13
de maio de 2013 | N° 17431
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Apequenando o futuro
Interrogado
por jornalista sobre a nomeação do vice-governador de São Paulo para ministro
da Micro e Pequena Empresa, respondi que não me parecia houvesse o impedimento
que se alega, tendo em vista que ele não é titular de cargo nem exerce função,
aliás, nem tem função a exercer; não passa de mera expectativa do poder. Havendo
impedimento do presidente (doença, viagem ao Exterior), o vice é chamado a
assumir a presidência transitoriamente; ocorrendo a vacatura da presidência (renúncia,
morte) o, até então, vice assume a presidência como tal até o fim do mandato. Houve
tempo em que o vice-presidente presidia o Senado, embora não fosse senador.
A
propósito, houve entre nós episódio ilustrativo que está na memória de todos. Impedido
de assumir a presidência da República, por uma crise que levou o presidente
eleito Tancredo Neves a ser hospitalizado e operado na véspera da posse, o vice-presidente
José Sarney assumiu a presidência enquanto perdurasse o impedimento do
presidente e vindo esse a falecer, o vice-presidente, sem solução de
continuidade, deixou de ser vice no exercício da presidência para passar a ser
o presidente, em caráter definitivo.
Aliás,
mutatis mutandis foi o que aconteceu quando do impeachment do presidente Collor
e que com seu afastamento Itamar Franco assumiu a presidência por ser o vice-presidente,
mas, decretado o impeachment, com a vacância presidencial, passou ele à condição
de presidente e exerceu-a até o derradeiro dia do mandato. De modo que me
parece simples a situação do atual secretário com galas de ministro da Micro e
Pequena Empresa, em caso de impedimento do atual governador do Estado de São
Paulo ou de vacância do cargo, ao atual ministro caberá escolher o rumo e,
conforme for, ele terá de deixar de ser o 39º ministro da República, ou deixar
de ser o vice-governador de seu Estado.
Existe
até um precedente. Na fase crepuscular do segundo governo Vargas, curiosamente,
o chefe de governo voltou os olhos para o início de seu governo e nele divisou
o governador José Américo, que fora ministro da Viação de 1930 a 1934; passados
20 anos, em 1953, sendo governador da Paraíba, nomeado outra vez, no ministério
permaneceu até 1954; ocorrendo então o termo do governo Vargas nas circunstâncias
conhecidas, José Américo retornou ao governo do seu Estado. Estas lembranças
podem ser interessantes, mas não irrelevantes para a situação.
O
caso estava anunciado fazia muito, agora ele está consumado. O vice-governador
do Estado de São Paulo foi nomeado secretário de Micro e Pequena Empresa, com
status de ministro; com isso a senhora presidente acumula mais um elo no
extenso rosário de legendas que lhe dão apoio parlamentar, 17 ou 18, salvo
engano, e adiciona o que realmente importa, um minuto e 39 segundos ao tempo de
televisão quando da campanha eleitoral da reeleição. Tudo sob a luz da maior publicidade.
O
que me parece relevante é que o provimento de um cargo de ministro da República
seja utilizado como moeda de troca, usado por titular do Poder Executivo para
contar com o apoio de mais um partido e o conforto que lhe possa dar o 18º elo
de uma cadeia jamais vista em nosso país e suponho seja qualquer outro.
Este
é o efeito da reeleição. Na segunda metade do primeiro ano, a senhora
presidente deixa de ser a presidente de todos os brasileiros, para ser a
candidata da maioria ou não do eleitorado, usando e abusando dos imensos
poderes da presidência, para permanecer na chefia do Estado, a todo o preço,
sem excluir o diabo, se é que o diabo tem preço.
Um
ministério macro, com 39 membros, é o triste retrato de uma política micro, que
vai apequenando nosso país.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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