ELIANE
CANTANHÊDE
Tudo de mentirinha
BRASÍLIA
- Sem papas na língua (acho que ele se orgulha disso), o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ensinou ontem a estudantes de Brasília que
os partidos brasileiros são "de mentirinha". Nem o grosso dos cidadãos
vê consistência ideológica e programática nos partidos, nem os líderes partidários
estão interessados em ideologia e programas.
Ok,
um ministro do Supremo não pode sair por aí falando o que todo mundo fala, mas
Joaquim não disse nenhuma mentira. Tanto que líderes de governo e de oposição
vestiram a carapuça e se tomaram em brios.
O
problema é que há muito mais coisa "de mentirinha", uma delas no próprio
Supremo, que é tão atento às escorregadelas dos demais Poderes, mas de vez em
quando também derrapa. Conforme os repórteres Eduardo Bresciani e Mariângela
Gallucci, a corte gasta fortunas com viagens, inclusive internacionais e
durante os recessos, para os ministros e suas mulheres. As viagens são de
trabalho ou isso é só "de mentirinha"?
Também
os encontros e a cordialidade dos aliados Dilma Rousseff e Eduardo Campos são tão
mais "de mentirinha" quanto mais os dois vão se tornando efetivamente
adversários. Enquanto Dilma chuta em gol e Campos aplaude na Arena Pernambuco,
o PT e o Planalto chutam a canela dos partidários do governador em Brasília. Um
deles, o ministro Fernando Bezerra, está até fazendo gol contra (contra o
padrinho Campos).
Igualmente
"de mentirinha" foi a boataria sobre o Bolsa Família, mas contra os
mais pobres, com correria e depredações. Como foi "de mentirinha", e
ela admitiria depois, a acusação da ministra Maria do Rosário de que a culpa é da
oposição.
Nada
disso, porém, é tão "de mentirinha" quanto os dados sobre miséria. Segundo
o repórter João Carlos Magalhães, basta aplicar a inflação à "linha da miséria"
(R$ 70 por mês, desde 2011) que 22,3 milhões voltam para onde estavam. E de
onde, no mundo de verdade, nunca saíram.
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