23
de maio de 2013 | N° 17441
L. V. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Um plus a mais
Passei
por uma loja que vendia roupa “plus size” para mulheres. Levei algum tempo para
entender o que era “plus size”. “Plus”, em inglês, é mais. “Size é tamanho. Mais
tamanho? Claro: era uma loja de roupas para mulheres grandes e gordas, ou com
mais tamanho do que o normal.
Só não
entendi isto logo porque a loja não ficava em Miami ou em Nova York, ficava no
Brasil. Não sei como seria uma versão em português do que ela oferecia, mas o “plus
size” presumia 1) que a mulher grande ou gorda saberia que a loja era para ela,
2) que a mulher grande ou gorda se sentiria melhor sendo uma “plus size” do que
o seu equivalente em brasileiro, e 3) que ninguém mais estranha que o inglês já
seja quase a nossa primeira língua, pelo menos no comércio.
A
invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica e chegou a uma espécie
de ápice do ridículo quando “entrega” virou “delivery”. Perdemos o último resquício
de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser “delivered”
na porta. Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário,
nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto.
O
inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser
modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra
quem prefere ser “plus” a ser mais e ter “size” em vez de altura ou largura. Só
é triste acompanhar esta entrega – ou devo dizer “delivery”? – de identidade de
um país com vergonha da própria língua.
Papo
vovô
Engana-se
quem acha que os avós vivem num paraíso enquanto os pais padecem com as crianças.
Ser avô também requer prática e habilidade e, acima de tudo, versatilidade. Ainda
mais quando a neta tem uma imaginação ativa, como a Lucinda, e vive mudando a
distribuição de papéis nos seus faz de contas.
Você
num minuto é príncipe e no outro é pai, no outro é caçador e no outro é monstro,
e pode passar rapidamente de rei a cachorro. O que exige do avô um talento
histriônico fora do comum, além de preparo físico. Uma das minhas encarnações é
a de marido. Já nos casamos várias vezes, e como marido tenho um direito que
nenhum outro personagem tem, nem o cachorro: o de ser chamado de “meu amor”. É o
meu papel preferido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário