra nuclear desenvolvida pelos Estados Unidos contra a República Democrática Popular da Coreia passou dos limites e chegou à perigosa fase de combate real. Apesar de repetidos avisos da RDP da Coreia, os Estados Unidos têm enviado para a Coreia do Sul os bombardeiros nucleares estratégicos B-52. Os exercícios com esses bombardeiros contra a RDP da Coreia são ações que servem para desafiar e provocar uma reação nunca antes vista e torna a situação intolerável.

As atuais situações criadas na península coreana e as maquinações de guerra nuclear dos EUA e seu fantoche aliado, a Coreia do Sul, além de seus parceiros que ameaçam a paz no mundo e na região, nos levam a afirmar:

1. Nosso total, irrestrito e absoluto apoio e solidariedade à luta do povo coreano para defender a soberania e a dignidade nacional do país;

2. Lutaremos para que o mundo se mobilize para que os Estados Unidos e a Coreia do Sul cessem imediatamente os exercícios de guerra nuclear contra a RDP da Coreia;

3. Incentivaremos a humanidade e os povos progressistas de todo o mundo, e que se opõem a guerra, que se manifestem com o objetivo de manter a Paz contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA.

Brasília, 2 de abril de 2013.

Não é impressionante o atraso mental do País? Só o hospício.

Milhares de inocentes estão sendo levados a concluir que voltou a hora do 'comunismo', mesmo depois dos milhões de assassinados e do fracasso político e econômico. Milhares de jovens desinformados enchem as faculdades de 'coreanos' em defesa da morte, da repressão e da fome. E saibam que o PC do B controla o esporte e a cultura nacionais.

Quase todos os que gritam slogans como patéticos escravos coreanos não haviam nascido nos tempos de Goulart. Muita gente sem idade e sem memória ignora que o caminho é o progressivo aperfeiçoamento do que chamávamos de democracia 'burguesa', minando aos poucos, com reformas, a nossa doença fatal: tradição oligárquica e patrimonialista.

Há 40 anos, eu não sabia nada disso. Tanto que para levar meu primeiro amor ao apartamento, lembro de lhe ter dito, entre beijos: "Nosso amor também é uma forma de luta contra o imperialismo norte-americano". E ela foi.



30 de abril de 2013 | N° 17418
FABRÍCIO CARPINEJAR

Sou um aspirador de pó

Se quiser me ofender, terá trabalho. Não facilito a vida do agressor. Ele vai suar frio, passar sufoco, esclarecer questões, explicar posicionamentos.

Não sairei de cena chorando logo que ganhar um desaforo. Não aceitarei o figurino de vítima. Não me farei de coitadinho. Não me trancarei no quarto. Não evitarei o convívio.

Sou muito escolado em bullying para acolher rapidamente desaforo. Só eu mesmo posso me ofender e me perdoar – mais ninguém.

É o que todos deveriam pensar antes de sofrer.

O debochado não tem repertório. Ele guarda uma ou duas tiradas engraçadas que podem ser rebatidas com a autocrítica e inteligência.

Não se veja derrotado no início do jogo, não se enxergue constrangido por antecedência.

No Ensino Fundamental, na abertura das aulas, Marquinhos, líder da bagunça e das baixarias, buscou me humilhar na frente dos colegas. Quando a professora abandonou a sala para repor o giz, aproveitou a ausência e se aproximou de minha mesa.

Ele me analisou, analisou e despejou o veredito: – Você tem cara de “aspirador de pó”. O novo apelido vinha do nariz avantajado. Era uma versão doméstica para tamanduá.

Pronto: a turma inteira gargalhava alto de mim. A investida sugeria uma desmoralização do nome e sobrenome dali por diante.

Mas engoli a vergonha como uma aspirina a seco. Respirei fundo. E, de modo inédito, diferente de todas as vezes que me tolhi e me escondi, que fechei meu rosto nos braços, decidi responder. Concordei com a observação.

– Sim, eu sou um aspirador de pó. Ele não atinou o que desejava concordando, e completei: – Sou mesmo um aspirador de pó, que bom que você descobriu. Vem trocar meu saco!

Ele se calou. A turma agora reagiu a meu favor, dobrou o volume das risadas. Foi uma histeria coletiva, cadernos voando, pés batendo no chão, palmas estalando.

É certo que ele não sabia o que retrucar. Comeu a língua. Patinou na palavra. Demorou a perceber o estrago. Ficou branco, pálido, lesma.

Não contava com uma reação bem-humorada. Uma resposta espirituosa. Quem agride não programa a tréplica. Planejava criar uma tristeza em mim e abandonar a vítima no chão.

Mas não deixaria por menos. Nunca mais.

Marquinhos desapareceu ao longo do tempo, como poeira ranzinza da classe. Não esperava que o aspirador de pó estivesse ligado.



30 de abril de 2013 | N° 17418
FIM DAS OPERAÇÕES

MSN Messenger tem hoje seu último dia

À meia-noite de hoje, o MSN Messenger, programa de troca de mensagens online da Microsoft, encerra de vez suas atividades. Usuários devem obrigatoriamente transferir as contas para o Skype, software comprado pela companhia americana em 2011.

Depois de muitas prorrogações, a Microsoft concretiza o fim do programa, anunciado desde o ano passado e, por manifestações negativas dos usuários, prorrogado para hoje. Quem tentar acessar o software a partir de amanhã receberá uma mensagem dizendo que os serviços foram encerrados.

Criado em 1999, o programa viveu seu ápice em meados dos anos 2000, quando chegou a ser um dos dez sites (MSN.com) mais acessados do mundo e teve mais de 300 milhões de usuários. Para especialistas, o fim do MSN ocorre de forma natural e, ao ser integrado com o Skype, faz parte de uma tendência de unificação das redes sociais.


