29
de maio de 2013 | N° 17447
PAULO
SANT’ANA
O saco da
felicidade
Segurem
bem a felicidade enquanto estão agarrados nela. Apertem-na bem entre os braços,
mesmo que ela esperneie.
Quando
a felicidade chega, temos de nos agarrar a ela porque é da natureza dela ser
efêmera. Pois, se ela conseguir fugir, quanto tempo demorará para retornar?
Eu
tenho uma técnica: comprei um saco de aniagem e, quando a felicidade chega para
mim, eu a encerro nesse saco e amarro bem a boca da embalagem.
E
carrego pela cidade, em toda parte que vou, aquele saco aparentemente ridículo,
mas que encerra todo o meu ideal. Quando carrego o meu saco de felicidade pelas
ruas, isso quer dizer que estou feliz.
Estar
feliz, como já ensinamos eu e o Facundo Cabral, é não necessitar de nada. Ser
feliz é avistar na nossa frente todos os bens do mundo, materiais e
espirituais, e constatar que não se está precisando de nenhum deles.
Estar
feliz é estar em paz, é um estado de beatitude impressionante, a vida sorri
para a gente, nós sorrimos para a vida e para todos os semelhantes, numa
espécie de orgulho secreto. Porque se sabe que ninguém é tão feliz como nós à
nossa volta.
Cuidado,
quando você encerrar a sua felicidade num saco de aniagem, confira se o saco
não está furado. É muito comum ensacarmos a felicidade e, quando vamos ver, o
saco tinha muitos furos.
Como
se nota, é uma ciência manter armazenada a felicidade. Houve diversas ocasiões
em que minha felicidade era tão grande, que não cabia no meu saco de aniagem,
tive de armazená-la num silo.
Tomem
cuidado com outro detalhe: quando forem ensacar a felicidade, para que ela não
lhes fuja, tenham a cautela de cobrir as mãos de grãos de areia: porque a
felicidade é como um muçum ensaboado. Ela escorrega entre as mãos e foge
depressa. E a areia vai fixar suas mãos nela, a danada não escapa e entra para
o saco.
Como
se vê, é preciso lidar com a felicidade quando ela de repente irrompe dos fatos
e atinge-nos.
É
preciso ter estratégia para retê-la pelo maior tempo possível e necessário.
Cerque-se
de cuidados para domesticar a felicidade e aplacar o seu jeito rebelde de não
querer ficar conosco durante largo tempo.
Nós
temos a mania de supor que a felicidade não suporta permanecer conosco muito
tempo, no que, aliás, temos razão, em vez de cogitarmos de que ela é possível e
há maneiras de torná-la permanente, pelo menos durante extenso tempo.
Também
quero dizer que é possível o nosso encontro com a felicidade, muitas vezes
quando menos a esperávamos.
O
fato é que nós, de repente, nos esforçamos tanto para alcançar a felicidade,
que ela acaba por nos surgir.
E,
quando nos surge, já tenha guardado de propósito o saco de aniagem.
Isso
não quer dizer simplesmente que a felicidade não passa de um saco.
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