14
de maio de 2013 | N° 17432
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Aritmética da solidão
Quando
fiquei novamente solteiro, estava decepcionado com o mundo.
Entendia
a solidão como sarcasmo. Minhas roupas não enchiam mais uma máquina de lavar, a
comida estragava na geladeira, toda noite era fim melancólico de domingo.
Não
fazia sentido estar sozinho. Logo eu, que sempre defendi a vida a dois, logo
eu, que sempre valorizei o casamento, logo eu, que dizia que liberdade na vida é
ter um amor para se prender – me enxergava amaldiçoado, raivoso com a falta de
sorte, ofendido com as separações.
Reclamava
da sina aos amigos da injustiça, já profetizava que ficaria encalhado o resto
dos dias, já me preparava para ser um canalha incorrigível, já prometia
encerrar o destino romântico e rasgar as crônicas enternecidas.
Minha
filha Mariana buscou me acalmar. Saiu comigo para esfriar o drama. Afinal, até
ópera tem intervalo. – Pai, dá um tempo na choradeira... – É fácil dizer porque
não é contigo.
– Está
se sentindo o único separado da terra, que coisa, relaxa, olha para os lados. –
É que parece que jamais vou encontrar a mulher de minha vida. Adoro a convivência
a dois.
– Você
já é dois, pai.
Aquela
frase me confortou: eu era dois. Era inteiro. Não dependia de ninguém para me
completar. Não precisava levantar os braços para o ônibus de recolhe. Não
morreria de sede como uma samambaia. Poderia me cuidar, me dar ao luxo de ser
egoísta e não mendigar alianças.
No
momento em que aceitei a solteirice, e sorria dentro dela, conheci Juliana. E
tudo que abandonei floresceu furiosamente em meus olhos.
O
cara que não queria mais um envolvimento sério voltou a oferecer declarações
eternas. O cara que não queria mais casamento passou a se imaginar no altar. O
cara que não queria mais ter filhos descartou de vez a vasectomia. O cara que não
mais confiava nas mulheres começou a desconfiar dos homens.
O
namoro venceu o apocalipse, mas não eliminou a dúvida. Havia o receio de
reprisar histórias anteriores.
Fui
conversar com Juliana: – Eu sou dois sozinho. – Pode ser três comigo – ela
corrigiu.
Eu
ri. E completei: – Então, posso ser quatro contigo. Eu e minha solidão, tu e
tua solidão. Nunca mais seria metade de ninguém. Nem de mim mesmo.
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