terça-feira, 14 de maio de 2013



Carros brasileiros colocados à prova

Uma reportagem elaborada pela agência de notícias Associated Press colocou em suspeita, diante do mundo, a segurança dos carros vendidos no Brasil.

O relato, reproduzido em meios de comunicação como o New York Times, indica que os veículos negociados no país têm menos equipamentos de proteção em comparação a similares vendidos em países desenvolvidos, e a própria estrutura dos modelos é mais frágil.

A reportagem, divulgada no fim de semana, gerou um debate sobre uma das razões que fazem o país registrar mais de 40 mil mortes ao ano em acidentes de trânsito – além da imprudência dos condutores e das más condições das estradas. Todos esses fatores, combinados, levam a resultados trágicos como as 35 mortes verificadas no Estado no final de semana do Dia das Mães.

O analista técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) Alessandro Rubio, afirma que uma das principais carências dos modelos vendidos no Brasil é a falta de equipamentos como freios ABS (que evitam derrapagens) e airbag (que protege de impacto). Embora sejam regra nos Estados Unidos e na Europa há anos, aqui ainda estão em implantação. Somente a partir do ano que vem os carros novos deverão trazê-los como itens de série.

Hoje, conforme uma pesquisa feita por ZH em sites de montadoras, ABS e airbag podem encarecer o veículo em um valor que oscila ao redor de R$ 1,6 mil a mais de R$ 3 mil conforme o modelo – embora, em muitos casos, sejam oferecidos apenas junto com outros opcionais.

– Como o custo é alto e a lei não obrigava, as montadoras optaram por retirar esses equipamentos e oferecê-los como opcionais, principalmente nos modelos de entrada (mais baratos) – avalia Rubio.

A alta carga de impostos brasileira (que responde por mais de 30% da composição do preço) e uma margem de lucro elevada – que estaria ao redor de 10% contra uma média mundial de 5% – ajudam a explicar a preocupação com o corte de custos.

O especialista do Cesvi lembra que o preço dos mecanismos antiacidente vem caindo devido à fabricação desses materiais no próprio país e à implantação gradual determinada pela lei. Este ano, 60% dos veículos novos já devem vir com ABS e airbag. Outro problema apontado é uma suposta maior fragilidade estrutural verificada em testes de colisão que começaram a ser realizados pela organização independente Latin NCAP nos últimos três anos.

– Pelo que os testes indicaram, as carrocerias dos carros vendidos aqui são piores do que as europeias, por exemplo. Os danos sofridos são maiores – avalia a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Proteste, Maria Inês Dolci, que participa da Latin NCAP.

Frota menos sofisticada

A reportagem da Associated Press sustenta que os veículos brasileiros teriam menos pontos de soldagem na carroceria, o que barateia a produção mas fragiliza a estrutura, e plataformas (sobre as quais o automóvel é montado) menos modernas. O consultor automobilístico André Beer contesta essa conclusão.

– A estrutura dos carros, em si, é a mesma aqui ou na Europa. O que ocorre é que, por razões econômicas, temos uma frota menos sofisticada, com menos equipamentos de proteção – analisa Beer.

O analista Alessandro Rubio, porém, sustenta que alguns modelos ainda usam plataformas que já deixaram de ser empregadas em países desenvolvidos.

– Nossas carrocerias não se deformam de maneira tão segura em caso de colisão. Isso é o que os testes realizados vêm demonstrando – argumenta Rubio.

marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

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