15
de maio de 2013 | N° 17433
LUCIANO
ALABARSE
Alguma coisa urgente a
dizer
Li
sem parar o recém-lançado A História de uma Viúva, da americana Joyce Carol
Oates, leitura que reiterou o que já sabia: Oates é uma das maiores escritoras
vivas do planeta. Ao narrar a morte inesperada do marido, após um casamento que
durou 47 anos, como Lya Luft um dia, Oates transforma sua perda profunda em
ganho cultural inestimável.
Junto
com outra americana, Lionel Schriver, que mora em Londres – mas nasceu na
Carolina do Norte –, Oates forma uma dupla de mulheres imbatíveis quando o
assunto é literatura. Eu, que devoro livros como um homem esfomeado devora
pedaços de pão, e que leio os principais lançamentos brasileiros, sempre me
pergunto por que os últimos livros nacionais não prendem minha atenção como os
dessas duas autoras.
Entre
o assombro e a iluminação dolorosa de Precisamos Falar sobre o Kevin, a obra
mais famosa de Schriver, ou Minha Irmã, Meu Amor, outro petardo de Oates, me
pergunto se sou um reles leitor colonizado, brasileiro sem noção a depreciar a
produção pátria.
Mais
ou menos o que sinto em relação ao cinema argentino. Lá, forma e conteúdo estão
sempre entrelaçados, relatos vitais da experiência humana, alguma coisa urgente
a dizer – e isso talvez explique por que fico emocionado ao final de Elefante
Branco, o ótimo último filme de Pablo Trapero, e queira me enfiar cadeira abaixo
vendo o nosso De Pernas pro Ar.
A
literatura e o cinema brasileiros me são indispensáveis. Como nossa música,
maior tesouro cultural do país. Clarice Lispector e Hilda Hilst me atiraram
contra a parede com obras colossais, e A Paixão Segundo G.H., de Clarice, ainda
exerce sobre mim uma influência absurda. Seu Água Viva é o livro mais genial
que li na vida, embora pouquíssimos críticos especializados venham a concordar
com isso.
Caetano,
aos 70 anos, ainda é imbatível, a deixar qualquer Lobão destemperado no
chinelo. Fato é que a arte, brasileira ou de qualquer lugar, não pode ser
superficial ou desprovida de ambições estéticas e humanistas. Arte sem ambições
é entretenimento. E isso já é outro assunto, e esse eu passo.
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