quinta-feira, 30 de maio de 2013


30 de maio de 2013 | N° 17448
PAULO SANT’ANA

Terrível distância

Até hoje não sei por que tu me deixaste ou eu te deixei.

O que sei é que desde então a vida passou a ser para mim uma canção desesperada.

É mais do que evidente que a vida mostrou-nos que fomos feitos um para o outro, mas uma trama da própria vida acabou por separar-nos.

Ainda, desde então, sofro com o dilema patético de ver que metade de mim não está mais junto a mim.

E que a vida, assim, se tornou um passatempo maçante: é triste a gente saber que existe alguém no mundo que é talhada para nós e no entanto não a usufruímos.

Há distâncias que nos unem, mas a distância de ti tem-nos separado desesperadamente.

O que sei é que a vida para mim, desde que tu te foste, passou a ser um amargo percurso.

Tenho tentado, o que sei que também fazes inutilmente, nos reaproximar.

A vida teima em manter-nos separados como que a nos ensinar que temos de sofrer.

De alguma forma, tenho amaldiçoado o dia em que te conheci, por mais incrível que pareça que uma pessoa possa amaldiçoar ter conhecido sua amada.

É que, se eu não tivesse te conhecido, poderia ter encontrado outra mulher que viesse a ser dona do meu coração.

Mas, assim martirizado pela tua recordação, tornei-me estéril para o amor, não acho graça em ninguém novo e inédito, desconfio seriamente de que não haja ninguém que possa vir a te igualar, quanto mais te superar.

E assim vai andando a vida, inócua, insossa, os dias vão passando e com eles o profundo lamento das coisas.

Um gigantesco desperdício.

Esses dias chovia muito e te vi passar na calçada em frente, debaixo de uma sombrinha, e tive vontade de te chamar. Mas não tive coragem.

Como diz o bolero que o Altemar Dutra cantava, por que chamar agora quem nunca soube voltar?

E segui pela rua no rumo do abismo que me espera.

Perdoem-me os leitores que eu lhes conte uma piada quase obscena, mas é que ela é espetacular.

A cena se passa num lar em que são casados dois gays masculinos, que têm um filho adotivo com sete anos de idade.

O filho pergunta ao pai se pode tomar banho com ele, o pai concorda, e no banheiro o filho diz: “Mas pai, como tu tens o pinto grande!”.

E o pai: “Isso não é nada filho, precisas ver o da tua mãe”.


Leiam novamente e vejam como é maravilhosamente bem enredada e insistentemente atual essa piada, ainda mais que ontem foi celebrado oficialmente o primeiro casamento entre dois humanos masculinos na França.

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