14
de maio de 2013 | N° 17432
CLÁUDIO
MORENO
Uma conversa sem
fim
Muito
tempo se passou até que o homem se desse conta de que o bebê, ao contrário dos
outros pequenos mamíferos, precisa muito mais do que leitinho morno e um
soninho tranquilo para poder se criar. No séc. 13, na época das Cruzadas, o
formidável Frederico II ainda não sabia disso quando levou a cabo – e com
trágico desfecho – um curioso experimento para pesquisar a origem da nossa
linguagem.
Frederico,
conhecido como “o espanto do mundo”, estava disposto a descobrir qual era a
língua ancestral da Humanidade; para isso, encerrou dois órfãos recém-nascidos
numa cabana, sob o cuidado de uma ama de leite, que deveria, no mais absoluto
silêncio, cuidar para que estivessem sempre limpos e alimentados, sem jamais
brincar com eles, cantar para eles ou tomá-los nos braços.
Ele
imaginava que as duas crianças, crescendo sem jamais ter ouvido palavra alguma,
terminariam, no momento certo, por falar alguma coisa, revelando assim qual era
a mais antiga de todas as línguas. Infelizmente, como relata um cronista da
época, todo esse cuidado foi em vão, pois os bebês, privados dos risos, dos
afagos e da tagarelice carinhosa com que a fêmea humana trata a sua cria, não
conseguiram sobreviver.
Em
compensação, dois séculos depois, no Renascimento, nenhum pintor famoso
deixaria de retratar uma ou várias madonas – aquelas mulheres serenas que
iluminam, com seu sorriso suave, o bambino que trazem no colo. A lição tinha
sido aprendida: muito além da biologia, somos seres sociais; para sobreviver,
nossos filhotes precisam ser envolvidos pelo olhar e pelas palavras da mãe –
aquela doce linguagem que todos bebemos com o leite e que, com muita justiça,
chamamos de “língua materna”.
Pois
a lembrança daquela sensação de prazer e segurança que emanava da voz amorosa
da mãe não será, por acaso, o motivo principal de partilharmos a vida com
alguém? Elegemos alguém que vai nos ouvir e que vai falar conosco: toda vida em
comum se baseia nesse diálogo familiar, retomado a cada dia, em que as palavras
e os tons de voz adquirem um sentido comum e secreto que só os dois podem
entender.
Se
você ainda pergunta por que todos ainda casam, aqui vai uma pista: o casamento
é uma viagem a dois; sentados ao lado de quem escolhemos, vamos tagarelando
infinitamente, trocando ideias sobre a paisagem e as pessoas, falando de nossas
vitórias, misérias e aspirações. Para quem tem sorte, é uma divertida conversa
sem fim.
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