Carros brasileiros colocados à
prova
Uma
reportagem elaborada pela agência de notícias Associated Press colocou em
suspeita, diante do mundo, a segurança dos carros vendidos no Brasil.
O
relato, reproduzido em meios de comunicação como o New York Times, indica que
os veículos negociados no país têm menos equipamentos de proteção em comparação
a similares vendidos em países desenvolvidos, e a própria estrutura dos modelos
é mais frágil.
A
reportagem, divulgada no fim de semana, gerou um debate sobre uma das razões
que fazem o país registrar mais de 40 mil mortes ao ano em acidentes de
trânsito – além da imprudência dos condutores e das más condições das estradas.
Todos esses fatores, combinados, levam a resultados trágicos como as 35 mortes
verificadas no Estado no final de semana do Dia das Mães.
O
analista técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi)
Alessandro Rubio, afirma que uma das principais carências dos modelos vendidos
no Brasil é a falta de equipamentos como freios ABS (que evitam derrapagens) e
airbag (que protege de impacto). Embora sejam regra nos Estados Unidos e na
Europa há anos, aqui ainda estão em implantação. Somente a partir do ano que
vem os carros novos deverão trazê-los como itens de série.
Hoje,
conforme uma pesquisa feita por ZH em sites de montadoras, ABS e airbag podem
encarecer o veículo em um valor que oscila ao redor de R$ 1,6 mil a mais de R$
3 mil conforme o modelo – embora, em muitos casos, sejam oferecidos apenas
junto com outros opcionais.
–
Como o custo é alto e a lei não obrigava, as montadoras optaram por retirar
esses equipamentos e oferecê-los como opcionais, principalmente nos modelos de
entrada (mais baratos) – avalia Rubio.
A
alta carga de impostos brasileira (que responde por mais de 30% da composição
do preço) e uma margem de lucro elevada – que estaria ao redor de 10% contra
uma média mundial de 5% – ajudam a explicar a preocupação com o corte de
custos.
O
especialista do Cesvi lembra que o preço dos mecanismos antiacidente vem caindo
devido à fabricação desses materiais no próprio país e à implantação gradual
determinada pela lei. Este ano, 60% dos veículos novos já devem vir com ABS e
airbag. Outro problema apontado é uma suposta maior fragilidade estrutural
verificada em testes de colisão que começaram a ser realizados pela organização
independente Latin NCAP nos últimos três anos.
–
Pelo que os testes indicaram, as carrocerias dos carros vendidos aqui são
piores do que as europeias, por exemplo. Os danos sofridos são maiores – avalia
a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor -
Proteste, Maria Inês Dolci, que participa da Latin NCAP.
Frota
menos sofisticada
A
reportagem da Associated Press sustenta que os veículos brasileiros teriam
menos pontos de soldagem na carroceria, o que barateia a produção mas fragiliza
a estrutura, e plataformas (sobre as quais o automóvel é montado) menos modernas.
O consultor automobilístico André Beer contesta essa conclusão.
– A
estrutura dos carros, em si, é a mesma aqui ou na Europa. O que ocorre é que,
por razões econômicas, temos uma frota menos sofisticada, com menos
equipamentos de proteção – analisa Beer.
O
analista Alessandro Rubio, porém, sustenta que alguns modelos ainda usam
plataformas que já deixaram de ser empregadas em países desenvolvidos.
–
Nossas carrocerias não se deformam de maneira tão segura em caso de colisão.
Isso é o que os testes realizados vêm demonstrando – argumenta Rubio.
marcelo.gonzatto@zerohora.com.br
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