16 de maio de 2013 | N°
17434
ARTIGOS - Rogério Wolf de
Aguiar*
O médico não é uma ilha
Já há alguns anos, o governo
federal insiste em facilitar o ingresso no país de médicos formados em Cuba,
sob o pretexto de que os médicos brasileiros rejeitam trabalhar nos lugares
mais distantes do nosso imenso território. Agora, o governo anuncia que irá
contratar 6 mil médicos cubanos.
O Cremers e todas as entidades
médicas brasileiras são frontalmente contrários a essa iniciativa, que antes de
tudo contraria a legislação e, o que é intrigante, ignora um programa do
próprio governo, o Revalida, criado para avaliar a capacidade do médico formado
no Exterior – e não apenas em Cuba – que deseja exercer a medicina no Brasil.
É preciso deixar muito claro que
não há falta de médicos no país. O censo que o Conselho Federal de Medicina
divulgou recentemente mostra que o Brasil tem, em média, mais que o dobro do
preconizado pela Organização Mundial da Saúde. Entretanto, há uma enorme
irregularidade na distribuição dos médicos, que se concentram nos grandes
centros urbanos.
Antes de importar médicos,
independentemente da nacionalidade, o governo deveria, isto sim, criar um programa
de interiorização, que começaria pela criação de uma carreira de Estado para os
médicos e demais profissionais da saúde.
É conveniente para a União dizer
que os médicos brasileiros não querem trabalhar nos lugares mais remotos. É uma
forma de isentar-se da responsabilidade que tem pelo subfinanciamento do
Sistema Único de Saúde e pela ausência de uma política de saúde que regionalize
o atendimento.
Quantos hospitais regionais foram
construídos ou equipados no Rio Grande do Sul, para que os pacientes tivessem
atendimento próximo de suas residências, sem necessidade de deslocamento para a
Capital? Nenhum.
Faltam médicos no SUS – como
podem confirmar todos aqueles que esperam meses até conseguir atendimento
médico – e sobra desfaçatez para remunerar os médicos em R$ 2,00 por consulta
ambulatorial e cerca de R$ 10,00 por consulta especializada.
Os prefeitos se queixam de que
faltam médicos. Sim, e as razões para isso são muitas, entre elas: empregos sem
estabilidade; nenhuma garantia de que irão permanecer ao final do mandato do
prefeito; falta de equipamentos, materiais e dificuldades de acesso a exames
laboratoriais. Some-se a isso, ainda, a inexistência de um sistema regulador
eficiente de leitos.
Nesse contexto, teremos mais um
médico perdido num local distante, com um paciente grave na sua frente,
pendurado horas num telefone, tentando conseguir transferência do enfermo. Isto
acontece diariamente em nosso Estado, não apenas na Amazônia. O médico não é
uma ilha, não trabalha isolado, sem apoio, sem suporte.
O outro ponto crítico é a
intenção de revalidação automática de diploma, passando por cima dos jovens que
se submetem ao vestibular, cursam uma faculdade inteira e fazem residência
médica. É uma temeridade e uma irresponsabilidade permitir que pessoas com
diploma médico obtido no Exterior exerçam a medicina sem passar por qualquer
processo de avaliação. É um risco à população.
Continuamos com o nosso lema: não
se faz saúde sem médicos. Mas médicos que cumpram as leis brasileiras, que
sejam devidamente fiscalizados, e que tenham comprovada sua qualificação.
Médicos que possam encontrar nos locais de trabalho um mínimo de condições para
exercer a profissão com dignidade.
*PRESIDENTE DO
CREMERS
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