RUTH
DE AQUINO
27/03/2015
20h33
Apertem os cintos: o piloto do
Brasil sumiu
A
situação é de descontrole na cabine de comando do planalto, com queda abrupta
em todos os níveis
Não
há antídoto contra a loucura de quem pilota um avião ou um país. Podemos
submeter um piloto de Airbus ou o presidente de uma nação a avaliações
psicológicas e físicas periódicas, para tentar assegurar um certo equilíbrio e
coerência nas decisões tomadas na cabine de comando. Mas nada é 100% garantido.
Crises de depressão ou egocentrismo são especialmente perigosas para quem
controla a vida de centenas de passageiros ou milhões de habitantes.
Vivemos
uma situação de descontrole total na cabine de comando do Planalto. A queda do
país é abrupta em todos os níveis – e já era esperada por quem não se deixou
iludir em 2014. Está claro que a recessão começou no ano das mentiras.
Desemprego sobe, renda tem a maior queda em dez anos, preços aumentam 7,9%.
Trabalhadores são assaltados nos metrôs, nos pontos de ônibus, nas vias
expressas congestionadas, nos túneis. Os Estados estão quebrados, os aliados
voam como baratas tontas e moscas azuis, a “comandanta” é chamada de agiota por
prefeitos muy amigos.
Só
não sabemos ainda quem são hoje o piloto e o copiloto do Brasil – e qual deles
é mais propenso a ataques de pânico ou de autoritarismo. Temos apenas duas
certezas: uma é que tem gente demais empoleirada no comando, posando de
bonzinho, mas querendo derrubar o Brasil de encontro às montanhas, estilhaçar
qualquer possibilidade de ajuste de expectativas. A outra certeza é que nós
somos os trancados do lado de fora, reféns de um bando de loucos mal-intencionados.
Quem
são o piloto e os copilotos hoje responsáveis por nossa vida e a de nossos
filhos e netos? Está difícil enxergar Dilma Rousseff sentada na poltrona de
quem aperta os botões e define a direção e a velocidade do jumbo Brasil. Se
traçarmos um paralelo com a tragédia do Airbus que provocou luto e estupor no
mundo, Dilma hoje se parece mais com aquele que foi ao banheiro em hora
imprópria, de aterrissagem, e não conseguiu retornar.
Ninguém
escuta mais as broncas de Dilma, que estão virando sussurros. Ela pegou o
machado para decepar a lei de novembro passado, que aliviava as dívidas dos
prefeitos. O machado voltou como bumerangue. Não importa mais o partido
político na hora em que o bolso aperta. Pode ser Eduardo Paes (PMDB-RJ) ou
Fernando Haddad (PT-SP). Paes já entrou com ação contra Dilma. Haddad já disse
que não vai deixar barato. Os calotes se ampliam nos Estados. A
irresponsabilidade fiscal compromete o ajuste fiscal prometido pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy. Trocando em miúdos, os únicos que precisam pagar as
contas em dia somos nós, os contribuintes.
Ao
enfrentar um clima adverso, nuvens negras e trovoadas, o pior conselheiro é a
solidão – por isso, é tão crucial ter “alguém” com experiência, honestidade e
credibilidade ao lado do comandante. Quem será?
O
jumbo Brasil precisa do tecnocrata Levy como copiloto. Mas lhe faltam
experiência e autoridade políticas para lidar com os abutres ou aplacar
disputas. Quem teria de enfrentar as rebeliões dos aliados seria a
“presidenta”. Não foi ela quem ganhou nas urnas? Só que Dilma foi ao banheiro e
não conseguiu voltar, não abrem a porta para ela, não há mais cavalheiros, só
cavaleiros do apocalipse, até em seu próprio partido, o PT.
O
que parecia inacreditável aconteceu. Quem apoia hoje medidas de austeridade da
presidente, quem é contra o impeachment, quem é a favor da governabilidade para
não espatifar o Brasil no Planalto Central é uma das instituições mais
criticadas por Lula, Dilma e sua turma: a imprensa.
O
jumbo Brasil está sem rumo. E quem está aboletado na cabine de comando são os
amotinados do PMDB, a dupla caipira Renan Calheiros e Eduardo Cunha, um
alagoano e um carioca com milhares de fios de cabelos implantados e muitos
delírios de Poder na cabeça. Ambos odeiam um tripulante da nave Brasil com fama
de oportunista, Gilberto Kassab. A manobra de Kassab para criar mais um
partido, o PL, é chamada por Renan de “molecagem” e por Cunha de “alopragem”.
Sob
a pressão de moleques, aloprados e loucos, Dilma é a primeira refém da
armadilha que Lulalá e ela criaram. Já não lhe compete demitir ou nomear. Dilma
hoje é torpedeada até quando tenta acertar. Mas é impossível ter pena. Se a
hora é de arrocho, Dilma, dê o exemplo, ceda à jogada do novo PMDB e comece a
cortar seus 39 ministérios e seus 22 mil cargos de confiança. Porque é imoral o
tamanho dessa máquina e das boquinhas públicas.
Confiança
se ganha devagar e se perde muito rápido. Poucos de seus eleitores embarcariam
hoje num avião pilotado pela senhora. Os maiores reféns somos nós. Apertem os
cintos.
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