quarta-feira, 29 de maio de 2013


29 de maio de 2013 | N° 17447
PAULO SANT’ANA

O saco da felicidade

Segurem bem a felicidade enquanto estão agarrados nela. Apertem-na bem entre os braços, mesmo que ela esperneie.

Quando a felicidade chega, temos de nos agarrar a ela porque é da natureza dela ser efêmera. Pois, se ela conseguir fugir, quanto tempo demorará para retornar?

Eu tenho uma técnica: comprei um saco de aniagem e, quando a felicidade chega para mim, eu a encerro nesse saco e amarro bem a boca da embalagem.

E carrego pela cidade, em toda parte que vou, aquele saco aparentemente ridículo, mas que encerra todo o meu ideal. Quando carrego o meu saco de felicidade pelas ruas, isso quer dizer que estou feliz.

Estar feliz, como já ensinamos eu e o Facundo Cabral, é não necessitar de nada. Ser feliz é avistar na nossa frente todos os bens do mundo, materiais e espirituais, e constatar que não se está precisando de nenhum deles.

Estar feliz é estar em paz, é um estado de beatitude impressionante, a vida sorri para a gente, nós sorrimos para a vida e para todos os semelhantes, numa espécie de orgulho secreto. Porque se sabe que ninguém é tão feliz como nós à nossa volta.

Cuidado, quando você encerrar a sua felicidade num saco de aniagem, confira se o saco não está furado. É muito comum ensacarmos a felicidade e, quando vamos ver, o saco tinha muitos furos.

Como se nota, é uma ciência manter armazenada a felicidade. Houve diversas ocasiões em que minha felicidade era tão grande, que não cabia no meu saco de aniagem, tive de armazená-la num silo.

Tomem cuidado com outro detalhe: quando forem ensacar a felicidade, para que ela não lhes fuja, tenham a cautela de cobrir as mãos de grãos de areia: porque a felicidade é como um muçum ensaboado. Ela escorrega entre as mãos e foge depressa. E a areia vai fixar suas mãos nela, a danada não escapa e entra para o saco.
Como se vê, é preciso lidar com a felicidade quando ela de repente irrompe dos fatos e atinge-nos.

É preciso ter estratégia para retê-la pelo maior tempo possível e necessário.

Cerque-se de cuidados para domesticar a felicidade e aplacar o seu jeito rebelde de não querer ficar conosco durante largo tempo.

Nós temos a mania de supor que a felicidade não suporta permanecer conosco muito tempo, no que, aliás, temos razão, em vez de cogitarmos de que ela é possível e há maneiras de torná-la permanente, pelo menos durante extenso tempo.

Também quero dizer que é possível o nosso encontro com a felicidade, muitas vezes quando menos a esperávamos.

O fato é que nós, de repente, nos esforçamos tanto para alcançar a felicidade, que ela acaba por nos surgir.

E, quando nos surge, já tenha guardado de propósito o saco de aniagem.


Isso não quer dizer simplesmente que a felicidade não passa de um saco.

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