quinta-feira, 23 de maio de 2013



23 de maio de 2013 | N° 17441
ARTIGOS - Gerson Schmidt*

É tempo de Francisco

Passados mais de dois meses do pontificado de Francisco, já podemos ter relativa apreciação das ações concretas do novo papa à frente da Igreja Católica, que vão além de meras especulações, perspectivas ou suposições de quando eleito. Pouco tempo de ministério petrino, mas já deixou clara sua marca, sua identidade, o tom, o estilo de seu carisma, que muitos atribuem ser tal qual o papado do beato João XXIII, que foi um marco para a Igreja.

Sob o ponto de vista de comunicação, o Papa se empenha pessoalmente para se aproximar das pessoas, em seus gestos, em suas vestes, em seu testemunho. Está falando muito mais pelo modo de agir do que através de grandes encíclicas ou documentos pontifícios.

Está comunicando mais ao mundo com poucas palavras, pelas suas escolhas, do que por seus ditos e escritos: que cruz peitoral carregar, quais os sapatos calçar, onde celebrar, que pés lavar, onde morar, que báculo empunhar. Devemos admitir que papa Francisco utiliza recursos comunicativos de grande efeito, conferido pela autenticidade de seu testemunho de vida, semeado e fermentado, sobretudo, nos povos do Terceiro Mundo, de onde veio.

É tempo de Francisco, em meio ao secularismo e relativismo, pela inclusão dos pobres, mulheres, presidiários. Como disse o superior-geral da Companhia de Jesus, “o nome de Francisco evoca o seu espírito evangélico de proximidades aos pobres, sua identificação com o povo simples e seu compromisso com a renovação da Igreja”. O nome Francisco é um programa, um jeito novo e diferente de governar a Igreja. Era de se esperar que o primeiro papa proveniente de fora da Europa pudesse quebrar muitos protocolos um tanto engessados.

Nas crônicas franciscanas podemos ler que São Francisco de Assis, em 1205, teve uma visão diante do crucifixo, por meio de uma voz forte que lhe dizia: “Vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja em ruínas”. Pensou ele que era para restaurar a Igreja de São Damião, a Porciúncula, que estava em ruínas num campo. Até que se deu conta de que a voz divina lhe fazia um apelo mais abrangente: tratava-se de reformar a Igreja Católica, o que o levou a fundar a Ordem dos Franciscanos.

Quando o movimento franciscano crescia, foi apresentar-se ao papa Inocêncio III para lhe pedir a bênção ao seu inovador carisma de pobreza e vida evangélica. Naquela noite, o papa teve um sonho, vendo a Basílica de São João de Latrão a ruir, sendo segurada apenas por alguns pobres homens, que a escoravam com os ombros. Um novo Francisco parece querer trazer uma reforma eclesial urgente para os novos tempos.

É tempo de evangelizar, de sair das estruturas arcaicas, indo pelas ruas, pelas periferias, afirma o novo papa. O Sumo Pontífice diz claramente que a Igreja precisa estar de portas abertas, não para necessariamente entrarem os fiéis ou, como desejou o Concílio Vaticano II, para entrar um novo ardor, novo ar para renovar as estruturas um tanto mofas. Papa Francisco quer as portas da Igreja abertas para que nós possamos sair e ir ao encontro das ovelhas e fiéis afastados, já secularizados e um sobretudo sem fé.

Como cardeal, anteriormente, já pedia que se alugassem garagens para criar núcleos da Palavra, pois os fiéis já não iam mais ao templo oficial, por tantas vezes quase vazio. Pobreza e anúncio do Evangelho, algo totalmente necessário em nossa mudança de época, uma verdadeira transformação. Os pobres e o Evangelho proclamado, sinais do Reino entre nós. Um novo tempo para a nossa Igreja!

*PADRE E JORNALISTA

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