30 de abril de 2013 | N° 17418
CLÁUDIO MORENO

Homens que amam

Dez anos os gregos mantiveram Troia sitiada; por dez anos, dia após dia, os portões da grande cidade se abriram para que os troianos saíssem ao encontro do inimigo, guiados pela coragem exemplar de Heitor. Heitor defende Troia, mas, acima de tudo, defende uma mulher e uma criança.

Sabe que o dia virá em que seus passos vão cruzar os passos de Aquiles, seu implacável oponente – mas não pensa em outra coisa senão proteger Andrômaca, por quem está disposto a morrer. E vai ser assim, sob o olhar desesperado da mulher, do pai, da mãe e de todos os troianos, que ele vai, finalmente, receber de Aquiles os golpes que o matarão.

A História nos mostra que não há nada como o amor para nos tornar corajosos diante de um perigo mortal. Esse foi, sem dúvida, o segredo do extraordinário Batalhão Sagrado de Tebas, uma tropa de elite que, para a surpresa de toda a Antiguidade, enfrentou e derrotou o temível exército espartano na batalha de Tégira. Este batalhão, também conhecido como Batalhão dos Amantes, era formado por trezentos homens – na verdade, cento e cinquenta casais de namorados, decididos, como Heitor diante dos olhos de Andrômaca, a dar sua vida para salvar a de seu amado.

No combate daquela época, o homem via a morte de frente: no lugar da destruição anônima e impiedosa dos mísseis e dos canhões, a luta era sempre corpo a corpo, na distância máxima do comprimento da lança ou do braço armado com a espada.

A solidariedade entre os combatentes era o fator decisivo entre a derrota e a vitória; um soldado sabia que o seu escudo devia proteger a si e parte do corpo do companheiro a seu lado. Um dependia do outro, e todos se moviam como se fossem um só. Com homens que se amavam, lutando lado a lado, isso chegava à perfeição, permitindo, como sugeria Platão, que “um simples punhado de bravos enfrentasse o mundo inteiro”.

O Batalhão dos Amantes encontrou seu fim na batalha de Queroneia, quando enfrentou os exércitos de Filipe da Macedônia e de seu filho, o futuro Alexandre Magno. Acossados por um número muito maior de combatentes, lutaram até o último homem. Conta a lenda que Filipe ficou emocionado ao ver todos aqueles corpos juntos, e, ao saber quem eram eles, para lhes prestar a justa homenagem de um guerreiro, enterrou-os todos no mesmo lugar, onde ergueu a estátua de um gigantesco leão de mármore.

Escavações modernas encontraram 254 esqueletos, lado a lado, arranjados em sete fileiras; presume-se que os demais tenham sido feridos e capturados pelos macedônios. O que nos serve de lição é que tanto aqueles que os mataram, quanto os que desenterraram seus despojos em momento algum duvidaram que ali estavam homens como eles, capazes de morrer pela pessoa – ela ou ele, não importa – que escolheram amar.


30 de abril de 2013 | N° 17418
PAULO SANT’ANA

Escândalo-monstro

Este escândalo explodido ontem com a prisão dos secretários estadual e municipal do Meio Ambiente é infinitamente maior do que o do Detran. Porque foram presos ontem dois secretários e um ex-secretário. No escândalo do Detran, nenhuma autoridade de expressão foi presa.

Mais grave: o delegado da Polícia Federal que presidiu a operação disse ontem à Gaúcha que com a prisão de 18 pessoas apenas começou a operação, “daqui por diante, ela terá os desdobramentos mais importantes”.

Isso quer dizer que o escândalo tem extensão muito maior do que se pode imaginar.

Também pudera, imaginem o governador Tarso e o prefeito Fortunati tendo ido dormir anteontem tranquilos quanto às suas áreas de Meio Ambiente e acordarem na manhã de ontem com a notícia de que seus dois secretários tinham sido presos por concussão! Isso é de atazanar a vida de qualquer governante.

Pior ainda: os governantes e os cidadãos tinham o direito de imaginar que as secretarias estadual e municipal do Meio Ambiente estavam sendo dirigidas por secretários que estavam lá para proteger o meio ambiente.

Qual nada! Eles estão presos e se imagina que só agora, depois de terem sido presos, é que o meio ambiente fica temporariamente protegido.

Estão de um jeito a política e a administração, que a corrupção parece dominante e indiscriminada. Ela adquiriu tal metástase, que os corruptos podem estar por todos os lados, no nosso lar, no nosso trabalho, em toda parte...

Polícia não prende ninguém. A Polícia Federal, pois, apenas executou ontem 18 mandados de prisão. É verdade que quem solicitou os mandados de prisão à Justiça foi a Polícia Federal.

E para que um juiz decrete a prisão de dois secretários e um ex-secretário, então é porque os indícios de corrupção neste caso são veementes. Repito, veementes.

E mais: trabalhou junto com a Polícia Federal, durante quase um ano, para chegar a esse brilhante arremate de ontem, o Ministério Público.

Então, minha gente, preteou o olho da gateada. Polícia Federal e Ministério Público juntos numa investigação, então é porque não tem bagrinhos nessa rede, só tem tubarão.

Foi quase um ano de investigações, o que quer dizer que houve cautela entre os que investigavam. Eles pisavam em ovos para não ferir a reputação de ninguém, até que ontem explodiu essa cautela e eles entenderam que era o momento propício para estourar a gangue.

Por falar em cautela entre os que investigaram essa tramoia, isso é o que não falta entre eles: ontem mesmo, até a hora em que escrevo, eles não divulgaram o nome dos outros presos. E se calcula que haja importantes empresários entre eles. Este escândalo é muito grande.

