DANUZA
LEÃO
Era uma vez
Com
que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival
de Woodstock aconteceu?
Outro
dia eu estava num café, e sentado ao meu lado, havia um jovem de 28 anos, já casado.
Havia também uma TV; e na tela, cantando e dançando, Ricky Martin. Como sou
meio desligada, perguntei ao garoto se o cantor não tinha sido do grupo Menudos.
Tive
a impressão de ter dito uma palavra em javanês. Ele fez um esforço de memória e
perguntou: Menudos? Custei a entender que ele nunca tinha ouvido falar do grupo.
Não que fosse alguém alienado do panorama musical. Era apenas uma questão de
faixa etária.
Passei
uns momentos o testando: ele sabia quem havia sido Doris Day? Tinha ouvido
falar de Grace Kelly, Rita Hayworth, Ava Gardner? Não! Ele nunca havia ouvido
falar de nenhuma dessas pessoas.
Desisti,
claro. E após ficar chocada, imaginei: se ele citasse algum dos cantores de
rock atuais, algum conjunto bem moderno, desses que vão tocar no Rock in Rio,
sabe qual seria a minha resposta? Zero.
É muita
informação. São muitos cantores, muitos conjuntos, muitos tipos de música. Não
dá para esperar que esta geração tenha ao menos ouvido falar dos nossos ídolos.
Nos
tempos em que a informação era mais discreta, era fácil ter ouvido falar em
Napoleão. Fico pensando: o que pode ser desculpado, quando se fala em nova geração?
Com
que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival
de Woodstock aconteceu? Ou que um dia o mar de Copacabana era muito mais próximo
dos edifícios, e que no Maracanã havia a geral, de onde os torcedores assistiam
às partidas em pé?
Ou
então que todos os apartamentos tinham área de serviço e quarto de empregada?
E
quando o professor, ao entrar na sala de aula, era recepcionado pelos alunos,
todos de pé, o saudando com um bom dia ou boa tarde? E nem faz tanto tempo!
No
início do ano letivo, o colégio estava sempre cheio de novidades. As crianças
ganhavam uma lancheira de metal nova, onde levavam um pãozinho doce e uma fruta
que não precisasse de faca -geralmente tangerina ou banana.
Ganhavam
também uma régua de madeira, um compasso, um lápis Faber nº 1 e outro nº 2 (o
apontador era daqueles de manivela, preso na mesa da professora), borracha e
uma caixa de lápis de cor.
Dependendo
da condição econômica dos pais, essa caixa era de seis lápis, 12 ou 18, e essas
últimas deslumbravam as mais pobrinhas. E os lápis franceses Caran D'Ache, que
só uma das alunas tinha, eram o sonho impossível de todas as meninas.
Agora,
acredite: havia aulas de delicadeza. Já ouviu falar? Nessas aulas se ensinava
como se comportar, como cumprimentar uma pessoa e como se sentar.
Não
havia lanchonete. À venda, apenas mariolas, que eram retângulos de bananada
passados no açúcar cristal, e paçocas.
Quem
tivesse sido apanhada conversando durante a aula tirava nota baixa no quesito
comportamento, além de perder o recreio e ficar de castigo na capela. Se a
infração fosse mais grave, o castigo seria ficar de joelhos no milho.
Aos
sábados nos confessávamos, para então comungar no domingo, em jejum e com um véu
branco na cabeça. Quem não fosse à missa, caía em pecado mortal; e se morresse
antes de confessar e ser absolvida pelo padre, ia para o inferno.
Tudo
isso aconteceu, e nem faz tanto tempo. E nunca ninguém pensou que o ano 2000 fosse
chegar.
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