DANUZA
LEÃO
Alguns palpites, algumas
curiosidades
Hoje,
quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante
Leio
os jornais, vejo TV, presto atenção a algumas coisas --não ao conflito da
Síria-- e me meto em assuntos onde não fui chamada; é mais forte que eu.
Começando
pela PEC das empregadas, assunto que me fascina. Se as novas regras tivessem
sido estabelecidas por pessoas mais inteligentes, mais preparadas, é elementar:
a PEC não teria que passar por uma regulamentação (que está sendo, aliás, bem
complicada).
Li
outro dia que uma empregada que ganha em volta de R$ 1.500, feitas todas
aquelas contas complicadíssimas --que começam com a divisão do salário por
220--, vai receber por cada hora extra (noturna) em volta de R$ 10.
Não
foi dito se ela é obrigada a aceitar fazer horas extras noturnas, mas eu, se
fosse ela, não aceitaria. Ganhar R$ 20,00 para trabalhar além do expediente, de
10h à meia-noite? Nem pensar.
E
outra coisa: quem trabalha em um apartamento pequeno, duas horas por dia, duas
vezes por semana, como é que fica? Nisso ninguém falou.
Também
não foi falado, mas é bom lembrar, que as empregadas passaram a ter direito a
todos os feriados: os três dias de carnaval, dia 1º de janeiro, dia de S.
Jorge, sexta-feira da Paixão, etc. etc. E não vai mais ser preciso chamá-las de
secretárias do lar; agora são empregadas, o que antes era considerado ofensivo.
Dúvidas:
elas podem se recusar a trabalhar de uniforme? Se puderem, tente imaginar a
cena: servir a mesa em casa de Paulo Maluf, por exemplo, de shortinho de lycra,
tomara que caia e sandália havaiana.
Mais
uma coisinha: o que é considerado justa causa? Tive uma empregada cujo horário
era das 10h às 14h, mas que chegava invariavelmente às 12h; seria isto
considerado justa causa? A PEC só fala das obrigações dos empregadores, e de nenhuma
das empregadas.
Outro
assunto: o direito dos pedestres. Não sei se é ou não permitido que skatistas e
ciclistas circulem nas calçadas, mas eles circulam na boa, sem respeitar a mão
e a contramão, ai de nós pedestres.
E
aproveitando a onda, por que não proíbem o celular dentro dos elevadores? Outro
dia eu ia para o 21º andar e eram dois que falavam --sendo que um deles
comentava a novela. Se tivesse uma arma eu matava, e qualquer juiz me
absolveria.
E
mais um, o último: há muito tempo não ia ao calçadão de Ipanema tomar uma água
de coco num quiosque. Fui no feriado, e achei estranho que o coco não tivesse
sido aberto como sempre foi; havia nele um furinho muito bem feito, como se
fosse por um saca-rolha, para a entrada do canudo (fora a inflação, de R$ 3
para R$ 5).
Estranhei,
e tive a impressão de estar tomando uma água de coco industrializada, o que não
tem a menor graça. Quando terminei pedi para que cortassem o coco, para ter o
prazer celestial de comer a carne, com um pedaço da casca servindo de colher;
aí soube que, desde o carnaval, isso havia sido proibido.
Não
dá para acreditar; um dos prazeres da praia, diante da natureza espetacular
--para nativos e turistas--, é justamente, depois de beber a água, comer a
carne, que às vezes está um creme, às vezes mais sólida, e essa expectativa faz
parte do encanto e da maravilha que é se estar num país tropical.
Hoje,
quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante, sua
carne, que deveria ter sido tombada pela Unesco, já era, e gostaria de saber de
quem foi essa ideia de jerico.
Será
que o prefeito Eduardo Paes, que se gaba tanto de ser carioca, sabe disso? É
isso que se chama choque de ordem? Pobre do Rio de Janeiro.
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