Tão grande, que ontem a Polícia Federal começou a encaminhar os presos para o sistema carcerário, inclusive para o Presídio Central. Eu falei Presídio Central, lá onde os presos são criados como porcos.

Esta coluna se ocupou mais de um mês atrás com a retirada clandestina e criminosa de milhares de toneladas de areia das margens do Rio Jacuí.

Pois não é que a operação de ontem prendeu subornados e subornadores na retirada de areia aquela, criticada por esta coluna!

É agressão terrível ao meio ambiente, acobertada por autoridades corruptas. Quem há de dizer?

Polícia Federal e Ministério Público não estão para brincadeira.

segunda-feira, 29 de abril de 2013



29 de abril de 2013 | N° 17417
ARTIGOS - Paulo Brossard*

Muito grave

Entre nós, é comum empregar-se a palavra crise para quase tudo, com propriedade ou sem ela, razão por que não surpreenderá a ninguém se eu aludir à “crise” ao apreciar o público e inédito desentendimento entre dois poderes da República.

A propósito, lembro-me de três episódios, todos provocados pelo Executivo, envolvendo o Supremo Tribunal Federal; o primeiro cometido pelo Marechal Floriano, por omissão, ao deixar de nomear tantos ministros que a Corte perdeu as condições de funcionar, pois deixara de ter quórum; o outro, pelo Marechal Hermes, ao negar formalmente cumprimento à decisão do Tribunal; o terceiro foi a cassação de acórdão unânime do Supremo por Getúlio Vargas.

Agora a fórmula passou a ser outra, quase inocente, mas igualmente deletéria, por meio de mera troca de cifras, elevando o número de votos necessário para afirmar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, exigência constitucional desde a Lei Suprema de 1934, de maioria absoluta, seis, para quatro quintos dos membros, ou nove votos entre os 11 ministros. Nem sempre é fácil alcançar a maioria absoluta, e a exigência de quatro quintos da Corte, nove em 11, torna essa hipótese extremamente difícil.

Por meio de expediente supostamente ingênuo, opera-se a efetiva mutilação do Supremo Tribunal Federal e abole-se dessa forma, sem o dizer, mas de maneira inegável, sua competência histórica nos países, como o Brasil, que consagram a fiscalização jurisdicional da espécie; ainda mais, indiretamente, enseja-se a elaboração de atos legislativos até ostensivamente inconstitucionais.

Destarte, sob essa singela manobra, o Supremo Tribunal sofreria a ablação da sua mais relevante atribuição, mais que centenária, a de decretar a inconstitucionalidade de lei quando o ato legislativo se desvia da Lei Maior. Deixando de lado o referente ao artigo 103-A, envolvendo à súmula vinculante, caso distinto que não posso examinar aqui por falta de espaço, passo à outra alteração proposta, artigo 102 §2 da Constituição.

Trata-se do processo concentrado ou em abstrato, caso em que o tribunal julga a lei ou o ato questionado, em tese. Enquanto a Constituição estabelece que, nesse caso, “nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante”, o projeto em curso é diametralmente contrário, verbis “...não produzem imediato efeito vinculante e eficácia contra todos, e serão encaminhadas à apreciação do Congresso Nacional...”

Até agora, nenhum jurisconsulto, estadista, pensador, escritor político, professor de Direito, em livros, parecer, conferência, ou qualquer outro meio de comunicação, divulgou ser sequer simpático à iniciativa ora bafejada pela douta Comissão de Constituição e Justiça, em votação simbólica com a presença de apenas 21 de seus 68 membros.

Ocorre-me notar que não faltará quem estranhe que se possa pôr em dúvida a pretendida transferência do Supremo para o Congresso da competência irrecorrível. Em matéria jurídica, e precipuamente constitucional, não troco o Supremo pelo Congresso, Câmara e Senado, que também integrei e sempre exaltei, mas cuja composição proteiforme carece da familiaridade necessária com temas evidentemente fora da experiência do comum dos homens comuns, em prejuízo de homens obrigatoriamente neles versados.

Ainda teria muito a dizer, mas limito-me a salientar que, exceção do período estado novista, em mais de cem anos nunca houve quem agredisse o Supremo dessa maneira, nem nos 20 anos em que a nação viveu sob o regime mais autoritário, sem excluir os períodos de militarismo sem peias, ensejando toda a sorte de violências e casuísmos; sequer nessas fases alguém pensou em lesar a majestade no órgão supremo da Justiça. Esta “glória” estava reservada ao século 21, o nosso tempo e o nosso Supremo. O nosso Supremo e o nosso Congresso.

* JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF



29 de abril de 2013 | N° 17417
KLEDIR RAMIL

Música e matemática

Por incrível que possa parecer, Kleiton e eu somos formados em engenharia. Eu sou engenheiro mecânico, e ele, eletrônico. Cantores-engenheiros não são raros na MPB: Ivan Lins, João Bosco e Francis Hime também são. No fim é isso, artistas, engenheiros é tudo a mesma turma.

Para fazer um show, por exemplo, a gente depende de vários profissionais da área. Precisamos de um prédio, um teatro com tratamento acústico e equipamentos elétricos/eletrônicos de última geração. Nossos instrumentos musicais são ferramentas de alta precisão, projetados segundo formas, medidas, resistência dos materiais e até cálculo de engrenagens, como é o caso das chaves usadas para afinar as cordas do violão.

O mundo está cada vez melhor graças aos engenheiros, nossos colegas. Se não fosse o domínio de toda essa tecnologia, nós estaríamos vivendo no meio do mato, cantando e dançando na volta de uma fogueira.

