23
de março de 2015 | N° 18110
ARTIGOS
- LEANDRO DE LEMOS*
O QUE CORROMPE E O QUE
CORRÓI
Muitos
estudos econômicos tentam medir qual o impacto da corrupção na economia. No
Brasil, estima-se que haja um impacto de 5% a 10% do PIB. Com uma margem de
erro grande para uma variação não esperada, pois, como estamos vendo, são
surpreendentes as cifras e o enraizamento. Muitas pessoas falam em questões
éticas e morais, ou propõem elementos legais, jurídicos e mais severas
punições. Mas deveríamos, neste momento de catarse política e de busca de alternativas,
entender qual a motivação econômica da corrupção. Pois a resposta pode nos
indicar a solução.
Por
que indivíduos se corrompem e por que esquemas e sistemas de corrupção
proliferam no Brasil? Há uma razão evidente: enriquecer. A busca da riqueza rápida
evolui em dois aspectos: vaidade e capacidade de financiamento do poder. Ser
rico traz uma grande satisfação – e status social, é claro. E também capacidade
de fomentar estratégias de dominação dos aparelhos do poder em democracias
frágeis. A corrupção é, portanto, individual e de grupos, e acontece tanto nas
empresas privadas quanto nas instituições públicas. Não se trata de satanizar o
enriquecimento, mas os meios e os fins.
É
significativa a contribuição da forma de enriquecimento ocorrida nos países de
mais alto índice de desenvolvimento humano (IDH). Quando os cidadãos começam a
trabalhar não para si, mas para o desenvolvimento de seu país, quando as
pessoas buscam, primeiro, enriquecer e melhorar sua sociedade, suas
instituições e empresas para, por isso, enriquecerem individualmente, temos o
começo do desenvolvimento econômico.
A
corrupção endêmica talvez seja a expressão mais oposta ao desenvolvimento
econômico. Pois causa empobrecimento, falência da confiança nas instituições e
ineficiências e custos elevadíssimos. Então, temos sua segunda face: uma
arquitetura proposital de serviços e projetos que são administrados com
ineficiência para que sejam “acelerados”. Quase naturalmente, a gestão
burocrática e ineficiente é cooperativa da corrupção.
Operam
independentemente da índole de quem estiver no cargo, no posto ou com a caneta
na mão. “Entrar no esquema” é força propulsora e demolidora de caracteres
pessoais e ideologias partidárias. “Ficar impune” é o prêmio, pois são quase
infinitas as etapas e instituições de decisão, execução, controle e
fiscalização envolvidas e corroídas pelo mal da ineficiência.
Engana-se
quem pensa que está fora dele. Pois, lá fora, todos somos vistos como
brasileiros.
*Economista,
professor de Economia da PUCRS
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