quarta-feira, 15 de maio de 2013



15 de maio de 2013 | N° 17433
EDITORIAIS

ENTRE O SOCIAL E O MORAL

Em 10 anos de poder, o PT avançou muito na agenda social, mas permitiu que ela se dissociasse da agenda moral. Essa análise é do professor de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo Renato Janine Ribeiro e merece uma reflexão do eleitorado brasileiro no momento em que o Partido dos Trabalhadores alinha a estratégia e o discurso para tentar o quarto mandato consecutivo, o segundo da presidente Dilma Rousseff.

Sob o pretexto de celebrar a primeira década no comando do país, os petistas estão em plena campanha eleitoral, como comprovou o seminário realizado ontem em Porto Alegre com conteúdo de comício, mas sem caracterizar propaganda antecipada porque reuniu apenas militantes partidários.

É legítimo que o PT celebre suas conquistas, principalmente aquelas que coincidem com os interesses da população brasileira. Neste campo, estão os programas sociais e a retirada de milhões de pessoas da miséria extrema.

São avanços tão inquestionáveis, que até mesmo os partidos de oposição passaram a apoiar o Bolsa Família. Praticamente desapareceram as críticas ao programa, que durante muito tempo foi considerado assistencialista e clientelista.

Também não se pode esquecer que o petismo, no poder, manteve a política econômica que garantiu a estabilidade do país, controlando a inflação e assegurando o poder de compra dos trabalhadores.

Ao concentrar sua atenção no mercado interno, o governo do presidente Lula passou ao largo da crise econômica internacional de 2008 e formou a base para a autonomia do país em relação aos países hegemônicos, notadamente os Estados Unidos e a União Europeia. São aspectos que merecem mesmo ser celebrados.

De outra parte, como lembra o professor Janine Ribeiro, para garantir a governabilidade e manter fortalecido seu projeto de poder, o PT abandonou princípios éticos que faziam parte da história do partido e passou a fazer concessões demasiadas, principalmente no que se refere a alianças políticas. Ele lembra que o mensalão mudou profundamente a imagem do PT e que o partido é hoje reconhecido e valorizado por sua política de inclusão social, mas não mais pelo seu ideário ético.

Esta flexibilidade na rigidez moral do partido e de suas lideranças também pode ser percebida no loteamento da máquina governamental, na proliferação inexplicável de ministérios e no uso de cargos públicos como moeda política. Tal promiscuidade parecia estar sendo estancada quando a presidente Dilma promoveu reformas no primeiro escalão, mas volta a preocupar agora com a proximidade da campanha pela reeleição, que já contabiliza até o reatamento com políticos excluídos por suspeita de corrupção.

Não há dúvida de que, nesses 10 anos, o PT capacitou-se a pleitear sua permanência no poder, agora já não apenas com o currículo de crítico de tudo, construído no tempo em que era oposição, mas também na condição de vitrine. Entre a continuidade e alternância, o povo brasileiro certamente saberá escolher o melhor para o país.

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