Adoro ciências exatas, tenho uma mente concreta, um pensamento lógico. O problema é que eu era um cara atrapalhado com as questões afetivas e corria o risco de me tornar um sujeito cartesiano. A música me salvou. Encontrei uma atividade absolutamente rigorosa, de precisão matemática, onde posso extravasar as minhas emoções.

Música é pura matemática. O que a gente chama de nota musical é, na verdade, uma frequência determinada. Lá 4 é uma vibração de 440 hertz. Frequências mais altas, notas mais agudas. Mais baixas, notas graves. Além da altura, uma nota musical tem um tempo de duração, curto ou longo.

Uma sequência de notas “constrói” uma melodia. Notas tocadas ao mesmo tempo criam acordes, harmonias. Aí, esse monte de notas com frequências e tempos variados, são executadas em um ritmo, tipo 4/4, 6/8... E com um andamento determinado, como 120 bpm (beats por minuto). Por isso, é necessário um maestro para fazer uma contagem e dirigir a orquestra.

Além de todas essas medidas musicais, na hora de compor uma canção ainda é preciso “encaixar” uma letra. Versos respeitando a métrica (um número certo de vocábulos), a prosódia (a acentuação tônica das palavras coincidindo com a acentuação melódica) e a rima. Aí, no fim, tudo isso tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza. Ou seja, é uma loucura, é mais complicado do que construir um edifício. Acho que vou voltar pra engenharia.

Comentário final: Maria Fumaça... só mesmo dois engenheiros malucos para fazerem uma canção de amor em homenagem a uma locomotiva.


29 de abril de 2013 | N° 17417
PAULO SANT’ANA

Arbitragem desastrosa

Triste desclassificação do Grêmio no Gauchão. No sábado, no entanto, o Grêmio foi totalmente espoliado pela arbitragem que anulou dois gols legítimos de Barcos e Vargas.

Um bandeirinha foi cego ou parcial, o juiz foi um desastre.

Mas o Luxemburgo teve parte na derrota. Inventou a escalação estapafúrdia de Fábio Aurélio, quando tinham de ter jogado o Biteco ou o Marco Antônio de saída.

E é impressionante a teimosia e a birra de Luxemburgo: ele foi advertido por esta coluna na semana passada pela maneira errada com que os jogadores do Grêmio estão cobrando as faltas que têm de ser lançadas sobre a área adversária. Por sinal, recebi dezenas de cumprimentos por aquela coluna.

Escrevi que o ócio de Luxemburgo se ressalta porque ele não ensina a seus jogadores que devem lançar as bolas para a imediação da risca da grande área, fora da área de ação dos goleiros, nas faltas elevadas sobre a área adversária.

Pois sábado essa burrice esférica se verificou nas três faltas cobradas pelo Grêmio, uma delas de novo pelo Fábio Aurélio: todas foram parar nas mãos do goleiro. Ou seja, mesmo advertido por esta coluna, por orgulho ferido ou por alienação, ou até mesmo por surto de incompetência, Luxemburgo não corrigiu esse defeito vital: essas cobranças sobre a área são arma decisiva nos gols que as outras equipes marcam.

Mas o Luxemburgo encasquetou em não ver isso.

No entanto, discordo dos que falaram no rádio e na televisão que o Grêmio jogou contra o Juventude tão mal como já tinha jogado nos cinco compromissos anteriores.

Desta vez o Grêmio não jogou mal, Barcos fez um gol espetacular e Vargas marcou, mas a estupidez da arbitragem anulou o gol.

A atuação do Grêmio no sábado, desculpem o que disseram alguns outros, me anima um pouco para o jogo contra o Santa Fé depois de amanhã. Se o Luxemburgo não insistir erradamente com Fábio Aurélio.

Na entrevista coletiva pós-jogo e desclassificação, Luxemburgo prometeu à torcida que seu Grêmio vai ganhar o Brasileirão. Ou seja, às portas do inferno, o Luxemburgo promete o paraíso para os torcedores.

Ele deve estar se apoiando, assim para ser tão prometedor, na multa contratual gigantesca que impôs na assinatura de seu contrato com o Grêmio, hipótese em que for demitido.

O Grêmio não dá sorte com o comentarista Batista, da televisão. Em quase todos os lances polêmicos sobre arbitragem, ele assinala opinião contra o Grêmio. Em quase todos os lances, é demais!

O Batista jogou no Inter, depois jogou no Grêmio. Mas só guardou trauma do Grêmio.

Chegou ao ponto de sua opinião, sábado, contrastar frontalmente com a opinião do narrador em um lance polêmico e decisivo. O narrador deixou para lá para não armar um barraco na transmissão. E nesse lance a opinião de Batista foi também desfavorável ao Grêmio.

O Batista vai ter de autovigiar-se em seu subconsciente.


29 de abril de 2013 | N° 17417
L. F. VERISSIMO

A ginga irrelevante

A ideia que se tinha do futebol europeu como um futebol sem cintura custou a morrer. Já deveria ter acabado há 60 anos, com o exemplo da seleção húngara de Puskas e companhia, mas ainda persistiu por muito tempo. O futebol da Europa podia ser eficiente, bem organizado e até vitorioso, mas lhe faltava o nosso poder de improvisação, o nosso talento inato, a nossa ginga.

A morte protelada mas definitiva deste preconceito se deve em grande parte à proliferação de canais de TV que hoje mostram todos os campeonatos europeus, numa dieta intensiva de grandes jogos, saborosa para quem gosta de futebol, mas que, ao mesmo tempo, nos faz muito mal. Porque o contraste entre o que se vê lá e o que se vê aqui é óbvio. Basta comparar o último jogo da Seleção Brasileira com as semifinais da Liga dos Campeões da Europa que a TV está mostrando. É de se suspirar de inveja.

