27
de maio de 2013 | N° 17445
LETICIA
WIERZCHOWSKI
Da compaixão e da
gentileza
Na
palestra inaugural do Fronteiras do Pensamento, a historiadora Karen Armstrong
apontou a compaixão como a “regra de ouro” presente em todas as religiões; o
princípio básico da espiritualidade humana seria a máxima: “Nunca trate ninguém
como você não gostaria de ser tratado”.
Foi
uma fala simples e espontânea, carregada de sentimento e de verdade. Como uma
chuva num solo árido, que alívio foi ver a Sra. Armstrong desfiando a
verdadeira essência da humanidade – essência tão tristemente escanteada da
nossa vida cotidiana.
Eu
não sou religiosa, não costumo frequentar nenhum culto e nenhum templo me
aguarda. Mas acredito em Deus, acredito numa energia maior, e toda vez que
posso exercer a compaixão – e a gentileza, um de seus subprodutos mais
cotidianos – sinto-me afinada com essa energia.
Deus
existe? Quem sou eu para responder. Mas existimos, você e eu, existimos nós,
homens e mulheres – cidadãos, vizinhos, colegas de coletivo, transeuntes –,
existimos e nos organizamos socialmente, compartilhando espaços, realidades e
circunstâncias históricas.
No
entanto, basta dar um único passeio por Porto Alegre, por exemplo, e o que
salta aos olhos é a maneira como a compaixão e a gentileza são hoje produtos de
luxo. Cidadãos que somos de uma mesma cidade, a maioria de nós não hesita em
avançar com o carro sobre as faixas de segurança, e o que vemos por aí são
pedestres acossados nas esquinas. Bons dias e boas tardes se apagaram do uso
cotidiano – se somos todos amigos no Facebook, a regra não vale para as ruas.
Dia
desses, uma senhora já bem idosa foi de uma grosseria ímpar no supermercado ao trancar
um corredor com seu carrinho, e deu um pequeno espetáculo lastimável quando
solicitada a dar a passagem. Voltei para casa com as compras feitas, mas
desanimada.
O
princípio básico do convívio social se esfalfa por aí a todo instante. Melhor
do que rezar um Pai Nosso antes de dormir é dizer um bom dia na parada de
ônibus, é dar um sorriso para a caixa do supermercado, é chegar ao trabalho de
bom humor. Construindo realidades mais agradáveis, chegaríamos mais perto
daquilo que sonhamos.
Espiem
este lindo comercial da Coca-Cola a partir de câmeras ocultas: como a vida pode
ser, e às vezes é: http://youtu.be/5L8dNW2CiO4
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