25
de maio de 2013 | N° 17443
PAULO
SANT’ANA
A aposta da
vida
Voltando
ao Facundo Cabral, compositor argentino que foi assassinado na Guatemala,
relembro o que ele disse: “Quem não está disposto a perder tudo não está
preparado para ganhar nada”. Isso nos remete para uma coisa que já sabíamos: só
pode ganhar quem corre o risco de perder.
Por
outra parte e no ângulo inverso, só pode perder quem tem a possibilidade de
ganhar.
A
vida é também uma aposta, portanto. A “banca paga e recebe” é ditado muito
antigo que vivo dizendo e escrevendo.
Sendo
assim, em outras palavras, quando somos infelizes é porque perdemos há pouco
uma chance de sermos felizes.
E,
se somos felizes, é certo que vai ver que corremos ali atrás o risco de sermos
infelizes.
O
Facundo Cabral também nos ensina: “Gente infeliz essa que vive se comparando”,
lamenta uma mulher no Bairro de Buceo, em Montevidéu. E um rapaz no bairro
Villa Fiorito em Buenos Aires, completa: “Quando não tens nada, pensas que não
vales nada”.
E
Facundo sentencia: “O conquistador, por cuidar sua conquista, se converte em
escravo do que conquistou”.
Por
isso é que certos conquistadores, tipo Don Juan, mal conquistam uma mulher e já
a desprezam, atirando-se a outras conquistas efêmeras.
Escreveu Facundo: “No soy de aqui/ ni soy
de allá/ no tengo edad/ ni porvenir/ y ser feliz és mi color/ de identidad”.
Por
sinal, Facundo, assim, aproximou-se de Diógenes, o filósofo grego, que disse:
“Não sou ateniense nem grego, mas, sim, um cidadão do mundo”.
Sobre
essa ideia de Facundo, de que não importa a sua idade, em entrevista a Zero
Hora, antes de se apresentar quarta-feira passada no Araújo Viana, foi
perguntado ao cantor francês Charles Aznavour, que completava na data 89 anos
de idade: “Você está velho?”. Resposta de Aznavour: “Estou vivo”.
Resposta
definitiva.
Fui
ver quarta-feira o Charles Aznavour em Porto Alegre. A esse respeito, o colega,
aqui de ZH, Moisés Mendes me disse que não foi ao show porque Aznavour não “é
de seu tempo”. E eu retruquei ao Moisés, que tem 59 anos de idade, contra os 89
de Aznavour: “É, Moisés, tu estás muito velho”.
Há
mais de 45 anos Aznavour está casado com sua esposa Ulla. Um cantor de rock
jamais ficaria casado tanto tempo com uma mulher. Ao fim de 15 anos de casados,
faltaria poesia no casamento, o que não falta no casamento de Aznavour.
Quando
falta, ele canta uma de sua canções no ouvido de sua esposa. E
ela ainda se derrete.
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