18 de março de 2015 | N°
18105
DAVID COIMBRA
O raciocínio petista
Oraciocínio dos defensores do
governo é o seguinte:
Quem é a favor da ditadura é
contra o governo.
Logo, quem é contra o governo é a
favor da ditadura.
Ou:
Quem gosta do Bolsonaro é contra
o governo.
Logo, quem é contra o governo
gosta do Bolsonaro.
Ou:
Quem quer o golpe militar é
contra o governo.
Logo, quem é contra o governo
quer o golpe militar.
Ou:
Os tucanos são contra o governo.
Logo, quem é contra o governo é
tucano.
Ou, o mais dissimulado de todos:
A maioria dos ricos e brancos é
contra o governo.
Logo, todos os pobres e negros
são a favor do governo, porque o governo é bom para pobres e negros, e mau para
brancos e ricos.
E um último, embora vago, quase
impalpável:
Este governo, supostamente, é de
esquerda.
Logo, quem é contra este governo
é certamente de direita.
Há muitas pessoas reproduzindo
esse tipo de raciocínio sofístico e vagabundo. Essas pessoas, quase todas, são
dadas a sofismas, sim. Mas não são vagabundas. Ao contrário: vejo gente que
estuda, que trabalha, que se esforça e que quer o bem do Brasil tecendo esse
gênero baixo de argumentação. Entre essas pessoas, inúmeros jornalistas. Alguns
jovens, outros já na veterania, muitos bons profissionais, outros nem tanto,
90% deles decentes.
Vejo políticos dignos apelando
para essa tergiversação, vejo homens e mulheres de boa índole, suaves no trato
pessoal, alguns até inteligentes e razoavelmente informados.
Em parte, compreendo que se
comportem assim. Porque não querem sentir-se ao lado de quem gosta do
Bolsonaro, é de direita, a favor de golpes militares e contra negros e pobres,
mas também porque estão no fervor da discussão, estão em busca de argumentos
para não ceder a quem os ofende e os chama de petralhas ou o que quer que seja.
Mas a verdade já comprovada é que
houve roubo neste governo, e o fato de ter havido em outros, tempos atrás, não
consola nem atenua. Quando o governo atual é criticado, o é por uma razão
simples: porque é o atual governo.
E o roubo não foi casual. Foi
roubo sistemático, encaixado nas engrenagens da administração, sedimentado na
base dos partidos governistas, disseminado por todos os setores que aceitassem
fazer composição. Isso está demonstrado pelas investigações. Está plasmado.
Vergonhosamente plasmado.
Duvido que Dilma tenha
participado dessa roubalheira. Mas duvido que não soubesse dela. É impossível
que uma mulher experiente na administração pública, tendo sido presidente do
Conselho de Administração da Petrobras, ministra das Minas e Energia e da Casa
Civil, sendo “mãe do PAC” no governo Lula e duas vezes presidente da República,
é impossível que ela não soubesse do que ocorria. Da mesma forma, é impensável
crer que Lula, o principal líder do PT, não soubesse de nada.
Ainda não é possível provar que
eles sabiam, mas centenas de milhões de dólares sujos estão aparecendo por toda
parte, as investigações estão se agudizando e o cerco vem se fechando a cada
dia. Em pouco tempo, talvez não haja mais sofisma que sustente a defesa deste
governo.
Sim, é verdade: alguns querem que
o governo caia porque são canalhas. Mas também é verdade que muitos que não são
canalhas se comportam como se fossem, para manter o governo de pé.
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