Mas nem a ginga perdeu seu valor nem, numa surpreendente evolução biológica, os europeus adquiriram cinturas. Jogadores brasileiros continuam a ter sucesso no mundo todo com sua habilidade de nascença e ninguém jamais dirá que um Robben ou um Schweinsteiger, do triturador Bayern Munich, tem ginga, ou o seu equivalente em alemão. O que eles têm é tudo que vem depois da ginga, ou que torna a ginga irrelevante. Schweinsteiger é o maior exemplo atual da falta que “cintura”, com tudo que o termo significa e resume, não faz.

O jogador que mais se aproxima de um Schweinsteiger na Seleção Brasileira é o volante Fernando, e a diferença entre os dois é o que mais acentua o contraste. E como o Felipão não escalou o Fernando para começar o jogo contra o Chile e tem dito que volante que também ataca é uma quimera, corremos o risco de desperdiçar nosso único simulacro de Schweinsteiger.

Eu sei, eu sei. Não se deve admirar super-homens alemães muito rapidamente. É o que nos ensina a História, inclusive do futebol. Mas Schweinsteiger é apenas o exemplo mais evidente no momento do futebol utilitário, que brilha porque funciona, mesmo sem cintura, e que sem o Fernando nós não temos.

Talvez a supercobertura do futebol europeu pela TV nos eduque. No fim da I Guerra Mundial, quando os soldados americanos voltavam para casa, fizeram até uma música que perguntava “como vamos mantê-los trabalhando no campo depois que eles conheceram Paris?” Começou aí a urbanização acelerada do país. Uma transformação parecida pode acontecer no futebol brasileiro, de tanto ver como estão jogando na Europa.

domingo, 28 de abril de 2013


DANUZA LEÃO

Se a vida fosse fácil

Não se pode amar alguém aprovado pela família, pela igreja e pela sociedade; esses são para casar

Se você pudesse escolher, preferiria ter um marido fiel mas que fosse um mau marido --desses que bebem errado e falam o que não devem, e é, frequentemente, um tédio-- ou um marido infiel e ótimo marido? Difícil escolha, e saiba: um ótimo marido se percebe pelo brilho do olho da mulher.

Teoricamente, um bom marido é aquele que, em primeiro lugar, não trai, e são esses os que as mulheres mais abandonam. Para que uma paixão continue a existir, é preciso que não se tenha muitas certezas, e nenhuma mulher ama um marido fiel demais. Para tudo há limites, até para a fidelidade.

Quais são os homens mais inesquecíveis da vida de uma mulher? São sempre os que mais aprontam, mais desaparecem, mais traem --e não confessam nunca--, mas que a faz mais feliz do que todos os bons rapazes do mundo.

É mais ou menos simples: se um homem é aprovado por todos, nunca é aquele que faz um coração juvenil bater descompassadamente. Não se pode amar alguém aprovado pela família, pela igreja e pela sociedade. Esses são para casar, o que não tem nada a ver com o amor.

Nada pode incendiar mais um romance do que a oposição da família; ela costuma ter razão, quando é contra, e a família está sempre unida contra os "maus" rapazes. E o amor, então? Desde os Capuleto e os Montecchio (famílias de Romeu e Julieta, para quem esqueceu) tem sido assim, e não há modernidade que mude essa regra.

O que mudou foi que hoje não dá nem tempo de alguém ficar contra, porque aí já acabou. E vamos reconhecer, pais e mães estão certos: nessa hora eles estão pensando em seu próprio sossego e em sua própria tranquilidade, no que estão cobertos de razão. Aliás, quase todos têm sempre razão, e algum dia você viu pais e filhos estarem de acordo? Se estão, alguma coisa deve estar errada.

Eles querem, para marido de sua querida filha, estabilidade em todos os sentidos, começando pela financeira, e que os sentimentos do pretendente também sejam estáveis. É até melhor que ele não ame apaixonadamente; melhor que tenha um sentimento calmo, maduro, confiável.

Enquanto isso a filha, com seus hormônios à flor da pele, anseia por um homem que a enlouqueça e a faça perder o rumo de casa.

Esse às vezes até casa (quando ela é rica), mas que ninguém espere dele fidelidade; esquecendo esse pequeno detalhe, costumam ser ótimos maridos, capazes de levar a mulher para um motel numa tarde de segunda-feira, ou a um fim de semana em Nova York, a troco de nada --as crianças ficam com a babá, qual é o problema?

E se for flagrado às 2h da madrugada tomando um uísque na sala, lembrando de como era boa a vida de solteiro, quando a mulher chega devagarzinho e faz a pergunta, aquela --"em que você está pensando?"-- ele vai responder, com a maior sinceridade, "em você, amore". Ela não vai acreditar, mas fica na dúvida: e se for verdade? Esse é um bom marido, e esse casamento vai durar --sobretudo se o pai dela continuar rico.

Mas afinal, você quer saber o que preferem as mulheres, se um marido fiel ou infiel? Refleti sobre o assunto, e acredito que a solução deve ser um homem fiel fingir que é infiel, e o infiel fingir que é fiel. Simples a vida, não?

P.S.¹: Para mandar um Sedex (um envelope com UMA folha de papel), do Rio para São Paulo você paga R$ 30,00.

P.S.²: E Rose, hein? Ela é a cara do PT.

FERREIRA GULLAR

Cultura e terror

As diversas concepções religiosas e políticas podem levar os homens a divergências insuperáveis

Essa minha ideia de que o homem é, sobretudo, um ser cultural, não deve ser entendida como uma visão idealizada e otimista, pelos simples fato de que isso o distingue dos outros seres naturais.

Se somos seres culturais, se pensamos e com nosso pensamento inventamos os valores que constituem a nossa humanidade, diferimos dos outros animais, que se atêm a sua animalidade e agem conforme suas necessidades vitais imediatas.

