22
de maio de 2013 | N° 17440
EDITORIAIS
ZH
PRIMEIRÍSSIMA
CLASSE
Levantamento
feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, com base na Lei de Acesso à Informação,
revela o uso abusivo de recursos públicos por parte de ministros do Supremo Tribunal
Federal para custear viagens internacionais no período entre 2009 e 2012. Em
quatro anos, a Corte gastou R$ 2,2 milhões com passagens de primeira classe
para os ministros e suas esposas, várias delas para destinos famosos da Europa
e dos Estados Unidos, como Paris, Moscou e Washington.
Tudo
absolutamente legal, pois o pagamento de passagens aéreas a dependentes dos
ministros está autorizado por uma resolução da própria Corte Suprema, de 2010.
Mas a legalidade não torna o procedimento menos questionável, principalmente
quando se considera que o STF passou a ser visto pela população como referência
de moralidade.
Há
justificativas para o evidente excesso. O Supremo alega que existe uma cota de
passagens aéreas para viagens nacionais dos ministros, garantindo deslocamentos
mensais para seus Estados de origem.
Quando
economiza nesses deslocamentos, o magistrado pode utilizar o montante
correspondente em viagens para outros destinos. Ainda assim, a pirotecnia
contábil não explica o fato de a maioria das saídas internacionais a título de
representação oficial ter sido feita durante o recesso da Corte.
Embora
a revoada de ministros e respectivas esposas não configure irregularidade, os
gastos aparentemente desnecessários de recursos públicos equiparam a cúpula do
Poder Judiciário aos protagonistas de mordomias dos demais poderes, que são
constantemente criticados pela imprensa e repudiados pelos cidadãos.
Diante
de mais esse episódio de desperdício, só resta um consolo aos brasileiros da
segunda classe, que têm poucas possibilidades de viajar até porque pagam
elevados tributos para sustentar a administração pública: pelo menos a
transparência está avançando. Antes das leis que reforçam a cidadania, ninguém
ficava sabendo como as altas autoridades gastavam o dinheiro de todos. Agora se
sabe. E o conhecimento é sempre o primeiro passo para a transformação.
Espera-se
que, a partir da divulgação crítica das inconveniências referidas, os próprios
ministros revisem suas posições e as normas internas da Corte, pois não é
crível que os integrantes do tribunal mais importante do país, reconhecidos
pela população pela integridade, pelo conhecimento jurídico e pelo compromisso
com a ética, continuem fazendo uso de uma regalia dessa dimensão.
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