27
de maio de 2013 | N° 17445
PAULO
SANT’ANA
Jornaleiro e
jornalista
Interessante
em minha vida é que, muito tempo antes de ser jornalista, fui jornaleiro.
Eu
tinha lá por uns 11 anos de idade quando bolei o seguinte: eu comprava de 20 a
30 exemplares de domingo do Correio do Povo, que custavam na banca 50 centavos
da moeda da época, o cruzeiro.
Comprava-os
numa banca de jornais no fim da linha do bonde Partenon, uma parada depois do
Hospital São Pedro, na Avenida Bento Gonçalves.
E
revendia todos esses jornais lá longe, distante mesmo uns dois quilômetros, na
encosta do Morro da Polícia, dos quartéis da Brigada Militar até as ruas São
Miguel e Intendente Azevedo. Revendia os jornais com 100% de lucro, isto é, a
um cruzeiro.
Foi
a minha única incursão, ocorre-me agora, no mundo dos negócios, no qual fui um
desastrado sempre que nele tentei ingressar, não tenho vocação para ganhar
dinheiro.
Mas
arrumei boa grana com essa revenda de jornais, meu pai me abriu uma caderneta
de poupança.
Como
a única despesa que eu tinha era com o ingresso nas matinês de domingo, minha
caderneta de poupança engordou, mas com o tempo extraviei-a e nunca mais soube
daquela grande quantia que eu poupara. Extraviou-se minha caderneta em minhas
gavetas, e o banco lucrou com meu desperdício.
Mas,
de qualquer sorte, me intriga que eu tenha sido bom vendedor e entregador de
jornais e hoje, o Ricardo Stefanelli, diretor da RBS, declare que continuo
sendo “o maior vendedor de Zero Hora da história, só que como colunista”.
Correio
do Povo e Zero Hora, recorde-se, que foram e são os dois maiores jornais da
história da imprensa gaúcha.
E eu
revendedor de um e cronista do outro, não é uma bela coincidência?
Impossível
deixar de recordar o passado, de vez que, considero, não tenho mais futuro.
O
passado é certo, o futuro é incerto. O passado é uma névoa. O futuro para nós,
os de terceira idade, é um abismo.
E o
presente? Bem, com este é como dizem os existencialistas: “É melhor colher o
momento que passa.”
O
passado é uma nuvem que cruzou acima das nossas cabeças, o presente para mim é
um vendaval de boas e más emoções e o futuro muitas vezes uma ameaça
aterrorizante, de vez que no final de suas circunstâncias está a morte.
Por
falar em morte, cogito que grande parte das pessoas detesta lembrar que ela se
constituirá na sua extinção. E por isso têm medo da morte.
No
entanto, há muitas e muitas pessoas que sofrem tanto com a velhice e suas
desvantagens, que gostariam de morrer.
Entre
os que gostariam de morrer, há os que não abreviam a morte por não terem a
coragem de suicidar-se ou porque têm o dever ético de não porem, por suas mãos,
fim a sua existência.
Como
eu sempre digo e tanta gente tem-me repetido na imprensa gaúcha, há casos em
que a encruzilhada da vida nos coloca o suicídio como dever.
Interessante
esse raciocínio, maldito seja o dia em que alguém considerar que o suicídio é
um seu dever ético.
Ético
e impositivo e inarredável.
Mas
cadê a coragem para executá-lo?
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