Entendo que, ao contrário dos outros animais, o homem nasceu incompleto e, por essa razão, teve de inventar-se e inventar o mundo em que vive. Por exemplo, um bisão ou um tigre nasce com todos os recursos necessários à sua sobrevivência, mas o homem, para caçar o bisão, teve que inventar a lança.

Isso, no plano material. Mas nasceu incompleto também no plano intelectual, porque é o único animal que se pergunta por que nasceu, que sentido tem a existência. Para responder a essas e outras perguntas, inventou a religião, a filosofia, a ciência e a arte.

Assim, construiu, ao longo da história, uma realidade cultural, inventada, que alcança hoje uma complexidade extraordinária e fascinante. O homem deixou de viver na natureza para viver na cidade que foi criada por ele.

Mas, o fato mesmo de se inventar como ser cultural criou-lhe graves problemas, nascidos, em grande parte, daqueles valores culturais. É que, por serem inventados, variam de uma comunidade humana para outra, gerando muitas vezes conflitos insuperáveis. As diversas concepções filosóficas, religiosas, estéticas e políticas podem levar os homens a divergências insuperáveis e até mesmo a conflitos mortais.

Pode ser que me engane, mas a impressão que tenho é de que o homem, por ser essencialmente os seus valores, tem que afirmá-los perante o outro e obter dele sua aceitação. Se o outro não os aceita, sente-se negado em sua própria existência. Daí por que, a tendência, em certos casos, é levá-lo a aceitá-los por bem ou por mal. Chega-se à agressão, à guerra.

Certamente, nem sempre é assim, depende dos indivíduos e das comunidades humanas; depende sobretudo de quais valores os fundamentam.

De modo geral, é no campo da religião e da política que a intolerância se manifesta com maior frequência e radicalismo. A história humana está marcada por esses conflitos, que resultaram muitas vezes em guerras religiosas, com o sacrifício de centenas de milhares de vidas.

Com o desenvolvimento econômico e ampliação do conhecimento científico, a questão religiosa caiu para segundo plano, enquanto o problema ideológico ganhou o centro das atenções.

A questão da riqueza, da desigualdade social e consequentemente da justiça social tornou-se o núcleo dos conflitos entre as classes e o poder político. Esse fenômeno, que se formou em meados do século 19, ocuparia todo o século 20, com o surgimento dos Estados socialistas. O ápice desse conflito foi a Guerra Fria, resultante do antagonismo entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Surpreendente, porém, é que, em pleno século do desenvolvimento científico e tecnológico, tenha eclodido uma das expressões mais irracionais da intolerância religiosa: o terrorismo islâmico, surgido de uma interpretação fanatizada daquela doutrina.

O terrorismo não nasceu agora mas, a partir do conflito entre judeus e palestinos, lideranças fundamentalistas islâmicas o adotaram como arma de uma guerra santa contra a civilização ocidental, que não segue as palavras sagradas do Corão.

Em consequência disso, homens e mulheres jovens, transformados em bombas humanas, não hesitam em suicidar-se inutilmente, convencidos de que cumprem a vontade de Alá e serão recompensados com o paraíso.

Parece loucura e, de fato, o é, mas diferente da doença psíquica propriamente dita. É uma loucura decorrente do fanatismo político ou religioso, que muda o amor a Deus em ódio aos infiéis.

Embora o Corão condene o assassinato de inocentes, na opinião dos promotores de tais atentados --que matam sobretudo inocentes-- só é proibido matar os "nossos" inocentes, como afirmou Bin Laden, não os inocentes "deles".

Tudo isso mostra que o homem é mesmo um ser cultural, mas que a cultura tanto pode nos transformar em santos como em demônios.


HÉLIO SCHWARTSMAN

A ética da fila

SÃO PAULO - Escritórios da avenida Faria Lima, em São Paulo, estão contratando flanelinhas para estacionar os carros de seus profissionais nas ruas das imediações. O custo mensal fica bem abaixo do de um estacionamento regular. Imaginando que os guardadores não violem nenhuma lei nem regra de trânsito, utilizar seus serviços seria o equivalente de pagar alguém para ficar na fila em seu lugar. Isso é ético?

Como não resisto aos apelos do utilitarismo, não vejo grandes problemas nesse tipo de acerto. Ele não prejudica ninguém e deixa pelo menos duas pessoas mais felizes (quem evitou a espera e o sujeito que recebeu para ficar parado). Mas é claro que nem todo o mundo pensa assim.

Michael Sandel, em "O que o Dinheiro Não Compra", levanta bons argumentos contra a prática. Para o professor de Harvard, dublês de fila, ao forçar que o critério de distribuição de vagas deixe de ser a ordem de chegada para tornar-se monetário, acabam corrompendo as instituições.

Diferentes bens são repartidos segundo diferentes regras. Num leilão, o que vale é o maior lance, mas no cinema prepondera a fila. Universidades tendem a oferecer vagas com base no mérito, já prontos-socorros ordenam tudo pela gravidade. O problema com o dinheiro é que ele é eficiente demais. Sempre que entra por alguma fresta, logo se sobrepõe a critérios alternativos e o resultado final é uma sociedade na qual as diferenças entre ricos e pobres se tornam cada vez mais acentuadas.

Não discordo do diagnóstico, mas vejo dificuldades. Para começar, os argumentos de Sandel também recomendam a proibição da prostituição e da barriga de aluguel, por exemplo, que me parecem atividades legítimas. Mais importante, para opor-se à destruição de valores ocasionada pela monetização, em muitos casos é preciso eleger um padrão universal a ser preservado, o que exige a criação de uma espécie de moral oficial --e isso é para lá de problemático.

helio@uol.com.br

ELIANE CANTANHÊDE

Tiro de canhão, tiro no pé

BRASÍLIA - A semana passada foi de crise e esta será de sorrisos e salamaleques, mas a crise continua.

O grande problema não é de forma e de retórica apenas, mas sim de conteúdo. Logo, a crise só acaba com o fim de seus dois pivôs.

São eles um projeto que visa aniquilar uma candidatura e enfraquecer a oposição em favor da reeleição da presidente e outro que dá ao Congresso poder de veto em decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (Supremo Tribunal Federal!). Seria cômico, não fosse trágico.

Até casuísmos têm limite, e o Congresso aprovar a lei pró-Dilma e anti Marina a um ano e pouco da eleição tem um ranço "bolivariano" incompatível com o Brasil. As regras não favorecem o rei (ou a rainha)? Mudem-se as regras!

E o projeto de emenda constitucional aprovado em minutos pela CCJ da Câmara para atacar e retaliar o Supremo é de uma violência e de uma irresponsabilidade poucas vezes vistas na democracia deste país.

Uma ousadia sem tamanho, iniciada por um parlamentar do partido do governo e encaminhada alegremente (ou seria o oposto, raivosamente?) pelos que não se conformam com a independência e a lisura do Supremo no julgamento do mensalão. A corte suprema não se rendeu ao poder? Puna-se a corte!

Ao se reunirem amanhã, distribuindo sorrisos e amabilidades diante das câmeras, o ministro Gilmar Mendes e os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, darão mostras de civilidade e responsabilidade. Mas o problema transcende a eles.

O que Lula, Dilma, o PT e parte do PMDB não percebem é que, radicalizando, fortalecem o outro lado e a ideia de um bloco alternativo ao projeto Lula-Dilma.

Os dois projetos e a crise criaram o ambiente perfeito para um acordo de cavalheiros (e de damas) entre Aécio, Eduardo Campos, Marina e seus seguidores. Seriam tiros de canhão, viraram um tiro no pé do PT.

sábado, 27 de abril de 2013



28 de abril de 2013 | N° 17416
MARTHA MEDEIROS

O sabor da vida

Dois anos atrás tive o prazer de ser entrevistada pelo chef Claude Troisgros, e lembro de que o encontro foi divertido e ao mesmo tempo inusitado pra mim, já que minha relação com as caçarolas sempre foi de intimidade zero.

Pois agora recebi o convite da incrível Neka Menna Barreto para uma entrevista para a tevê que também ocorreria durante o preparativo de alguns quitutes. Minha intimidade com as caçarolas segue a mesma, porém sou amiga da família da Neka há muitos anos, todos gaúchos. Só que meu contato com ela, por ser moradora de São Paulo, era mais restrito. Finalmente, equalizamos essa distância da melhor forma possível: com um bom papo na cozinha.

Quanto mais me aproximo desse universo que desconheço, mais me dou conta do quanto perco por não saber cozinhar. Conversando com a Neka, percebi a filosofia envolvida no processo – ao menos no processo dela, que usa sua colher de pau como uma espécie de varinha de condão, transformando em mágica cada receita aparentemente prosaica.

Neka é uma chef que escolheu a vida como principal ingrediente – não a industrializada, mas a vida em sua origem, em sua raiz. Seu talento está não apenas na criteriosa escolha dos ingredientes, mas na maneira de pensar sobre o que está fazendo e de explorar todas as sensações envolvidas.

Ela perfuma a cozinha com infusões de hortelã, “acorda” as sementes, encontra conexões entre rusticidade e sabor – de tudo Neka extrai um conceito. Cada alimento traz em si um benefício para a memória, para o humor, para a concentração. Ralar uma noz moscada nos ensina a reconhecer limites.

Triturar um bastão de canela fortalece o bíceps. Dissecar uma vagem seca de baunilha (eu nem sabia que a baunilha vinha de uma orquídea) desperta a sensualidade – se você tem acesso à Neka, peça para ela contar os efeitos de esconder um galhinho de baunilha dentro do sutiã. Segundo ela, a mulher para instantaneamente de falar sobre si mesma e, silenciosa, passa a ser quem é. Viajandona? Pode ser, mas descobri com ela que o tempero que faz viajar é outro.

Para quem só se interessa pelo concreto da vida, nada disso faz o menor sentido, porém é justamente sobre sentidos que está se falando aqui. Do amor que há em manusear tâmaras e nozes picadas, da energia que as ervas emanam, da estupidez de se consumir velozmente um prato ultracalórico e depois passar uma tarde inteira digerindo-o. “Gastamos muito tempo com digestão, quando poderíamos estar caminhando mais, dançando, flanando, vivendo até os cem anos com leveza”.

Neka é uma alquimista de personalidade única. Tudo nela é inspirador, desde seus turbantes coloridos até seus pontos de vista. “Estamos nos acostumando com soluções instantâneas, enviando e-mails que chegam a Tóquio em um segundo, comprando comida pronta. Ninguém mais prepara, ninguém mais espera. Se vejo alguém muito agitado, correndo atrás do relógio, recomendo: cozinhe e recupere a noção do tempo real”.

Não bastasse a delícia de suas criações gastronômicas, a querida Nekinha também é craque em dar receitas para nossas almas desnutridas.



28 de abril de 2013 | N° 17416
ARTIGOS - Diana Lichtenstein Corso*

Laerte

Tenho várias tiras do Laerte Coutinho coladas numa parede em meu consultório, são como enigmas que seguem me interrogando. Mais do que um cartunista, ele escreve poesia e filosofia com imagens. Suas tiras são abismos de múltiplos significados nos quais me perco. Todas as recomendações são poucas para que o leitor conheça sua obra. Ele é certamente um dos artistas mais importantes do Brasil.

