19 de maio de 2013 | N°
17437
CLAUDIA TAJES
Muito azedume e alguma graça
Esses e-mails que a gente recebe
prometendo solução para tudo. Se dependesse deles, ninguém teria problemas na
vida. Antídotos para formol e antibiótico no leite não constam da lista porque,
evidentemente, ninguém jamais imaginou que isso aconteceria.
Certas falcatruas desafiam até os
mais criativos pensadores. Só sei que agora cedo, abrindo a minha caixa postal,
encontrei os seguintes e-mails, dos quais li o título antes de despachar todos,
com fúria psicopata, para os confins da lixeira: Amor e Sedução/Chega de
insegurança na hora do sexo, Abdômen Sarado/Tudo que você precisa saber para
conquistar gominhos,
Tua Oportunidade/Como ganhar
muito dinheiro com nossos projetos, Flying Feet/Solucione suas dores sem sair
de casa, Everton Lopes-Sempre com Dinheiro/Casais inteligentes enriquecem
juntos, Multas nunca mais/Aprenda a cancelar multas para sempre.
Não são ainda nove da manhã e
meus problemas já acabaram com um punhado de e-mails que o anti spam não pegou.
E eu ainda reclamo.
O escândalo do leite. Apesar do
Procon garantir que as trocas dos produtos batizados poderiam ser feitas sem a
nota fiscal, não conheço ninguém que tenha conseguido isso. Nem a minha irmã,
que compra em um mercadinho desses em que os donos tratam os fregueses pelo
nome, conseguiu.
Pobre consumidor, que sempre paga
o pato. E paga caro: na manhã em que estourou a falcatrua, todos os leites sem
formol já estavam com o preço mais alto no supermercado em que eu vou. É o que
se chama de encontrar oportunidade na crise.
Por que os bares da Cidade Baixa
têm hora para fechar e outros, em diferentes bairros da cidade, podem
funcionar, com música ruim e gritaria, madrugada adentro? Ando me irritando
profundamente com um caso desses na frente do meu prédio, no bairro
Auxiliadora, menos por não me deixar dormir do que pela falta de critério da
fiscalização. Já liguei para o 156 da Prefeitura e não adiantou nada.
A reclamação chega na SMIC e cai,
segundo informam os próprios atendentes. E então é preciso reclamar de novo. Se
pelo menos os playboys não ficassem fazendo vrum-vrum em suas caminhonetes às
cinco da manhã, seria um pouco menos pior. Aliás, alguém saberia explicar por
que os caras fazem vrum-vrum depois de adultos? Essa aí eu vou viver mais 50
anos sem entender.
Talvez uma razão para a coluna
azeda de hoje seja a de que agora sou a mãe preocupada de um filho que, a essa
altura, deve andar pela Bratislava, seja lá o que isso signifique. A parte boa
é que, zanzando pelo mundo, vai ver de perto algumas coisas que nem sempre
entram com facilidade na cabeça.
Um exemplo: lá pela 6ª série do
ensino fundamental houve uma Feira de Países no colégio e tocou ao grupo dele,
que era também o do Artur, Marcelinho, Gus, Tomás e outros da mesma força,
falar sobre a Polônia. A gente sabe como um grupo só de guris age.
Somente na noite anterior à
entrega do trabalho eles foram a campo para cumprir a tarefa. Pediram ajuda
para a escritora Leticia Wierzchowski, especialista no tema, que emprestou um
colete antiguíssimo do avô polonês dela com a recomendação de deixar exposto,
sem ninguém tocar. Naquele dia, por casualidade, passei pela frente do colégio
e vi a cena inesquecível.
Sem camisa, todo suado, meu filho
vestia o colete do avô da Leticia e distribuía um folhetinho feito sem capricho
algum para atrair visitantes: conheça o nosso estande e descubra a Polônia, um
paraíso tropical com lindas praias.
O colete do avô eu recuperei com
uma lavagem a seco e a ajuda de uma boa costureira. Os guris pegaram
recuperação de geografia. E, da vagabundagem, a vida tem se encarregado de
recuperar a turma. Bem como deve ser.
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