segunda-feira, 20 de maio de 2013



20 de maio de 2013 | N° 17438
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

Renan Santos

É um homem com menos de 30 anos, de olhar sereno, mas determinado. De tanto acreditar no que faz, ele largou todas as outras tentações profissionais. Trabalha num ateliê íntimo, na Travessa Venezianos, Cidade Baixa. É um artista consumado. É um mestre. Chama-se Renan Santos. A quem pense em exagero, cabe repetir que Rimbaud foi mestre antes dos 20 anos. Entenda-se como mestre aquele que domina todas as artes do seu ofício.

Renan começou no desenho e, sem abandoná-lo, ultimamente dedica-se à gravura em metal. Mas não só: é possível vê-lo, de bermuda e tênis, pintando no cimo de uma escada portátil encostada a uma parede pública.

Suas fontes formais são os gravuristas dos séculos 15 e 16, mas o deflagrador de sua vocação foram as gravuras do grande Gustave Doré. Por essas referências, podemos pensar num traço delicado e minucioso, num perfeccionismo exacerbado à exaustão, e estaremos certos. Ele tem trabalhado direto no buril, recuperando assim uma antiga prática artesanal dos artistas. Vale referir Delacroix, que dizia aos seus alunos de pintura: aprenda a ser um bom artesão; isso não o impedirá de ser um gênio.

A obra de Renan Santos é importante não apenas por sua qualidade intrínseca, mas porque revela um autor cujo timing é lento, numa época tão apressada como a nossa. Não lhe importa o tempo que leve numa única gravura. O importante é que ela corresponda a seu projeto. O resultado é, no mínimo, soberbo.

Sua temática dialoga com a tradição cultural do Ocidente, recriando mitos, reinterpretando artistas como Pieter Brueghel, às vezes com humor, outras num espírito trágico ou, quase sempre, satírico. Renan apresenta-nos também perturbadores seres, mistos de animais e pessoas. Homens aparecem animalizados, e animais, humanizados. Via de regra, aparecem em convulsões que têm algo de metafísico. Interpenetram-se membros, rostos, objetos, numa amálgama intrincada.

O curioso é que as estranhas obras de Renan dão-nos a impressão de que esses seres sempre estiveram assim, já nasceram assim, e assim persistirão por toda eternidade. Num autor dessa categoria, é redutor pensar numa única obra, embora impressione, por sua alusão, o desenho Volta para Casa, em que Chapeuzinho aparece cavalgando o Lobo Mau, indicando-lhe o caminho com uma vara-chicote.

Há mestres no RS, em todas as artes. Incluam este, em lugar relevante. Nos propósitos desta coluna, não é possível incluir imagens, mas a internet está cheia delas, especialmente em www.flickr.com/renanzz.

Vejam. Comentem, divulguem.

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