Quando já o admirava, ele passou a dedicar sua vida a um tema nada prosaico: a identidade sexual. Começou a vestir-se de mulher, frequentava o Brazilian Cross-dresser Club, discretamente, sob o nome de Sônia. Aos poucos, o prazer de usar a indumentária do sexo oposto deixou a clandestinidade.

A revista Piauí de abril (nº 79) dedica-lhe várias páginas, numa reportagem na qual é tratado por vezes com pronomes femininos, por outras masculinos. Sua coragem desnuda a todos, quer usemos cuecas ou calcinhas. Na vida, como na arte, ele produz uma imagem intrigante.

A formação da identidade sexual é pura incerteza. Apesar disso, ao crescer cruzamos com duas perguntas: o queremos e o que seremos, ou seja, a quem desejamos e como nos pareceremos. Além da questão de gênero, o desejo aponta muitas variações, preferiremos velhos ou moços, miúdos ou graúdos, humildes ou opulentos, pessoas vistosas ou alguém cuja beleza brilha somente aos nossos olhos, e assim por diante. Porém, uma definição bifurca os tipos de objetos de desejo: do nosso sexo ou do oposto.

Não falta quem lembre ingenuamente que a anatomia nos condena à complementaridade fecunda do macho e da fêmea. Quanto ao que nos parecemos, há roupas para deixar isso bem claro, convém que as usemos conforme o corpo com que chegamos ao mundo. Os militantes dessas certezas fecham a questão.

Os jovens contemporâneos a abrem e têm praticado a ambiguidade com uma liberdade inédita. A androginia das roupas e adereços, assim como a bissexualidade das escolhas amorosas, inquieta as gerações anteriores e as almas frágeis. Mas eles não fazem mais do que externar incertezas que todos guardamos no armário.

Nunca seremos suficientemente convincentes como homens ou como mulheres aos nossos próprios olhos, da mesma forma, tampouco somos imunes à atração por pessoas de ambos os sexos. Forjamos em nós certezas, as gritamos para acalmar as dúvidas que nos sussurram aos ouvidos. Criamos mitos religiosos e até científicos para dizer que existe uma definição clara dessa fronteira.

Antigamente, quando que-ríamos dirigir uma mensagem a homens e mulheres dizíamos assim: “prezado (a)”, ou seja, se você for mulher, também será contemplada, em segunda opção. A luta feminista está tirando as mulheres desse segundo plano, hoje diríamos assim: “prezad@”.

Com o fim da divisão dos mundos que acompanhava a separação dos sexos, a identidade sexual entrou em questão. Estamos banindo mais do que a opressão das mulheres, trata-se agora da derrocada dos clichês sobre as características definidas de cada gênero. Laerte diz ser “uma mulher em caráter experimental”, eu te compreendo querida, eu também sou.

*PSICANALISTA


28 de abril de 2013 | N° 17416
VERISSIMO

Terror noturno

Seja o que for que respira na escuridão, não conhece o seu quarto tão bem quanto você

Você acorda no meio da noite com o som de alguém respirando. Você mora sozinho. Não tem cachorro, ou qualquer outro animal. Mas não duvida: alguém, ou algo, está respirando na escuridão do seu quarto, além de você.

Você estende a mão para acender a lâmpada de cabeceira. Hesita. Talvez seja melhor ficar no escuro. Assim você não vê quem ou o que respira na escuridão, mas também não é visto. Seja o que for que respira, também não está enxergando nada. Se for um ladrão, é um ladrão sem lanterna. Se for um bicho, a não ser que tenha visão noturna, também não está enxergando.

Mas aí você pensa: se não vê onde anda, o outro, a coisa arfante, deve esta tateando no escuro. Você tem a terrível premonição de uma mão fria ou uma garra pegajosa agarrando o seu braço. Melhor acender a luz. Mas aí você perde sua vantagem. É visto. Se expõe. E outra coisa: você não tem certeza que quer ver o que está respirando na escuridão. E se for um monstro, um grande réptil escamado? E se for a morte que veio buscar você? E se for a retribuição esperada para todos os seus pecados, na forma de um arcanjo arquejante?

A escuridão lhe protegerá. Seja o que for que respira na escuridão, não conhece o seu quarto tão bem quanto você. Você pode deslizar para fora da cama e ir, pé ante cauteloso pé, até o banheiro, se trancar no banheiro e... E o quê? O celular. Levar o celular para o banheiro e pedir ajuda.

O celular está sobre a sua mesa de cabeceira. Você pode pegar o celular, se deslocar em silêncio até o banheiro, fechar a porta e chamar a polícia. Mas se encontrar o monstro no meio do caminho? O som da respiração está vindo da sua direita, logo a sua esquerda está, em tese, desimpedida. Mas se você esbarrar num corpo quente a caminho do banheiro, aí sim gritará de terror e provavelmente desmaiará.

Calma, pensa você. Muita calma. Está bem, você está pagando pelos seus pecados. Merece uma alucinação como esta, para aprender. Na noite anterior bebeu demais, nem sabe como chegou em casa. A única coisa a fazer agora é voltar a dormir. De manhã, tudo se esclarecerá. Foi um pesadelo, um delírio de culpa, um revide da consciência. Nada disso está realmente acontecendo.

E então você se lembra. Na noite anterior, trouxe alguém para dormir com você. Quem está respirando ao seu lado é... Quem mesmo? Só há uma maneira de descobrir quem você, bêbado, trouxe para a sua cama: acender a lâmpada de cabeceira. Mas de novo você hesita. Não tem certeza que quer ver quem dormiu ao seu lado. O que a luz acesa revelará a seu respeito? Você prefere não saber. Pelo menos até o amanhecer, a escuridão lhe protegerá.