30
de maio de 2013 | N° 17448
L.F.
VERISSIMO
No bambual
O
Ibsen Pinheiro, grande frasista, diz que no futebol uma defesa se organiza e um
ataque se inspira. Perfeito. O posicionamento e a mecânica de uma defesa – quem
cobre quem, quem dá combate e quem fica na sobra etc. – podem ser
sistematizados, diagramados e ensinados.
Já um
ataque vive de oportunidades fortuitas, de explorar as eventuais falhas de
organização da defesa – enfim, das brechas que aparecerem e da inspiração do
momento.
Você
pode instruir o ataque a ir por um lado ou pelo outro e, quando não dá,
levantar a bola na área (o último recurso tão repetido) e confiar no entrevero.
No confronto entre a organização e a inspiração, o que faz a diferença é a
habilidade do atacante e sua vitória pessoal sobre o defensor.
E,
apesar de estar provado que a jogada mais letal de um ataque é a que vem pelas
pontas, atacantes insistem em tramar pelo meio, onde o trânsito é mais difícil
e onde a concentração de defensores parece uma floresta de bambus.
Imagine
jogar bola num bambual. Impossível, ou só possível a quem tem habilidade fora
do comum. O sucesso do Messi se deve em grande parte à sua capacidade de
sobreviver no bambual. De proteger a bola enquanto se esquiva de bambu atrás de
bambu até chegar numa clareira e chutar a gol.
O
Neymar tem a mesma capacidade, embora ela não tenha aparecido muito
ultimamente, principalmente na Seleção. Se o Neymar for para o Barcelona, é possível
que ele e o Messi recuperem uma arte perdida do futebol, a da tabelinha. Já houve
tabelinhas famosas. No Internacional dos anos 50, Larri e Bodinho faziam uma
mortal, tramando pelo meio até um dos dois fazer o gol. E o protótipo de
tabelinha pelo meio, claro, foi a de Pelé e Coutinho, no Santos. Mas naquele
tempo o bambual ainda não tinha crescido tanto.
A
dificuldade em atacar pelo meio teve duas consequências. Uma foi a prevalência,
hoje, da bola alçada na pequena área para que uma cabeça providencial consiga o
que não se conseguiu pelo chão. A outra foi transformar quem acompanha o
futebol há tempo em irrecuperáveis nostálgicos.
Temos
saudade dos ataques com passes que desconcertavam, ou desorganizavam, as
defesas. Havia mais espaço para as tramas e a inspiração. E, acima de tudo,
menos bambus na entrada da grande área.
Nenhum comentário:
Postar um comentário