DANUZA
LEÃO
Evitando os riscos
As
mulheres gostam de provocar e de se exibir, mas a sexualidade masculina é mais
violenta
É curioso:
quando acontece uma tragédia, logo surge uma onda de tragédias iguais ou muito
parecidas; agora é a vez desse crime bárbaro que é o estupro. Desde o horror
que aconteceu com a turista americana, outros casos foram surgindo, e
ultimamente são os adolescentes que têm aparecido no noticiário por abordar
suas colegas de colégio de forma pouco respeitosa -para dizer o mínimo.
Em São
Paulo, garotos se comportam de maneira condenável com meninas da mesma escola,
sendo que são todos, eles e elas, muito jovens. As famílias das meninas se
queixam à diretoria do colégio, que por sua vez procura os pais dos garotos, o
assunto chega à imprensa e nada, ou quase nada, é resolvido.
Sobre
o assunto, o caderno "Equilíbrio", da Folha, ouviu diversas opiniões.
Rosely Sayão, colunista do jornal, se expressou dizendo que "a sexualidade
desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção do respeito", e
continuou: "a fase dos 13, 14 anos é a pior; é quando a efervescência
hormonal se junta à hiperestimulação".
Mais
adiante, a psicóloga da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Renata Libório
se dirige à família e à escola, pregando "por que não respeitar a menina,
não importa a roupa que ela usa?" Estão certas as duas, e só me surpreendi
ao saber que a sexualidade dos garotos está exacerbada tão cedo: 13, 14 anos?
Pensava que nessa idade ainda fossem pouco mais que crianças.
Fiquei
pensando: é claro que família e escola devem fazer de tudo para que esses
adolescentes respeitem as meninas, mas, sinceramente, é difícil. Basta ligar a
televisão, ler as revistas e ouvir contar que as jovens estão "ficando"
com vários garotos nas festas, se gabam de ter beijado cinco, dez ou 15, nem
sei.
Outra
leiloa sua virgindade, todas se vestem de maneira provocante -e vamos dar esse
crédito a Xuxa: foi a partir de seus programas na televisão que a infância começou
a ser sexualizada e que as crianças se vulgarizaram, passando a ter, como sonho
de consumo, sapatos de saltinho, unhas pintadas, boca vermelha de batom, como
verdadeiras chacretes em miniatura.
É claro
que o ideal é que as meninas sejam respeitadas, mas, para isso, é preciso também
que elas ajudem. As famílias devem orientar os filhos a serem seres
civilizados, claro, e ao mesmo tempo ensinar às filhas a não usarem shortinhos,
minissaias de um palmo, jeans que mal cobrem a virilha, tops mínimos, camisetas
em cima da pele, e por aí vai. Se aos 13, 14 anos, a sexualidade dos meninos
está exacerbada, não deve ser só a deles; a delas também.
Desde
que o mundo é mundo as mulheres gostam de provocar, de se exibir, de se sentir
desejadas. Faz parte do jogo. Mas a sexualidade masculina é mais violenta e é aí
que mora o perigo.
O
mundo não é o que gostaríamos que ele fosse, e os riscos são permanentes, até para
quem fica dentro de casa. Quem andar sozinha à noite numa rua deserta vai
correr mais risco de ser assaltada; quem se vestir de maneira mais provocante
vai correr mais risco de ser desrespeitada; quem abrir a porta de casa sem
saber quem está batendo vai correr mais risco de ter sua casa invadida. Os
meninos têm que fazer a parte deles, e as meninas, a delas.
E
tem uma coisa que vejo nos jornais, mas que não consigo compreender. Estupro em
ônibus, como assim? Como é possível haver estupro dentro de um ônibus?
Pois
tem.
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