segunda-feira, 16 de março de 2015


16 de março de 2015 | N° 18103
DAVID COIMBRA

Sobre Gregório Duvivier e as cadeias

Gosto do Gregório Duvivier nos vídeos do Porta dos Fundos. Ele faz um tipo meio aéreo, perplexo com as contingências da vida, bom contraponto com o ar brejeiro do Fábio Porchat. Semana passada, o entrevistamos no Timeline, da Gaúcha. Falamos, sobretudo, sobre política. Aí, o Gregório foi mal. Não por causa de seu posicionamento – ele é governista a ponto de chamar a Dilma de presidenta. Por causa da sua articulação. Ou falta de.

Gregório parece pensar como adolescente. Talvez estivesse em um dia ruim, vá saber. Só que ficou claro que lhe falta conteúdo. Mas não quero, aqui, ficar analisando as opiniões do ator, nem o quis durante o programa, não é isso que interessa e não foi por isso que abri o texto citando-o. Foi porque, na entrevista, Gregório fez duas ou três referências à reforma política.

É sintomático.

Quando um personagem sem consistência intelectual se põe a reproduzir um discurso, é porque alguém mais preparado pensou isso por ele. Alguém, obviamente, do PT, que dispõe de intelectuais com estofo teórico.

Certo.

Um ou dois dias depois da entrevista, o mesmo pensamento foi expresso nas anêmicas manifestações em defesa do governo. Em todas havia faixas com a frase usada por Gregório: “Corrupção se combate com reforma política”.

Ou seja: existe a intenção de transformar a reforma política no centro da discussão sobre a corrupção.

Por quê?

Para desviar o debate do seu verdadeiro centro, que é a impunidade.

A única forma de combater a corrupção não é a reforma política. É a punição.

A reforma política até tem importância, no caso brasileiro, mas importância lateral. Sem punição, nada se resolve.

Pegue o tema do financiamento público das campanhas, fundamental na reforma política: se o contribuinte pagar as campanhas, não teremos mais dinheiro sujo NAS CAMPANHAS, mas o corrompedor continuará com a intenção de corromper e o corrupto continuará sendo suscetível à corrupção.

No Brasil, historicamente, investe-se mais em fiscalização do que em punição, até pelo nosso célebre caráter “cordial”, que arrasta tudo da faixa da tolerância para a da leniência.

A fiscalização é cara, lenta e burocrática. A punição, ao contrário, é eficiente, rápida e barata.

A punição, ou, antes, a impunidade está no coração da maioria dos problemas brasileiros. Não é o desenvolvimento econômico que faz de um país um bom lugar para se viver. Não é o dinheiro. E nem é a igualdade. É o cumprimento do pacto social. As pessoas têm que respeitar as regras que elas próprias estabeleceram para viver em sociedade. Essas regras são a lei. Se a lei não é boa, lute-se para modificá-la, mas sempre dentro da lei, nunca fora. E, se a lei, mesmo injusta, não for cumprida, é preciso haver punição.

Essa foi a principal diferença entre as duas manifestações havidas no Brasil no fim de semana. Na sexta, houve uma manifestação pela indulgência. Uma manifestação artificial, a soldo, convocada por entidades desgastadas e, por isso mesmo, amorfa. No domingo, foi uma manifestação espontânea, articulada através do novo canal de voz da população, que são as redes sociais. Essa manifestação autêntica, e muito maior do que a de sexta, pedia punição.


É do que o Brasil precisa. Punição. Não vingança. Não essas bolsonarices de “cometeu crime, tem que sofrer”. Não: punição justa. Hoje, o Brasil precisa mais de presídios do que de universidades. Bons presídios, espaçosos, limpos e bem equipados. Para que esses que tentam se esconder atrás da cortina de fumaça da reforma política vivam em conforto e dignidade. Por muitos e muitos anos.

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