18 de maio de 2013 | N°
17436
PAULO SANT’ANA
Os médicos cubanos
Caí no centro do furacão da
polêmica sobre a importação de 6 mil médicos cubanos, ibero-americanos e
espanhóis para o Brasil.
Atingiu-me a polêmica é uma força
de expressão. Na verdade, eu incentivei muito esta polêmica quando declarei
solenemente nesta coluna: “Entonces, que vengan los cubanos”.
Tanto que fui anteontem até a sede
do Cremers e me reuni lá com a diretoria do órgão, os médicos Rogério Aguiar,
Levy, Franzen, Matos e Xavier.
Foram três horas de reunião
estafante e agradável. Os cinco médicos tentando me convencer de que é um erro
monumental importar os médicos cubanos, eu por minha parte tentando
convencê-los de que é um acerto trazer os cubanos para ajudar a Saúde
brasileira.
Eles não me convenceram. Nem eu
os convenci. Quando a gente vai a uma reunião para tentar mudar a opinião dos
que pensam contrariamente a nós, acontece o que aconteceu: saímos do encontro
inamovíveis, exatamente como nele entramos.
No entanto, foi muito proveitosa
a reunião: porque eles me forneceram dados que me balançaram. Talvez eu os
tenha balançado também em suas convicções.
O fato é que nos debruçamos
demoradamente sobre a questão e com isso ficamos meio que senhores da situação
em matéria de conhecimento da problemática.
Há um dado que enfraquece muito a
posição dos que não querem por nada deste mundo que os cubanos venham: mais de
4 mil prefeitos de todos os Estados brasileiros se reuniram e pediram ao
governo federal que trouxesse os médicos estrangeiros. Os prefeitos sofrem na
carne a falta de médicos em seus municípios e foram pedir socorro ao governo. E
o impressionante é que, além dessa maciça adesão dos prefeitos em geral à tese
de que a vinda dos estrangeiros solucionaria grande parte dos problemas de
saúde pública no Brasil, o governo, desde os ministros até todos os canais
inferiores, aderiram também a essa posição.
E o único dado que enfraqueceu
meu argumento foi o trazido pelo Dr. Matos, que esteve na Venezuela de Chávez,
que importou 3 mil médicos cubanos e, poucos anos depois, 2 mil deles tinham
ido embora e os mil restantes deixaram as localidades distantes onde eram
necessários e estavam clinicando e operando em Caracas, onde não faltam
médicos.
Mas contou-me a Rosane de
Oliveira que em sua cidade natal, Campos Borges, não havia médico e a
prefeitura contratou uma médica, que um mês depois de trabalhar lá abandonou a
cidade por um singelo motivo: não havia por lá pet shop para cuidar de sua
cadelinha poodle.
Vejam só: cidade que não tem quem
cuide de cães fica também privada de quem cuide da saúde das pessoas...
Conversávamos ontem na Redação,
eu e o Tulio Milman, quando eu disse a ele que a grande questão é que os
médicos brasileiros não queriam trabalhar no Tocantins.
E o Tulio me perguntou: “Tu irias
para o Tocantins, Sant’Ana?”.
E eu respondi: “Se fosse cubano,
eu iria”.
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