16
de março de 2015 | N° 18103
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
Os chineses que acabaram de
chegar
As
séries de TV americanas começam a deslizar por uma multitude impressionante de
temas. Essa é uma diferença entre eles e a gente. Lá, o mundo é o território, e
nada é tabu (mais ou menos, não é?). Aqui, acho que a gente segue falando do
que se sente, do que se pensa, e fazendo algum drama de denúncia que acaba em
sexo ou no derrière da moça sendo mais assunto do que a política. Coisa nossa.
Fresh
Off the Boat é uma das séries que está causando nos Estados Unidos. É uma
comédia sobre imigrantes chineses e se passa na Flórida. A Flórida costuma ser
tema de comédia, ao menos na imprensa americana, por ser um lugar esquisito até
para os padrões do país. Já os chineses são algo novo no território da comédia,
e especialmente como protagonistas.
Esses
chineses são de Taiwan, e tentam encontrar seu pedacinho de sonho americano com
um pai que abre um restaurante texano, e uma mãe que só pensa no desempenho
acadêmico dos filhos, ou seja: uma mãe chinesa de manual.
Quem
conta a história, mais ou menos, é o filho pré-adolescente e altamente
integrado. Ele pegou a ginga e a fala nas ruas de Washington, onde a família
morava, e agora tenta entender a Orlando suburbana para onde eles se mudaram.
Os
Estados Unidos gostam de se ver como um “melting pot”, um caldinho de culturas.
Na realidade, a coisa é mais para uma sopa de bolinhos, com um caldo cultural
que pode ser reconhecido como a cultura americana servindo de canja, onde boiam
os diferentes bolinhos étnicos que chamam a si mesmos de “mexican americans”,
“asian americans”, “italian americans”, e por aí vai. No Brasil, a gente
realmente é uma sopa, e ninguém sabe direito ou pensa muito no seu bolinho.
Em
Fresh Off the Boat, o bolinho dos chineses-americanos ganhou o seu espaço para
brilhar e já começou com um au- diência bastante alta, talvez porque já existam
tantos chineses nos EUA.
No
Brasil, talvez seja a hora de a gente olhar ao redor e perceber que somos, ora
quem diria, um país de imigrantes, e que muitos deles estão chegando aqui agora
mesmo, e com muitas histórias para contar.
Fica
a dica.
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