terça-feira, 14 de maio de 2013



14 de maio de 2013 | N° 17432
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

Cena dantesca

Coincidência ou não, o anúncio do presidente Barack Obama e do premier britânico David Cameron de que incrementarão a ajuda à oposição síria moderada (entenda-se não alinhada com a Al-Qaeda e outros grupos fundamentalistas) foi seguido da disseminação, pela internet, de um vídeo no qual um suposto combatente rebelde profana o cadáver de um soldado leal ao regime de Damasco.

Nestes tempos de abundância de imagens, vale adotar como medida de cautela a máxima de Ésquilo: “Na guerra, a verdade é sempre a primeira vítima”. Embora não tenham tido condições de verificar a autenticidade do vídeo, a organização de direitos humanos Human Rights Watch e a agência de notícias Reuters trataram-no implicitamente como verdadeiro.

“A direção da Coalizão Nacional Síria e do Exército Livre da Síria, de oposição, deveriam adotar todos os passos possíveis para deter os responsáveis por crimes de guerra e prevenir esses abusos por qualquer um sob seu comando”, diz um comunicado da Human Rights Watch.

Conversei por e-mail com Peter N. Bouckaert, diretor de situações de emergência da organização. Eis seu depoimento: “Eu tenho o vídeo original. É autêntico, incluindo a mordida. O que foi excluído da versão do YouTube é o trecho em que ele diz: “Oh, heróis de Baba Amr (excluído: Vamos massacrar os alauítas) e comer seus corações e órgãos.

Não há dúvida a respeito de sua autenticidade”. A Human Rights Watch afirma dispor de outras evidências de que o agressor do vídeo, Abu Sakkar, comandante da autointitulada Brigada Independente Omar al-Farouq, teria tomado parte em bombardeios indiscriminados contra aldeias xiitas no vizinho Líbano.

Qualquer que seja a conclusão sobre o vídeo, o fato é que ele sinaliza o grau de agressividade do atual conflito na Síria. Embora, como afirma o relatório da comissão das Nações Unidas para a Síria, o regime de Bashar al-Assad seja o maior responsável pela violência, não há por que imaginar que a oposição (ou pelo menos todos os seus segmentos) tenha as mãos limpas.

Nenhum comentário: